Pessoalmente tambám concordo que devemos ter algum cuidado com as fontes de informação e nomeadamente com as conclusões que alguns dos intervenientes tiram sobre o processo, quer a Guerra Colonial em si, quer o posterior processo de descolonização, uma vez que estão intimamente ligados.
Devemos ter tanto cuidado em aceitar como verdades absolutas as referências a fontes como Kaulza de Arriaga, como devemos ter o necessário cuidado em filtrar as afirmações de dirigentes do pós 25 de Abril, que se esforçam tremendamente por explicar aos portugueses que a guerra estava perdida e que não havia nada a fazer.
A afirmação de que a guerra estava perdida, é muito conveniente para explicar muitas das acções de absoluta indiscipina e deserção que ocorreram após a revolução.
Tanto aqueles que estiveram envolvidos nas operações por parte do governo (que naturalmente justificam as suas posições e explicam os resultados consoante o seu prisma) como aqueles que estavam do lado oposto, politicamente ou não e que também tendem a criar a ideia de catástrofe impossível de superar, têm razões para apresentar os pontos de vista que apresentam.
Nenhum dos lados é ou foi um observador efectivamente imparcial.
Ambos os lados têm o que justificar:
Uns têm que justificar o fracasso das operações
Outros têm que justificar o que foi na prática deserção e insubordinação.
= = = =
Já agora relativamente à questão de Luanda, compartilho do ponto de vista relativo à maior liberdade e progresso que se notava em Luanda nos inicios dos anos 70.
A Economia de Angola tinha atingido um primeiro estágio de equilibrio financeiro e preparava-se para começar a crescer a sério.
Já não concordo com a aproximação à Africa do Sul.
Históricamente quem esteve sempre ligado à África do Sul foi Moçambique, ou para melhor dizer, o sul de Moçambique. E tão grande era essa ligação, que houve mesmo uma tentativa de tomada do poder por parte da minoria branca.
É verdade que a rádio de Lourenço Marques chegou a emitir para Angola, a pedir que em Angola se lhes juntassem.
Nessa altura Rosa Coutinho até mandou censurar o sinal em Luanda, emitindo na mesma frequência (isto segundo as palavras do próprio)
Mas a relação de Angola com a África do Sul sempre foi muito menor que a de Moçambique. Luanda estava ligada umbilicalmente a Lisboa, enquanto que Lourenço Marques era naquele tempo, como continua a ser, um satélite de Joanesburgo.
A mais conhecida característica dessa dependência, é o facto de os carros em Moçambique andarem pela esquerda (como na África do Sul, de onde vinham os carros) enquanto em Angola andavam pela direita.
Só no sul de Angola, havia realmente alguma ligação com a África do Sul (via Namibia) mas a África do Sul não deixava de ser uma realidade muito distante onde só se chegava indo de avião, enquanto que de Lourenço Marques até à fronteira, se podia ir de carro em duas horas até à "Namacha" na fronteira com a Suazilandia ou até à fronteira com a África do Sul de Komatipoor.
Cumprimentos