1º Dezembro e 28 anos de guerra

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papatango

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1º Dezembro e 28 anos de guerra
« em: Dezembro 01, 2006, 03:14:04 pm »


Há 366 anos, uma revolta palaciana ocorrida em Lisboa, e iniciada por pressão da nobreza portuguesa, que pressionou o mais rico dos nobres portugueses a encabeçar a revolta (sob pena de instauração de uma república de nobres).

As pessoas comemoram o feriado, a festa, e esquecem-se na esmagadora maioria dos casos que 1 de Dezembro de 1640 é também a data que dá inicio a um dos mais terríveis, difíceis e dramáticos períodos da história de Portugal. A guerra da restauração.

Nessa guerra, os portugueses tiveram não só que lutar contra a coroa dos Habsburgos (a família de linhagem austríaca que ocupava os vários tronos da península), mas também contra a indiferença de antigos aliados e contra a avareza de novos aliados, mais interessados no que pudessem roubar que no apoio a Portugal.

Nesse período dramático, Portugal lutou pelo direito a ser reconhecido na cena europeia, de novo como uma nação com o direito a existir. Num momento histórico em que o clima era mais propício à criação de grandes estados do que à manutenção dos mais pequenos, Portugal praticamente estava sozinho, perante os espanhóis, que embora enfraquecidos pelos conflitos em que tradicionalmente se envolviam, continuavam a ser uma potência militarmente superior a Portugal.

Essa guerra de 28 anos pelo direito a existir, deveria servir de lição.

O povo, traído em 1580 por uma nobreza comprada pouco teve que ver com a restauração de 1 de Dezembro, porque ela foi acima de tudo um golpe palaciano.

Mas aqueles que morreram durante 28 anos de guerra não eram (na sua maioria) membros da nobreza. São eles, aqueles que numa das mais longas, senão a mais longa das guerras em que Portugal esteve envolvido, deveriam ser os homenageados em 1 de Dezembro de 1640.

Devemos hoje, não só homenagear aqueles que durante tantos anos lutaram, como reflectir sobre o que acontece quando as elites entram em decadência perdem os princípios e se vendem a troco de uns quantos tostões, ou lugares de ilusório prestigio em empresas espanholas.

Os nobres que fizeram a revolução, foram os mesmos que se prostituíram ao dinheiro fácil de uma monarquia decadente, que se lhes apresentava como vencedora em 1580.

Aqueles que hoje se vendem e vendem Portugal aos mesmos a quem o país foi vendido em 1580, estão a seguir o mesmo caminho.

As vantagens económicas, a integração económica e o acesso ao grande mercado da Espanha, também foram argumentos em 1580, tragicamente, como hoje.

Mas Portugal pagou um preço alto, ao ter entrado no esquecimento, e ter deixado de aparecer como um país independente, que era apenas uma província espanhola que pedia auxilio para não deixar de existir.

Que não haja dúvidas.
Todos os países europeus, da Inglaterra à França nos traíram durante esse período, e só a existência de um império,  que quis continuar a ser português nos deu alguma capacidade negocial, que permitiu finalmente o reconhecimento por parte da Espanha de que tinha perdido a guerra.

A determinação do povo, salvou-nos da extinção, mas a traição da nobreza e das elites, essa constituiu-se num vírus que continuou. Continua até hoje no corpo do país, como uma doença incurável, um vírus mortal, que pende sobre as nossas cabeças como uma espada de Démocles.

Se seremos capazes de resistir, depende de cada um.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Marauder

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Re: 1º Dezembro e 28 anos de guerra
« Responder #1 em: Dezembro 01, 2006, 04:14:59 pm »
Citação de: "papatango"
Nessa guerra, os portugueses tiveram não só que lutar contra a coroa dos Habsburgos (a família de linhagem austríaca que ocupava os vários tronos da península), mas também contra a indiferença de antigos aliados e contra a avareza de novos aliados, mais interessados no que pudessem roubar que no apoio a Portugal.


Somente umas info extras, a partir de 1648 inicia-se a separação dos Habsburgos espanhóis dos austriacos, em que deixam de se poder auxiliar em caso de conflictos.

A guerra franco-espanhola termina em 1659 com o Tratado dos Pirineus, libertando Espanha para talvez futuras investidas contra Portugal.

Surge a Holanda... de jure em 1648, potencia comercial que fez do império português o seu alvo preferido!
 

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Jose M.

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« Responder #2 em: Dezembro 01, 2006, 04:49:29 pm »
He hecho el burro y quito las pruebas  :oops:
« Última modificação: Dezembro 01, 2006, 05:54:06 pm por Jose M. »
 

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manuel liste

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« Responder #3 em: Dezembro 01, 2006, 05:15:47 pm »
Ejem... sin duda que no estaban sozinhos, pero Aljubarrota fue en 1385  :lol:
 

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Jose M.

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« Responder #4 em: Dezembro 01, 2006, 05:28:56 pm »
Manuel Liste dixit:

 
Citação de: "manuel liste"
Ejem... sin duda que no estaban sozinhos, pero Aljubarrota fue en 1385  :oops:  :oops:  :oops:  :oops:  :oops:

   No volveré a escribir en el foro los viernes después de tomar cañas con los clientes
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 :oops:  :oops:  :oops:

(Tampoco es para ponerse así, total que son 300 años en los millones que tiene el Universo?)
 

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manuel liste

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« Responder #5 em: Dezembro 01, 2006, 05:35:51 pm »
Citar
(Tampoco es para ponerse así, total que son 300 años en los millones que tiene el Universo?)


...xacto, desde el punto de vista geológico ambos hechos sucedieron en la misma época  :wink:
 

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JoseMFernandes

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« Responder #6 em: Dezembro 01, 2006, 06:46:31 pm »
Papatango
"e iniciada por pressão da nobreza portuguesa, que pressionou o mais rico dos nobres portugueses a encabeçar a revolta (sob pena de instauração de uma república de nobres)".


Bem lembrado ! O duque de Bragança bem tentou eximir-se a essa responsabilidade, mas acabou por penosamente 'aceitar' (graças ao esforço e persistencia de sua mulher, que nem portuguesa era, e que de resto viria mais tarde a ser regente de Portugal).A 'indolencia' do futuro D. Joao IV era ja tao famosa nas cortes europeias quanto a sua fortuna, e nao suscitava entusiasmo ou bons pressagios a sua subida ao trono...mas resignaram-se quando confrontados com a possibilidade de uma 'republica portuguesa', como é descrito na Corresp. Diplomatica de França relativa a esse periodo.
Para quem for apreciador de Historia "what if..." poder-se-ia imaginar o que seria o futuro de Portugal se essa hipotese se tivesse concretizado... :?  



Embora como simples 'fait-divers' mas que permite dar uma ideia da riqueza do Ducado de Bragança ao tempo, mesmo em relaçao a um monarca como Filipe IV,  ficou famosa a forma como lhe foi dado conhecimento:

O duque de Olivares, primeiro-ministro de Filipe IV, anunciou-lhe a Revoluçao em Portugal felicitando o Rei pela enorme aquisiçao de bens que este acontecimento lhe proporcionaria, através da confiscaçao dos bens do Duque de Bragança.[
trad. de Tab.Analytique Diplom.Française-mas existe também noutros documentos descriçao integral, e saborosa por sinal, dessa reuniao)
 

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papatango

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« Responder #7 em: Dezembro 01, 2006, 09:22:15 pm »
O Duque de Bragança, não era apenas o nobre mais rico de Portugal, ele era também o nobre mais rico de toda a peninsula ibérica.

Pessoalmente, estou convencido de que o Duque de Bragança tinha outros planos, e esses planos incluiam a própria coroa dos Habsburgos espanhóis.

Acredito também que o Duque se convenceu de que a tal unificação sob a égide portuguesa, deixou de ser possivel depois que no Verão de 1640 a Catalunha se separa.

De realçar também, como disse, a figura de D. Luisa de Guzmán, natural de Sevilha e filha do duque de Medina Sidónia, e escolhida pelo próprio Rei, para «controlar» o Duque de Bragança que ficou na história pela frase:

Antes rainha por um dia, que duquesa para toda a vida.

O Duque de Bragança, também tinha por exemplo o direito apenas dado a monarcas estrangeiros, de conservar os seus próprios «serviçáis» quando em banquetes oficiais oferecidos pelo rei em Madrid, o que dá uma ideia da influência e do prestígio que detinha.

= = = = = =

Quanto à República de nobres, acredito que estaria condenada ao fracasso.

As vitórias de Portugal sempre estiveram ligadas ao poder e apoio do povo e da burguesia das principais cidades. Uma república de nobres, nunca conseguiría o apoio do povo e o país nunca sería unificado para lutar contra os espanhóis.

Lembre-se de que o golpe palaciano, feito pelos nobres, tem também muito de necessidade estratégica dos nobres para manter o poder. A revolução era esperada, o mal estar e o ódio aos espanhóis crescia a olhos vistos e já em 1637 houvera revoltas no Alentejo.

Os nobres tiveram medo que a revolta rebentasse nas cidades e se dirigisse contra eles próprios. Eles apenas apanharam o combóio, e provavelmente acabaram por salvar a situação, pois se já foi dificil a Portugal conseguir apoios internacionais, mais dificil sería noutras circunstâncias.

A via escolhida foi a via legalista, e colocou-se no poder a casa reinante que efectivamente tinha o direito de sucessão, e que além disso era a mais rica família do país.

D. João IV não foi provavelmente um rei muito eloquente. Não foi um grande rei. Mas isso tornou-se pouco relevante.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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LM

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« Responder #8 em: Agosto 18, 2008, 12:18:23 pm »
Quidquid latine dictum sit, altum videtur