Propositadamente fiquei fora de uma discussão "pateta" sem qualquer sentido, em que alguém se limita a debitar de ouvido um conjunto da "informações" despidas de senso, sem que se vá ao fundo das questões.
Presumo que esse alguém que tem nome, ou pelo menos “nick” seja eu.
É muito interessante o seu ponto de vista sobre o que referi.
Em primeiro lugar, lembro-lhe que eu não dei informações, eu dei opiniões. As opiniões são todas legitimas em democracia, mesmo que sejam desagradáveis. E quando se dizem verdades, como as que eu referi, há sempre quem não gosta. Lamento!
Este é o País que temos, que não se encontra em guerra, que não possui nenhum inimigo potencial, que faz parte de uma aliança militar, que entre outras coisas lhe garante a protecção necessária em caso de ameaça, que faz parte de uma europa política e certamente num futuro a curto prazo igualmente militar.
O seu é um ponto de vista muito interessante, compartilhado por exemplo pelos generais do exército espanhol. Mas é verdade. Este é o país que temos, só que eu, e outros patetas como eu, estão a ficar extremamente descontentes com ele. Claro que, provavelmente estou errado, e afinal isto é tudo normal.
No entanto este “alguém” também acha que Portugal não tem, no momento, nenhum inimigo conhecido ou reconhecido como tal. Mas inimigos reconhecidos ou inimigos potenciais são coisas completamente diferentes.
A Grécia faz parte da mesmíssima aliança militar que nós, e no entanto, tem problemas com um vizinho que, espanto dos espantos, também faz parte dessa mesma aliança.
A verdade, é que a aliança atlântica não defende Portugal, como também não defendeu a Grécia. A NATO foi feita para defender o ocidente dos russos e do comunismo. Hoje, os comunistas que ainda existem já se renderam ás vantagens do capitalismo selvagem e encontram-se nos países ex-comunistas, os mais selvagem e inumanos representantes do capitalismo que alguma vez existiram na face da terra (vide China).
A NATO não implica ajuda automática a Portugal, meu caro. O tratado do Atlântico diz que o ataque contra um país é um ataque contra todos, mas diz que cada país deve agir segundo as suas possibilidades, capacidades (e sem o dizer, interesses). A União Europeia nunca será uma unidade política, porque tal unidade seria contra-natura. Já existiu algumas vezes na história e acabou sempre em desastre, com o tradicional cortejo de miséria humana, fome degradação e morte.
Mas enfim, continuaría a discorrer sobre coisas que são obvias, ou mais que obvias para qualquer cidadão atento, e inevitavelmente passaríamos a discutir história e geoestratégia em vez de questões sobre os aviões C-295/C-27J ou os aviões bombeiros Canadair CL-415.
Isto, embora, meu caro mcalberto (porque eu não me dirijo a “iluminados”, a “certas pessoas”, ou a “alguns”) todo o seu anterior post, seja ele próprio uma resposta a exactamente aquilo que você mesmo afirma não querer responder.
Mas continuando…
O avião de transporte ligeiro das forças armadas (que é de facto um ligeiro/médio) vem substituir o AVIOCAR. O AVIOCAR, por seu turno, comprado por Portugal em mais de vinte unidades, foi comprado de facto, tendo como objectivo principal o teatro Africano de operações. A sua utilização do ponto de vista táctico, poderia permitir, por exemplo uma mais rápida movimentação de tropas em teatros de guerra onde quando se tem uma força numericamente pequena, a mobilidade dessa força é da maior importância.
Quando acabou a guerra, ficámos com aviões que foram adaptados ás nossas necessidades, mas que de facto não cumprem exactamente nenhuma função específica, porque Portugal, visto no seu todo, entre o continente Europeu, os Açores e a Madeira, necessita de meios de defesa que nos permitam manter o contacto entre essas partes integrantes do país, coisa que o AVIOCAR nunca permitiu.
Portanto, a escolha deverá agora recair sobre um avião que tenha capacidade para ligar as várias ilhas ao continente e as várias ilhas entre si.
O numero de aviões será de doze. Devo dizer que o numero de doze não parece, pelo menos pelo que conheço, obedecer a nenhum estudo especifico, mas apenas a uma redução para metade do numero de aeronaves. O C-27J ou o C-295 serão muito mais baratos de operar que o C-130 e em muitas situações são utilizados C-130 quando se poderiam utilizar aviões mais pequenos, se tais aviões existissem.
No caso do C-27J esta aeronave, permite a sua utilização conjunta com o C-130, nomeadamente, permitindo a um piloto de C-130 passar para o C-27J com grande rapidez e reduzindo consideravelmente os custos de treino. Não basta ter aviões, é necessário ter pilotos preparados, e com um numero mínimo de horas para que a operacionalidade das unidades esteja garantida.
Portanto, mesmo sem ser necessário utilizar os aviões em operações militares, ou de apoio humanitário, eles precisam ser utilizados, quanto mais não seja para garantir a operacionalidade das forças.
Os novos aviões permitem por exemplo, apoiar forças na Bosnia, ou em outro lugar da Europa ou do Norte de África, que nos está mais próximo, com aviões mais modernos, mais seguros e menos gastadores.
Por outro lado, se devemos de alguma forma cooperar em forças de manutenção de paz da NATO ou da União Europeia, é da mais absoluta necessidade para o país, ser capaz de dar o seu contributo, para a segurança europeia, de forma a que possa ter uma palavra a dizer. Neste mundo, aqueles que se “encolhem” e dizem… “Que vão os outros…” estão condenados a nunca dizer nada.
Este tipo de avião, permite-nos cooperar por exemplo com a força anfíbia em que participam os Gregos e os Italianos (todos eles equipados com o C-27J) e os Espanhóis (que não operam este avião, porque o C-295 é montado na Espanha), utilizando o avião para apoiar as unidades, depois de elas serem colocadas no terreno.
O C-27J, pode transportar até 10 toneladas, embora o peso transportável se reduza consoante a distância a voar. Portanto, é o tipo de avião adequado para operar em algum teatro de operações mediterrâneo em caso de necessidade. Ao mesmo tempo, permite por exemplo apoiar qualquer operação humanitária nas ilhas, nos aeroportos mais pequenos, ou em pistas semi-preparadas, para evacuação de feridos, podendo operar em TODAS as pistas dos Açores, coisa que não é possível com o C-130. Pode ser utilizado no mesmo tipo de operações até Cabo-Verde a partir da Madeira, e de Cabo-Verde, pode operar para a Guiné-Bissau, onde esse tipo de apoio já foi necessário (a não ser, claro, que deixemos os Franceses tratar do assunto).
Os aviões são necessários:
Por razões que têm a ver com a nossa defesa nacional, com as nossas necessidades decorrentes do apoio ás populações em caso de catástrofe, e os Açores são uma zona sísmica, o país deve estar preparado para ajudar os açoreanos em caso de catástrofe natural, como deverá apoiar os alentejanos ou os minhotos se qualquer problema ocorrer.
Por razões que têm que ver com as nossas alianças, (que funcionam em dois sentidos), pois a EU e a NATO não são organizações onde só pedimos apoio, também temos que ser capazes de dar apoio se for necessário.
Por razões que têm a ver com o nosso compromisso, segundo o conceito estratégico de defesa nacional, que implica a necessidade de apoiar os países de expressão portuguesa.
O principal problema, é que doze, considerando que parte nunca está operacional por problemas técnicos ou por revisões periódicas, acaba sendo o mínimo indispensável.
Se não os tivermos, acabamos no ridículo de sempre.
Quando houver problema, andamos com as calças na mão a pedir coisas emprestadas, a esmolar aqui, a alugar acolá, quando de facto não é muito difícil adquirir tais meios.
Se formos pelo caminho simples, de deixar de comprar aviões de transporte militar para comprar aviões Canadair, não teremos os meios para potenciar a nossa defesa. Mas garanto, que resolver os problemas tapando buracos e tirando de um lado para tapar o outro, não adianta de nada.
Se formos por esse caminho, e o aplicarmos noutros campos, acabaremos a deixar de comparticipar os remédios para os idosos, para pagar os gastos exagerados da administração pública decadente que temos, porque essa, tem que ser sempre protegida
A não compra dos C-27J / C-295, não será nunca a solução para o problema dos incêndios, da mesma forma que os fogos não acabariam se não tivesse havido EXPO-98 ou EURO-2004. O problema é outro, o problema é o dinheiro gasto em quantidades astronómicas que não se vê. É fácil criticar as compras deste tipo, porque, embora seja uma compra para 20 a 25 anos (no mínimo), o volume total do dinheiro é bastante grande, e há muita gente que tem tendência a ver apenas a situação conjuntural, e não tem uma perspectiva global dos problemas.
O dinheiro para os Canadair terá que vir de outro lado, se os governantes neste país tiverem uma pinga de vergonha.
Mas garanto ainda, que podem até comprar sessenta, em vez de seis Canadair, que se a gestão das Câmaras Municipais e do Serviço Nacional de Protecção Civil, continuar como está, arderemos todos até ao osso, por muita agua que todos os Canadair do mundo lancem do Céu.
Cumprimentos