"O derrotado do Texas e Ohio vai ser pressionado a desistir"
HELENA TECEDEIRO
Entrevista com John Mercurio, ex-editor de política da CNN e director do diário 'online' Hotline
Se Hillary Clinton perder as primárias de terça-feira no Texas e Ohio, é o fim da sua campanha?
Diria que sim. Ela precisa não só de vencer ambos, mas vencer por uma grande margem. Bill Clinton disse isso mesmo no Texas. Ela precisa de ganhar, não só por causa dos delegados em jogo, mas porque os democratas começam a ficar muito nervosos por o partido ainda estar tão dividido quando os republicanos se começam a unir em volta de John McCain. Começam a pensar que uma eleição que parecia fácil de vencer há alguns meses revelam-se agora muito competitivas.
Hillary pode esperar ou é a única hipótese de ser presidente?
Eu diria que ela terá a opção de voltar a apresentar-se, mas se Barack Obama chegar à presidência, é pouco provável que o faça contra ele. Se o próximo presidente for republicano, então sim, os democratas irão procurá-la. Mas existe a ideia de que este é o ano em que Hillary tinha a melhor hipótese. Além de que, se ela for candidata dentro de quatro anos, terá de abandonar o lugar no Senado, uma vez que estaria a concorrer nessa altura a um novo mandato.
Se Obama chegar à convenção com mais delegados eleitos, os superdelegados terão coragem de nomear Hillary?
Mesmo se os democratas ainda estão divididos entre Hillary e Obama, o único assunto em que são unânimes é que não querem que sejam os superdelegados a escolher o nomeado. Depois das primárias do Texas e Ohio, haverá muita pressão sobre o derrotado para desistir da corrida de forma a unir o partido. Ninguém quer que seja um pequeno grupo de responsáveis partidários a decidir quem é o vencedor, porque no dia seguinte, John McCain viria dizer: "o meu adversário não é a escolha dos eleitores".
Mc Cain parece já ter escolhido o adversário. Tem atacado Obama por ser mais fácil de vencer?
Se olharmos para as sondagens, Obama obtém melhores resultados face a McCain do que Hillary. Mas este é um ano favorável aos democratas: um presidente muito impopular, a guerra no Iraque, a economia a caminhar para a recessão. A participação nas primárias democratas tem sido quatro ou cinco vezes maior do que nas republicanas. Além disso, Obama atrai muito mais os eleitores independentes, apolíticos, do que Hillary. Por outro lado, esta tem armas contra McCain que Obama não tem. Já provou saber como vencer. É uma lutadora.
Obama está preparado para ser o alvo de todos os ataques?
Já começou a ser. E as coisas vão ficar mais feias. Vai ser uma campanha brutal. Ambos os candidatos vão parecer pessoas totalmente diferentes no dia das eleições. A questão é: Será que Obama está preparado? É suficientemente forte para ripostar? Nestas primárias, o senador do Ilinóis já provou que sabe enfrentar ataques. Conseguir derrotar a máquina política dos Clinton - que é impressionante - é um feito. Especialmente da parte de uma pessoa que surgiu do nada e há quatro anos não era ninguém.
Se vencer em Novembro, Obama estará preparado?
É impossível saber o que vai acontecer numa presidência. Por isso é difícil saber se alguém está preparado antes de ver como é que o mundo vai estar dentro de um ano. Não me parece que George W. Bush estivesse preparado para os atentados de 11 de Setembro.
Que consequências pode ter a candidatura de Ralph Nader?
Não muitas. Nader teve um bom resultado em 2000, mas recandidatou-se em, 2004 e obteve apenas 0,3% dos votos. O seu maior desafio é aparecer nos boletins de voto, uma vez que cada estado tem as suas regras de inscrição.
Hillary queixa-se que os media preferem Obama. É verdade?
Sim. Mas isso está a mudar à medida que ele se torna no favorito. E aconteceu porque durante muito tempo, todos tinham a certeza que Hillary seria a nomeada. E afinal, os jornalistas preferem o candidato que tem a melhor história e Obama é uma óptima história. O que seria interessante numas eleições entre Obama e McCain é que ambos gozam da simpatia dos media.
DN