A questão de PS ou PSD é completamente irrelevante no contexto atual.
Eu creio que já aqui contei o que se passou com um ex colega meu, que em meados da década de 1990 foi comprar uma casa.
O responsável do banco apresentou duas propostas de financiamento, uma com prestação fixa (que era muito dificil de pagar no inicio) e outra com prestação que era muito baixa no inicio e depois aumentava gradualmente, mas que era a que a maioria das pessoas escolhia.
A pessoa em causa fez contas e respondeu ao senhor do banco, que se escolhesse a segunda opção, dentro de alguns anos não tinha como pagar a prestação da casa.
Então, o homem do banco, respondeu de forma muito cândida:
«Não se preocupe, porque toda a gente está na mesma situação e quando isso acontecer, o governo tem que arranjar uma solução».
Isto foi o que aconteceu a Portugal e a outros países.
A União Europeia deu dinheiro para investimento, mas Portugal tinha que pagar uma parte (a outra era a fundo perdido)
Mas quando os ministros das finanças disseram a Bruxelas e aos bancos, que os seus países não teriam dinheiro para pagar a parte com que tinham que entrar (para não perder o financiamento a fundo perdido) responderam-lhes ou deram-lhes a entender, que se houvesse problema, haveria sempre a Alemanha, que não podia deixar cair nenhum país da UE na falência.
O nosso problema (e mais no caso grego) ocorre quando os bancos entendem que a Alemanha, afinal não estava disposta a resolver o problema e não pagaria.
Ocorreu a nível europeu, o mesmo que aconteceu com o meu ex-colega.
O comprador foi iludido, com a ideia de que mesmo que não tivesse dinheiro para pagar, alguém haveria de resolver o problema (o governo no caso da compra da casa e o Bundesbank, no caso dos emprestimos aos países).
E é aqui que reside o problema.
Porque o banco sabia perfeitamente, que se o governo não arranjasse uma solução, isso provocaria uma crise social e o banco estaria sempre a salvo.
Os bancos sabiam na altura, que com uma economia cada vez mais baseada no crescimento das bolsas e nos produtos financeiros, se havia coisa que um governo não poderia fazer, era deixar cair um banco, porque se caísse um, todos poderiam cair como castelos de cartas.
E foi o que esteve à beira de acontecer nos Estados Unidos, com a falência do Lehman Brothers e com os bancos americanos obrigados - literalmente OBRIGADOS - a receber dinheiro, para evitar os problemas que poderiam ocorrer.
Em Portugal tivemos uma situação idêntica com o BPN. O outro banco que fechou foi o BPP (Banco Privado Português), mas como esse era visto como o banco dos ricos, o problema da convulsão social não se colocava e o banco tinha poucos depositantes e esses depositantes nunca conseguiriam fazer manifestações de grande dimensão.
Tanto o BPN como agora o BANIF, são apenas demonstrações do resultado do tal homem que dizia aos clientes para se endividarem, porque se houvesse problemas, o Estado tinha que fazer qualquer coisa.
Portanto, há culpa do sistema financeiro, mas também há culpa do portuga, deslumbrado com o dinheiro barato e para o qual o Portugal não poderia ter apresentado garantia se lha tivessem pedido.
Logo, há culpa dos banqueiros franceses e alemães e também britânicos, que venderam dinheiro demasiado barato aos governos, mas também há culpa dos governos, que foram iludidos com a canção de embalar que lhes foram cantando. Estes governos foram o do Guterres, o do Durão Barroso e o do Sócrates.
O governo do Cavaco não teve esse problema, porque o Cavaco (que não é um neo liberal) também acreditava nas vantagens da injeção de dinheiro na economia, mas enquanto foi primeiro ministro, era só travar um pouco que a situação podia ser corrigida, já que a dívida estava controlada.
Era preciso travar, mas o Guterres não travou, o Durão não travou e para cúmulo, em 2008 a besta estúpida de Paris, não só não travou, como carregou no acelerador da dívida aumentando-a em 50% em apenas alguns meses.
Este problema não tem a ver com o sistema partidário, é um problema do sistema financeiro e não é o PS o PSD ou o CDS ou outro partido que o podem resolver.
Mas não podemos deixar de dizer - porque é verdade - que é obscena e criminosa a tentativa de limpar a culpa daquele que é de longe o principal problema pelo gigantesco mar de esterco em que estamos metidos.
A travagem era precisa desde Guterres (o Cavaco preparou a coisa para fazer investimentos durante o seu governo, o que obrigaria o PS a uma política de contenção, se quisesse manter a economia nos trilhos depois de 1998). O Guterres nada fez e é nessa altura que o Cavaco aparece com a celebre alegoria do «Monstro do Deficit».
Na verdade o Cavaco é parcialmente responsável, porque deu o exemplo. Os outros (Guterres e Barroso) tinham que travar, mas não quiseram ficar atrás. Eles atuaram de forma irresponsável. Já o bandido de Paris, não agiu de forma irresponsável, ele agiu de forma criminosa.