Por um lado:
Não entendo o que é um cidadão estruturado.
O Yosi, tem uma opinião e a opinião dele é baseada no que leu e que foi escrito por pessoas que tiveram melhor acesso à informação.
Isso é apenas normal, afinal nenhum de nós esteve em Aljubarrota ou na I Guerra Mundial e não é por isso que deixamos de ter opinião.
É verdade no entanto que também não podemos rejeitar e afirmar que os outros estão a contar as coisas ao contrário, apenas porque o que dizem está a contradizer aquilo que lemos.
Eu pessoalmente dou sempre importância às informações dadas pelas pessoas que estiveram nos lugares, mas também admito que é normalmente a informação mais dificil de enquadrar.
Tanto há pessoas amargas que passaram por situações mais complicadas e afirmam que era melhor nem lá ter ido, como há aquelas que afirmam que se moviam por onde queriam sem que nunca tenham posto a vista num "oposicionista".
Já aqui referi, que há muita literatura sobre a guerra em África, muita dela baseada em relatos feitos a quente, e muitas vezes sem a necessária distância para se poder ter em consideração.
A saída de Portugal de África, (da forma como foi feita) foi um episodio que nos deve envergonhar a todos.
Muitos, acharam (provavelmente com boas intenções) que a melhor forma de o país encarar a situação era criar a ideia de que a guerra estava perdida e que não havia nada a fazer.
Esta é a posição do Yosy, provavelmente considerando as publicações a qe teve acesso.
A derrota de Portugal sendo inevitável, justificaría a retirada.
O problema - e aqui dirijo-me ao Yosy - é que desde 1961 que todos os estrategas previam a derrota de Portugal em apenas seis meses.
Em 1971, continuavam a prever essa derrota após seis meses (embora já não com tanta confiança, diga-se).
Portanto, São uns seis meses um bocado esquisitos, não acha Yosy
??
O que é que lhe garante que a situação estava mais complicada em 1974 quando Portugal controlava completamente Angola que o que estava em 1961 quando ocorreram os massacres e praticamente não havia tropas?
Alguns dados não batem certo, e há coisas que não se ajustam, nas historias que vão sendo veiculadas sobre a guerra em África e sobre o processo que se lhe seguiu.
O comportamento de Portugal como Nação em África foi uma vergonha, e em vez de tentarmos fazer aquilo que sempre fazemos neste país, que é encontrar uma desculpa, fariamos melhor se tivessemos coragem para admitir que não há desculpa para a forma irresponsável como deixámos África.
Até os cubanos acusam os portugueses de terem debandado. Embora estes apenas tenham sido surpreendidos pela rapidez da debandada e pelas dificuldades de comunicação entre os eixos Moscovo -> PCP -> Esquerda Barbuda/Otelo -> Fidel Castro.
A fuga, a debandada, a destruição propositada das estruturas de comando, impossibilitando o cumprimento de ordens, a destruição do exército autoctone, com o desarmamento apressado dos militares africanos, tudo isto, não encaixa Yosy. Estas coisas não fazem sentido.
Em Moçambique mais de metade das tropas eram africanas. Eles fugiram para casa?
Porque é que durante a guerra quase não houve deserções de africanos das fileiras, quando era sabido que se eles fugissem seria praticamente impossível encontra-los?
Porque foram desarmados, quando era óbvio que devidamente enquadrados eles conseguiriam manter a ordem?
Yosy, eu já li os livros que você nos apresentou.
São fontes interessantes e sem dúvida feitas por pessoas que se dedicaram ao trabalho que fizeram.
Mas continua a haver demasiadas perguntas sem resposta.
E enquanto houver muitas perguntas sem resposta, a História continuará a mudar.
Por isso, não podemos agarrar em livros escritos já há alguns anos e acusar os outros de estarem a ler mal a História.
A História, ainda não está escrita.
Cumprimentos