No meio de algumas boas decisões acho que o Sr Paulo Portas falhou na aposta com os ENVC.
Alguém por acaso me sabe explicar esta preferência em detrimento do Arsenal do Alfeite ou da Lisnave?
Não é bem assim. Vejamos, o programa tal qual foi idealizado pela Marinha era de:
1. A Marinha projectar os navios e contruir o primeiro (que serviria de protótipo) no AA.
2. Os ENVC e os EN do Mondego construirem os restantes, depois de tudo acertado com a experiência do primeiro navio.
Isto era o correcto e que servia para revitalizar a indústria naval ao mesmo tempo que a Marinha tinha a liderança do projecto e obtinha exactamente o que pretendia. Foi assim que o programa foi lançado ainda no governo Guterres I, e foi assinado o protocolo entre os três estaleiros. Mas eis que, passado algum tempo, saí um despacho do Secretário de Estado da D.N. que altera tudo, excluindo os ENM e o AA e passando os ENVC a comandarem as operações. Obviamente que houve aqui influência dos ENVC, e isto a não foi alheia a intenção desse governo de privatizar os estaleiros (depois de num primeiro momento querê-los pura e simplesmente fechar, tal como queria com as OGMA). Com o programa das construções militares, os ENVC revitalizavam-se e incorporavam alguma tecnologia militar. Simplesmente, a Marinha passou à condição de cliente/parceira menor, ou se quisermos,
parceira menor que por acaso é quem vai ficar com os navios.
E aqui é que falhou Paulo Portas, ao ter alinhado nisto provavelmente entusiasmado com a conversa dos ENVC em revitalizar os estaleiros, e de haver interesse no estrangeiro. À boa maneira das empresas portuguesas, por tudo e por nada os ENVC anunciavam a toda a gente que as marinhas de Marrocos, Argélia, Argentina, Tunísia, Indonésia estavam interessadas, como se os contratos já estivessem garantidos. Show off.
Os ENVC passaram a ser responsáveis pelo projecto (que já estava muito adiantado pela Marinha), no qual mandavam mais que o cliente. E depois acontecem coisas como a Marinha querer motores MTU e os ENVC comprarem Wartsila, ou começarem a construir e montar os blocos dos navios sem estarem totalmente apetrechados contrariamente ao previsto, até porque o projecto não estava concluído, de maneira a se terem cascos a flutuar (para a fotografia) o mais depressa possível. E isto com a concordância do Ministério da Defesa, que fez com que as verbas dos dois NPO há muito que já tenham sido transferidas para os ENVC; ou seja os navios já estão pagos apesar de não terem sido aceites pelo cliente. E os ENVC já começaram a gastar a verba dos NCP, comprando os motores, à revelia da Marinha.
Nem vale a pena dizer que construir logo dois protótipos, duplicando os possíveis erros, e não estando o projecto concluído, é um disparate completo.
A Marinha também terá as suas responsabilidades, mas os ENVC não se têm comportado nada bem.
Como já antes disse aqui: os problemas começam no facto de todas as entidades envolvidas pertencerem ao Estado. E assim surgem os interesses das várias burocracias, os interesses políticos e nunca se consegue um relacionamento normal cliente-fornecedor. Em condições racionais, o facto de um estaleiro do estado fornecer a Marinha teria todas as condições para funcionar. Mas estamos a falar do Estado Português: é um caso perdido de incapacidade e de incompetência inerentes.