Não queria entrar na discussão mas aqui vai:
Exceptuando situações muito concretas em que não é possivel agir de outra forma,( ordem unida, demonstrações, etc.) há que tratar a arma de fogo como se estivesse sempre pronta a disparar. Isto implica que não de deverá ter o dedo no gatilho e que não se deve virar a arma para algo que não se pretenda atingir. As operações de segurança são essenciais até porque partem da premissa de que a arma está provavelmenta carregada e quando bem feitas, em local apropriado e mantendo de outros uma distancia segura, então são a unica maneira de receber e guardar a arma em condições, isto quando não se quer que ela esteja "em prontidão". Resumindo, se interiorizarmos que a arma está sempre carregada e agirmos como tal, tudo corre bem. O problema impossível de resolver onde e por quem quer que seja é que "errare humanum est"
Concordo a 100%!
Só "algumas palavrinhas" da minha experiência como instrutor comandante de pelotão, comandante de companhia de instrução e elemento participante nalgumas FND, para contextualizar a coisa militar neste assunto, uma vez que é diferente de outros contextos (segurança pessoal, SWAT, etc):
A instrução militar básica, e portanto o primeiro contacto com armas por parte dos instruendos, ocorria em classes geralmente numerosas (30-40 nos piores cenários) e com equipas de instrução reduzidas (2 instrutores geralmente, nalguns casos, poucos, 3 instrutores). Portanto tínhamos um cenário em que pessoas absolutamente inexperientes tinham que ser controladas por um número reduzido de militares. Assim para evitar acidentes durante a instrução, aos instruendos era/é ensinado e obrigado a cumprir um conjunto de regras e procedimentos apertadas para evitar acidentes, nomeadamente, as operações de segurança, não apontar as armas a ninguém, manter o dedo fora do gatilho ao longo do "guarda-mato", etc. Portanto as operações de segurança durante a instrução militar são (para além de uma forma de desmuniciar uma arma) uma técnica de controlo dos instrutores para evitarem acidentes quando têm um elevado número de indivíduos inexperientes a manuseá-las (situação que era recorrente).
Esta técnica de controlo (operações de segurança) é ainda mais crítica quando se está na carreira de tiro uma vez que as armas de tiro, regra geral, não são as armas que são utilizadas na instrução (não, não somos burros, as primeiras estão todas amassadas da instrução e as segundas estão óptimas para tiro, mas é sempre a G3).
Outra questão prende-se com o facto da arma só ser utilizada durante o dia normal de instrução, sendo no final do dia entregue na arrecadação de material de guerra (procedimento que não era/é feito nalguns cursos de forças especiais). Ainda que também fosse criados procedimentos para que no inicio do dia de instrução o instruendo recebesse a mesma arma, nada garantia que não tivesse ocorrido alguma troca durante este processo, pelo que as operações de segurança era uma forma de confirmar que, no caso de troca, a arma que recebeu não estava carregada por incúria/inexperiência do seu utilizador anterior. Portanto esta situação caracteriza-se pela probabilidade da arma que se recebe da arrecadação de material de guerra não ter sido a que se utilizou no dia/semana anterior, algo que provavelmente iria acontecer depois de terminado o período de instrução militar e o militar comece a fazer serviços (Of/Sar de dia, guarda, reforços, etc).
Pode ser algum excesso de zelo ? Talvez. Mas esta é uma característica de todos os militares independentemente da nacionalidade e do profissionalismo: redução do risco, se possível ao zero, ainda que se perca eficiência. São por isso pouco profissionais ou burros? Não, são produto de uma cultura castrense, só isso. Obviamente que quem não foi militar e anda (ou gostaria de andar) no negócio das pistoladas tem outra atitude. Este últimos é que estão bem? Não sei nunca lá estive
A não ser que eu perceba o que estes últimos fazem e em que circunstâncias.
Outro contexto é o da responsabilidade. Se um soldado enfiar um tiro num outro camarada por incúria, a hierarquia tem a sua quota de responsabilidade. Para além disso, em última análise alguém (o contribuinte) vai ter que pagar as indemnizações devidas à família do morto/incapacitado. Noutros ambientes, que não o militar, outros pagarão, se calhar as seguradoras, na melhor das hipóteses (digo eu ... porque aqui ainda ninguém explicou nada destes contextos). Para além disso se um civil fere outro isso não é noticia (i.e. não é noticia nem estatística os mercenários que morrem no Iraque e no Afeganistão), se um militar num improbabilidade fere outro isso é noticia de abertura do telejornal com direito a directo à porta da casa da família, com as consequências politicas óbvias na opinião pública.
Relativamente ao contexto das operações militares, que já foi aqui referido. Antes de se ter acesso a instalações militares (Quarteis-generais, Aquartelamentos, etc) é obrigatório desmuniciar as armas, algo que é feito recorrendo ao que militarmente referimos como operações de segurança. Este procedimento é obrigatório em TODOS os exércitos e aplicado a todos aqueles que queiram ter acesso às instalações. (Uma vez em CAMPWAREHOUSE no Bar Português uns civis americanos foram “convidados” a desmuniciar as pistolas ou em alternativa a ter que sair do referido Bar. Obviamente que acederam em desmuniciar as pistolas). Não há necessidade de circular com armas desmuniciadas porque as instalações têm pessoal a fazer segurança. Como o mccormick referiu, ainda assim a filosofia do militar deve ser a de manusear a arma como se a mesma tivesse municiada.
Haverá pontualmente algum exagero? Talvez, inclusivamente por parte de alguns militares (ex-militares) que fora do contexto militar não façam o “reset” para outros contextos. Temos pena.
Só gostaria era perceber quais as situações especificas (reais, não as de carreira de tiro e cursos, etc) em que o ACADO por sinal está envolvido, para perceber se ele tem razão quando diz que se deve andar sempre com as armas municiadas. Infelizmente nunca conseguirei(emos) ter uma atitude critica às suas opiniões uma vez que este gosta de dar a entender que é um mercenário (
contractor, como agora se diz), mas ele prefere a penumbra da dúvida e não adianta mais (deixa uns vídeos no youtube). É como eu dizer que o Mourinho orienta obviamente bastante mal a equipa porque a minha experiência diz que blá, blá. No fim vocês perguntam: afinal quem és tu e o que já fizeste? E eu respondo: Epá isso não posso dizer … Isto parece um sketch do
Gato Fedorento!
Para terminar parece-me que o que alguns referem como
desmuniciar é o que os militares denominam de
operações de segurança. Dai a confusão e as centenas de linhas de discussão sobre este assunto.