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Conflitos => Conflitos do Passado e História Militar => Tópico iniciado por: papatango em Abril 09, 2005, 10:24:17 pm

Título: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Abril 09, 2005, 10:24:17 pm
Uma das coisas interessantes sobre a batalha do rio Lys, que em francês se diz "La Lys", como se diz "La Seine", é o numero de alemães que participaram no ataque.

De facto, temos que reconhecer que as tropas portuguesas não estavam nas melhores condições. Tinham falta de oficiais para enquadrar as tropas, assistência deficiente e rotações quase inexistentes, comprovativas do exagero do numero de tropas enviadas para a Flandres.

Mas, estou em crer, que mesmo que nenhuma das conhecidas desvantagens ocorresse, com a quantidade de alemães que nos atacaram (a proporção terá chegado a 12 para 1) provavelmente tería acontecido qualquer coisa parecida.

De aqui, temos que retirar lições. Os alemães atacaram as forças portuguesas, porque estar eram o alvo mais fácil. A verdade, é que os alemães tinham alguma razão.

Confesso que tenho sentimentos muito contraditórios sobre esta batalha, como sobre toda a participação portuguesa na guerra.

O nosso desejo cego de "entrar na Europa"  e de fazer parte do concerto das nações, resultou nisto. Hoje, não lhe chamam concerto das nações, parece que hoje lhe chamam nucleo duro da União Europeia.

Muda a água, mas o rio é o mesmo  :roll:

Cumprimentos
Título:
Enviado por: emarques em Abril 10, 2005, 12:51:49 am
Existem alguns problemas no artigo, na minha opinião.

Por exemplo, a 1ª Divisão estava, quando começou o ataque, a embarcar em transportes a mais de 10km da frente, por isso a frase "A investida alemã, é tão forte que as forças portuguesas da 2ª Divisão recuam desordenadamente para a segunda linha, onde se encontra a 1ª Divisão, que também começa a debandar." tem algum problema. :)).

Também é interessante notar que enquanto o centro português, formado por batalhões lisboetas, se desmoronou aos primeiros tiros, a "Brigada do Minho" foi a que apresentou maior resistência ao avanço alemão. :mrgreen:

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.arqnet.pt%2Fimagens%2Fimag040102.jpg&hash=7ce8426d5bde86f7c3b7ab0e78a4bc60)
Título:
Enviado por: fgomes em Abril 10, 2005, 02:32:29 pm
A nossa intervenção na I Guerra Mundial foi o perfeito exemplo de como é que NÃO deve ser a política externa. A intervenção foi, na minha opinião, apenas motivada pelos interesses do partido Democrático, dirigido pelo Dr. Afonso "Racha Sindicalistas" Costa. O que esta gente queria era em primeiro lugar consolidar o seu poder. O pretexto de manter as colónias então invocado, era propaganda. A Inglaterra nunca exigiu a nossa intervenção, muito pelo contrário.
Título:
Enviado por: papatango em Abril 10, 2005, 07:58:37 pm
Citação de: "emarques"
Por exemplo, a 1ª Divisão estava, quando começou o ataque, a embarcar em transportes a mais de 10km da frente, por isso a frase "A investida alemã, é tão forte que as forças portuguesas da 2ª Divisão recuam desordenadamente para a segunda linha, onde se encontra a 1ª Divisão, que também começa a debandar.



Err  :oops:
emarques, não se trata da 1ª Div. portuguesa, mas sim da 50º Div. britânica, que deveria render o sector central e norte da 2ª Div. portuguesa.

Dá para ver que normalmente os textos que coloco no site, não são cópias, mas muitas vezes sumulas de dados compilados de outros lados. Neste caso houve uma mistura de textos,
As minhas desculpas. A incorrecção foi removida. A versão será colocada online ainda hoje.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Luso em Abril 11, 2005, 10:28:47 pm
"La Lys-Alemães eram mais que as moscas"

Achei graça ao título estilo "24 Horas"... :twisted:
E embora não mereças, Papatango, deixo-te aqui umas curiosidades...

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg.photobucket.com%2Falbums%2Fv249%2FLuso308%2Fsnp1.jpg&hash=4e34f7a70c73437c821d40accefcf0a4)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg.photobucket.com%2Falbums%2Fv249%2FLuso308%2Fsnp2.jpg&hash=3cad30f62b3513930b2ac7292919634a)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg.photobucket.com%2Falbums%2Fv249%2FLuso308%2Fsnp3.jpg&hash=ada0bc27cdabccff41d0f78ac2b3a4ca)

"Sniping in France 1914-18"
Major H. Hesketh-Prichard DSO, MC
ISBN 1-874622-47-7
Título:
Enviado por: komet em Abril 11, 2005, 11:38:42 pm
Excelente texto Luso, obrigado por partilhar  :wink:
Título:
Enviado por: Luso em Abril 11, 2005, 11:50:03 pm
Citação de: "komet"
Excelente texto Luso, obrigado por partilhar  :wink:


- Às ordes! 8)
Título:
Enviado por: Luso em Abril 12, 2005, 12:12:45 am
Ó PT, olha que o outro também era de Setúbal!
(essa bela localidade)
Título:
Enviado por: papatango em Abril 12, 2005, 12:14:05 am
Muito obrigado Luso.
Vou ter que traduzi-lo para o incluir no tema da batalha.

Até já estou a pensar no título:

PORTUGUESES MASCARADOS DE ARVORE, CONFUNDEM INSTRUTORES INGLESES.

Ou então:

Mira telescópica de oferta, ajuda portugueses a matar cinquenta alemães.
:mrgreen:

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Luso em Abril 12, 2005, 12:17:11 am
Tens talento para a coisa, PT!
Assim aposto que se conseguia divulgar mais a história!
Título:
Enviado por: Yosy em Abril 13, 2005, 11:08:08 am
Muito bom Luso  :G-Ok:
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 09, 2007, 04:23:23 pm
Só para marcar a data. 89º aniversário.

E as entidades tão caladinhas... :?
Título:
Enviado por: Benny em Abril 09, 2007, 08:55:49 pm
Desde que nós nos lembremos, que importa as autoridades?

Da minha parte, já lá canta um ramo de flores no monumento da Avenida da Liberdade.

Benny
Título:
Enviado por: ferrol em Abril 10, 2007, 03:36:38 pm
Unha imaxe do cemiterio portugués en Neuve Chappelle que lembra a batalla e onde se atopan case 2.000 tumbas...
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.ww1battlefields.co.uk%2Fothers%2Fimages%2Fnc%2Fnc_portugese.jpg&hash=79bc604d2ccd72439072c3d4876691c3)
http://www.ww1battlefields.co.uk/others/images/nc/nc_portugese.jpg
Algúns comentarios recollidos na rede:
http://www.first-world-war.org/portu.htm
Citar
On April 19th, 1918, a major German offensive began at what was called the Battle of the Lys. One Portuguese division there was hit by four German divisions and the preliminary shelling was so intense that one battalion refused to go forward into the trenches. The division was pushed back, 6,000 prisoners were taken and a three-and-a-half mile wide gap was punched in the British line.

Although this can hardly be blamed on the Portuguese, the collapse of their section of the front did nothing for their already less than great reputation among their British neighbours, who called them "Geese" or "Pork-and-Beans".


Chama tamén a atención o feito de que o xeneral que mandaba aquelas tropas (Gomes da Costa) chegou a ser presidente de Portugal. Tamén a enorme cantidade de homes involucrados nas ofensivas e defensas daquela guerra, onde se movían divisións enteiras a pé ou se agochaban en deceas de kilómetros de trincheiras...
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 15, 2007, 05:35:35 pm
Citar
POUCOS ... MAS HERÓIS!        
Escrito por Júlio Magno    
08-Abr-2007  
A DERRADEIRA RESISTÊNCIA PORTUGUESA

na Batalha La-Lys

A JORNADA DE 9 DE ABRIL DE 1918

Reconstituição de Carlos Carneiro - exposta no Museu do Forte George do Regimento Seaforth Highlanders - por memória dos Oficiais e Praças desta unidade, que morreram ao lado dos Portugueses.
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi161.photobucket.com%2Falbums%2Ft227%2Flanceros%2Fdomingo%2Fleslobes.jpg&hash=d655a095dc6d08c2f966f277bdc09aae)
Les Lobes - La Couture - Derradeira resitencia portuguesa na batalha de La-Lyz.
 

… o Comando da 2.a Divisão ordenava que as tropas resistissem, consequentemente, demorassem o inimigo dentro do maior tempo possível... E esperava que, ao abrigo das fracções da Brigada de reserva e com a entrada simultânea da 50. e 51.a Divisões britânicas em acção, se pudessem concentrar todos os elementos dispersos aproveitáveis das tropas da retaguarda, os reenviassem à frente e, assim, prolongassem o esforço português, ainda que numa frente de combate limitada.

Vontades férreas se empenham nesta missão, tanto da parte dos oficiais da Missão Britânica como do ten.coronel de infantaria, António Maria Baptista, e major do C. E. M. da Divisão Cesário Viana. «Todos — diz o referido Brigadeiro Vasco de Carvalho — perderam o seu tempo a congregar e a reanimar os fugitivos para os fazer voltar a combater.

Em Calonne, — continua o nosso mais autorizado cronista da batalha — «querendo pôr alguma ordem naquela desordem que ameaçava tornar-se inextricável e perigosa, o Comando fez escoar as viaturas em direcção a St. Ve-nant, enquanto nos terrenos adjacentes à estrada se procurava organizar a massa de fugitivos que ali convergia a cada instante. De tudo se apurou ainda um núcleo de cerca de 200 de infantaria que tinham espingardas.
«Tudo baldado. Uma granada, caindo perto, fez debandar este grupo que dispersou em várias direcções».

«Foi de todo impossível—continua em pungente descrição— a uns e outros conseguirem alguma coisa. A nossa gente retirava completamente desmoralizada e contaminada pelo terror. Para a grande maioria era a primeira vez que tinham verdadeiramente entrado em combate. Nunca tinham visto nem sonhado a guerra assim. Ao pé daquilo, os raids e combates de patrulhas dos outros tempos deviam-lhes parecer brincadeiras de crianças. Aqueles mesmos que o terror não contaminara, dominava-os o sentimento da nossa fraqueza - como pigmeus que se tivessem intrometido em luta de gigantes». A tardia evacuação dos habitantes civis, com a urgência que as circunstâncias impunham, imprimiu em plena batalha um aspecto de desordem e de debandada que mais contribuiu para aumentar as desmoralização dos nossos soldados que pela primeira vez presenciaram aquele estranho e deprimente espectáculo - longos formigueiros humanos seguindo para a retaguarda pelas estradas pejadas de viaturas, como rebanhos açoutados pelo vendaval»

(2ª.Divisão Portuguesa na Batalha do Lys - Brigadeiro Vasco de Carvalho)

Neste ambiente de derrota dramática, no meio de gente contaminada pelo terror... foi que, muito antes do meio dia de 9 de Abril, sob uma barragem implacável e dissolvente, na estrada «To Lacouture», o capitão David Magno se viu abandonado pelas últimas praças da sua companhia. E num gesto de inconformismo com a situação, que as circunstâncias lhe criaram, é que o seu brio decide romper, mesmo sozinho, para a frente.

Não que o capitão Magno não pudesse erguer os braços, complacentemente, como tantos e tantos o fizeram, sem ao menos salvarem as aparências. Não, que não tivesse as mesmas razões para justificar uma retirada, como tantos e tantos o fizeram, forçados pelas emergências da batalha e em circunstâncias menos aprováveis, a quem ninguém tomaria contas...

Mesmo depois de haver sido posto à prova, ter visto a porta aberta da retirada ou do aprisionamento, o capitão Magno obstinou-se em não ser arrastado na torrente do desbarato... e «teve a coragem moral— como diz Vasco de Carvalho — de ficar na linha de batalha já quando nada o obrigava a semelhante sacrifício». Vendo tudo perdido, Vai de cabeça alta oferecer a sua vida às balas da infantaria inimiga. Não se rende aos Alemães .. Não entrega o armamento aos Ingleses... E só retira, sim, depois da verdadeira guerra ter acabado para todos os Portugueses, após 56 horas de combates formais e ver os seus elementos aniquilados e quase desfeitos!

O destino é tão incontrolável que ninguém o sabe escolher. Para a vida ou para a morte, o homem é mero brinquedo nas suas mãos. Aos Britânicos se dirige o capitão Magno, à falta de saber de tropas organizadas. Vai confiado não só na secular fraternidade de armas, como atraído, em admiração obscura, por essa raça orgulhosa que num lapso psicológico acaba de aportar, para a direita da frente, à sua retaguarda.

Os Ingleses, aliados multi-seculares dos Portugueses, sempre nos assistiram na Flandres e estiveram prontos nas horas mais criticas. Todo nos ensinaram e deram todo quanto da soa experiência podia ser aproveitado. Trataram e apreciaram o soldado português com uma atenção que nada ficou a dever aos seus merecimentos. Negar-lhes o método, a organização, a tenacidade, a disciplina, o espírito de sacrifício e o heroísmo, de que Yprés — «Ville Martyre» — com os seus cinquenta mil nomes de mortos esculpidos no arco de mármore do Meningate, são testemunho ciclópico … seria injustiça flagrante. Uma fé inquebrantável nos destinos da sua pátria concatena-se com o que afirmavam nas trincheiras: A nós não nos importa morrer desde que temos a certeza absoluta de que havemos de vencer!

«- O Adido Militar junto da Embaixada de Espanha, em Lisboa (1921), fazia dos oficiais britânicos um conceito "de uma bravura a toda a prova, de absoluto desprezo pelo perigo e de uma inexcedível abnegação. Pelo seu treino e pela sua serenidade, eles constituem uma matéria prima admirável -».

O capitão Magno mede, pois, a profundidade deste abismo. Sente a vertigem das alturas e dos grandes cometimentos. Todavia, não desiste. Precipita-se e coloca-se lado a lado com a capacidade de resistência dessas tropas britânicas de escol.

As avançadas da célebre 51.ª Divisão inglesa atingem a frente de batalha pouco depois das 11 horas. O Batalhão 6 de Seaforth Higlanders (escocês) estende-se já em atiradores, junto da ribeira da Lawe. Neste momento quando marchava de novo para a frente, o capitão Magno, avistando os aliados, segue-lhes no encalço. Não tropeça com os Britânicos… Vai proucrar um lugar à mesa do sacrifício, na ideia de os acompanhar para a frente.

Já os soldados, que restavam da sua 3.ª Companhia, deixavam os abrigos das covas de granadas, quando este oficial procura o Comandante dos Escoceses e tem a honra de apresentar-se ao ten.coronel Samuel MacDonald, da Ordem dos Serviços Distintos.

Calmo e respeitável, não compreende o oficial português ou prefere não se distrair do exercício, que o comando lhe impõe na distribuição das suas praças ao longo do caminho, agora, transformado em 1ª. Linha... Manda-o entender-se com o 2.° comandante, capitão Archibald David fala francês fluentemente. Perante o oferecimento, começa por responder que não precisa de homens, demais, já batidos por longo bombardeamento.

Apenas pretende a metralhadora…

Contrariado nas intenções e melindrado na sua dignidade militar, embora isso se fizesse por outros lados da frente, David Magno replicou :

- Os Portugueses vêm aqui para combater a vosso lado… Não vêm para dispensar o armamento. Se não quereis ou não podeis aceitar, combateremos por aí…

- Mas - acrescentou o oficial britânico - precisamos somente da metralhadora. Com os reforços que esperamos, ainda hoje, queremos repor o inimigo nas suas posições de ontem.

- Por isso mesmo … Como Portugueses, nós temos o direito e a ambição de ajudarmos a reconquistar o terreno que perdemos. DE RESTO, AS ARMAS SÓ AS ENTREGAM OS VENCIDOS AO INIMIGO VENCEDOR …

MacDonald, apruma-se e acede com uma continência e um shake-hand cavalheiresco.

Quem vai acreditar que os nossos soldados, após sofrerem uma barragem temerosa, fora das trincheiras reconfortantes, sintam orgulho diante da oferta das suas vidas, dispondo-se a lutar pela bandeira, cuja honra corria perigo do maior desdouro, nesta batalha da Flandres?!...

Eis, sem dúvida, um dos episódios mais eloquentes, entre todas as odisseias de La Lys, que fez reacender a fé nos nossos soldados, depois de os ver fazer aquilo que muitas praças têm feito, mesmo entre os melhores exércitos!... Possuídos de comoção patriótica que tal oferecimento arranca à sua consciência, os filhos do 13 e do 15 prometem morrer ali, sem arredar pé. E, assim o cumpriram nobremente. Não esquecendo que o sacrifício voluntário é, por si só, um heroísmo!
Entretanto, convoca e intima quantos transviados descobre ao alcance e exorta-os a honrarem o nome português. Mais de cinquenta nomes inscreve no relatório da batalha, entregue a seguir, de cerca de oitenta que se contaram inicialmente. Neste número se compreende o pelotão da 5.a Companhia do 15, que se apresentou por forma modelar. Sem exemplo mais concreto na retirada dos restos das quatro Brigadas da 2.a Divisão, o capitão Magno veio a alargar em muitas horas, a acção do 13 e do 15, — dentro do Plano do Comandante do I Exército, que desejava a combater nos campos da Lawe, os restos da Divisão portuguesa derrotada.

Os soldados, poucos ou muitos, não influem na moral da oferta, depois de cavarem abrigos com material de parque, logo começaram a combater. O valoroso 1.° sargento Matos Bugalho comanda o pelotão do 15. O do 13 é comandado pelo bravo 2.º sargento Álvaro Costa.

Os Alemães, depois de flanquearem La Couture, logo se apresentam nesta frente. Sem demora um português é atravessado por uma bala. O rosário de sacrifícios segue. A senda do martírio é a mais gloriosa. E, assim, decorre a tarde em luta extremamente violenta.

«As três brigadas da. 51ª Divisão dispostas ao longo do canal da Lawe, — diz Vasco de Carvalho — eram violentamente atacadas pela tarde, logo que foram vencidas as ultimas resistências na Linha do Corpo no sector da Divisão».

Já o fogo nutrido esmaga os contendores de encontro à terra empapada pelas chuvas dos dias antecedentes. As depressões do solo abrigam muito mal. Por vezes, só é consentâneo mexer quando as metralhadoras alemãs miram os aeroplanos ingleses que ronronam em reconhecimento rasante. Escoceses e Portugueses são forçados a recuar por falta de condições tácticas. Cobertos por ligeira cortina, ficam a defender, agora, a testa de ponte estrada LÉS LOBES.

Debaixo do crepitar das metralhadoras inimigas, que alternam com o desconcertante estrondo dos morteiros, vão-se apertando os laços de camaradagem entre os dois aliados. Encadeiam-se os combates, uns nos outros. O fogo torna-se mais rijo. Os Escoceses que não puderam entrar na mesma linha, são dizimados atrás dos Portugueses.

Surgem à retaguarda, auto-ambulâncias nossas. O capitão do 13, vai ao encontro delas. Surpreendem-se os condutores de encontrarem gente portuguesa a combater. Dizem que foi dada ordem de retirada à Divisão... Depois se soube, apenas havia ordem de evacuação dos Portugueses da área do I Exército (15 h. 40 m.), em conformidade da qual, todas as tropas da 2." Divisão foram dispensadas por toda a parte — para evitar aos Ingleses, o contágio de tropas batidas e desmoralizadas.

O capitão Magno expede uma nota para o Q. G. da Divisão... Outra, para o Comando do 13. Dá conta da situação e onde se detém a combater o núcleo principal da 3.ªCª. do 13. Reitera ao Comando escocês o seu oferecimento... Por outro lado, não aceita qualquer melhoria que o cavalheirismo de MacDonald proporciona à sua mesa de campanha. Não se subtrai aos sofrimentos das praças que aproveitara e colocara a combater.

Correspondentes de guerra, que cruzam com o capitão Magno, testemunham a luta dos Portugueses contra os Alemães abrigados nas cercanias de La Couture. O «Telegramme» de 12 de Abril regista: « A história um dia falará da heróica resistência dos Portugueses que, às 15 horas, ainda se batiam próximo de La Couture».
As nossas tropas protegem os assaltos sangrentos dos camaradas a cuja indumentária militar, caracterizada pelos kilts — saios pela coxa — e sporrans pendentes dos cinturões, anda presa a alma da nobre Escócia e os mitos marciais deste país.

O cinzento dos uniformes portugueses, ao lado do amarelo torrado das fardas britânicas, realçavam a nossa acção. «The Times» de Londres, do dia 11, arquivava: «Os oficiais britânicos manifestam a sua admiração pela tenacidade portuguesa, espírito de camaradagem e valor com que combatem ao lado dos Ingleses».E o notável livro reeditado em França — «Lê Grand Quartier General Britanique» — põe em relevo : «Elementos portugueses dispersos vieram eles próprios colocar-se a combater ao lado das tropas britânicas, portando-se muito bem».
Pormenorizar cometimentos e ousadias que se arriscaram em presença do inimigo poderoso, por um lado, e a raça mais opulenta e heróica da Grã-Bretanha, pelo outro, torna-se pueril, com a agravante dos subordinados compreenderem que estavam a exceder o limite normal do dever relativo.

Se os assaltos britânicos, apoiados pelos Portugueses, não conseguiram desalojar os Alemães em todo o dia, também, estes não puderam modificar as nossas posições.

Trigo e beterrabas tapetam de verde a planura imensa. Sebes e árvores, braços decepados em maldição, ocultam os contendores. O taque-taque monótono das armas automáticas cansa e enerva. O sol já fugiu para a retaguarda. A fuzilaria avança pela noite dentro. Os clarões que flamejam na escuridão tornam fantásticos os vultos dos soldados. Os Bávaros, simbolizando heróis wagnerianos, estão a umas escassas três centenas de metros da boca das nossas armas, como nós estamos à mercê das deles... Os estômagos permanecem em jejum. Sente-se uma aragem cortante que enregela e obriga a aquecer as mãos nos canos das espingardas sobreaquecidas.
 


Fonte (http://http)
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 15, 2007, 05:38:48 pm
Citar
HÁ 89 ANOS EM LA LYS...        
Escrito por Júlio Magno    
10-Abr-2007  
HÁ 89 ANOS EM LA LYS... UM PUNHADO DE PORTUGUESES  BATIA-SE GALHARDAMENTE EM FRANÇA...

A DERRADEIRA RESISTÊNCIA PORTUGUESA

na Batalha La-Lys

A JORNADA DE 10 DE ABRIL DE 1918

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi161.photobucket.com%2Falbums%2Ft227%2Flanceros%2Fdomingo%2Fsectorportugalacouture.jpg&hash=fc515bf04f49397922def7aac43f1b2f)
Sector Português - La Couture - Churc Road Derradeira resitencia portuguesa na batalha de La-Lyz.
 

… O ten.-coronel Samuel MacDonald, D. S. O., foi ferido ontem na frente do Batalhão, quando dispunha na testa, as suas praças no terreno. O capitão Magno apresenta à assinatura do 2.° comandante, um documento escrito debaixo das balas inimigas, e de molde a não susceptibilizar o poderio britânico:

* Em 9 de A bril de 1918. Meu tenente-coronel: Julgo conveniente mostrar que me pedistes uma metralhadora em nome da aliança, e vos respondi que as minhas forças ficavam com ela, ao vosso lado (se o permitísseis). Necessito igualmente que seja comunicada a minha situação ao meu batalhão. Agradeço-vos a assinatura, (a) Magno, capitão do 13 português, — (a) A. D. MacDonald, capt. for Lieut-Colonel Cerndy, D. S. O..

Ao princípio da tarde o fogo passou a ser mais renhido. A frente alemã foi reforçada por formações, Vindas das bandas de La Couture, as quais se divisam perfeitamente. Estoiram granadas de gases asfixiantes que obrigam a afivelar as máscaras.

Os Escoceses não desistem dos contra-ataques... E os Alemães não cessam de os dizimar. Caminham direitos à morte com o estoicismo dos gladiadores antigos. Avançando com a maior serenidade, parecem proferir a mesma saudação de outrora, ao soberano:

Ave, Caesar, morituri te salutant!... “César, os que vão morrer saudam-te!…”

Alinhados na vanguarda, protegemos com a maior dedicação. estas arrancadas de renúncia e sacrifício. Contempla-se a bravura destes soldados, de moral elevadíssima. .. Recebem as ordens mais difíceis e cumprem-nas sem pestanejar... Partem direitos e indemnes... Assaltam sob as rajadas da metralha... Logo regressam estendidos em macas, estropiados ou mortos!... Nenhuns Portugueses assistiram, como nós, ao tombar de tantas e tão formosas existências, comprovando serem dignos descendentes de quem, na batalha de Waterloo, Napoleão disse : — Ate é pena aniquilá-los!...

«O quadrado da extrema direita — descreve Vitor Hugo —formado pelo 74 de Highlanders, ficou quase trucidado aos primeiros choques. Enquanto, em redor, tudo era extermínio, um escocês assentado num tambor, tocava gaita de foles ...»

Os Alemães não se mostram desleais. Descarregam, como doidos, sobre quantos se descobrem e se colocam debaixo das suas miras. Apenas os esquifes passam e repassam, constantemente, conduzidos por maqueiros, com a Cruz Vermelha bem visível. As perdas dos Portugueses vão sendo insignificantes, comparativamente, com as baixas sensíveis dos nossos Aliados. Além de se exporem menos, é mais difícil de referenciar, a nossa posição à direita.

Lá adiante, a cerca de seis quilómetros, aquilo que foi a 1ª. Linha portuguesa e a chamada Linha das Aldeias já não existe desde o início da tarde, do dia 9... Tudo se converteu num sepulcro extenso... Corpos desfeitos na lama, almas nimbadas de esplendor, alaram ao sopro ardente das metralhadoras e dos canhões de um exército imperial. Quem não se rendeu, foi esmagado. Eis os maiores heróis. Com o sangue dos mortos é que se escrevem as mais belas páginas da história, que dão honra aos povos e os vivos gozam. Cadáveres de alemães, em número superior, confundem-se com aqueles, num quadro de horrores nunca imaginados até então. Bandos de corvos, como águias prussianas, vão assinalando na frente de batalha, a sua marcha imparável e vitoriosa!...

Em La Couture, a pouco mais de um tiro de espingarda, pelo que se soube, mais tarde, também já lá ninguém reina, a não ser as cardas do tudesco. Desde o fim da manhã, deste dia 10, após a remoção dos prisioneiros para os campos da Alemanha, só duas formações de tropas portuguesas continuam a sofrer o rodado do carro triunfal alemão.

Uma, constituída por elementos de duas companhias do 15 que, em vez de ocupar os postos da Village Une, se extraviaram na direcção S. e foram encontrar os Ingleses, em Loisne, retirando com estes para Le Hamel, no sector britânico.

A outra, formada também por elementos extraviados da 5.a e de outras companhias do 13, e um pelotão da 3.a do 15, que combate por iniciativa do capitão Magno, desde o canal da Lawe até Lês Lobes, nas «-vizinhanças de La Couture-».

Ambas acabam por retirar com baixas elevadas, cujas percentagens são sensivelmente, as mesmas. Enquanto em Le Hamel «a redução dos efectivos foi devida mais à fome e fraqueza do que propriamente ao combate, que se limitou ao bombardeamento e tiroteio de um e outro lado do canal», em LES LOBES, embora sujeitos à experiência dura da fome e do esgotamento, o desgaste humano foi traduzido em mais mortos, determinado pelos combates terríveis, desenrolados nesta área do sector português !

Este dia segundo, dissemos, é mais cruento.

Por não poderem entrar na mesma linha dos Portugueses, mais de uma vez, alguns britânicos que se instalaram poucos metros à retaguarda, são sacrificados. As tropas escocesas que se estendem até Vieille Chapelle, por momentos, parecem ficar de clareiras escancaradas, perante o assalto impetuoso dos Bávaros inimigos.

«Devido à resistência da 51.ª Divisão na Linha da Lawe, ao S. de Vieille Capelle» (onde o capitão Magno e as suas praças se enquadram em primeira linha), «e ainda ao heroísmo das tropas da 55.ª Divisão na frente Loisne-Festubert, os alemães não puderam romper logo a linha da Lawe para cair sobre Béthune, como era seu plano».

Apesar do laconismo, a notícia define a grandeza e violência dos combates nesta área da Lawe, os quais não têm paralelo com quaisquer acções luso-britânicas desenroladas na Flandres.

Já o sol desmaia no horizonte...

O capitão Magno arrasta-se até a estrada Lestrem — — Locon — Béthune. Não longe das tabuletas que assinalam para Zelobes, Vieille Chapelle e «To Lacouture» aí se localiza o Comando. Entre os oficiais vemos o heróico ten.-coronel Cerndy, D. S. O.. Perante a situação que se considera muito grave, o semblante é apreensivo. Os Alemães perto de Merville... Os Alemães perto de Amiens...

O capitão do 13 português expõe ao Comando escocês as vicissitudes das suas praças. Vai para dois dias que enfrentam o inimigo, abraçadas pela humidade da lama e pelo frio do ar, sem o calor de qualquer alimento. Não era solução requerida ajudá-lo a comer a ração de campanha, que iam servir-lhe, e só por cavalheirismo oferecia. A verdadeira preocupação aludia aos seus homens, que permaneciam roídos de fome, entorpecidos de fadiga, estoirados de emoções pela calamitosa barragem de ontem e, agora, sob o chumbo escaldante da Infantaria alemã. Os Escoceses passavam pelo mesmo transe, é certo. Mas a rígida disciplina mantinha-os nos seus lugares, silenciosos, e animados no seu estoicismo.

MacDonald não pôde informar das intenções germânicas. Em face das incertezas, por um lado, e por outro, distantes do corpo divisionário, a inquietação dos nossos soldados começou a esboçar enfado com o seu voluntário, quão excepcional sacrifício, sobremaneira, perante o conhecimento da retirada da 2." Divisão... Assentou-se, pois, a nossa evacuação, para a manhã seguinte. Tanto mais que MacDonald manifestara a estes paladinos de um dever moral, que não podiam continuar ali, indefinidamente, para dar satisfação à ordem dimanada do I Exército, sobre a dispensa geral das tropas portuguesas, uma vez que a 2.a Divisão perdera contacto com a frente de batalha.

David Magno traz a promessa muito duvidosa de um rancho quente, que ainda iriam cozer, para acalentar os estômagos e os corpos enregelados. Tentava-se aquilo que o rum de um estaminet vizinho não conseguira entre os nossos. Fossem os bandulhos de ferro... Que os cunhetes de pólvora não faltavam, como andavam escapos a água e o próprio pão.

Neste somenos desceu a noite. À hora que já não era possível conceber sortida para a evacuação prevista, o capitão Magno despediu dois sargentos e duas ordenanças em demanda, dessa mistela de aveia, tão apetecida...

— Ou allez-vous ?... — bradou um oficial escocês regressado da cantina, com o fundamento de que era perigoso cruzar atrás, as patrulhas britânicas da estrada...

- Ce sont mes soldais, captain,..

— Pardon...—E logo o aludido oficial se prontificou a acompanhá-los, para evitar o equívoco de algum fuzilamento.

Seriam dez horas quando tornaram à nossa linha. O suspirado manjar sideral — no que as psiques famintas metamorfosearam aquela promessa do Comando escocês, -foi sorvido pela malta, sem chegar a nada, nem ao capitão que, por dever de ofício, ficara para o fim.

Toda a noite o troar dos morteiros e o ruído das metralhadoras atormentaram. Sobremaneira, quando na madrugada, passamos a suportar o duelo do bombardeamento britânico e alemão, cujo relampejar purpúreo, ilumina, sinistramente, o pequeno acampamento luso-escocês. Um manto de cacimba penetra até os ossos. Neste gelado relento, os corpos aconchegam-se mais e mais, como se fossem cadáveres alapados em necrotério. Para muitos foi a noite de oratória... A noite última, a noite eterna!

 
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Enviado por: Lancero em Abril 15, 2007, 05:42:13 pm
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A NOITE ETERNA! ... EM LA LYZ        
Escrito por Júlio Magno    
11-Abr-2007  
... até o militar Alemão não deixou de inscrever, nos braços de cada cruz de madeira, o epitáfio celebrado: « - Hier Ruth In Gott, Ein Tapferer Portugiesischer-» — Aqui Jaz em Deus, Um Heróico Português...

A DERRADEIRA RESISTÊNCIA PORTUGUESA

na Batalha La-Lys

A JORNADA DE 11 DE ABRIL DE 1918


(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi161.photobucket.com%2Falbums%2Ft227%2Flanceros%2Fdomingo%2Fdmcruzguerra.jpg&hash=cca6fc60da38983a78081accfb4c3fb5)
Ambleteuse, 05/07/1918 - 1ª.Cruz de Guerra da Batalha de La-Lyz - General Tamagnini de Abreu condecora David Magno o paladino da resitência de 9,10 e 11 de Abril e protagonista da acção militar de Les Lobes
 

... ao romper da alva os Alemães lançam-se na conquista de novos objectivos. O VI Exército de Von Quast acaba de ser reforçado pelo IV de Von Arnin. Há tropas em abundância, por certo desconhecedoras das nossas posições de 9 e 10.

De sibilo uma estranha negrura surge adiante do canal… E uma grande vozearia percorre a nossa linha de lés-a-lés.

Serão Alemães?... Serão Ingleses que regressam de algum raid a La Couture?... Ninguém sabe responder. Os soldados estão alerta... Apuram os sentidos... Palpam os cartuchos... E olham os cunhetes da pólvora num relance.

Será possível que o inimigo nos suponha distantes e ouse avançar, assim, a peito descoberto, em linha tão extensa e tão unida?! .. Porventura, serão tropas frescas, congregadas durante a noite, pretendendo desenvolver na estrada, para início de nova ofensiva?!... Todos procuram devassar a bruma, onde aquela sombra se movimenta, à luz indecisa, desta terceira manhã, da grande batalha de Armentières.

Pela mente destes homens, apenas perpassa a alternativa— destruir ou ser destruído. Os maiores anelos da existência, aquilo quanto é grato ao sentimento — lares distantes, pais, noivas, esposas ou filhos...—tudo se esquece, como por encanto. Os momentos não chegam para calcular a salvação, pelo aniquilamento total do adversário. Face a face ao inimigo poderoso que vem aí, os minutos correm céleres...

À confusão do bombardeamento desagregador da manhã do dia 9, que surpreendeu o 15, dentro da pequena aldeia de La Couture, e o colocou fora das possibilidades do Comando, contrastava, agora, a serenidade portuguesa em frente do inimigo, com os seus graduados à testa, sem que estes tenham necessidade de um gesto, ou de uma voz enérgica, para decidir ou obrigar a lutar.

Na ânsia de viver, um só medo domina todos — que a fera humana adivinhe que outra fera está aqui, como caçador furtivo, à espera de ver, o tigre cair no laço.

Simploriamente, os soldados vão exclamando:

— Eia!... São mais de mil!...

- Silêncio... Alças reduzidas... Canos apontados bem ao peito... — recomenda o capitão que se aproxima do metralhador, como o piloto se acerca do leme nas horas de tormenta...

Guarnições à amurada que está prestes a abordagem! Campos infinitos de esmeralda semelham um oceano com arbustos e árvores decepadas, a boiar... Os soldados do 13, de Vila Real, herdeiros das tradições do Regimento de Peniche, que se distinguiu, sob o comando do major Kennet Snodgrass, no assalto e tomada da praça de S.Sebastian, e os soldados do 15, de Tomar, que, sob o comando do major inglês Campbell, foram camaradas de armas nas batalhas do Buçaco, de Salamanca, de Vitória e se cobriram de louros na de Nive e de Nivelle... Soldados do 13 e do 15, dos melhores batalhões de Portugal, vão rivalizar em grandeza heróica, com o escol dos soldados da Grã-Bretanha.

De lado a lado não há patrulhas. O único agente de exploração é a metralha. O capitão Magno procura ainda quem possa conhecer a situação ou ter mais autoridade nesta avançada luso-escocesa... Não se descobrem senão praças. O capitão escocês está para a retaguarda.

E a nuvem negra continua a rolar... a rolar... como um cilindro esmagador, cadenciado e decidido, direito a nós postados em LES, a um quilómetro dos arredores de La Couture, Atesta de ponte para a cobiçadíssima Merville, ou em defesa da carreteira que leva aos altos fornos de Béthune.

Absolutamente tranquilo, o nosso coração lateja normalmente. Nem uma palavra, nem um gesto que não sejam necessários. Isto se confessa menos por vaidade, do que para mostrar o que se sente nestas horas tão inolvidáveis quão raras situações. O embate que se prevê brutal, como rocha que vai receber o choque do aríete, aguarda-se com a maior calma. O desvanecimento de todas as dúvidas angustiosas justifica-se, paradoxalmente, pela certeza absoluta, de estarem ali bem perto, os Alemães! Dois dias e duas noites de combates sem tréguas, cheios de lances dramáticos, haviam embotado a sensibilidade, esfumando-se com esta, a consciência universal. Nascera dentro de nós, a obnubilação resultante do exaustivo, e com ela, a indiferença pela ideia do ser ou não ser, acordando nos recônditos cerebrais, a tragédia primária do homem pelo homem...

À distância de cinquenta metros —enfim!... crescem diante de nós, nitidamente, os rostos enegrecidos, como diabos, os capacetes que lhes blindam o crânio, o “feldgrun” desbotado dos dolmans, o armamento e os butes característicos dos maiores militarões da Terra! Porém, nenhuma hesitação. Nem o mínimo pensamento instintivo de um milímetro de recuo, em procura do que quer que seja e possa valer-nos neste transe.

Corpo e alma cravam-se aqui apontados à Morte, como pára-raios em presença da nuvem, a qual se aproxima, inexoravelmente. A alavanca de segurança, apenas, se encontra em duas palavras épicas, que dois idiomas, simultaneamente, traduziram no mais nobre brado que pode soltar um capitão em combate:

— FOGO VIVO!...

E o fogo cruel de setenta espingardas com quatro metralhadoras a dispararem, como guilhotina eléctrica, quase à queima roupa, ceifa num momento, essa vaga extensa que se atreveu a vir de pé, em ordem unida e descoberta... tal-qual um batalhão viesse colocar a cabeça arrogante sob o cutelo da fatalidade! Soberbo!!

A fuzilaria prossegue impetuosa com alturas de ferocidade. Os Portugueses, entusiasmados com o resultado da colheita, quase não arquejam nem tomam fôlego. As armas cospem um fogo terrível sobre todos os corpos que se contorcem, procuram cavar abrigos ou se descobrem a retirar de rastos. A nossa metralhadora despeja tambores atrás de tambores...

— Munições !... Munições ... — é o grito de guerra e de salvação, perante o esvaziamento consecutivo de cunhetes e mais cunhetes de cartuchos. O remuniciamento faz-se com entusiasmo!

O capitão movimenta-se ao longo de toda a linha. Acirra as praças e procura contrariar as evoluções do inimigo. Apita, gesticula, verbera e assume o papel de todos os graduados, comprazendo-se em ser o maestro exclusivo, desta fanfarra de fogo e ferro.

— Força... Força, rapazes !...

Só conta, como amigos, os soldados que mais se expõem. Comuns na vida, como na morte, apenas a disciplina se interpõe. Animam-no a comandá-los, como ele os entusiasma a baterem-se. Impulsionados por uma força desconhecida, apontam e descarregam, como máquinas de bronze. Arrancam das entranhas energias titânicas, traduzidas numa saraivada de projécteis, que levam a devastação às vagas alemãs. Bagas de suor correm-lhes nos rostos sujos e barbaçudos. O metralhador, Manuel Cardoso de Matos, olhos abrasados, ultrapassa todos os louvores. Nas suas mãos firmes e poderosas, a Lewis representa a destruição em baluarte de oiro!

Como a diafaneidade dos gases da pólvora, a neblina Vai-se diluindo... Os relógios não medem as dores nem os sacrifícios. Não se ajusta ao tempo interior, nem à compleição de cada um, o tempo sideral. As horas só parecem longas quando pouco se peleja... Que o combate dá descanso, pelo menos, a essas marchas penosas, de butes ferrados e tralha de guerra às costas, através das estradas infindáveis da Flandres, tantas e tantas vezes palmilhadas!...

Rechaçados nos primeiros embates, os Alemães ripostam com novas ondas rasteiras, cuja superioridade de fogo começa a escaldar. É o feitiço a voltar-se contra o feiticeiro. É a lei do triunfador final. As balas zumbem como se as nossas cabeças mergulhassem num cortiço... Contudo, as praças não arrefecem. Continuam a disparar com fúria e arremesso. Compreendem que é preciso eliminar o adversário, tomar-lhe o passo, sob pena de ficarmos aqui desfeitos sem glória.

A mitologia do sangue faz aflorar rancor. Por isso, este duelo põe de parte a possibilidade de qualquer rendição. Quando alguém se entrega, é que tem em conta as baixas abertas entre o inimigo e sempre espera alguma coisa da sua generosidade... Os Bávaros, que estão a poucas dezenas de metros, nunca perdoarão os destroços incalculáveis que estes soldados rasgaram nas suas carnes, e mataram sob a legitimidade impiedosa da guerra.

— Munições f... Munições f... Munições !... — são os clamores que absorvem a linha e toda a razão do nosso ser.

Já se ouve o chicotear e já se sente no solo, o peso das metralhadoras pesadas e ligeiras alemãs, batendo a testa e o flanco. As balas silvam, como mosquitos de aço, e picam em redor, tal-qual granizo durante as tempestades. O inimigo vai tecendo uma densa malha de chumbo, por cima das nossas cabeças. Melhor do que no mais correcto exercício dos tempos de paz, a carnificina e o avanço vão decorrendo automaticamente, bem. Primeiro, foi de cá a exploração da surpresa. Seguidamente, são os Alemães que dominam pelo número de homens e pela supremacia das armas. Vemos os oficiais adversários por terra, ligados ao telefone, dirigirem o nosso esmagamento. Nada do que observamos, é supérfluo. Experimenta-se nesta Escola de Guerra, a lição mais eloquente que, aos graduados, é devida.

Uivos de dor, logo abafados pela metralha, percorrem a nossa frente. Uma rajada criva Augusto Martins quando verificava o extractor. A arma salta-lhe das mãos... E o cortejo de estropiados, a gemer sempre, recomeça neste terceiro dia de batalha. Gravemente feridos, a jorrar sangue, retiram amparados — Manuel Ribeiro, Alfredo Freire Gato, António Joaquim, Armindo Alves, Manuel de Sousa...

A linha de espingardas portuguesas e escocesas, escoradas em quatro metralhadoras, continua inabalável a despejar fogo... Mas o dilúvio das rajadas alemãs não deixa dúvidas sobre o fim que, na barca de Caronte, o destino nos reserva. Peitos portugueses deixam de arfar... Corações dedicados deixam de bater... Dedos de gigantes deixam de premir gatilhos! Tão heróico, como aquele que prossegue na luta, é o esforço anónimo dos infantes que não temem arriscar-se mais para socorrer e amparar os camaradas feridos. A guerra tem tanto de satânica, como de divina... Cavernais defeitos e virtudes supremas... Sombras de bestialidade e, também, muitas e muitas réstias de sol, nas alturas!...

Chega a vez de ser varado num pulso e ficar cego, o referido «550», analfabeto, Tomaz Ferreira da Silva, promovido a sargento por distinção. Face e mãos ensanguentadas, modelo vivo de soldado, nem debaixo da saraivada das balas perde o aprumo da maior correcção e disciplina militar:

— Dá licença, meu capitão, que retire?... Estou cego... Não posso mais...

Companheiro da fornalha onde os corpos ardem ombro a ombro, possuído da crueza transitória dos combates, o capitão não se distrai do comando e despede-o com essas palavras secas e inesquecíveis que haviam de ferir a sua grande dedicação, tanto, como sentia as dores nas suas chagas:

— Retira... Que te pensem... e te levem...

Há mais que não conseguimos identificar, nem a situação se compadece a perguntar quem são... Contam-se já mais de vinte e quatro feridos graves... Entroncados, rostos glabros e vermelhuscos, os Escoceses também se arrastam da esquerda, atravessados por balas... Com uma nódoa sangrenta no ombro, um deles, vemo-lo sorrir para nós!

O taque-taque das metralhadoras inimigas é assolador e o vespeiro de balas intensíssimo. Estalam crânios... Esparrima massa encefálica... E o sangue generoso vai-se empapando com a lama. Irmanados, assim, numa íntima camaradagem de esforços e simpatias, Portugueses e Escoceses honram-se aqui, tingindo-se ao acaso, no sangue de uns e de outros. O capitão traz as mãos e o impermeável com largas manchas cruentas. Um morteiro dilacerou uma praça que se aconchegara a seu lado.

Comunhão transcendente! Comunhão infinita! Não sendo precisa para redimir culpas ou purificar destinos diferentes, tal-qual outrora se oferecia o sangue em holocausto de uma ideia superior, também o mesmo sentimento mítico envolve montanheses e serranos num tremendo sacrifício, em prol da aliança secular e da liberdade destes dois povos. Trinta a quarenta Escoceses, guardando a frente e o flanco esquerdo... Outros tantos Portugueses, vigiando a frente e o flanco direito... Colocados costas com costas, almas enleadas nas almas, ambos se protegem com lealdade, face a face ao inimigo comum.

O sargento Pompeu Martins Gonçalves dos Reis oferece-se para os serviços mais arriscados. No sargento António Simão, a coragem é modelo de brio e serenidade.

Assim, decorre o combate mais súbito e formal, violento e trágico, que rezam todas as descrições da nossa Grande Guerra de 1914-18, comprovado pelos relatórios, documentos e testemunhos, designadamente, pela percentagem de baixas por metralhadora, mortos no campo ou feridos que foram cair no Hospital da Base, como se o destino desejasse sagrar aqui, o epílogo ou o eco derradeiro de todas as acções mais fogosas, travadas pelos Portugueses na Flandres.

O hercúleo capitão de ontem à noite, lembrando o qullolo — feiticeiro dêmbico com poderes mágicos de enxotar projécteis — galga sebes e drenos sem se importar com a metralha... E o comandante da companhia escocesa. Vem da parte de MacDonald tomar conhecimento directo do desenrolar do combate, e saber do que é previdenciar... Sorri... Concorda com tudo. Insistimos nas munições! E dado que a posição, estrategicamente boa, é tacticamente péssima, pedimos que escolha outra à retaguarda.

Dizendo que continuasse a dispor de tudo, este oficial britânico, regressa e não volta... Atingido pelas balas é transportado ao posto de socorros. O capitão Magno é, pois, o protagonista da defesa desta importante «testa de ponte para Merville. e tem a honra de comandar ou dirigir os restos de uma companhia de Portugueses e Escoceses, até à última.

Laventie, Le Marais, Les Huit Maisons, Le Hamel, La Couture, Les Lobes... serão sempre acções comuns, tanto à bravura dos Britânicos, como à glória militar dos Portugueses!

A situação agrava-se momento a momento. Por vezes torna-se insustentável. Uma metralhadora escocesa passou a proteger o flanco direito dos Portugueses. Não se sente a peonagem alemã servir-se das espingardas para o tiro vulgar. É cada vez mais violento o matraquear das armas automáticas. A linha dos capacetes anda varrida, somente, por dezenas de metralhadoras. Ninguém pode distrair-se... Uns centímetros acima, logo a cabeça estalará. De bruços, agora, protegidos apenas pelo céu, todos beijam a terra francesa que tem sido o seu calvário. Há cadáveres que já não podem ser evacuados. Dizem que alguns detêm quantias importantes... E tão impossível retirá-las para as entregar à família, como as placas de identificação à estatística. Um cheiro acre a suor, a sangue e aos gases da pólvora queimada, empestam o ar que se respira. As nossas Vozes são abafadas pelo ruído avassalador que reboa pelo céu fora. Chega-se ao transe de não se saber, nem mesmo querer saber de quem vive, nem de quem morre. É o inferno... Não se imagina... Ninguém sabe descrever... tal-qual a luz fascina os insectos para lhes crestar as asas, assim, a grandeza dos perigos empolga os, combatentes e os atrai para a morte... O sargento Álvaro Costa, vinte anos em flor, quando todos mergulhavam sob o chumbo da metralha, num sopro de loucura, desata a arrancar tiros e mais tiros... E, num entusiasmo de heroísmo comovente, clama para os camaradas:

— Vede, como se bate um português que não tem medo!...

uma bala o faz estremecer... tenta soerguer-se... do flanco direito, outra rajada chicoteia-lhe a face... e logo cai... fica de borco... o sangue corre na lama... a terra tocou o céu... Depois, foi a Comissão de Inquérito, a seguir à batalha, que averiguou e propôs este lídimo bravo para ser louvado pelo «acrisolado valor»! O cális da amargura não esgotou as fezes. Outra bala sacrifica ainda o intrépido Miguel Marta, do 13, quando disparava. A cabeça estoira-lhe e fica banhado em sangue... de súbito, a nossa Lewis emudece, mutilada no seu posto. O metralhador não segura as lágrimas. Também as armas escocesas vão calando à medida que as guarnições são aniquiladas totalmente... ao tempo que as praças caiem, extinguem-se os cartuchos.

A barragem das metralhadoras alemãs é violentíssima. Depois de três dias de combates, o inimigo está suspenso diante de um punhado de homens, sem protecção de redutos ou trincheiras, sem munições, e já nem pode sequer levantar a cabeça! A surpresa da manhã torna-o perplexo ou prudente. Cerca por largo aquilo que pressupõe ser barricada inexpugnável. Entretanto, abranda o fogo. Passa a martelar a posição para o assalto. Sinistros morteiros estrondeiam aterradores. Não pode haver mais hesitações perante este dilúvio de metralha. E, em consciência, não tínhamos o direito de fazer imolar até o aniquilamento total, aqueles a quem pusemos a combater.

Depois de haver comandado, como capitão, e de ter feito fogo, como soldado, — podendo os meus homens sentirem orgulho da excepção quando procuraram um lugar à mesa do sacrifício, no campo de batalha, — chega o momento de nos sujeitarmos, à derradeira prova. A morte, espada de Damocles, está suspensa por um cabelo. ; cada bala encerra um mundo de interrogações e mistérios. Pode deixar escrever a última pagina de heroísmo entre o historial doirado da batalha do Lys. Pode quebrar esse equilíbrio imponderável, promovendo o esquecimento para todo o sempre.

Ordenamos a evacuação. A incerteza renasce nas almas. Com ela, a angústia regressa aos corações. É preciso arriscar a «ida num lance derradeiro. As rajadas batem, furiosamente no aço dos capacetes que alinham no terreno uma dobra protectora, camuflando a nossa frente e o flanco. A um gesto começamos a mover-nos. Penosamente, os cotovelos cravam-se no betume da terra. Botifarras atascadas, mesclas ennodoadas de sangue ou salpicadas de massa encefálica, Lee-Enfields e a Lewis mutilada a tiracolo, todos se arrastam como répteis com articulações entorpecidas. Não fazem ao caso, os balázios que furam os capotes ou roçam as fivelas dos cinturões ou francaletes do equipamento, em trajectórias caprichosas ou inconcebíveis. Quando a metralha sibila mais, estacamos, ficamos quedos, sem bulir, como mortos... Olhos inflamados ou vermelhos de febre... Mãos imundas a enxugar o suor que teima correr para a boca conspurcada de terra, ou aflige o rosto emaciado... A ansiedade volta e já não cabe no peito... e ao abrirmos os braços, como náufragos, quando os dedos se crispam sobre a prancha salvadora, ninguém faz reparo na barragem que a enfia de través!... um a um, abraçados ao tabuão, debaixo desse manto de balas, transpomos suspensos sobre esse dreno esverdinhado da Vieille Lawe, escapos, como gotas de taça cheia a transbordar de martírios cruciantes!

De mais de cinquenta homens do dia 9, só uma dezena chega ao dia 11: — Capitão David Magno; sargentos António de Matos Bugalho, António Simào e Pompeu Martins Gonçalves dos Reis; soldados — Manuel Cardoso de Matos, António Lucas, Clemente António do Carmo, Joaquim Mendes, Joaquim da Silva Sarmento, Laurindo dos Santos e Guilherme Pinto Lagariça, alguns dos quais foram a seguir repatriados por gases ou esgotamento.

São estes guerreiros e os que para sempre lá ficaram, conhecidos e desconhecidos, restos dos restos da 2.a Divisão, que constituíram a sua pequenina guarda da retaguarda, filha da mais pura inspiração e abnegação dos campos da morte ou das horas de heroísmo, que debaixo de fogo nasceu e debaixo de fogo pereceu!

Liberto deste cerco de chumbo, o capitão Magno levanta os olhos para o céu... Fica surpreso ao lobrigar que a linha continua ocupada!... Ordena que chamem os atrasados. Mas os Alemães surgem sobre o precário bastião. O soldado exprime uma humaníssima escusa por tão inútil sacrifício. Compreende-se, então, que a guarda de homens que se descortina, é o rosário dos mortos escoceses e portugueses, carne sangrenta, que ficara debruçada no dispositivo de atiradores, agora, à mercê dos Teutões, — cuja sanha militar não deixou de inscrever, nos braços de cada cruz de madeira, o epitáfio celebrado: Hier Ruth In Gott, Ein Tapferer Portugiesischer-» — Aqui Jaz em Deus, Um Heróico Português.

Simulando, macabramente, uma resistência já quebrada, armas na posição em que foram abatidos, os derradeiros Portugueses mortos no C. E. P. pela Infantaria alemã na Flandres, salvando as aparências, salvaram os derradeiros combatentes portugueses da grande batalha do Lys.

A duzentos metros de Viellle Lawe, deparamos com forças britânicas, instaladas em lunetas ou meios redutos. O ângulo de defesa tem por bissectriz, a estrada para Merville. Aqui se enfileiram, demonstrando-lhes os Escoceses o seu apreço pela resistência que acabavam de oferecer.

Todos estão, fisicamente e moralmente, esgotados por cinquenta e seis horas de combates consecutivos. Que todos os da Grande Guerra, ou todos os que viveram debaixo das balas alguma vez, lhes deitem o peso e as avaliem pelos dias, horas ou minutos que cada um viveu nesta batalha, ou mesmo fora dela...— que, até esta e mais violenta não foi sofrida pelos Portugueses.

A ordem do Comando do I Exército inglês era exigente. Restava dizer adeus aos camaradas de armas e saudosos mortos tombados lado a lado.

Debaixo do açoute flagelador das granadas de todos os calibres e do zumbir dos projécteis perdidos, é que estrada fora, marcha lenta e penosa, babujados de sangue e lama, esfaimados e macilentos... era já tarde quando descolaram do front.

Júlio Magno



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Enviado por: Luso em Abril 15, 2007, 06:33:49 pm
Belíssimo texto!
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Enviado por: calaico em Junho 03, 2007, 01:25:32 pm
Honra e Bravura! o vosso nome perdura! o meu bisavó esteve lá, e ao que pude apurar, pouco falava na guerra, apenas que bebiam água através dum lenço nas poças de lama!
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Enviado por: Cabeça de Martelo em Junho 03, 2007, 01:31:33 pm
Obrigado pelo texto Lancero, gostei muito!  :wink:
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Enviado por: SSK em Junho 18, 2007, 11:11:50 pm
Eu conheci um senhor que foi cozinheiro num dos batalhões de portugueses que foi dizimado...
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Enviado por: PereiraMarques em Agosto 11, 2007, 02:13:29 pm
Contado ninguém acredita...

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UMA HISTÓRIA DA 1ª GUERRA MUNDIAL

Flandres 1918. A 1ª Guerra Mundial, iniciada 4 anos antes, dizimava milhões de homens na guerra das trincheiras. Para Portugal, o 9 de Abril ficou indelevelmente marcado com o ataque de LA LYS. No dia 8 de Janeiro de 1918, o soldado nº 573 do Regimento de Sapadores Mineiros – António Pedro Júnior – carpinteiro de profissão, recebeu a missão de chefiar uma equipa para levar a cabo reparações e obras de reforço numa das trincheiras do sector de Levantie que tinha sofrido um intenso bombardeamento alemão. Na execução dessa tarefa, muito arriscada e perigosa (tanto que a ainda hoje usada expressão “ir aos arames” tem aí origem), foi atingido por uma bala disparada por um atirador alemão, instalado numa trincheira próxima, que lhe trespassou o braço entrou pela axila e ficou alojada junto ao pulmão direito. O soldado Pedro disse nada ter sentido de imediato a não ser o ruído da detonação, mas acabou por perder os sentidos, e só acordar alguns dias depois no hospital de sangue instalado na frente.Durante semanas lutou contra a morte que lhe era vaticinada pelos médicos. O seu forte organismo resistiu e triunfou. Oito meses depois, o soldado Pedro tinha alta do hospital, regressando a Portugal com a bala alojada no tórax! Volta à sua terra natal – Santarém – dedica-se à sua profissão e constitui família. 1953! Passados 35 anos a bala lá continua, e, com ela, insónias, indisposições, dores fortíssimas no tórax. Os médicos aconselham-no a fazer uma operação para a extraírem, visto que a medicina cirúrgica já progredira suficientemente para tornar possível o que antes não fôra. O António Pedro aceita a operação, que é marcada. Porém, dias antes, em 15Janeiro1953, depois de dores atrozes, a bala aparece à superfície da pele, na região do fígado donde foi facilmente extraída pela sua filha, Sr.ª D. Natércia, que possuía avançados conhecimentos de enfermagem. Religiosamente guardada, tornou-se na sua única memória, já que, depois disso, o António Pedro nunca mais padeceu de dores ou outros incómodos. Em 03 Agosto de 2007, pela mão da sua filha, Sr.ª D. Natércia Pedro, que lhe extraiu a bala, foi a mesma oferecida ao Museu Militar onde ficará exposta na Sala da Grande Guerra.

 
Fonte: www.exercito.pt (http://www.exercito.pt)
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Agosto 11, 2007, 03:32:53 pm
:shock:
Título:
Enviado por: JoseMFernandes em Janeiro 10, 2008, 07:00:40 pm
A revista francesa "Champs de Bataille"(histoire militaire, stratégie & analyse) no seu último número(Jan°2008) dedica um  dos seus 'dossiers', com direito a foto na capa, a actuação dos 'Portugueses na Grande Guerra'.
Os artigos são da autoria de Patrick Rouveirol (Mestre e professor de História, perito sobre a I GM) e Pierre-Edouard Cote(igualmente Mestre em História e especialista de Historia Militar e particularmente sobre armas e uniformes).
Como é timbre do magazine Champs de Bataille, os temas são acompanhados não só por fotos e ilustrações mas também por esquemas e planos  ( 'plano defensivo aliado, 'a 2° divisão portuguesa',' divisão de infantaria alemã e o 6° exército alemão, e claro a 'ofensiva alemã de 9-29 abril 1918').
É esta uma rara oportunidade em que  franceses mencionam a intervenção portuguesa, pois como como se escreve na introdução do tema "
Citar
...'mais desoladora ainda é a manifesta gratuitidade do sacrificio deste corpo expedicionário,  tão confidencial a ponto de não suscitar mais que pequenas alusões, acabando por se perder até a sua lembrança'.Partamos pois, agora a descoberta dos 55165 portugueses que serviram em França entre Fevereiro 1917 e o Armistício, autênticos soldados desconhecidos da Grande Guerra´


Para dar uma ideia mais concreta da visão francesa, transcrevo a seguir alguns excertos, lembrando que é minha a tradução e adaptação (ligeira e apressada),  pedindo antecipadamente desculpa pelas evidentes deficiências:


Um país em plena crise política em 1914


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"Quando estala a Primeira guerra Mundial, Portugal atravessa uma grave crise política desde ha quatro anos.Quando em 1910 o jovem rei Manuel II foi deposto e obrigado a partir para o exílio, Portugal tornou-se  República numa Europa ainda e quase exclusivamente monárquica.Esta instauração teve como efeito dividir a população portuguesa e por consequência enfraquecer Portugal no concerto das nações.
No plano interior, a política voluntáriamente anti-clerical da jovem República ofende uma parte da população com fortes tradições católicas.A partir de Outubro de 1910 as Ordens religiosas são declaradas indesejáveis, o ensino religioso  é suprimido nas escolas, interditas as procissões e o divórcio passa a ser legal.Enfim...em 20 de Abril 1911, uma Lei declara a separação da Igreja e do Estado.Em apenas sete meses, os republicanos portugueses empreenderam uma laicização em marcha forçada, que os republicanos franceses tinham efectuado em ...trinta e cinco anos !
Um tal política alimentou a oposição surda do clero e de numerosos católicos praticantes, num Portugal de 6 milhões de habitantes onde ainda 85% da população vivia em zonas rurais.Este vivo descontentamento religioso de uma parte da população portuguesa alimenta uma oposição política conduzida pelos monárquicos que aproveitam a divisão do campo republicano em três grupos rivais, com uma grande instabilidade ministerial...  nada menos que seis governos sucessivos entre Out/1910 e Agosto/1914.
Mais inquietante ainda, por duas vezes- Out/1911 e Julho/1912-  expedições armadas da oposição realista portuguesa, provenientes da Galiza, tentam abater o regime republicano.
Esta grave crise interior tem por consequência precarizar a posição portuguesa na cena internacional.Assim, na Peninsula Ibérica mesmo se os rumores de uma intervenção militar da vizinha monarquia espanhola não se concretizam, Portugal enfrenta em Julho/1912 uma reivindicação de Espanha sobre a soberania de algumas ilhas do arquipélago português da Madeira.Se neste caso, Portugal recebeu o apoio da Inglaterra, outras posições britânicas não deixaram de inquietar os meios dirigentes portugueses.De uma parte o ex-rei D.Manuel II encontrara refúgio na Grã-Bretanha e por outro lado numerosas fugas diplomáticas dão conta, entre 1912 e 1914, de um possível acordo entre a Grã-Bretanha e a Alemanha para partilha das colónias portuguesas.
Assim, quando rebenta a guerra em Agosto de 1914, a confiança no aliado tradicional e protector britânico estava algo desfeita.  
"


O artigo refere a seguir aquilo que classifica como 'a lenta marcha para a guerra (agosto 1914-março 1916)', considerando que a inicial neutralidade portuguesa se devia mais ao estado de fraqueza do exército português e o desejo de 'preservar a todo o custo o império colonial', o que passaria por um acordo com a Grã-Bretanha e a sua marinha de guerra, a fim de preservar as comunicações marítimas entre Portugal e as colónias e ao mesmo tempo uma política de apaziguamento com a Alemanha para evitar qualquer ataque massiço desta contra Angola e Moçambique..."de facto mesmo se desde 13/8/914 Portugal concedeu o direito de passagem por Moçambique as tropas britânicas enviadas para a Niassalândia (actual Malawi),  alguns incidentes fronteiriços entre alemães e portugueses no norte de Moçambique e no sul de Angola, entre agosto e dezembro de 1914, não levaram a uma declaração de guerra entre os dois paises."

A polémica em Portugal sobre a participação na guerra é também aflorada, mencionando-se que os opositores a essa entrada estimavam, com razão, que o país não estava militar e económicamente preparado.Mesmo reconhecendo estes argumentos 'os belicistas portugueses pensavam ser necessária a entrada  na guerra por duas  razões: - no plano interno uma União sagrada reforçaria o poder da República, pois os belicistas mais activos eram precisamente os republicanos mais radicais; -  e por outro lado no plano internacional a beligerância asseguraria ao país, com a volta da paz,o reconhecimento por todos da perenidade do seu império colonial (lembrança dos projectos recentes da sua partilha entre ingleses e alemães), um prestígio acrescido na cena internacional, especialmente face a Espanha ( neutra, mas com simpatias pro-alemãs )'.

Até a declaração de guerra pela Alemanha em 9 de Março 1916, é descrito o complexo jogo político entre os intervencionistas e os seus opositores, salientando-se o papel desempenhado por Afonso Costa ( que determinou a compra de equipamento militar, nomeadamente submarinos) até as consideraçoes económicas que foram determinantes para ser dado o passo para a guerra"em Janeiro de 1916 a Grã-Bretanha concede um empréstimo de 2 milhões de libras, e condicionando um milhão suplementar ao apresamento pelos portugueses dos navios alemães refugiados nos seus portos desde Agosto 1914, o que foi efectivado em 23 Fevereiro 1916".Os  longos e infrutiferos protestos alemães levariam pois a declaração de guerra na data acima referida.



Conclusão

Para além de uma breve chamada sobre a Guerra em África(Angola e Moçambique) onde se destacam alguns combates entre os portugueses e forças alemãs, bem como o numero de vitimas que devem ser acrescentadas a este conflito (31 000 expedicionarios metropolitanos com total de cerca 4 000 mortos, e mais 3 000 'locais' ), é abordado o equipamento do soldado português(desde a difícil substituição da Mauser-Vergueiro para a Lee-Enfield, descrição do fardamento, com deficiencia de algum dele especialmente no que diz respeito a impermeabilidade e resistencia para o norte da França, capacetes(menos resistentes que os britânicos), máscaras de gas, cantis  etc...

De notar, por curiosidade, e  no que respeita aos sobretudos...
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" os portugueses traziam capas em pele de carneiro idênticas aos dos pastores do seu país, que além de serem abrigos de sonho para todos os parasitas das trincheiras, se  tornavam  objecto de troça dos soldados alemães e ingleses que se punham a imitar os  balidos dos carneiros, mal viam os portugueses"

                     
                **************************************



Não fazendo, de momento, comentários a estes textos, penso no entanto poder subscrever  o parágrafo final, de Pierre-Edouard Cote:
 
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Apesar de uniforme e equipamento inadaptado à permanência nas trincheiras, os soldados do CEP combateram com coragem, deplorando a perda de 8000( mortos e feridos) entre eles , o que é muito elevado para uma força de cerca de 40 000 homens
Título:
Enviado por: Lancero em Janeiro 10, 2008, 08:37:50 pm
Obrigado pela partilha e, especialmente, pelo trabalho que teve na tradução.

Apesar de os meus parcos conhecimentos sobre o assunto me aferirem que o texto é bastante correcto, denoto algum chauvinismo - nomeadamente no que toca aos comentários da relação Portugal/Reino Unido.
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 10, 2008, 08:46:11 pm
Seria diferente, hoje?
Fica a pergunta.
Título:
Enviado por: André em Janeiro 10, 2008, 09:31:48 pm
Citação de: "Lancero"
denoto algum chauvinismo


Isso é normal nos francius, eu tenho que aturar um françês na minha turma, que tá sempre a rebaixar os feitos de Portugal e a dizer que somos uns pobres e a que França é o paraiso supremo e coisas do genero ...  :roll:
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 10, 2008, 09:50:46 pm
Citação de: "André"
Citação de: "Lancero"
denoto algum chauvinismo

Isso é normal nos francius, eu tenho que aturar um françês na minha turma, que tá sempre a rebaixar os feitos de Portugal e a dizer que somos uns pobres e a que França é o paraiso supremo e coisas do genero ...  :roll:


É uma questão de escala. A valentia dos indivíduos, quando mal conduzidos é um trágico desperdício.
Nada li que fosse insultuoso. Ao nível estratégico da frente Ocidental, a participação foi um desastre, por melhores que tivessem sidos os soldados. Face à situação política e dada a qualidade dos superiores - e tendo eu que arriscar a vida, desconforto e o horror a bem de uma estratégia excessivamente abstracta para quem tem que dar o corpo e alma ao manifesto a bem duns monos iluminados, que para isso quase TUDO contribuiram, aposto que até eu me amotinaria.

Mantenho a pergunta: como seria a situação hoje?
Dá que pensar, não dá?
Pois...
Título:
Enviado por: papatango em Janeiro 10, 2008, 10:00:28 pm
Em primeiro lugar, também quero deixar o meu agradecimento pelo trabalho tido.

É sempre interessante ter uma ideia do que os outros pensam de nós e juntar mais informações e dados que permitem dar-nos uma ideia sobre os acontecimentos.

O chauvinismo, ou algum chauvinismo, de franceses ingleses ou alemães não é nada de estranhar.
A realidade do Portugal rural e atrasado (que noutros tópicos há quem negue) só não a vê quem não quer e o Portugal de 1918 não é, como o Portugal de 1960 moderno e de desenvolvido.

É em sumula, o país que vem das montanhas de Trás-os-Montes das planícies do Alentejo, passando pela Cova da Beira.

O que é que os alemães, franceses ou ingleses vão achar destes «rústicos» que na sua maioria nunca tinham visto um carro?

A ideia que tenho de La Lys, é que em primeiro lugar a gestão das tropas foi má.
O soldado português era (e continua a ser) obediente e a cumprir ordens. Mas se for mal comandado tende a amotinar-se ou a cumprir ordens com dificuldade.

Na generalidade os oficiais conseguiam escapar-se com mais dificuldade da frente que os soldados.

O numero de oficiais mortos está 37.7% abaixo da média.

3.8% dos oficiais portugueses foram mortos em combate enquanto que 6% foram declarados incapazes para serviço.

Ora, os oficiais tinham muito melhores condições de vida que o resto da tropa e conseguem ter mais problemas de saúde (proporcionalmente) que sargentos e praças.

Embora os numeros não fossem exactamente impressionantes, criou-se nas trincheiras a ideia de que quem tinha padrinho podia facilmente voltar para casa.

A ideia de injustiça no tratamento é das piores coisas que um militar pode aceitar.

Um soldado aceita ordens de um comandante, mesmo quando elas são desagradáveis. Mas não tolera que depois de dar ordens o comandante fuja.

Onde as tropas portuguesas estavam enquadradas por oficiais que sabiam o que estavam a fazer foi onde houve resistência.

La Lys, deve ser um exemplo, e pessoalmente acredito que foi um exemplo.
Embora muito filho de mamã, oficial de carreira tivesse fugido à guerra em África, houve muitos oficiais de carreira e milicianos que lutaram e comandaram tropas que se comportaram como se esperava que se comportassem.

Isto, evidentemente sem que deixemos de reconhecer todos os exemplos negativos.

Além disso, a guerra de 1914 - 1918 foi uma guerra que para a altura era de alta tecnologia, para a qual os portugueses não estavam preparados.
Em África a guerra era de baixa tecnologia e por isso era teoricamente mais facil, porque se podia apenas pedir aos soldados que "aguentassem".

Quando ocorreu a introdução de equipamentos com maior incorporação de tecnologia as coisas ficaram mais complicadas, como ocorreu com a introdução dos SA-7 na Guiné.

Se hoje ocorreria a mesma coisa, não sabemos.
Temos tropas no terreno mais complicado do momento, o Afeganistão. Estão lá à mais tempo que o que estivemos em França, mas claro, não podemos comparar uma força de 150 homens com uma de 55.000.

Que país europeu hoje estaria em condições de mater 55.000 homens numa frente de trincheiras sem os substituir por sete meses?
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 10, 2008, 10:15:47 pm
Citação de: "papatango"
Temos tropas no terreno mais complicado do momento, o Afeganistão. Estão lá à mais tempo que o que estivemos em França, mas claro, não podemos comparar uma força de 150 homens com uma de 55.000.

Que país europeu hoje estaria em condições de mater 55.000 homens numa frente de trincheiras sem os substituir por sete meses?


PT, é óbvio que não se pode comparar o Afeganistão à guerra das trincheiras. São coisas completamente diferentes, como Jesus Cristo do Socrates.
A questão que coloco é se em caso de problemas nós teríamos liderança à altura. Só isto.
Título:
Enviado por: papatango em Janeiro 10, 2008, 10:47:13 pm
Essa é uma questão que qualquer país se pode colocar.

Os ingleses tinham gente à altura quando começou a I guerra?
Todas aquelas mortes porque não havia solução para a guerra de trincheiras...
Os franceses estavam preparados para a guerra em 1940?

Haverá um país europeu preparado para um conflito ?

Aquilo que podemos dizer é que provavelmente o enorme fosso que existia entre a nossa realidade e a realidade dos principais países da Europa é hoje muito menor que o que era no passado.

Quando Portugal compete com outros países europeus para que um sistema portugues de gestão de dados de combate seja adoptado por toda a NATO, alguma coisa deve ter mudado Luso.

Estamos felizmente muito longe dos homens de casaco de pele de ovelha ou carneiro.

Agora se temos gente com a coragem e valentia clássicas que esperamos nos livros de histórias, isso não sei. Mas isso não é um problema português é um problema da sociedade ocidental.
Na França ganharam o hábito de se renderem, na Espanha os soldados casam-se uns com os outros, na Inglaterra rendem-se aos iranianos e tomam champanhe com eles.

Se formos a ver as coisas por esse ponto de vista estamos perdidos...  :shock:
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 10, 2008, 10:52:37 pm
Andas a ganhar demasiadas argumentações, PT! :mrgreen:
Título:
Enviado por: JoseMFernandes em Janeiro 11, 2008, 11:28:28 am
Citação de: "Lancero"
Obrigado pela partilha e, especialmente, pelo trabalho que teve na tradução.

Apesar de os meus parcos conhecimentos sobre o assunto me aferirem que o texto é bastante correcto, denoto algum chauvinismo - nomeadamente no que toca aos comentários da relação Portugal/Reino Unido.


André:Isso é normal nos francius, eu tenho que aturar um françês na minha turma, que tá sempre a rebaixar os feitos de Portugal e a dizer que somos uns pobres e a que França é o paraiso supremo e coisas do genero ...  

                                    ****

Como em tudo na vida, sabemos que não se deve generalizar, mas não  será por acaso que 'chauvinismo' é um termo francês  :)
Mas creio que sem dúvida foi positiva a divulgação, mesmo se evidentemente perfectível, da participação portuguesa, tanto mais que algumas reacções espelhadas no Forum da revista deixam entender quanto ela era/é desconhecida pelos franceses em geral, e neste caso até mesmo por interessados na matéria.

Por exemplo:


"E pensar que a minha prof. de História, trinta anos atras nos contava,  que a única participação dos portugueses se limitara a uma delegação diplomática e suas mulheres a dias(femmes de ménage)"

"...sobre "A BATALHA PERDIDA DOS SOLDADOS DESCONHECIDOS PORTUGUESES" descobri com muito interesse esta parte, para mim desconhecida, da Grande Guerra; nem sequer sabia que havia monumentos em memória dos soldados portugueses mortos em França !!!"



Este ano que agora começou representa aquilo que por aqui se convenciona chamar 'um aniversário redondo', ou seja passam 90 anos  sobre essa 'Batalha Perdida' na Flandres pelos soldados portugueses, espero pois que haja oportunidade de aparecerem mais contribuições aqui no Forum.
Os nossos compatriotas de então... esgotados, doentes, mal equipados, enterrados todo o dia, e todos os dias na lama(um dos seus maiores 'horrores'), 'gazeados', sofrendo os rigores do tempo,  sem direito sequer a apoio moral ou religioso... merecem bem que os recordemos.
Que pelo menos para nós eles não sejam, (como os franceses os classificam )...  uns soldados desconhecidos portugueses !
Título:
Enviado por: Ricardo em Janeiro 12, 2008, 01:30:01 pm
Sobre o Soldado Aníbal Augusto Milhais, encontra-se  uma exposição permanente no Museu Militar do Porto:

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg172.imageshack.us%2Fimg172%2F9083%2Fcimg0342wj9.th.jpg&hash=01dd902e6b2e110c8280baa5eeb36cae) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg507.imageshack.us%2Fimg507%2F8664%2Fcimg0340ij1.th.jpg&hash=5828c3ee405e3877b576cc37f1ee511a) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg507.imageshack.us%2Fimg507%2F2018%2Fcimg0341nz7.th.jpg&hash=afac0eb6d13ef1ebb7f23c6120a8929f) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg249.imageshack.us%2Fimg249%2F4840%2Fcimg0348qy9.th.jpg&hash=2bdbbce4c680f3e86f0dd0dbc67812f1) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg507.imageshack.us%2Fimg507%2F9876%2Fcimg0345nr5.th.jpg&hash=a125011c5adcc136ed445e39a732434f) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg172.imageshack.us%2Fimg172%2F5005%2Fcimg0343km8.th.jpg&hash=00c28955855e104ef944539edd6b78df) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg236.imageshack.us%2Fimg236%2F1741%2Fcimg0347dn9.th.jpg&hash=ab62a90f925790fa70261cbcfa864216) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg249.imageshack.us%2Fimg249%2F3466%2Fcimg0338bj5.th.jpg&hash=bf2fb1192adad09e3fd8f10c21ecc642) (http://http)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg249.imageshack.us%2Fimg249%2F6934%2Fcimg0344wz5.th.jpg&hash=36830e580a8655ed7820269a731d4006) (http://http)
Título:
Enviado por: Lancero em Fevereiro 04, 2008, 03:27:41 pm
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwholesale-prints.net%2FMBB1917%2FMBB1917085.jpg&hash=3159c99c234642fea397d161248fd14a)
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 09, 2008, 12:45:35 pm
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Defesa: Ministro da Defesa participa em França nas cerimónias evocativas da Batalha de La Lys  



 

    Lisboa, 9 Abr (Lusa) - O Ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, parte sexta-feira para Lille, em França, para assistir às cerimónias evocativas do 90º aniversário da Batalha de La Lys e da participação militar portuguesa na I Guerra Mundial.  

 

    Severiano Teixeira, acompanhado pelo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, General Valença Pinto, participa nesse dia num colóquio dedicado à Batalha de La Lys, na Universidade de Lille, com a intervenção de historiadores portugueses e franceses.  

 

    No sábado, a delegação portuguesa participa nas cerimónias militares no cemitério militar português, em Richebourg, com homenagem junto do Monumento aos Mortos em La Couture.  

 

    Posteriormente, em La Peylouse - Saint Venant, decorrerá uma cerimónia onde será descerrada uma placa comemorativa naquele que foi o Quartel General do Corpo Expedicionário Português (CEP).  

 

    A Batalha de La Lys marca a participação do corpo expedicionário português na Primeira Guerra Mundial (ao lado da França, contra a Alemanha) em 1918. Os portugueses sofreram uma pesada derrota na Batalha de La Lys, neste conflito bélico mundial em que participaram com cerca de 55 mil homens.  

 

    Quando a Alemanha declarou guerra a Portugal em Março de 1916, foi decido enviar para França uma força portuguesa constituída por uma força de infantaria, apoiada por um grupo de artilharia (Corpo de Artilharia Portuguesa), num total de 30 mil homens.  

 

    Esta decisão teve razões militares mas também políticas que estavam ligadas à necessidade de garantir para Portugal um lugar na mesa dos vencedores da guerra, de forma a assegurar a continuação do império, o qual era avidamente olhado pela maior parte das potências europeias.  

 

    As primeiras tropas portuguesas chegam à Flandres a 8 de Fevereiro de 1917 e, logo a 4 de Abril, morria em combate nas trincheiras o primeiro militar português, António Gonçalves Curado.  

 

    A 17 de Outubro de 1917, toma posições o Corpo Português de Artilharia Pesada, com 10 baterias de artilharia, representando o apoio português nos sectores franceses.  

 

    A 28 de Outubro de 1917, Portugal perde (por necessidades britânicas) o apoio dos últimos navios que serviam para reforçar o CEP e efectuar a ligação com Portugal. A partir desta data deixa de ser possível efectuar reforços de monta. O total de 30.000 homens previsto, não será atingido.

 

 

    Entre meados de Janeiro e meados de Fevereiro ocorre em Portugal uma guerra civil, com a instauração da monarquia no Porto. A instabilidade em todo o país é generalizada.  

 

    Só em 16 de Março de 1918, a artilharia pesada portuguesa entra em acção. É entretanto decidido transferir a artilharia pesada para o CEP, para apoio das forças portuguesas. Essa transferência não chegará a ocorrer.  

 

    Na Primavera de 1918, o CEP (Corpo Expedicionário Português) encontrava-se desmoralizado, com os soldados há demasiado tempo na frente de combate. Estava instalado um enorme mal-estar entre as fileiras porque parte dos comandos das tropas portuguesas se encontrava comodamente instalado em Paris, enquanto os escalões inferiores, sargentos e praças viviam nas trincheiras meses seguidos sem que fossem regularmente substituídos.  

 

    Tornando-se inviável o envio de mais tropas desde Portugal, o que permitiria render parte das forças, a solução foi deixar aqueles que se encontravam no local, sem possibilidade de substituição.  

 

    Em Abril de 1918, o CEP encontrava-se estacionado numa região relativamente secundária e era constituído por duas divisões (às quais faltavam efectivos). A 2ª Divisão portuguesa, tinha ocupado posições nas primeiras linhas (a frente defendida pelo CEP tinha cerca de 12 Km), rendendo a 1ª Divisão.

 

    A situação era conhecida dos comandos britânicos que, conhecedor da situação e de que era possível um ataque alemão no sector tinham dado ordens para a retirada também da 2ª Divisão que seria substituída pela 50ª Divisão britânica. As ordens eram para retirar exactamente a 9 de Abril, o dia em que começou o ataque de grande envergadura alemão, apanhando as forças portuguesas numa posição completamente desfavorável.  

 

    Com a ofensiva "Georgette", integrando 50 mil soldados alemães, montada por Erich von Ludendorff, os portugueses acabaram por sofrer uma derrota esmagadora na Batalha de La Lys (sector de Ypres), em 9 de Abril de 1918, logo após a derrota do Exército Britânico em Arras.  

 

     Nesse dia, o Corpo Expedicionário Português sofreu cerca de 7.500 baixas, com um número ainda mais elevado de prisioneiros.  
Título:
Enviado por: FS em Abril 09, 2008, 02:31:38 pm
A um bom artigo sobre La Lys no Publico:

http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain2%2Easp%3Fdt%3D20080409%26page%3D6%26c%3DC

Uma boa maneira de celebrar esta efeméride, muitas vezes mal contada!
Título:
Enviado por: ferrol em Abril 09, 2008, 03:10:20 pm
As voltas que da a vida:
http://www.worldwar1.com/france/portugal.htm
Citar
Contributed by Hugo Rodrigues
Sintra, Portugal

The survivors of the CEP were used by the British as labour for digging trenches and road repairs as "punishment" for what the British perceived as their "cowardice". Even though first some isolated Portuguese units and then the 1st Division did eventually return to the frontline for combat, it proved impossible to rebuild completely the CEP. Nonetheless, Portuguese troops earned, with this terrible sacrifice, their place at the famous Victory Parade in Paris on 14 July 1919.
Título:
Enviado por: FS em Abril 09, 2008, 04:38:45 pm
O que e triste e que os primeiros a "cavar" foram as divisões Inglesas nos flancos do Corpo Expedicionário Português...

Mas isso eles chamam de retirada estratégica...

A verdade e esta:

"The collapse of the CEP can be explained by the insufficiency of the troops available to hold such a lengthy frontline and to provide unit rotation, to the crushing numerical superiority of the German attackers and the intensity of the preliminary bombardment, and to the exhausted and demoralized condition of the rank-and-file, which - and with good reason, as we have seen - considered itself left to its fate by the Portuguese Government, the British, and even its own officers, and finally to the fact that the CEP was attacked on the very day set for its relief. When all the facts all weighed in, it's obvious the battle could have only one outcome."
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Abril 09, 2008, 04:42:58 pm
Citar
Cumprem-se hoje 90 anos sobre o sangrento embate
Presidente homenageia portugueses que combateram na batalha de La Lys

09.04.2008 - 12h13 PÚBLICO

O Presidente da República homenageou os soldados portugueses que combateram na I Guerra Mundial, no dia em que se assinala o 90º aniversário da batalha de La Lys, um dos mais sangrentos embates em que estiveram envolvidas tropas nacionais.

Num texto publicado no site oficial da presidência, Cavaco Silva lembra que os efectivos do Corpo Expedicionário Português “combateram em defesa dos valores da democracia e da liberdade” que norteavam os países aliados “na sua luta contra as potências centrais”.

O Presidente recorda que a então jovem República entrou no conflito em 1916, numa altura em que procurava “reconhecimento político externo”, “tendo as duas divisões de tropas portuguesas chegado à Flandres no início do ano seguinte, onde permaneceram nas trincheiras da frente, sem quaisquer reforços, suportando as agruras dos combates, do frio e das múltiplas privações”.

“O dia 9 de Abril de 1918, quando se desencadeou no sector português uma ofensiva alemã que alteraria o curso da guerra, viria a constituir-se num marco histórico de profundo significado para Portugal, com as tropas inimigas a abaterem-se sobre os soldados portugueses”, sublinha o Presidente.

Cavaco Siva acrescenta que "La Lys – ou Armentières – ficou na memória colectiva da nação portuguesa e dos aliados" porque "ali combateram, sofreram e morreram, numa guerra fratricida e sangrenta, muitos soldados portugueses". Segundo dados recentes, terão morrido no confronto 400 militares portugueses e outros 6500 foram feitos prisioneiros, números muito inferiores aos divulgados nos anos que se seguiram ao conflito e que admitiam 7500 mortos.

Sustentando que aqueles militares “não lutaram em vão”, o chefe de Estado considera que “lembrar a batalha de La Lys e os militares portugueses que nela participaram é celebrar o exemplo que estes deixaram em prol da fraternidade entre os povos irmãos europeus”.


 :arrow: http://ultimahora.publico.clix.pt/notic ... id=1325261 (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1325261)
Título:
Enviado por: papatango em Abril 09, 2008, 08:33:17 pm
Citação de: "Jornal Público"
São 4h15 da madrugada do dia 9 de Abril de 1918. A artilharia alemã começa a cair sobre as trincheiras. Cai também o gás asfixiante, fosgénio e mostarda. Em meia hora, as redes de arame farpado estão destruídas. As comunicações telegráficas e telefónicas são cortadas. Há mortos e feridos por todo o lado. Muitos soldados são feitos prisioneiros, a maior parte dos comandantes também.
Fica-se com a ideia de que em meia hora, portanto às 04:45, já havia mortos e feridos por todo o lado e que a maioria dos comandantes tinham sido feitos priosioneiros.

Para começo a descrição do «Público» é péssima, e um mau serviço à verdade histórica.
Durante o bombardeamento das trincheiras, ninguém é feito prisioneiro, porque pura e simplesmente os atacantes estão escondidos e protegidos atrás das suas próprias trincheiras.

Citar
As unidades da primeira linha tentam resistir, sem saber a quem obedecer. Às 7 horas o fumo mistura-se com o nevoeiro matinal e a infantaria alemã, aproveitando a má visibilidade, avança sobre as trincheiras da frente
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às 07:00 ainda continuava o bombardeamento de artilharia.

A única resistência (ou resposta) foi a da artilharia portuguesa que de facto respondeu, mas os sistemas de trincheiras alemães resistiam melhor que os dos aliados, pelo que a resposta portuguesa, não teve repercussão nenhuma.

A descrição feita pelo Gen. Gomes da Costa e os relatórios ingleses, resultam no horário que está aqui:
http://www.areamilitar.net/Analise/analise.aspx?NrMateria=24&p=2

A ordem para substituição das forças portuguesas tinha já sido dada, mas não foram apenas as linhas portuguesas que ficaram desorganizadas com o bombardeamento que começou às 04:15 e que só terminou por volta das 08:45, ou seja, após quatro horas e meia.

Na verdade, numa frente de aproximadamente 12km pode acontecer muita coisa. Muitas secções da frente podem quebrar enquanto outras resistem.

Sabemos que o facto de a frente se ter quebrado em muitos lugares, levou a que os portugueses vissem surgir os alemães pelas costas.

Perante uma situação destas, a rendição foi a solução para muitos.

O numero de baixas é enorme, evidentemente, mas quando olhamos para a dimensão da chacina que foi a I guerra mundial, aquilo era o pão-nosso-de-cada-dia.

Na operação Michael (a primeira das quatro ofensivas de 1918) e que antecedeu a Georgette, os britânicos tiveram 38.000 baixas nas primeiras 24 horas. Desses 21.000 foram soldados que se renderam.

Normalmente a violência a que eram submetidas as primeiras linhas tornava as tropas inoperacionais. Havia casos de loucura. Os soldados pura e simplesmente passavam-se.

Ocorre que também entre os britânicos havia tropas que eram submetidas à violência dos bombardeamentos e que só serviam para cavar trincheiras. O que acontece é que os britânicos, tinham capacidade para transferir as unidades que tinham ficado inoperacionais para divisões de segunda linha, permitindo às divisões continuar na frente.

Por exemplo, os quatro grandes ataques de 1918 (Las Lys foi o segundo) foram tão violentos para o IV exército britânico, que no final, esse exército passou a chamar-se V exército.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: EB em Abril 10, 2008, 11:52:21 am
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Um outro olhar sobre a Primeira Grande Guerra

A batalha de La Lys na I Grande Guerra Mundial «não foi a mortandade» que a historiografia tradicional afirma ter sido, diz a historiadora Isabel Pestana Marques, autora de um livro sobre a participação portuguesa no conflito, informa a Lusa.

«Das trincheiras com saudade», de Isabel Pestana Marques, procura, segundo a autora, «dar voz aos combatentes, mostrar o lado humano da guerra, que é aquele que verdadeiramente a decide».

O título remete para uma das fontes essenciais da autora: as cartas que os militares escreviam.

Arquivos oficiais e particulares foram outras das áreas de pesquisa, além das entrevistas que fez a alguns dos militares participantes que ainda conheceu.

Na sua opinião, «a participação portuguesa no conflito é pouco conhecida e até pouco investigada. Mas quando se refere este período nas aulas, os alunos lembram a memória familiar de um antigo combatente e até têm algumas recordações como cartas, postais, ou algum apetrecho militar».

Na historiografia internacional, o principal óbice «será talvez - referiu - os estudos que existem serem em Língua Portuguesa e não traduzidos».

«Legitimação da República»

Portugal participou na I Guerra (1914-1918) fundamentalmente para «legitimação da República e para o seu prestígio, para procurar fazer esquecer internacionalmente o regicídio (1908) e unificar os portugueses pela causa da guerra, o que falhou».

A participação portuguesa está, na avaliação da historiadora, muito mistificada, desde logo pela mortandade que afirma não ter não existido e pelo mito do «soldado desconhecido».

Segundo a historiadora, morreram dois mil militares portugueses na Europa, 300 deles na batalha de La Lys, muito abaixo dos números divulgados, e seis mil foram feitos prisioneiros.

«Inflacionámos os números para obtermos mais dinheiro das indemnizações de guerra», indicou a investigadora.




Em: http://diario.iol.pt/sociedade/primeira-grande-guerra-grande-guerra-historia-historiadora-trincheiras-conflito/938429-4071.html
Título:
Enviado por: papatango em Abril 10, 2008, 12:41:13 pm
É sempre interessante que os participantes do fórum tragam estes textos, que para muitos passam despercebidos.

Pessoalmente fico espantado com a facilidade que estas coisas são ditas.
Quem escreveu o texto acima,nunca olhou para as estatísticas oficiais.
Nunca houve documentos oficiais a apontar para 7.000 mortos em La Lys.

Mais uma vez, recomendo a matéria do areamilitar.net (ver link acima) que inclui uma estatística sobre todas as baixas portuguesas.
E essa estatística é da altura, não é de agora.

O número de 7.000 mortos é resultado da confusão entre baixas e mortos.
As baixas são o numero de homens, com que uma unidade militar, cmpanhia, batalhão, brigada ou divisão regista como tendo deixado de estar no efectivo de combatentes.
Um morto é uma baixa, da mesma maneira que um ferido que teve que ser evacuado, ou um prisioneiro.

As tropas portuguesas em 9 de Abril, mercê do facto de terem sido mantidas praticamente sem rotação desde que chegaram a França, foram submetidas a um bombardeamento de quatro horas e meia.

A preparação de artilharia, durante a I guerra mundial, juntamente com o gás, que só era utilizado quando as condições atmosféricas permitiam, destinava-se a gerar o pânico e o terror do outro lado da trincheira.
O objectivo era que a tropa estivesse tão desmoralizada, as suas comunicações tão trituradas, o seu sistema de apoio logístico tão desorganizado, que o avanço da infantaria ficaria muito facilitado.

Em África, ainda hoje estão vivos, militares que estiveram em Guilege e Gadamael na Guiné e que contam que o bombardeamento do PAIGC foi terrivel.

Multipliquem Guilege e Gadamael, pela difernça entre o PAIGC e o Império Alemão, e teremos a diferênça entre as duas operações.
Mas qualquer dos defensores da Guiné dirá (e com razão) que passou por uma situação terrível e dificil de descrever.

Muitas das tropas portuguesas renderam-s quando apareceram os alemães pelas costas e ficaram isolados de qualquer abastecimento, exactamente como se renderam os mais de 20.000 ingleses no inicio de Março na operação Michael.

É no entanto verdade, que se exageram os actos de heroísmo (que os houve sem dúvida), como também se exagera a cobardia. O medi, é resultado do esgotameno nervoso.
A indisciplina que se refere (especialmente no caso do Publico) existiu sim, mas não desde o inicio e apenas nos meses finais, quando Lisboa se desinteressou das tropas.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 10, 2008, 03:36:06 pm
Mais uma para a fogueira...

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10 Abril 2008 - 00.30h

La Lys: A realidade vista 90 anos depois

Exagero na tragédia

A evocação da batalha de La Lys, cujo 90.º aniversário se comemora amanhã e depois em França, surge quase sempre ligada a milhares de mortos. Lê-se isso em muitos artigos sobre a participação portuguesa na Primeira Grande Guerra, 1914-18, na imprensa e na internet, e até em reputadas Histórias de Portugal. A realidade é, contudo, diferente. O desastre militar, às vezes comparado à tragédia de Alcácer Quibir, acabou de facto com a capacidade operacional do Corpo Expedicionário Português (CEP), mas as baixas – 398 mortos, dos quais 29 oficiais – são muito inferiores ao habitual: morreram ‘327 oficiais e 7098 praças’.


(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg530.imageshack.us%2Fimg530%2F8716%2Fimagedownloadbw2.jpg&hash=cf99dc778cc2d31b441aa5084937014b)

Após viagem de barco até Brest, os portugueses avançavam alimentados a pão e conserva de sardinha


O exagero tem uma das origens num livro escrito por um dos comandantes do CEP, Gomes da Costa, promovido a general nos campos da Flandres e mais tarde chefe do golpe militar do 28 de Maio de 1926, que impôs uma ditadura, mantida pelo Estado Novo até ao 25 de Abril de 1974. Para além dos seus interesses de carreira militar, a presença portuguesa nos campos de batalha na Europa suscitou os maiores exageros nas baixas. Por um lado devido à luta política interna, depois do levantamento militar que levou Sidónio Pais ao poder em Dezembro de 1917, quase ao mesmo tempo que partia para França o último contingente militar português, com por soldados do Infantaria n.º 17, de Elvas. Mas sobretudo porque depois de três batalhões nacionais acompanharem a ofensiva vitoriosa e participado com a bandeira portuguesa nos desfiles da consagração em Paris e Bruxelas, era importante apresentar muitas baixas, para obter maiores indemnizações a nível financeiro e de armamento na Conferência de Paz.

'Ao contrário de hoje, na altura considerava-se que um maior número de mortos significava uma campanha mais heróica', observa a mestre em História, Isabel Marques, que acaba de publicar um desenvolvimento da sua tese com o título ‘Das Trincheiras, com Saudade'.

HERÓI MILHAIS PASSOU A SER O 'MILHÕES'

Do 9 de Abril de 1918, em La Lys ficou a memória de muitas histórias. Nos anos 30, início do Estado Novo, teve grande popularidade um sobrevivente da trágica batalha, o soldado Aníbal Augusto Milhais, trasmontano de Murça, a quem se atribuiu o feito de sozinho, numa trincheira, com uma metralhadora Lotz, desbaratar uma coluna de alemães que se deslocava de mota, e outras forças de forma a retardar o seu avanço e permitir o estabelecimento das linhas aliadas 30 km. Foi condecorado com a Torre Espada e até mudou de nome depois do seu chefe militar lhe dizer: 'Tu és Milhais, mas vales Milhões'. Da ficção é o ‘capitão Afonso’ do romance ‘A Filha do Capitão’, de José Rodrigues dos Santos. 'Na hora do ataque às 04h00 estava numa trincheira de la Lys a bebericar uma chávena de chá. Com o susto da tempestade de metralha explosiva quase o ia entornando', escreve o autor.

DAS REVOLTAS AOS DESFILES DA VITÓRIA

As forças portuguesas ficaram destroçadas pelo ataque alemão na madrugada de 9 de Abril de 1918 em La Lys. Cansados e desmoralizados, perante a ofensiva de quatro divisões alemãs, os nacionais opuseram frágil resistência. Segundo Isabel Marques Pestana, convidada oficial para falar amanhã, na Universidade de Lille, sobre a participação portuguesa na Guerra 14-18, o desastre deve-se a uma situação calamitosa. A partir de Dezembro de 1917 não se enviaram mais tropas para França nem se renderam as que lá estavam. Isso ficou patente em 18 revoltas. Ainda assim, a partir de Setembro de 1918 foi possível reconstituir três batalhões que participaram na ofensiva vitoriosa final e desfilaram com a bandeira portuguesa nas paradas do triunfo em Bruxelas e Paris.

SARGENTO FERREIRO VIRA ARTISTA

Um encontro fortuito, na frente da Flandres, com um médico de Aveiro que já o conhecia como o ‘Almeida de Coimbra’, ferreiro com talento, facilitou ao sargento Lourenço Chaves de Almeida, da Coluna de Transportes de Feridos n.º 1, o cultivo da sua arte em França. Começou por arranjar uma lança para o estandarte de um regimento e aproveitava as cápsulas das granadas e de outros projécteis para artesanato muito elogiado. Também reparou uma bengala ao general Tamagnini, comandante-chefe das forças portuguesas, dando-lhe uma grande alegria pela estima em que ele tinha o utensílio oferecido por Mouzinho de Albuquerque.

Da batalha de La Lys recorda a confusão e que os ingleses lhe ficaram com um guarda-jóias feito na forja que improvisara em La Fosse. Estas e outras peripécias da presença portuguesa na guerra são contadas no livro ‘Memórias de um Ferreiro’ que Lourenço de Almeida escreveu antes de falecer em 1952, com 76 anos, e a vontade de um neto, Afonso Almeida, conseguiu que fosse publicado há menos de um mês com o apoio da Liga dos Combatentes.

MINISTRO NA COMEMORAÇÃO

Severiano Teixeira, ministro da Defesa Nacional, participa amanhã e depois em França nos actos dos 90 anos de La Lys.

HOMENAGEM NO CEMITÉRIO

O cemitério militar português de Riche-bourg é um dos locais da cerimónia que se alargam a La Couture e La Peylouse-St. Venant.

398 MORTOS

É o número mais exacto das perdas sofridas em La Lys.

29 OFICIAIS

Estão entre os mortos do 9 de Abril, alguns por suicídio.

 João Vaz


CM (http://http)


Eu já tinha apresentado este livro neste tópico (http://http) e, sabendo a editora, previa algo do género.
Título:
Enviado por: Boina_Verde em Abril 28, 2008, 03:49:04 am
naquela altura o soldado portugues da provincia nao fazia a minima ideia do que ia fazer para a flandres...eram capazes de ter uma ideia mas mesmo assim tenho as minhas duvidas...

eles adaptaram-se bem ás trincheiras,eles já estavam habituados a dificuldades...

pelo que eu vejo e refiro ate com muita pena e como eu outras pessoas q conheço, os "nossos rapazes" estao a ficar froxos...é o resultado da sociedade de consumo e das televisões e da vida sedentária...enfim
Título:
Enviado por: JoseMFernandes em Abril 30, 2008, 11:18:22 am
A revista francesa "Batailles - l'histoire militaire du XX siécle" dedica todo o seu último numero  (n°27 de abril-maio 2008 ) a 'As Ofensivas Alemãs de 1918' sendo dois dos seus artigos referentes a participação portuguesa na IGM e em especial ao tema em questão.

Atendendo a que, e apenas de meu conhecimento imediato,  já outra revista francesa tinha  publicado muito recentemente artigos e 'dossiers' referentes  aos portugueses na Flandres (recordo os extractos aqui apresentados por mim e retirados de 'Champs de Bataille' de Jan°/2008) não se pode dizer que os portugueses continuem exactamente ' les inconnus soldats portugais ' como até agora tem sido qualificados... .

O primeiro artigo da autoria de Dominique Bussillet  'Os Soldados portugueses na Grande Guerra' retraça e enquadra o envolvimento português, sem grandes novidades em relação ao artigo da "Champs de Bataille"  que aqui evoquei.Insiste nos 'ruídos' acerca dos "perigos que poderiam ameaçar a expansão colonial portuguesa, e pior, um acordo anglo-alemão de Agosto/1913 que tornaria bem reais as ameaças que pesam sobre as colónias: o Reino Unido interessa-se em Moçambique, enquanto a Alemanha pretenderia Angola devido a proximidade  das suas colónias com os territórios portugueses".
Dominique Bussillet apresenta como razoes para a entrada de Portugal no conflito: "o desejo de manter as suas colónias e assim poder reivindicar a sua plena soberania no fim da guerra; a necessidade de criar uma legitimidade para a jovem república e ao mesmo tempo uma identidade distinta da Espanha, com uma verdadeira independência nacional, sem esquecer o desejo do governo de então (do Partido Democrático de Afonso Costa) se afirmar politicamente na cena europeia."
Realça-se o trabalho do Ministro da Guerra (gen. Norton de Matos) e do gen. Tamagnini  na organização de tropas operacionais no mais breve espaço de tempo possível(não esquecendo que 50 000 homens teriam ja sido enviados para as Colónias)."o desafio era considerável: em tempo 'record' teriam de se transformar homens habituados a uma vida pacífica e básicamente rural em combatentes aguerridos para um conflito de que era bem conhecida a sua dureza"
"A organização do CEP é tanto mais dificil de montar quanto a extrema repugnancia que os soldados e oficiais portugueses demonstram em intervir no conflito europeu, o qual lhes parece ultrapassar de longe as capacidades de Portugal, seja em meios financeiros como humanos.No fim de 1916 uma revolta de militares conduzida por Machado dos Santos opõe-se a intervenção em França, mas embora  fracassada acabaria por levar para a prisão numerosos oficiais do CEP, que se viu assim privado de uma parte das suas chefias, enquanto outros eram hospitalizados ou considerados inaptos para o serviço activo"
"Bem ou mal começou entretanto o embarque das Forças Armadas, de uma maneira que se pretendia secreta, mas que viria a  acontecer na maior confusão, na maior parte das vezes sem o acompanhamento  de médicos ou veterinários, que eram obviamente necessários.De 2/2/1917 a 28/10/1917 formaram-se comboios de navios com destino a Brest.Os dois navios portugueses ('Pedro Nunes' e 'Gil Eanes') bem com sete navios britânicos eram escoltados por contra-torpedeiros ingleses.O navio Pedro Nunes que efectuará onze viagens com uma duração média de três dias fica mesmo conhecido como o 'navio-fantasma' ao evitar os submarinos alemães, e  também explicação da lentidão no encaminhamento.

Serão assim transportados:
-2 122 oficiais
-2 879 sargentos
-54 382 praças
- 7 783 cavalos
- 1 501 viaturas
-    312 camiões
Depois de uma breve estadia em Brest, as tropas são encaminhadas em comboio para a 'frente' na Flandres; cada comboio transporta perto de 1400 homens e a viagem dura mais três dias.
"
É realçada a combatividade portuguesa no seu sector, nomeadamente a 2 de Março, em que um batalhão alemão efectua um 'raid' nos sub-sectores de Chapigny e Neuve-Chapelle com artilharia, gás, morteiros e metralhadoras obrigando o 4° Bat° de infantaria (de Faro) a recuar para segunda linha, mas com resposta corajosa da artilharia portuguesa e  do CEP que efectuaram 'raids' até junto das trincheiras alemãs.A 9 de março a 1.Comp. do Bat.Inf 21, sob as ordens de Ribeiro de Carvalho efectua uma ofensiva em 'Ferme du Bois', capturando homens, material e destruindo abrigos.A 18 de março, uma companhia de 100 voluntários do BI 14, do cap°. Vale d'Andrade fez um forte ataque, também no sector de Neuve-Chapelle.
"Em 6 de Abril as perdas portuguesas elevam-se a 1044 mortos, 2183 feridos, 1594 'gazeados', 403 'acidentados' 102 prisioneiros e 94 desaparecidos.O Gen. Gomes da Costa  comanda então a 2Div. do CEP.No papel ele dispõe de 20 000 homens para defender 11 Kms de 'frente'; em comparação o exército americano dispoe de 60 000 homens para 14 Kms.

O comando britanico sabe bem que as tropas portuguesas estão extenuadas: batalhões inteiros não foram rendidos ha mais de nove meses!Os homens sofrem com o trabalho incessante na dura manutenção das trincheiras, com o mau equipamento, com as condições climáticas e uma alimentação no mais baixo nível e a propaganda alemã não cessa de afirmar que o governo de Sidónio Paes não quer esta guerra.Gomes da Costa informa oficialmente o general Tamagnini, de quem depende, que declina toda a responsabilidade sobre o que possa acontecer...
A indicação do gen. Haking não poderia porém ser mais clara: a missão dos soldados portugueses, mais precisamente a 2.Div, é aguentar as posições custe o que custar e de  
' morrer sobre a linha B ' "

Derrota na LYS
"Entretanto o general Ludendorff programa a operação Georgette, contra as forças portuguesas, para o 8/4/1918...
a partir das 4h15, da manhã de 9/4 começam com rara violência os bombardeamentos alemães, utilizando artilharia pesada e 'gás de mostarda'; em pouco tempo o quartel general da 2Div. foi isolado das suas tropas com as comunicações cortadas.Apesar de uma resistência desesperada, as forças portuguesas sofrem uma derrota total; a batalha da Lys, num só dia, custou-lhes a morte de 29 oficiais e 369 soldados tendo sido feitos prisioneiros 270 oficiais e 6 315 soldados.

Se bem que a Batalha da Lys fosse uma derrota total e dramática para o CEP e apesar de uma resistência portuguesa enfraquecida em razão das circunstancias, estes combates acabariam por possibilitar às forças aliadas uma vitória estratégica.

Querendo mostrar a sua boa vontade, o governo de Sidonio Paes quis ainda enviar depois destes combates, 15 000 homens suplementares , mas o governo inglês não disponibilizou navios para o transporte de tropas..."



E aqui tentei resumir, através de alguns trechos em directo, o texto de Dominique Bussillet.
Resta o outro artigo, que espero  apresentar, também nas suas linhas gerais, logo que possa...é da autoria de Yves Buffetaut e o título não deixa de ser sugestivo:

"Que se passou em 9 de Abril de 1918 ?"

O autor francês indica, depois de  profundas pesquisas, 'ter descoberto nos arquivos britânicos' (National Archives- Kew-Londres) uma série de documentos( eventualmente contraditórios é certo)  emanados das autoridades inglesas e portuguesas  que  ajudam a compreender a 'grave crise' que afectou então as relações luso-britânicas (e que inclui os testemunhos escritos do Gen. Horne e do futuro Marechal Gomes da Costa).
Título:
Enviado por: Paisano em Maio 03, 2008, 03:26:03 am
Realmente, impressionante... :shock:
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Maio 03, 2008, 11:19:23 am
Sem dúvida!
Título:
Enviado por: zocuni em Maio 04, 2008, 03:41:52 am
Confesso que estou estupefacto. :shock:  :shock:

Abraços,
Título:
Enviado por: JoseMFernandes em Maio 05, 2008, 10:23:31 am
"que se passou em 9 de Abril de 1918 ?"

Aqui está o que Yves Buffetaut no n°27 de Abril-Maio/2008 de 'Batailles-Histoire Militaire du XX siécle' nos desvenda:

"Logo após a perda de fôlego da primeira ofensiva Ludendorff, frente a Amiens, , os alemães atacam de novo em Abril, desta vez entre Arras e Armentiéres.É o começo da batalha da Lys ('La Lys' na terminologia consagrada em  Portugal).O primeiro choque abate-se sobre três divisões aliadas: duas britânicas e a 2.Div.Inf. portuguesa.

A frente rompeu-se em poucas horas e a progressão alemã foi ainda mais notoria que em 21 de Março.A situação tornou-se rapidamente dramática  para os britânicos porque, ao contrário do mês anterior, eles tem muito pouco espaço de manobra: o mar estava relativamente proximo e Haig temia que os alemães alcançassem os portos da Mancha, dividindo em dois o exército britânico.Mas não é nossa intenção descrever o desenvolvimento desta ofensiva (designada Georgette) que acabaria por 'morrer' junto ao monte Kemmel e nas proximidades da floresta de Nieppe, obrigando de passagem os britânicos a abandonar todo o terreno tão duramente conquistado no Verão anterior, entre Ypres e Passchendaele.

Culpa de quem ?

Desde o fim de Abril de 1918 que rumores contraditórios começam a circular, especialmente na imprensa francesa e britânica, e em breve retomada por jornais portugueses.
A 2Div. portuguesa apanhou com todo o peso da ofensiva alemã, e foi aniquilada em 9 de Abril entre La Bassée e Estaires.Mas em que condições? O rumor mais persistente que apareceu foi que a 40.Inf.Div. recuando diante do assalto alemão, deixara 'desprotegido' o flanco português, por onde o adversário se precipitara destruindo a grande unidade portuguesa.
A polémica sobe de tom, e a tal ponto que uma crise diplomática entre os governos britânico e português foi evitada por muito pouco depois de uma troca de correio oficial pouco sereno entre embaixadores e representantes das autoridades políticas dos dois países.
Descobrimos nos arquivos britânicos uma série de documentos que mostram a importância da crise.Estamos assim em posição de vos apresentar diversos documentos contraditórios, e que emanam das autoridades militares britânica e portuguesa.

O testemunho do general HORNE
O documento seguinte encontra-se nos  National Archives de Kew, Londres(cota WO 158/710).Trata-se de um relatório datado de 6/5/1918 e redigido pelo general Horne, comandante da First Army.
Este relatório é essencialmente factual, indicando a posição das duas unidades.Neste caso , o sector da divisão portuguesa está assim delimitado: E de Richebourg-l'Avoué, E de Neuve-Chapelle, E de Fauquissart, S de Pétillon.Ali a divisão esta em contacto com a 40°Div, que mantém a frente de Fleurbaix até E de Bois Grenier, onde começa a 'frente' da 34°Divisão.

«por volta das 4h05, começou um violento bombardeamento em toda a frente, do canal de La Bassée a Bois Grenier, com pesados tiros de obus explosivos e de gas, até a rectaguarda.Este bombardeamento enfraqueceu a partir das 6h30 mas redobrou de intensidade a partir das 8 horas e prosseguiu até às 9 horas quando o assalto principiou.
Antes do ataque principal houve pequenas acções menores de infantaria, patrulhas e 'raids' lançados pelos alemães, aproveitando o bombardeamento e o espesso nevoeiro ;
Por volta das 8 horas, o inimigo conseguiu tomar posição em dois pequenos postos na 'frente' da brigada de direita da 40.Div.
Perto das 8 horas, parece que o inimigo conseguiu apoderar-se da quase totalidade da 'frente' sustentada pela 2Div. portuguesa; e perto das 9H00 conquistara também toda a linha "B" da divisão portuguesa.Não há indicações que as tropas portuguesas tenham oferecido uma mínima e séria resistência.
Os relatórios dos oficiais da missão britânica junto da divisão portuguesa, bem como os oficiais das divisoes 55th, 50th e 40th, na direita, nas linhas de comunicação e na esquerda da 2Div portuguesa, e da artilharia pesada atras do 'front'  português, mostram que entre as 9 e as 10 horas da manhã, o grosso das tropas portuguesas passou através da linha
Lacouture- Le Drumez a cerca de 5 Kms da sua 'frente' e qua praticamente a totalidade das tropas portuguesas que conseguiram retroceder se encontrava para lá dessa linha ás 11 horas.

As tropas portuguesas não retrocediam em boa ordem.Elas encontravam-se em fuga, a maior parte sem armas, outros sem sapatos e enfim alguns meio-despidos.Os seus oficiais nada tentavam para os reagrupar, mesmo depois de passarem através das linhas britanicas.
Nalguns casos resistiam mesmo a tentativas de reorganização por parte dos oficiais britanicos.Nessa altura o inimigo não estava em sua perseguição e teria sido possivel reorganizá-los.As tropas portuguesas da rectaguarda quando viram que os da primeira linha não se detinham, fugiram também com eles.╗

Esta é pois a descrição de Horne sobre os acontecimentos na 'frente' portuguesa.Um pouco adiante, no seu relatorio, ele indica que a partir das 8h45 o flanco direito da 40thDivision começou a ser 'ladeada'
pelos alemães que prosseguiam no sector português.

Horne conclui assim o seu relatorio:

"Devido a todos estes detalhes, é evidente que os boatos que correm em Lisboa segundo os quais as tropas portuguesas teriam sido 'batidas' por causa da incapacidade da 40thDiv poder cobrir os seus flancos não tem fundamento.A verdade é que as tropas portuguesas não foram capazes de oferecer uma resistencia séria e fugiram.A fraca resistência oferecida foi tão rapidamente 'varrida' que o flanco direito da 40thDiv foi envolvido antes que as tropas de reserva pudessem intervir.
O comandante e o Estado-Maior do corpo portugues estão bem ao corrente do que se passou que imediatamente após a batalha estavam conscientes do desmoronar das suas tropas;A mudança de tom que se constata agora é devida a mensagem enviada ao governo português pelo Foreign Office e pelos relatórios enganadores que apareceram na imprensa francesa e inglesa."

Assim para Horne a culpa pertence aos portugueses: foram eles que cederam e abriram uma brecha no 'front' aliado, que os alemães imediatamente aproveitaram.Mas a verdade nunca é assim tão categórica.
Os arquivos britânicos detém também um longo relatório do general Gomes da Costa que comandava a divisão portuguesa.E não se duvide que a sua versão é bem diferente da do general inglês.

Introdução á versão portuguesa

O general Gomes da Costa não tenta esconder as fraquezas da sua divisão, e o seu relatório apresenta alguns esclarecimentos, muito interessantes, sobre a situação das tropas portuguesas no momento do ataque.
O general Horne que leu essse relatório, dá aliás algumas   indicaçoes novas, que vale a pena serem conhecidas: assim ele indica que o sector da 'frente' detido pelos portugueses era normalmente impraticável para qualquer ofensiva antes do mês de Maio, devido a sua humidade.A planície da Flandres é realmente muito pantanosa, mas em 1918, o Inverno tinha sido particularmente seco e o terreno estaria mais transitável que de costume.
E Horne escreve a seguir:
«Quando as possibilidades de ataque se tornavam evidentes, parecia ser necessário que os portugueses fossem revezados  ou, pelo menos, que a  a sua 'frente' seja reduzida.Era também evidente que o moral e a condição geral das tropas não eram bons»
Horne explica isso por razões de fundo: a organização portuguesa era deficiente, os oficiais não partilhavam nem a vida nem os rudes serviços dos seus homens.Além disso a divisão tinha necessidade de reforços; os seus efectivos estavam abaixo do normal, especialmente em oficiais pois os pedidos feitos nesse sentido ao comandante do CEP não foram tidos em conta.E enfim, os sargentos e praças nunca obtinham licença para ir a Portugal, enquanto os oficiais partiam frequentemente e muitos deles nem sequer voltavam!
Em Março de 1918 a organização da 'frente' portuguesa deveria mudar, e o sector seria 'encurtado'.Mas as transformações desejadas por Gomes da Costa não estavam ainda em vigor no momento da ofensiva alemã.

O General Gomes da Costa

O Gen. Gomes da costa estende-se muito longamente no seu relatório  nos efeitos da artilharia alemã sobre as baterias portuguesas e sobre as trincheiras de primeira linha.Ele escreve por exemplo:
«Debaixo dos tiros de artilharia e das Minenwerfer do inimigo, as nossas primeira e segunda linhas são totalmente destruidas e as 7 horas todo o sector não é mais que montes de terra de onde emergem braços, pernas ou cabeças.
Os homens da guarnição que escaparam ao massacre abrigam-se em crateras entre a frente e a linha B; eles estão evidentemente desmoralizados pela extraordinária intensidade do bombardeamento.
As 7h00, a coberto da barragem de artilharia e de um intenso nevoeiro, a infantaria alemã saiu das trincheiras e avançou para as nossas linhas em sucessivas vagas de assalto, separadas de 120 metros.Cada linha era formada de secções de 30 a 50 homens em linha e dupla fila.O intervalo entre as secções era de 50 a 100 passos e as tropas marchavam a passo.
Cada grupo era precedido de quatro metralhadoras ligeiras que varriam o terreno a sua frente ; o resto das tropas de assalto avançava com fuzil na mão ; os oficiais marchavam á frente dos seus homens e o comandante com o seu bastão.
O arame farpado diante das nossas trincheiras desapareceu totalmente e o inimigo atravessou a primeira linha... então pequenos grupos dispersaram-se para limpar as crateras da linha B, retomando o seu avanço em direcção á linha das aldeias.
As vagas de assalto do inimigo eram sustentadas nos flancos por grossas colunas talvez  com a dimensão de uma brigada ;  essas colunas penetraram pelos flancos esquerdo e direito da nossa posição  junto a nossa junção com as divisões britânicas.
A 55Div estava a nossa direita.Vendo o avanço inimigo e compreendendo que a nossa segunda linha não aguentaria, ela contituiu um flanco defensivo sobre a sua esquerda o que tornou ainda mais fácil a penetração alemã.
Sobre a nossa esquerda, o intervalo com a 40Div. é ainda maior.Para remediar essa situação foi criado um pequeno posto, mas toda a sua guarnição fora morta.»

Nestas circunstâncias, estavam preenchidas todas as condições para um desastre.
Sobre a direita, o PC da 5Brig.Portuguesa é submergido e todos os seus oficiais são mortos ou feridos.A aldeia de Touret é capturada e apenas  o ponto de apoio de Lacouture consegue reter os alemães por algum tempo.
No flanco esquerdo, Gomes da Costa escreve que os alemães passam pelas posições britânicas da 40thDiv, no sector de Fleurbaix.Tendo sido atingida a linha B, os alemães voltam-se contra as posições portuguesas.Os restos do 8°Bat° são submersos ; alguns sobreviventes conseguem alcançar o PC do 29°Bat°.O seu chefe, o comandante Xavier da Costa, reagrupa todos os homens que encontra e defende-se passo a passo e recuando para Laventie.Mas os alemães são muito largamente superiores em número e apenas três sobreviventes alcançam Laventie.Xavier da Costa não faz parte deles pois foi morto no caminho.

O 20°Bat° resiste nas suas posiçoes até perto das 8 horas e ao retroceder vai  ‘cair’ sobre a linha B que já tinha sido conquistada pelos alemães.
É num ponto de apoio de Lacouture que os portugueses oferecem a sua melhor defesa, com duas companhias do 13°Bat°, uma do 15° e alguns soldados ingleses.Por volta das 9h30 o capitão Bento Roma vendo os alemães aproximarem-se, contra-ataca com a sua companhia.Mas esta carga é desfeita pelo adversário.Entretanto os alemães apenas conseguem por o pé nessa posição por volta das 16h30.E aí apenas encontram mortos…



E agora a conclusão do articulista francês :

Ao ler este relatório de que citamos apenas uma pequena parte, compreende-se que os portugueses ficaram completamente aturdidos pelo bombardeamento alemão e que os britânicos  sofreram  igualmente bastante.Nestas condições parece-nos que cada uma das divisões se fechou sobre ela mesma, tentando evitar ser submersa, mas ficando incapaz de conservar as suas ligações com as unidades vizinhas.
Nestas condições os portugueses não se comportaram pior que os britânicos e não podem  em caso algum ser tidos como responsáveis pela ‘derrocada’ aliada do 9 de Abril.Eles provávelmente resistiram menos tempo, mas a sua divisão era evidentemente mais fraca e menos treinada que as unidades vizinhas
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Título:
Enviado por: Paisano em Maio 09, 2008, 07:43:27 pm
Moçambique e a batalha de Lys na França*

Fonte: www.grandesguerras.com.br/ (http://www.grandesguerras.com.br/)

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Ações dos portugueses para preservar o seu império colonial das grandes potências na Primeira Guerra Mundial.

Qual era a situação de Portugal quando do início das hostilidades? Um ditado famoso no período de antes da Guerra dizia que a “Turquia era o homem doente da Europa”, aludindo ao fato de que o Império Otomano tinha problemas muito sérios. Mas se a Turquia era considerada um “homem doente”, por outro lado, ela ainda era vista como uma potência, devendo ser respeitada pelos inimigos e adulada por possíveis aliados. Tal avaliação não se aplicava a Portugal.

Os antecedentes

Apesar do país ter tido um glorioso passado nos séculos XVI e XVII, formando o império colonial africano mais antigo, no final do século XIX, Portugal era visto com desprezo e seu império como uma preza em potencial pelas grandes potências. Quando os governos europeus finalmente passaram a se interessar pela África Negra, no início dos anos 1880, os lusos já tinham um projeto geopolítico para suas colônias, tendo iniciado um programa visando a controlar o Rio Congo e com o objetivo de longo prazo de unir por terra suas colônias no Atlântico (Angola) e no Índico (Moçambique).

Ambos os projetos tiveram que ser descartados. O primeiro na Conferência de Berlim, de 1884, que caprichosamente em um arranjo entre Inglaterra, Alemanha e França, concedeu o Congo (atual Zaire) ao Rei dos Belgas, como uma colônia pessoal, Portugal recebendo apenas o enclave de Cabinda como consolo. No segundo caso, a proposta de unir os dois oceanos, compartilhada por alemães e franceses, esbarrou na política de magnatas ingleses, que buscavam uma união entre a Colônia do Cabo e o Cairo. No caso, Cecil Rhodes barrou o avanço português, com a formação da Rodésia (atuais Zâmbia e Zimbabwe) . Em 1890 Portugal foi forçado a aceitar um humilhante ultimatum inglês, que obrigava-o a retirar tropas suas de uma área na África, um cruzador britânico esperando a resposta. O governo Português cedeu, o que causou grande revolta entre os nacionalistas locais.

Na verdade, o pequeno país, e os próprios africanos não tinham como fazer valer seus interesses. Tudo foi feito dentro do ponto de vista das grandes potências européias, que partilharam a África entre os brancos como se os habitantes locais - os verdadeiros donos da terra - não existissem e não tivessem suas próprias culturas, uma das razões das diversas guerras civis que se seguiriam ao movimento de descolonização. De fato, com a exceção da pequena Libéria e do reino cristão da Abissínia (Etiópia), todo o continente tinha sido “repartido” entre os europeus, seguindo os ajustes da política européia, ignorando as realidades africanas.

Portugal quase que foi tratado como esses “nativos”, ignorando-se os seus quatrocentos anos de ações na África. A Alemanha se apoderou da região de Quionga em 1894. A Alemanha, que tinha chegado tardiamente à corrida colonial, passava a se configurar como o principal perigo às colônias lusitanas na África, pois estas eram vistas como uma “presa fácil”. A Inglaterra, a tradicional “aliada”, não estava interessada em proteger os interesses lusitanos. Na verdade, cobiçava um pedaço das possessões, como versava um acordo secreto anglo-alemão de 1898, de possível partição das áreas administradas por Portugal.

A situação precária do país, na virada do século, se acentuou em 1910, quando uma revolução derrubou a monarquia, implantando a República (o Brasil e a Argentina foram os primeiros a reconhecer o novo regime, o que só foi feito pelas grandes potências européias no ano seguinte). O novo regime, visto com desconfiança pelas casas reinantes, ainda sofria com problemas de instabilidade interna, com diversos movimentos monárquicos e de rebelião. Do ponto de vista militar, o processo de modernização do Exército, que no novo regime passava de uma força voluntária para outra conscrita, com seis divisões de infantaria, duas de cavalaria e uma brigada independente de cavalaria (150.000 homens na metrópole, dos quais apenas 12.000 regulares), resultava em problemas na formação de uma força moderna.

Como no caso da maior parte dos pequenos países, o conflito geraria situações tendentes à agravar os problemas internos existentes. Com uma economia em muito dependente da Inglaterra - um dos beligerantes - e sem uma produção de artigos essenciais ao esforço de guerra, era natural que o país sofresse com o início das hostilidades, com a redução do comércio internacional, procura de trocas de moeda em papel em metal, inflação e arrocho salarial - tudo tendente à agravar a situação.

Com esses problemas e havendo grupos favoráveis a paz (os monarquistas), grupos que apoiavam os alemães e outros que apoiavam os aliados (como os partidos socialista e democrático), a posição inicial de Portugal em relação ao conflito não foi das mais claras. As medidas iniciais foram no sentido de se reforçar as guarnições no África, enviando sucessivas expedições militares para Angola e Moçambique, vizinhas a grandes colônias alemães (a África do Sudoeste Alemã - atual Namíbia e a África Oriental Alemã, atual Tanzânia) e inglesas, região onde as hostilidades seriam inevitáveis.

Devido à pressão diplomática inglesa - e a diversos incidentes com os alemães na África, entre os quais se destaca o “massacre de Cuangar” –, o congresso português, em 3 de novembro de 1914, autorizou o governo a participar da guerra ao lado de seu tradicional aliado, a Grã-Bretanha, país com que Portugal tinha um tratado de defesa mútua (mas que os britânticos insistiam que não fosse usado por Portugal para justificar a entrada na guerra). O congresso autorizou que, de imediato, 20.000 fuzis e 56 canhões fossem entregues aos ingleses - uma medida que não é tão insignificante quanto pode parecer, pois havia uma terrível falta de armas no Reino Unido, muitos voluntários treinando com armas de madeira, por falta de fuzis modernos, ainda em 1915.

Mas nenhuma medida efetiva chegou a ser realmente tomada, pois o general Pimenta de Castro, pró-alemão, deu um golpe junto com o presidente Arriaga, interrompendo o processo de entrada na guerra. Efetivamente, o que foi feito, foi o envio de mais uma expedição militar a Angola, com funções meramente defensivas.

A agitação interna na metrópole continuava. A ditadura do General Pimenta de Castro é derrubada pelos membros do Partido Democrático (pró-aliado) depois de sérios distúrbios em Lisboa, onde a população saqueara armazéns em busca de alimentos (14 de maio de 1915). Novas eleições legislativas dão maioria absoluta no congresso ao Partido Democrático, e isto é decisivo para a entrada de Portugal na guerra, ao lado dos aliados.

Em 23 de fevereiro de 1916, atendendo um pedido da Inglaterra, que se achava desesperada a procura de vapores por causa da campanha de submarinos alemã, os portugueses apreendem os 71 navios mercantes alemães que se encontravam internados em seu país, para serem colocados à “serviço da causa comum anglo-portuguesa”. A Alemanha viu isso como um casus belli e declara guerra a Portugal.

O esforço militar

A participação portuguesa poderia ter sido nula, se limitar ao seu papel de propaganda, já que os ingleses usaram o fato de forma intensiva, devido às antigas relações entre os dois países. Uma participação em combate poderia ter se resumido a lutar na África, mas o perigo em Angola já não mais existia, pois a África do Sudoeste Alemã (Namíbia), tinha se rendido ao general Botha em julho de 1915. Em Moçambique, as poucas forças existentes (tropas coloniais, reforçadas por cinco batalhões de infantaria, cinco baterias de artilharia, dois esquadrões de cavalaria metropolitanos, somando tudo cerca e 14.000 homens para cobrir uma área de 800 mil quilômetros quadrados, comparável a superfície da França e Alemanha - juntas) empalideciam quando comparados aos efetivos do Império Britânico destinados, infrutiferamente, a capturar Letow-Vorbeck, o comandante militar da África Oriental Alemã (apesar disso, o território de Quionga logo é reocupado, para atender à principal reivindicação portuguesa).

Contudo, Portugal se recusou a aceitar o pedido inicial aliada, de envio de pessoal para a Frente Ocidental apenas para atuar como batalhões de trabalhadores. Esta posição teria como objetivo garantir uma melhor posição numa eventual negociação de paz, especialmente considerando a manutenção a longo prazo de suas colônias, cobiçadas pelas potências européias. Assim, o Governo insistiu que as forças portuguesas deveriam assumir um papel de combatentes ativos, decidindo pela formação de uma divisão reforçada para serviço na Europa, o CEP (Corpo Expedicionário Português). Essas duas faces do esforço militar português (África e França) serão tratadas a seguir.

Os portugueses na África

Uma série de incidentes, supostamente causados por alemães, como o já citado massacre de Cuangar, ou o combate de Naulila (69 mortos portugueses), além de revoltas de nativos, todas ocorridos em Angola antes do início oficial do conflito, tinham sido um dos motivos para levar a crescente hostilidade de certos setores da sociedade portuguesa contra a causa das Potência Centrais. Apesar disso, pouco foi feito antes de 1916, a não ser o envio de sucessivas expedições de reforço à África.

Com a declaração de guerra, as forças em Moçambique puderam iniciar as operações contra os alemães, cruzando a fronteira (o rio Rovuna) em diversas ocasiões em 1916. Contudo, os alemães, mesmo inferiorizados, conseguiram repelir os ataques lusitanos, a situação se estabilizando até o final de 1917. Em 21 de novembro daquele ano, as forças do general alemão Lettow-Vorbeck, fugindo da pressão inglesa, invadiram Moçambique. Sete dias depois, no combate de Negomano, na fronteira, os alemães obtiveram uma surpresa e grande vitória sobre os portugueses, causando cerca de 300 baixas (mortos e feridos) e capturando 550 homens.

Isso marcaria o conflito na África Portuguesa. Apesar de ter havido diversos outros recontros, os portugueses, a partir daquele momento, procuraram evitar o contato direto com as forças germânicas na África, se retirando a frente deles, até que forças britânicas pudessem se reunir à defesa.

Desta forma, uma situação sui generis se configurou: os ingleses perseguiam os alemães, que por sua vez perseguiam os portugueses, estes deixando uma boa parte do norte de Moçambique aberto às colunas de Lettow-Vorbeck. O ponto final da penetração alemã foi Nhamacurra, povoação pouco ao norte do rio Zambesi e bem ao sul de Lourenço Marques, a capital da colônia. Lá, uma força britânica sob o comando do major Gore-Browne foi surpreendida e destroçada. Com a vitória foi possível reequipar e remuniciar as forças alemães. Estas, a partir daí, se retiraram de volta à África Oriental Alemã, acabando as operações em Moçambique, mas não antes de derrotar novamente os ingleses em Numanoe. Ou seja, a ação de Portugal não África foi basicamente passiva, apesar dos grandes efetivos (se comparados aos alemães) ali existentes.

Os portugueses na Frente Ocidental

Em 22 de julho de 1916 é formado em Tancos o Corpo Expedicionário Português, inicialmente sob o comando do general Norton de Matos (posteriormente, seria o ministro da guerra), com cerca de 30.000 homens, uma divisão de infantaria reforçada. Mais tarde, em dezembro, o governo francês solicitou a Portugal pessoal de artilharia para manejar de 25 a 30 baterias de artilharia pesada, sendo esta a origem do Corpo de Artilharia Pesada - CAP/Corpo de Artilharia Pesada Independente - CAPI, que se somariam à tropa expedicionária.

A infantaria do CEP foi subordinada aos ingleses, e a 1ª Brigada saiu de Portugal no final de janeiro, embarcada em navios britânicos. Em fevereiro seguiria a 2ª Brigada, ficando as tropas na retaguarda até a sua aclimatação na frente, terem recebido material mais adequado às condições francesas (como uniformes para o clima mais rigoroso) e treinamento adicional. Em abril é aberta na França uma escola de morteiros de trincheira para a CEP e no mês seguinte é aberta uma escola de guerra química, esta em Mametz.

Neste momento, o novo comandante do CEP (a unidade teria diversos comandantes durante a guerra) propõe a elevação da unidade ao nível de Corpo de Exército, com o acréscimo de mais uma divisão. Isto é aceito e o Corpo de Exército começa a ser organizado em abril, mais ou menos na mesma época em que as primeiras unidades entram na linha de trincheiras (o primeiro soldado português a morrer em combate, António Gonçalves Curado, caiu em 4 de abril).

Ainda tentando manter o papel de propaganda que a entrada das forças portuguesas na linha de frente permitiria, a imprensa inglesa - e a portuguesa, é claro - tentou gerar o máximo possível de notícias sobre o assunto, como quando da captura (em 14 de setembro) de quatro soldados alemães pelo alferes miliciano Gomes Teixeira (e seu pelotão, é claro), a primeira vez que isso era feito pelo CEP, ou quando da entrega, em 13 de Outubro das primeiras Cruzes de Guerra ao pessoal lusitano (10 oficiais, 8 sargentos e 27 cabos e soldados). Tal como no caso inglês, tentou-se até criar um apelido carinhoso para os soldados portugueses servindo na França, passando-o a apelida-los de “antônios”, como era o caso dos “tommies” ingleses ou dos “poilus” franceses. Os ingleses na frente ocidental, contudo, tinham um certo desprezo pelos portugueses, apelidando-os pejorativamente de “pork and beans” (carne de porco e feijão, alusivo a dieta dos soldados). De qualquer forma, as forças portuguesas foram mantidas em um setor calmo da linha de frente, não se envolvendo em ofensivas.

No caso da colaboração com a França, o Corpo de Artilharia Pesada (batizado pelos franceses de Corps d’Artillerie Lourde Portugais - CALP), demorou mais a ser formado. Organizado em 10 baterias, inicialmente sob o comando do Cel. João Clímaco Pereira Homem Teles, sua formação data de maio e sua chegada na França, de outubro de 17, assumindo o seu papel na linha de batalha apenas em março do ano seguinte, quando as duas divisões do CEP já se encontravam na linha de frente a diversos meses (os primeiros contingentes da segunda divisão começam a entrar na linha no final de setembro de 1917).

Mas a situação em 1918 era outra.

O Dezembrismo

A situação interna de Portugal não tinha se acalmado com a entrada oficial no conflito, muito pelo contrário. Os problemas básicos econômicos e de instabilidade política continuaram - os gabinetes portugueses ficavam no governo por uma média de apenas quatro Meses. Em dezembro de 1916, em Tomar, houve uma tentativa de revolução. Nas eleições de 1917, apenas 15% dos eleitores compareceram às urnas. As greves eram rotineiras e saques em mercearias e armazéns ocorreram em Lisboa e no Porto, sendo que o estado de sítio é declarado em Lisboa e nos municípios vizinhos. Tudo isso propício a mais um movimento golpista, o que ocorreria em 5 de dezembro, sob o comando do major Sidónio Paes.

O movimento de Sidónio Paes (Dezembrismo), tinha uma visão diferente - muito mais fria - da guerra do que o governo anterior, do Partido Democrático e isto logo teve seus reflexos na frente. As licenças aos oficiais para ir para casa aumentaram em número e duração (mas não para os praças, que tinham que permanecer na linha de frente). Cargos mais agradáveis eram oferecidos aos oficiais que quisessem retornar e se parou de enviar reforços para a França.

Somando-se a estas medidas, tendentes a mostrar um certo desprezo pelo esforço de guerra, deve-se levar em consideração que boa parte do corpo de oficiais era simpático a causa alemã, que a constante troca de comando das unidades não era condizente a criar confiança nos homens, que alguns comandantes abusaram dos seus privilégios, como um general de brigada, que estabeleceu seu quartel general em París, a dezenas de quilômetros da linha de frente e as condições gerais da linha de frente, e até um inverno particularmente frio e úmido, na famosa lama de Flandres. Finalmente, As notícias dos distúrbios domésticos eram terríveis para todos.

O resultado seria o de se esperar: a moral da tropa despencou de forma abrupta e significativa, a ponto da eficiência em combate das tropas portugueses (nunca muito respeitada pelo ingleses) ter sido colocada em dúvida pelo comando britânico, que decidiu, em 5 de abril, remover a 1ª Divisão da linha de frente, colocando-a em reserva. A situação moral e material da 2ª Divisão, igualmente subordinada ao 11º Corpo de Exército do General Hacking, era a mesma, sendo que agora eles tinham que guarnecer todo o setor anteriormente ocupado pelo corpo português, já que os ingleses não tinham enviado tropas para substituir a 1ª Divisão. Uma visita de Hacking mostrou que a outra divisão também deveria ser retirada da linha de frente, isto devendo ser feito a partir de 9 de abril. Entretanto, isso não pode ser feito, por causa da ofensiva de Ludendorf.

A ofensiva de Lys

A história do Corpo Expedicionário Português na Europa é marcado pela batalha de Lys, a segunda das ofensivas de Ludendorf (também conhecidas como Kaiserschlacht), iniciadas em março de 1918. Os livros anglo-saxões lidos para a redação deste texto e que tratam da batalha, em geral dão uma certa relevância ao fato da 2ª Divisão portuguesa ter sido destruída no primeiro dia da ofensiva, tal como pode ser visto nesta passagem do livro de John Toland (No Man’s Land: 1918 - the last Year of the Great War):

“(...) as 8:45 [de 9 de abril] o assalto de infantaria [alemã] começou. As ondas de vanguarda de quatro divisões convergindo sobre a 2ª Divisão Portuguesa acharam a maior parte das trincheis da linha de frente vazias. Pequenos grupos somente podiam fazer uma resistência breve, se bem que heróica, e as tropas de assalto avançaram a frente em cinco quilômetros. Não era que os Portugueses fossem covardes. Eles viam poucos motivos para lutar. Além disso, eles estavam espalhados de forma muito tênue. O resultado foi uma fuga em pânico. ‘Alguns chegaram a tirar suas botas para correr mais rápido’ [?], escreveu Haig, ‘e outros roubaram as bicicletas do Corpo de Ciclistas, que foram enviados para a frente, para defender La Couture e as vizinhanças’”

Uma visão nada lisonjeira, considerando que o livro de Toland é um dos poucos textos que trata os portugueses com um certo respeito (!), tentando colocar a situação em contexto, apesar de reproduzir críticas comuns a atuação lusitana.

É fato que a 2ª Divisão portuguesa foi destruída no primeiro dia do ataque, e que isso resultou em grande avanço alemão, em termos da Primeira Guerra Mundial. Mas seria essa forma de atuação culpa apenas da “covardia” ou da “falta de vontade de lutar” dos portugueses?

Na verdade, analisando a batalha, as colocações dos livros anglo-saxões parecem um pouco descabidas - ou uma desculpa para o que aconteceu, uma forma de achar um “bode expiatório”, para esconder o fato de que a ofensiva foi um tremendo sucesso tático alemão - inclusive em áreas longe da frente mantida pelos portugueses, fazendo com que os ingleses perdessem uma imensa fatia de território, inclusive Passchendaele, local de sangrentas batalhas no ano anterior.

Para colocar as coisas em perspectiva, devemos ter em mente os seguintes fatos: a ofensiva alemã tinha como objetivo alcançar a cidade de Hazebruck, situada a 26 quilômetros da linha de frente um ponto considerado de importância, devido a sua função como centro de suprimentos e de transportes. Foi travada pelos 4º e 6º exércitos alemães (61 divisões) contra os 1º e 2º exércitos britânicos (o CEP estava subordinado a este último), além do exército belga, todos com um total de apenas 34 divisões. No ataque os alemães usariam as técnicas de tropas de assalto (stosztruppen), desenvolvidas recentemente na Frente Oriental e aplicadas com imenso sucesso na ofensiva anterior em St. Quentin (a primeria do conjunto de ofensivas de Ludendorf, conhecidas como Kaiserschlacht). Na área específica do CEP, os alemães empregaram quatro divisões descansadas, o que dava uma superioridade de mais de quatro para um, em relação as forças lusitanas, dispersas de forma tênue.

Além das vantagens mais óbvias, houve uma terrível preparação de artilharia: o 6º exército alemão tinha 1.686 canhões, contra apenas 521 do 1º exército britânico (uma superioridade de 3.3 para 1 e uma densidade de 100 canhões por quilômetro de frente - a maior de toda a guerra, antes e depois). Esses canhões, muitos deles de calibre mais pesado que os ingleses, usariam as técnicas desenvolvidas pelo Coronel Bruchmüller, um gênio neste tipo de operação. Um milhão e quatrocentos mil disparos de artilharia foram feitos no primeiro dia do ataque, que se concentrou na frente defendida pelos portugueses.

Finalmente, Haig, o comandante em chefe inglês, já sabia que um ataque alemão viria a acontecer nas proximidades da área defendida pelo Corpo Português, com um ataque de três ou quatro divisões contra o CEP. De fato, no dia 6 de abril, Haig tinha escrito a Foch: ”Todas as informações apontam para a intenção do inimigo de continuar seu esforço para destruir o exército britânico. Com isto em mente, ele parece estar preparando uma força de 25 a 35 divisões para dar um pesado golpe na frente de Bethune-Arras”. O CEP estava posicionado justamente ao norte de Bethune mas, apesar disso, nada foi feito para reforçá-lo, especialmente considerando que eles ocupavam um setor muito grande, anteriormente defendido pelo dobro de tropas.

O resultado da ofensiva não poderia ser outro: moral abalada ou não, a 2ª Divisão do CEP inevitavelmente seria esmagada. No ataque, ela perdeu cerca 7.500 baixas, dos quais mais de mil mortos, metade do total de portugueses caídos em França. A destruição da divisão permitindo um avanço de cerca de 5 km, como colocado acima, apesar deste não ter sido o único avanço profundo do dia, outros, de igual profundidade tendo acontecido no flanco norte do CEP, defendido por tropas inglesas.

Nos dias seguintes os alemães prosseguiram sua ofensiva, ampliando-a, agora apenas contra os ingleses, já que não havia mais unidades organizadas do CEP na frente. A situação era tão desesperadora que Haig chegou a publicar a famosa ordem do dia “de costas para a parede”, conclamando à defesa até o fim:

”Não há outro caminho aberto a nós a não ser lutar. Cada posição deve ser defendida até o último homem. Não haverá retiradas. Com nossas costas contra a parede e acreditando na justiça de nossa causa, devemos lutar até o fim. Tanto a segurança de nossos lares como a liberdade da humanidade dependem da conduta de cada um de nós neste momento crítico”

Felizmente para os aliados, como todas as ofensivas da Kaiserschlacht, a batalha de Lys, apesar de ter sido um grande sucesso tático (no total das cinco ofensivas, os aliados perderam 948.000 baixas, 225.000 prisioneiros de guerra e 2.500 canhões), não alcançou o objetivo estratégico, a ofensiva sendo encerrada a 29 de abril, quando os alemães ainda estavam a oito quilômetros de Hazebruck.

Mas isso não é o mais relevante para este texto. O importante aqui é apontar que, apesar do que escreveram os britânicos, os portugueses não tinham a mínima condição de resistir ao ataque e não foi culpa deles a vitória tática alemã. Como colocamos acima, eles assumiram o conveniente papel de “bode expiatório”, quando os ingleses tinham que explicar o sucesso alemão, muito superior aos custosos ganhos das ofensivas inglesas no Somme, de 1916.

A conclusão da Guerra

As ofensivas de Ludendorf, a Kaiserschlacht, tinham sido o último fôlego alemão. Ao falhar em obter uma vitória estratégica, a derrota alemã tornou-se inevitável. O pouco mais de um milhão de baixas sofridas por ingleses e franceses foi praticamente integralmente reposto pela chegada por um número apenas ligeiramente inferior de tropas americanas, frescas, enquanto as igualmente pesadas baixas alemães não podiam ser repostas.

Para os portugueses isto não significou muito. O CEP foi recomposto, mas manteve-se na retaguarda até o final da Guerra. Um corpo de 400 portugueses desfilou sob o arco do triunfo na parada da Vitória de 14 de julho de 1919, ano em que as tropas finalmente voltaram para casa. Contudo, mais importante para Portugal, foi a sua participação no Congresso de Versalhes. Lá, o objetivo inicial da participação na guerra foi obtido, a manutenção do império colonial na África, que perduraria até 1974.

Deve-se dizer que os medos lusitanos de ataques ao seu império não eram infundados: nas discussões de paz chegou a ser proposto transformar Moçambique em um território administrado por mandado da liga das nações. Entretanto, isso foi veementemente recusado e não podia ser imposto a um aliado no conflito. Se tivesse acontecido, significaria uma transferência de posse, como foi o caso das antigas colônias alemães (a Namíbia, antiga África do Sudoeste Alemã, dada como “mandato da liga das Nações” para a África do Sul só se tornou independente em 1990, muitos anos depois da Liga das Nações ter sido extinta).

Finalmente, o território de Quionga, em Moçambique foi recuperado e Portugal teve direito à uma cota nas reparações de guerra de Versalhes.

O custo social, contudo, foi muito alto. O custo em vidas foi alto. Além dos 7.222 mortos sofridos pelo país, devem ser somados 13.751 feridos e 12.318 prisioneiros e desaparecidos, um total de 33.291 homens de 100.000 empregados em combate. A inflação tornou-se galopante (a libre valia 7 escudos e 50 centavos em 1919, 27 escudos e 40 centavos em 1934). Politicamente, o país passou por revoluções e guerras civis, o que tornaria a ascensão de Salazar - e sua longeva ditadura - uma conseqüência previsível. Infelizmente, para quase todos fora de Portugal, a participação lusitana na guerra é ignorada.

*Adler Homero F. de Castro
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 17, 2009, 10:48:33 pm
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França: Cerimónias de La Lys assinalam contribuição portuguesa para "liberdade europeia" - embaixador  



    Paris, 17 Abr (Lusa) - As cerimónias evocativas do 91º Aniversário da Batalha de La Lys assinalam "o vínculo português" à liberdade europeia, considerou hoje o embaixador português em França, Francisco Seixas da Costa.

 

    "Um dos pontos fundamentais", no assinalar do 09 de Abril de 1918 é "sublinhar a nossa vinculação à própria liberdade europeia", disse à Lusa o diplomata português sobre as cerimónias de sábado em França.  

 

    É o "mostrar que o sacrifício daquelas pessoas, em 1918, tem algum significado", adiantou.  

 

    Seixas da Costa vai discursas nas cerimónias evocativas da Batalha de La Lys e da participação portuguesa na I Guerra Mundial, que este ano se realizam a 18 de Abril, em Richebourg e La Couture, França, e estará acompanhado de autoridades civis e militares, portuguesas e francesas.  

 

    "Os franceses partilham connosco este momento. Fico honrado com o poder participar nesta cerimónia ao lado de pessoas francesas", acrescentou o diplomata.  

 

    As cerimónias deste ano acontecem no Cemitério Militar Português de Richebourg e no Monumento aos Combatentes em La Couture.  

 

    A Batalha de La Lys é um marco da participação do Corpo Expedicionário Português (CEP) na I Guerra Mundial (ao lado da França, contra a Alemanha) em 1918.  

 

    Na frente de combate de La Lys estava a 2ª Divisão do CEP, composta por 20 mil homens, dos quais 15 mil estavam nas primeiras linhas.  

 

    Nas quatro primeiras horas de combate, Portugal perdeu cerca de 7500 homens, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros.  

 

    Portugal mobilizou para a I Guerra Mundial mais de 50 mil militares e contam-se em cerca de 12 mil as baixas portuguesas durante todo o conflito.

 

 

    Da participação portuguesa na Guerra de 1914-1918, um nome ficou para a História, a do soldado Milhões (Aníbal Milhais de seu verdadeiro nome).
 

    Milhões foi o único soldado raso português a ser condecorado com o colar da Ordem de Torre e Espada, a mais alta condecoração portuguesa.  

 

    Aníbal Milhais, natural de Valongo, Murça, enfrentou sozinho colunas de Alemães, salvando, quatro dias depois do início dos combates, um médico escocês de morrer num pântano.  

 

    Foi esse médico que informou o exército Aliado da bravura do soldado transmontano.  
Título:
Enviado por: JACARÉ em Maio 28, 2009, 03:36:48 pm
Alguém sabe como era a orgânica dos batalhões do CEP?
Título:
Enviado por: Granadeiro em Maio 29, 2009, 02:24:43 pm
Encontrei estes videos e gostava de partilhar convosco

Jogo do Pau - Portuguese soldiers during World War 1 (http://http)

Participação de Portugal na 1º Guerra Mundial/WW1 Portugal (http://http)
Título: Re: La Lys-Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: pedrojaneiro em Novembro 12, 2009, 04:53:09 am
Como posso saber mais informações dos soldados presos na Batalha de la Lys?
O meu bisavô foi militar na 1ª grande guerra e foi preso pelos alemães, mas nem sequer sei se foi em la Lys, só sei praticamente isto, quem sabia mais já não está cá.
grande forum. parabéns
Abraços, Pedro Janeiro
Título: Re: La Lys-Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Lusitano89 em Novembro 13, 2009, 06:14:23 pm





Título: Re: La Lys-Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: cromwell em Abril 09, 2010, 11:48:05 am
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.areamilitar.net%2Fhistoria%2Fimages%2FLaLysMonCoture.jpg&hash=321aa177b2fca0f9f9cd8944027c5b1b)

Foi há 92 anos.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: drum major em Abril 10, 2010, 08:49:16 pm
Os motivos principais por termos entrado na guerra:
- Necessidade de defender as Colónias de outras potências, particularmente da Alemanha.
- Imprescindível necessidade de afirmação política do jovem, regime republicano no concerto das nações, onde as diversas casas reinantes não nutriam grande simpatia pela república de 1910
-Poder participar nas futuras conversações de paz

E o que no meio de tudo isto me deixa triste é só se falar e comemorar o C.E.P a França.

Os desgraçados que combateram heróicamente no Sul de Angola e no Norte de Moçambique totalmente abandonados pla república são os eternos esquecidos desta guerra!!! Ainda não sei bem porquê?
Drum Major
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Luso em Abril 10, 2010, 10:03:14 pm
Citação de: "drum major"
Os motivos principais por termos entrado na guerra:
- Necessidade de defender as Colónias de outras potências, particularmente da Alemanha.
- Imprescindível necessidade de afirmação política do jovem, regime republicano no concerto das nações, onde as diversas casas reinantes não nutriam grande simpatia pela república de 1910
-Poder participar nas futuras conversações de paz

E o que no meio de tudo itso me deixa triste é só se falar e comemorar o C.E.P a França.

Os desgraçados que combateram heróicamente no Sul de Angola e no Norte de Moçambique totalmente abandonados pla república são os eternos esquecidos desta guerra!!! Ainda não sei bem porquê?
Drum Major


Ainda não sabe porquê?
Porque África é para esquecer, eis porquê.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: drum major em Abril 11, 2010, 12:43:27 am
É verdade África é para esquecer, mas... embora um pouco fora do âmbito de La Lyz, mas dentro da temática 1.ª grande Guerra, poderei acrescentar que:

Aos alemães, até determinada data, não lhes interessava a África, mas Bismark, depois de grande resistência, consentiu que a Alemanha tentasse lá estabelecer-se, neste sentido, no ano de 1884, o Togo e o Camarão foram ocupados e declarados Protectorados Alemães assim como umas parcelas do território do Sudoeste Africano, onde residiam muitos germãnicos.

Em 1897 conseguiu que Portugal lhe cedesse os seus direitos sobre o território entre o Cabo Frio e o Baixo Cunene, assim o território alemão aproximou-se muito da fronteiras com Angola, e desse modo constituiu a Damaralândia, na costa ocidental ao sul desse nosso território.

Na África Oriental, a norte de Moçambique, havia uma companhia de negociantes alemães, que em sintonia com os sucessos obtidos na África Ocidental, declararam que aquela região passaria a ser de futuro a África Oriental Alemã!

Em 1898 o governo inglês e alemão decidiram entre si partilhar a influência mercantil em Angola, aparecendo na imprensa estrangeira uma série de artigos de opinião. O jornal alemão "Post" em Dezembro de 1911 publicava (...) Lembremo-nos, de que nos arquivos de Londres e Berlim, existe um tratado que assinámos em 1898, com a Inglaterra, e pelo qual as possessões de Portugal, na África, nos são garantidas. Seriam compensações, que deviam dar-se-nos, em troca das vantagens da partilha da Pérsia(...)

Precisamente pela mesma ocasião o jornal inglês "Daily Mail" publicava num artigo assinado pelo alemão Hans Delbruck o seguimte: (...)é inevitável, uma diminuição do poder portugu~es em África, e uma partilha das possessões da República, ali, entre a  Inglaterra e a Alemanha, partilha feita há muito tempo, se não fosse a repugnância da Inglaterra, ter intervindo desvantajosamente na ideia da expansão alemã (...)

Não restam dúvidas de que Angola e Moçambique estavam nos projectos expansionistas da Alemanha. Devido a diversas e sucessivas campanhas na imprensa germânica, começaram-se a infiltrar em Angola, muitos alemães, alegando motivos de estudos tropicais, safaris, missões, etc.

A 25 de Agosto de 1914 os alemães atacam o nosso posto de maziua, na África Oriental Portuguesa, matando-nos gente, saqueando e destruindo o posto; a 11 de Setembro, embarcam as nossas tropas para Moçambique ali chegando a 16 de Outubro; a 12 de Setembro, partem as tropas para Angola, onde desembarcam em Mossamedes a 1 de Outubro, começando assim as nossas campanhas defensivas de África contra o invasor alemão.

A 18 de Outubro do mesmo ano dá-se o incidente de Naulila e a 31, do mesmo mês, o de Cuangar, matando o comandante, oficiais e incendiando o posto; a Alemanha declara guerra contra Portugal a 9 de Março de 1916 e Portugal só a declarou, oficialmente, no dia 19 de Maio do mesmo ano.

Infelizmente as nossas acções em África contra os alemães e os nossos heróis, que ali combateram e sofreram, são sempre olvidados, até nas comemorações oficiais e nos monumentos que existem espalhados pelo nosso país, nenhum tem uma estátua em bronze ou pedra referente a um combatente de Angola ou Moçambique, apenas legendas...terá sido por vergonha de terem enviado militares combaterem para África sem as mínimas condições e votados a um total abandono? Terá sido pela incompetência por parte dos principais dirigentes e políticos da época?

Pois é assim... talvez volte a este assunto brevemente...
Drum Major
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Abril 11, 2010, 01:52:39 am
A questão neste caso depende de interpretações dos factos.
A verdade é que aparentemente o governo de Portugal provocou a Alemanha de forma a que não deixasse qualquer hipótese aos alemães que não fosse a da declaração de guerra.

-> http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=131

A campanha do Quionga, logo em 1916, foi um desastre e não parece ter sido por falta de meios. Até o cruzador Adamastor foi mandado para fazer fogo sobre posições alemãs e os alemães estavam completamente isolados da Alemanha.

Em Portugal ignoramos paulatinamente as movimentações de Von Lettow [1] no norte de Moçambique, não porque tenhamos esquecido os soldados, mas porque a nossa prestação naquele teatro foi desastrosa. A nossa, a dos ingleses e a dos belgas, há que dize-lo.


[1] - Lettow e não Bulow, como inicialmente escrito
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: drum major em Abril 11, 2010, 08:46:02 pm
Efectivamente todas as nossa acções na Grande Guerra foram desastrosas, se analisarmos bem, fomos sempre de derrota em derrota...esta é a realidade, mas seja como for não é por esse motivo que não se deva analisar e destacar os actos de heroísmo, sacrificio dos nossos militares que ao fim e ao cabo quer em África quer em França foram "carne para canhão", como diziam os franceses "pobres serranos aqui abandonados pelo seu País" e era verdade!

Então em África foi um total abandono.  Meios havias, mas... o mais interessante é que Gomes da Costa, sobre as campanhas de Moçambique afirmava: "para os que, como eu, viram em Mocímboa da Praia, ao terminar a guerra, as montanhas de pneus, os centos de automóveis, os rios de águas minerais e de vinho, as máquinas de toda a espécie, algumas das quais nem tinham quem delas soubessem servir; os refrigeradores, as toneladas de víveres que, estragados pelo tempo, tiveram de ser atirados ao mar, indo envenenar os peixes da baía, as cruzes de pau dos cemitérios abandonados dos nossos soldados; quem viu tudo isto, é que pode compreender bem e revoltar-se contra a inépcia, incapacidade, incúria, desleixo, estupidez e desumanidade dos que, com os meios de acção mais poderosos que nenhuma outra expedição portuguesa teve em África, deixaram devastar e destroçar à fome e à sede, esses pobres soldados de Portugal... " e finaliza: "Mentira! Tudo Mentira! Ninguém quer a Verdade, porque a Verdade, como a luz ofusca essas aves sinistras que se governaram a si, fingindo governar a Nação. Políticos da força dos básicos de Mocímboa da Praia, comendo e bebendo em repetidos banquetes, sem que lhes perturbe as digestões a lembrança dos que a esta hora dormem nos cemitérios de França e de África, vítimas da sua incapacidade e da eterna falta de preparação do exército! Mentira só possível num País onde o Povo, bestializado por uma secular vida de submissão, consente que o crucifiquem sem soltar, sequer um grito!"

Agora uma nota curiosa: eu estive em Mocímboa da Praia de 1970 a 1972 (em comissão ) e vi perdidos pelas ilhotas da baía e pos outros locais, como: Palma, Nangade, Antadora, etc. Restos e vestigios de campas de militares portugueses da 1.ª Guerra!

Reconheço que nós sempre tivemos uma certa tendência para coleccionar derrotas e o interessante é que não é por falta de bravura, resistência, espírito de sacrificio já os inglese na Guerra Peninsular diziam " os portugueses são soldados tão bons ou melhores dos que de outras nações, mas desde que comandados e enquadrados por tropas estrangeiras", é verdade!

Claro que tivemos oficiais brilhantes, mas...muito devemos ao Conde Lippe, Beresford e outros.

Saudações do
Drum Major
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Lancero em Abril 18, 2010, 04:41:34 pm
Citar
I Guerra Mundial: A filha do vendedor de bicicletas recorda "O Português" nos campos de La Lys
 

    Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa  


    Paris, 18 abr (Lusa) - Até na pior batalha há repouso, conta Felícia Glória d'Assunção Pailleux. "Os soldados portugueses vieram uma vez à quinta dos meus avós", na Flandres francesa. "Viram umas raparigas e voltaram outras vezes", até ao final da guerra nessa terrível primavera de 1918.  

 

    Quando a guerra acabou, muitos soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP), oficiosamente abandonados por Lisboa nos campos da Flandres, ficaram pelo norte de França. Foi o que aconteceu a João Manuel da Costa Assunção, natural de Ponte da Barca. O pai de Felícia.  

 

    "O meu pai, no final da guerra, ainda foi até Brest, mas voltou para aqui. Como não tinha dinheiro, teve que procurar trabalho, montou uma loja e ia trabalhar com a única roupa que tinha, que era o uniforme do CEP. Por isso chamavam-lhe 'O Português'", contou Felícia Glória d'Assunção-Pailleux à Lusa nas comemorações da Batalha de La Lys, em La Couture.  

 

    "O Português" teve sucesso com a loja e conseguiu montar outro negócio, prossegue a filha. "Montou uma loja de bicicletas" em Ecquedecques, a comuna na região de Nord-Pas-de-Calais onde viveu desde o final da guerra, em 1918, até à sua morte, aos 81 anos, em 1975.  

 

    Em 1924, João "O Português" e outros ex-elementos do CEP fundaram a Associação de Ex-Combatentes Portugueses, de que o vendedor de bicicletas era o tesoureiro. A associação apenas começou, de facto, em 1929, porque "a papelada" demorou cinco anos a ser remetida pelas autoridades.  

 

    Foi no mesmo ano de 1929 que os 65 ex-combatentes e benévolos da associação receberam de Portugal o estandarte que, até hoje, continua a recordar os soldados portugueses da Primeira Guerra Mundial, ano após ano, nas comemorações de La Lys.  

 

    Há vinte anos que Felícia Glória d'Assunção Pailleux carrega o estandarte nas cerimónias evocativas do 09 de abril de 1918, início das operações conhecidas como Batalha de La Lys, e do 11 de novembro, data do Armistício e da vitória dos Aliados contra a Alemanha.  

 

    "Não é só nas comemorações dos soldados portugueses que eu carrego o estandarte do meu pai. É também na dos franceses. No domingo passado estive em Arras. No próximo estarei em Lorette", explica Felícia, com uma vivacidade espantosa após ter empunhado o estandarte nas cerimónias do Cemitério do CEP em Richebourg e diante do monumento aos combatentes portugueses em La Couture.  

 

    "Do amor entre 'O Português' e a minha mãe resultaram 15 filhos. Dez raparigas e cinco rapazes. Eu sou a terceira", conta Felícia.  

 

    "Há vinte anos que eu sou a continuidade do estandarte do meu pai", resume a pequena mulher, muito firme e digna no chapéu de feltro, na gravata impecável, camisa branca e um sobretudo com pequenos brasões na lapela.

 

    "A Grande Guerra marcou profundamente a região e a nossa história", explica uma das netas de Felícia, Aurore Rouffelaers. A bisneta do vendedor de bicicletas fundou uma agência de guias turísticos para roteiros nos grandes campos de batalha da Flandres, na memória das trincheiras entre Dunquerque, Lille e Ypres (na Bélgica).  

 

    "Estes são locais de memória, tanto como o estandarte da minha avó", resume Aurore, abraçada à pequena filha d'O Português.  

 
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: drum major em Abril 19, 2010, 06:54:35 pm
Perante esse texto apenas poderei dizer:
Lindo! Maravilhosamente lindo e comovedor!

Já o major Bento Esteves Roma, afirmava: O nosso soldado arrancado aos labores do seu torrão, levado pelos caprichos da sorte para um País dele ignorado, colocado em condições de meio e clima muito diferentes daqueles a que estava habituado, depressa se familiarizou com tudo e depressa aprendeu o que era preciso,"

" Causava justa admiração aos ingleses, e era uma coisa que lhes custava a compreender como os soldados analfabetos, bisonhos, sem a desenvoltura dos seus, os suplantava em tudo o que fosse aprender e apreender, classificando-os, eles os ingleses, de muito sagazes. E era para consolar o ver, em concursos com os ingleses, serem os nossos a ganhar"

Mais adiante diz: " Nós , os da frente éramos designados pelos da retaguarda pela "malta das trincheiras" E na realidade, quando de là saíamos, cheios de lama trazendo bem estampados nos rostos as noites sem dormir, éramos  "uma verdadeira malta!"

E assim "a malta" suja e de baixa condição no seu aspecto, sabia amar e sabia sofrer, rinha uma alma grande, muito grande, capaz de sacrifícios e heroicidades, toda ela cheia de Portugal!
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: SmokeOn em Junho 03, 2010, 04:35:55 pm
Agora que se comemora o centenário da república que o Povo está pouco se borrifando temos de fazer uma homenagem ao Afonso Costa ministro republicano responsável pela entrada de Portugal na Grande Guerra com a justificação de Portugal recuperar o prestígio perdido pelo facto de ter deixado de ser uma Monarquia. Sim os heróis para alguns de há 100 anos têm o sangue nas mãos de milhares de compatriotas, e a verdade é que as Forças Armadas estavam descontentes e completamente esquecidas : as tropas não eram rodadas no campo de batalha como os outros aliados e a logística praticamente não existia.
Portugal e principalmente as Forças Armadas em 1919 revoltaram-se e o país ficou dividido a meio com a Monarquia do Norte comandada pela enorme figura e Patrono da Arma de Cavalaria ... Paiva Couceiro.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: HSMW em Junho 03, 2010, 05:08:33 pm
Citação de: "SmokeOn"
e Patrono da Arma de Cavalaria ... Paiva Couceiro.

Então não é o Mouzinho de Albuquerque?
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: drum major em Junho 03, 2010, 08:19:45 pm
O Mouzinho da Albuquerque é que é o Patrona da Arma de Cavalaria
Título: Re:
Enviado por: GI Jorge em Julho 15, 2010, 02:11:33 am
Citação de: "emarques"
(para não falar da situação caricata de andar a disparar peças Krupp contra os alemães :)).

eis a prova de que a ironia magoa...
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Julho 28, 2010, 10:16:23 am
Julgo que seria interessante divulgar os sucessos de outros teatros da guerra de 14/18,sobretudo tratando-se de matéria militar relevante,embora correndo o risco de saír um pouco do contexto.


Refiro-me à campanha da África Oriental,do gen.Paul von Lettow-Vorbeck,chefe das forças alemãs
 na área,que ao ser atacado pelos britânicos,desenvolveu o que hoje se chama uma guerra de guerrilhas,
talvez a primeira no continente africano,porque:


                                  1.-A desproporção de forças era enorme;


                                  2.-Não ser possível qualquer ajuda da Alemanha,pois a Esquadra britânica
                                      dominava os mares;

                                  3.-A guerra na Europa era prioritária.


Temos assim como forças em presença:


                                Britânicos-120 000 soldados coloniais,com predominância de indianos,
                                               comandados pelos generais sul-africanos Smuts e Van Deventer.

                                Alemães-155 soldados e oficiais alemães,mais 1 200 homens escolhidos
                                             nas etnias locais



   Von Lettow batia e fugia,chegando a ser empurrado para o norte de Moçambique,onde enfrentou
     
   tropas portuguesas sem experiencia de combate,que se retiraram após sofrerem algumas dezenas

   de mortos.


   No entanto é mais conhecida a Batalha da Praia de Tanga (05/11/14),em que o Corpo

   Expedicionário Britânico foi obrigado a retroceder,deixando na praia armas,munições e mantimentos

   que seviram a von Lettow para prolongar a sua guerra até á rendição da Alemanha em 1918.


   O que se passou na realidade foi a mobilização em Àfrica de milhares de ingleses e aliados

   impedindo-os de passar à Europa,isto com meios reduzidos e custos baixos.             C.R.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Julho 28, 2010, 03:41:57 pm
Eventualmente estamos a deixar de lado o tema do tópico, que é a batalha de La Lys.
Creio que haverá por aí um tópico especificamente dedicado à campanha do Quionga e aos feitos do tal do Von Bullow contra os exércitos de Portugal, da Bélgica e da Grã Bretanha em África.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Julho 30, 2010, 09:37:00 am
Peço desculpa por voltar ao assunto da Àfrica Oriental,em particular,à Batalha de Tanga onde ocorreu um episódio
caricato e perfeitamente imprevisível.


Quando o Corpo Expedicionário Britânico (CEB) desembarcou ao longo da praia de Tanga,havia vegetação arbustiva
nalguns locais e deu-se o ataque.


Por razões conhecidas os alemães andavam à mingua  de munições e estas ao acabarem  levaram Lettow-Vorbeck
a ordenar uma carga de baioneta.

O CEB  atacou com estridente vozearia e tiroteio indiscriminado,ao ponto de atingir uma colmeia de abelhas
africanas -bem maiores que as europeias e com um ferrão maior-centenas ou milhares que se abateram sobre
alvos em movimento,neste caso os atacantes.


Algumas dezenas de homens retrocederam,e os outros foram atrás.


E é por isso que a batalha de Tanga também é chamada batalha das Abelhas.


E aqui está como um factor imprevisto e imprevisível é o factor chave de uma confrontação.


papatango: na sua resposta não percebi quem foi o "tal de von Bulow"que andou em África em 14/17.
Karl v. Bulow foi o comandante do II Exército que tomou a Bélgica e parte da França e travou sem
sucesso a 1ª Batalha do Marne,na frente ocidental.                                           C.R.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Julho 30, 2010, 02:41:40 pm
Erro meu, evidentemente, que com tantos nomes destes mouros na cabeça, confundi Lettow com Bullow.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: xpto49 em Fevereiro 02, 2011, 11:47:18 am
Ainda há poucos dias li que na batalha de La Lys morreram cerca de 14.000 portugueses em apenas 24 horas, mais que nos 13 anos de guerra que tivemos nas 3 antigas províncias ultramarinas.

Curioso, dá para pensar.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Fevereiro 02, 2011, 12:38:45 pm
Acho que deve haver muita confusão nessa «fonte» entre baixas e mortos.

Normalmente considera-se como baixas, os mortos, os feridos e soldados que caíram em mãos inimigas.
A maior parte das baixas portuguesas em La Lys, foram prisioneiros e não mortos.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: xpto49 em Fevereiro 06, 2011, 12:44:31 pm
Sofremos efectivamente 14.000 baixas e não 14.000 mortos.

Obrigado pela correcção papatango :oops: .
Título: A Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal 09-03-1916
Enviado por: Desertas em Agosto 05, 2011, 01:09:14 pm
Citar
A Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal

Em 9 de Março de 1916 a Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal veio formalizar um conflito que já havia começado há algum tempo entre Portugueses e Alemães.O conflito luso-alemão já vinha sendo travado, há algum tempo, no sul de Angola e norte de Moçambique. Decidindo-se, então, a participação do Corpo Expedicionário Português nas trincheiras da Flandres.

«Senhor Ministro.

Estou encarregado pelo meu alto Governo de fazer a V. Exa. a declaração seguinte:

O Governo português apoiou, desde o começo da guerra. Os inimigos do império Alemão por actos contrários á neutralidade. Em quatro casos foi permitida a passagem de tropas inglesas por Moçambique. Foi proibido abastecer de carvão os navios alemães. Aos navios de guerra ingleses foi permitida uma larga permanência em portos portugueses, contrária à neutralidade, bem como ainda foi consentido que a Inglaterra utilizasse a Madeira como base naval. Canhões e material de guerra de diferentes espécies foram vendidos ás Potências da Entente, e, além disso, á Inglaterra um destruidor de torpedeiros. O arquivo do vice-consulado imperial em Modeles foi apreendido.

Além disso, foram enviadas expedições á África, e foi dito então abertamente que estas eram dirigidas contra a Alemanha.

O governador alemão do distrito. Dr. Schultz-Jena, bem corno dois oficiais e algumas praças, em 19 de Outubro de 1914, na fronteira do Sudoeste Africano alemão e Angola. Foram atraídos, por meio de convite, a Naulila, e ali declarados presos sem motivo justificado, e, como procurassem subtrair-se à prisão, foram, em parte, mortos a tiro enquanto os sobreviventes foram à força feitos prisioneiros.

Seguiram-se medidas de retorção da tropa colonial. A tropa colonial, isolada da Alemanha, precedeu na suposição, originada pelo acto português, de que Portugal se achava em estado de guerra com o Império Alemão. O Governo português fez representações por motivo das últimas ocorrências, sem, todavia, se referir ás primeiras. Nem sequer respondeu ao pedido que apresentámos de ser intermediário numa livre troca de telegramas em cifra com os nossos funcionários coloniais, para esclarecimento do estado da questão.

A imprensa e o Parlamento, durante todo o decurso da guerra, entregaram-se a grosseiras ofensas ao povo alemão, com a complacência, mais ou menos notória, do Governo português. O chefe de Partido dos Evolucionistas pronunciou na sessão do Congresso, de 23 de Novembro de 1914, na presença dos ministros portugueses, assim como na de diplomatas estrangeiros, graves insultos contra o imperador da Alemanha, sem que por parte do presidente da Câmara, ou dalgum dos ministros presentes, se seguisse um protesto. Às suas representações, o enviado imperial recebeu apenas a resposta que no boletim oficial das sessões não se encontrava a passagem em questão.

Contra estas ocorrências protestámos em cada um dos casos em especial, assim como por várias vezes apresentamos as mais sérias representações e tornámos o Governo português responsável por todas as consequências. Não se deu, porém, nenhum remédio. Contudo, o Governo Imperial, considerando com longanimidade a difícil situação de Portugal, evitou então tirar mais sérias consequências da atitude do Governo português.

Por último, a 23 de Fevereiro de 1916, fundada num decreto do mesmo dia, sem que antes tivesse havido negociações, seguiu-se a apreensão dos navios alemães. Sendo estes ocupados militarmente e as tripulações mandadas sair de bordo. Contra esta flagrante violação de direito protestou o Governo Imperial e pediu que fosse levantada a apreensão dos navios.

O Governo português não atendeu este pedido e procurou fundamentar o seu acto violento em considerações jurídicas. Delas tira a conclusão que os nossos navios imobilizados por motivo da guerra nos portos portugueses, em consequência desta imobilização, não estão sujeitos ao artigo 2.º do tratado de comércio e navegação luso-alemão, mas sim à ilimitada soberania de Portugal, e, portanto, ao ilimitado direito de apropriação do Governo português, da mesma forma que qualquer outra propriedade existente no pais. Além disso, opina o Governo português ter procedido adentro dos limites desse artigo, visto a requisição dos navios corresponder a uma urgente necessidade económica, e também no decreto de apropriação estar prevista uma indemnização cujo total deveria mais tarda ser fixado.

Estas considerações aparecem como vazios subterfúgios. O artigo 2.º do tratado do comércio e navegação refere-se a qualquer requisição de propriedade alemã em território português. Pode ainda assim haver dúvidas sobre se a circunstância de os navios alemães se encontrarem pretensamente imobilizados em portos portugueses modificou a sua situação de direito. O Governo português violou, porém, o citado artigo em dois sentidos, primeiramente não se mantém na requisição dentro dos limites traçados no tratado, pois que o artigo 2.º pressupõe a satisfação duma necessidade do Estado, enquanto que a apreensão, como é notório, estendeu-se a um número de navios alemães em desproporção com o que era necessário a Portugal para suprir a falta de tonelagem. Mas, além disso, o mencionado artigo torna a apreensão dos navios dependente dum prévio acordo com os interessados sobre a indemnização a conceder-lhes. Enquanto que o Governo português nem sequer fez a tentativa de se entender, quer directamente, quer por intermédio do Governo alemão, com as companhias de navegação. Desta forma apresenta-se todo o procedimento do Governo português como uma grave violação do Direito e do Tratado.

Por este procedimento o Governo português deu a conhecer que se considera como vassalo da Inglaterra, que subordina todas as outras considerações aos interesses e desejos ingleses. Finalmente a apreensão dos navios realizou-se sob formas em que deve ver-se uma intencional provocação à Alemanha. A bandeira alemã foi arriada dos navios alemães e em seu lugar foi posta a bandeira portuguesa com a flâmula de guerra. O navio almirante salvou por esta ocasião.

O Governo Imperial vê-se forçado a tirar as necessárias consequências do procedimento do Governo português. Considera-se de agora em diante como achando-se em estado de guerra com o Governo português.

Ao levar o que precede, segundo me foi determinado, ao conhecimento de V. Exa. tenho a honra de exprimir a V. Exa. a minha distinta consideração.»

Tradução do texto alemão entregue por Friedrich Von Rosen a Augusto Soares, Ministro Português dos Negócios Estrangeiros

http://grandeguerra.blog.com/

Um Abraço
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Lusitano89 em Dezembro 21, 2012, 07:20:53 pm
Segredos de Portugal na Grande Guerra saem do baú


Mal preparados, mal equipados, analfabetos e desmotivados. É assim que têm sido descritos os militares portugueses que participaram na I Guerra Mundial, em que Portugal perdeu cerca de 21 mil jovens em poucos meses apenas na Flandres. A história do Corpo Expedicionário Português é uma história trágica, que será em breve conhecida em pormenor.

O Exército está a preparar a desclassificação de vários documentos sobre este período, numa altura em que já foi constituída a comissão encarregue de preparar as cerimónias do centenário da Grande Guerra. O primeiro passo é analisar a documentação existente no arquivo do Exército: relatórios militares, cartas e imagens. De acordo com a lei em vigor, a competência para a desclassificação dos documentos é da entidade que tenha procedido à classificação definitiva.

O Corpo Expedicionário Português (CEP) foi criado em Julho de 1916, na sequência de um pedido da Grã-Bretanha a Portugal. Embarcaria em Fevereiro seguinte para França, tendo ocorrido a 9 de Abril a célebre Batalha de LaLys, em que o CEP foi dizimado pelas tropas alemãs naquela que foi a maior derrota dos portugueses desde Alcácer-Quibir.

Segundo estudos sobre a I Guerra Mundial, o Governo não conseguiu  assegurar a rotação da força porque não tinha meios navais para o fazer e o comando não tinha oficiais preparados. A divulgação pública do arquivo do Exército vai permitir saber ao certo as condições em que o contingente português se encontrou e a sua relação com o poder político.

O ministro da Defesa, Aguiar-Branco, nomeou no final de Novembro a Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I Guerra Mundial, presidida por um general do Exército.

Segundo o despacho do Governo, o objectivo é assinalar «o importante significado que a I Guerra Mundial teve na história contemporânea portuguesa, com reflexos sociais que excederam largamente o campo militar» . Lembrando os «milhares de mortos, feridos e prisioneiros» , Aguiar-Branco lembra que Portugal mobilizou cerca de 160 mil homens na Europa e nas ex-colónias.

SOL
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Dezembro 25, 2012, 12:46:45 pm
Citar
Não há país na História que tenha beneficiado com uma guerra longa.Mao Zedong
[/u][/b]

Na História de Portugal e referente ao séc.XX,dois enfrentamentos aparecem em evidência,a I Guerra Mundial e as guerras de África.Qualquer uma deixou mazelas no imaginário português por falta de evidências,ou por não existirem ou por serem sistemáticamente sonegadas ao público.
Na Flandres,o CEP após um bombardeamento de 24 horas (Batalha de la Lys,9 de Abril de 1917) sofreu um ataquede quatro divisões alemãs que conseguiram abrir uma brecha de sete quilómetros e fizeram 6 000 prisioneiros portugue-
ses. Além de casos de heroísmo individuais um batalhão português recusou voltar às trincheiras,no que não foi caso único.Quando a guerra se iniciou em 1914 Portugal declarou-se neutral,mas o Governo de Afonso Costa ansiava
por um pretexto válido,bem como alguns sectores da sociedade,para entrar na guerra.Navios mercantes germânicos
 refugiaram-se nos Açores ao abrigo da neutralidade,mas foram confiscados e içaram a bandeira verde-rubra numa manobra de legalidade discutível.
Finalmente chegou a declaração de guerra da Alemanha.
Constituído que foi o C.E.P. ( Corpo Expedicionário Português) foi à pressa mandado para Flandres,sendo cometidos erros que "a posteriore" se pagaram caro.Assim,o fardamento não estava adaptado ao clima vendo-se na mesma unidade fardas de diferentes estações,num espectáculo ridículo..O nosso armamento,obsoleto para este tipo de guerra foi outro caso em que os lusos ficaram apreensivos pois a todos era pedida a resistência,mesmo nos casos de
material com munições trocadas.Iam bater-se contra carros blindados ,metralhadoras pesadas e aviões usando a Mauser de museu.A falta de motivação e a perspectiva de morrer por uma bandeira que não a nossa não ajudou a levantar o moral.Outro facto não  despiciendo foi o reflexo socio-político em Portugal verificando-se ser os graduados do CEP a constituir a ossatura da revolução de Maio de 1926.

Boas Festas

Bibl. "Os canhões de Agosto" de Barbara W. Tuchman -Prémio Pulitzer
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Dezembro 26, 2012, 07:20:41 pm
Os portugueses iam para a Flandres combater contra carros de combate ?  :shock:  :shock:  :shock:

Se tivessem Mauser, o modelo 1898 seria aliás bastante moderno, já que era a arma por excelência dos alemães e seguramente não era arma de museu...

O que aconteceu foi que foram entregues aos militares portugueses armas britânicas por questões logísticas (Lee Enfield) http://www.areamilitar.net/directorio/Alig.aspx?nn=151&P=77.

Este texto, que não entendo de que tipo de publicação vem, é daqueles que ficamos com a impressão de terem sido escritos por quem não faz a mais pequena ideia do que está a dizer.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Lightning em Dezembro 27, 2012, 12:44:42 am
Citação de: "papatango"
Os portugueses iam para a Flandres combater contra carros de combate ?  :shock:  :shock:  :shock:

Se tivessem Mauser, o modelo 1898 seria aliás bastante moderno, já que era a arma por excelência dos alemães e seguramente não era arma de museu...

O que aconteceu foi que foram entregues aos militares portugueses armas britânicas por questões logísticas (Lee Enfield) http://www.areamilitar.net/directorio/Alig.aspx?nn=151&P=77.

Este texto, que não entendo de que tipo de publicação vem, é daqueles que ficamos com a impressão de terem sido escritos por quem não faz a mais pequena ideia do que está a dizer.

Concordo totalmente e além dos carros de combate não se esqueça da perigosa aviação alemã, que durante a 1ª Guerra Mundial eram uma tecnologia mortifera para os soldados nas trincheiras :mrgreen:, com aquelas granadas atiradas à mão para o chão devem ter morto dezenas... Quem escreveu esse texto devia estar a pensar na 2ª Guerra Mundial, em que ai sim a Alemanha teve uma Força Aerea e uma força de carros de combate demolidora, mas Portugal não participou na 2ª Guerra Mundial, participou na 1ª Guerra Mundial, em que essas tecnologias ainda não estavam tão desenvolvidas.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Dezembro 28, 2012, 01:22:05 pm
Citar
...a 13 de Agosto de 1913,os britânicos e os germânicos tinham negociado secretamente a criação de potenciais esferas de in-
fluência nas possessões africanas portuguesas em África.
[/u][/b]Martin Gilbert


Será caso para dizer que com amigos  destes,antes os inimigos.Quanto á Mauser que o CEP tinha disponível creio tratar-se da Mauser Vergueiro,diferente do original com melhorias introduzidas por um oficial português,baseado na Mannlicher.Esta M. Vergueiro foi apro-
vada,mas dadas as dificuldades de produção em Portugal foi -veja-se a ironia-cometido à Alemanha em 1904 o seu fabrico sob contrato.
 A Mauser alemã,em 1914 tinha 44 anos,pois têve a sua estreia na guerra franco-prussiana (1870) onde deu muito boa conta de si.
Os britânicos eram os mais adiantados em carros de combate,e tinham já pronto o MK-1 e o MK-4 a meio da guerra,tendo a estreia
mundial em 15 de Setembro de 1916,em Flers,e o ataque a Cambrai (20-11-17) participando três brigadas com 496 carros,empurrando
a linha divisória ao longo de 16 Km. e um avanço máximo de 8 Km. fazendo 8 000 prisioneiros e provando que era a nova arma terrestre.
Os alemães,atrasados,desenvolveram o protótipo A7V,caracterizado por 30 ton. de peso e 35 ton. pronto para combate,raio de acção de
35 Km. dimensões (7.35x3.05x3.04),armado com canhão de 5,7 cm.e 4 metralhadoras ligeiras e 18 tripulantes.A 1ª acção deu-se em St.
Quentin em 21 de Março de 1918,em 24 de Abril de 1918 atacaram com sucesso Williers-Bretonneux.E,se não atacaram La Lys foi porque
tinham outros peixes mais gordos.

BOAS ENTRADAS
Obs.-As Mauser foram vendidas a dezenas de países,que lhes introduziram as adaptações julgadas convenientes.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Cabeça de Martelo em Dezembro 28, 2012, 05:33:58 pm
Pelo que eu lembro-me dos livros de história, pelo menos no TO europeu (Flandres - França), as Divisões Portuguesas estavam armadas com armamento Britânico e não com o nosso. Usando a mesma fonte, o  grande assassino da Tropa Portuguesa foi o inverno, a artilharia e 4 divisões alemãs frescas contra uma Divisão Portuguesa que esteve demasiado tempo na frente.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Dezembro 29, 2012, 10:00:27 am
As negociações entre a Inglaterra e a Alemanha para a partição dos territórios portugueses entre os dois não é de 1913 é já da fase final do século XIX e decorria de Portugal não querer pagar as dívidas que tinha contraido internacionalmente.

Normalmente temos tendência a esquecer que a história se repete.
Como Portugal não tinha forma de pagar a dívida e tinha entrado em incumprimento, ingleses e alemães consideravam que a melhor forma de pagar seria através de concessões especiais nos territórios africanos portugueses, ou mesmo através da total transferência de soberania.

Os ingleses estavam dispostos a «abandonar» o aliado, para evitar que os alemães pretendessem territórios ingleses. A Bélgica tinha o mesmo problema que Portugal e também era considerado um país demasiado pequeno para ter tanto território em África.



Quanto aos carros de combate, vamos por partes.

A Alemanha declarou guerra a Portugal em Março de 1916. Nessa altura os carros de combate estavam em desenvolvimento e as primeiras utilizações do veículo (já depois de Março de 1916) foram tão desastradas que nem os alemães (que por eles foram atacados) lhes deram importância. Além disso seria impossível equipar uma força militar propositadamente para combater contra uma arma que nem se sabia se funcionaria.

Aliás, os alemães tinham o mesmo problema, porque foram alvo dos ataques dos tanques ingleses e franceses e não tinham defesa contra eles.
O problema do outro lado, é que a arma não estava suficientemente desenvolvida e acabou por ter influência apenas dois anos mais tarde, já na fase final da guerra em 1918.

Quanto aos tanques alemães então nem há o que dizer. O único veículo alemão que se podia chamar tanque era o A7V e destinava-se ao transporte de infantaria. O exército alemão encomendou 100 unidades em 1917, mas a industria alemã foi apenas capaz de concluir 20 exemplares, que só foram utilizados em 1918, de forma completamente desastrada. http://www.areamilitar.net/DIRECTORIO/TER.aspx?nn=222
O principal tanque alemão da guerra era o tanque romboide inglês Mk.IV: http://www.areamilitar.net/DIRECTORIO/TER.aspx?nn=220&P=143&R=EX#A1

Quanto à arma alemã standard na I guerra mundial, ela foi a Mauser modelo 1898. Aliás, a arma foi a arma standard do exército alemão até 1935, ainda que tivesse havido um modelo derivado intermédio (estou a falar de cabeça) lançado em 1917.

A Mauser Vergueiro portuguesa, é uma adaptação da Mauser 1898 e foi desenvolvida em 1904. O Luso, que percebe mais disto a dormir que eu acordado deve poder confirmar ou corrigir.

Por isto, é que a afirmação de que os portugueses foram mal armados para França não faz sentido. Não foram levadas as nossas armas, porque tinhamos material alemão e o CEP estava integrado no exército inglês, sendo necessário que estivesse integrado na estrutura logística inglesa.
Já a artilharia que recebemos era francesa e aparentemente de boa qualidade.
Já o fardamento isso era outra história.

Outra coisa pouco falada foi o abandono a que as tropas foram votadas e o facto de as tropas portuguesas terem o seu quartel general em Paris, quando as duas divisões estavam na Flandres. Os comandos praticamente nunca se encontravam, as tropas não estavam enquadradas por oficiais minimamente capazes (que às vezes nem lá estavam).
A questão do fardamento também é importante e causa de problemas. Mas problemas com o fardamento tinham-nos todos os países, mesmo os ingleses e os franceses. Provavelmente num nível diferente, mas tinham.

Quanto ao Afonso Costa, ele era realmente um fanático radical, mas em 1915 ele sofreu um acidente quando saltou espavorido de um electrico de Lisboa, pensando que estava a ser vítima de um atentado. O imbecil ficou gravemente ferido, pelo que ficou meses sem acesso ao poder. Ele foi no entanto o primeiro ministro nos quatro meses que antecederam a declaração de guerra.

É também verdade que havia uma fação que pretendia cozinhar um acordo com a Espanha, que pretendia garantir a neutralidade de toda a peninsula ibérica, porque se temiam as posições pró-germânicas dos espanhóis, especialmente do rei Alfonso XIII.
É em parte por isso que os espanhóis intervieram no golpe de 1915, enviando a sua esquadra para Lisboa, para mostrar bandeira e acalmar os ânimos. No entanto não conseguiram impor um governo favorável à neutralidade (já que o golpe de 14 de Maio depôs Pimenta de Castro) e porque ingleses e franceses não aceitaram que a Espanha controlasse Portugal numa altura tão crítica.


Por tudo isto, o texto parece misturar alhos com bugalhos. É um texto destinado a afirmar que fazemos sempre tudo mal. Isso não é necessariamente verdade.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Dezembro 30, 2012, 11:20:27 pm
Bem,estou de acordo quando revela que os nossos maiores inimigos em La Lys foram:

             a)O cansaço derivado à falta de rotações;
             b)O frio e a falta de higiene;
             c)O demolidor ataque alemão,com 24 horas contínuas de bombardeamento,antes da progressão.
             d)Ocuparmos as linhas da frente do sector.
 Os britânicos vieram dizer,cínicamente,que se fossem eles também teriam desandado nas mesmas  condi-
ções,donde se conclui que andámos lá a servir de "carne para canhão".Adiante.As nossas Mauser não serviam
por razões logísticas é possível,embora a I Guerra Mundial ainda hoje seja vista como ensaio das guerras
seguintes em termos de armamento,designadamente a arma aérea e os submarinos.Enquanto os ingleses
dominavam os mares com a sua "Fleet",os alemães apostavam em submarinos,muito mais baratos,e usavam
a mesma táctica que iriam usar em 39-45,de cortar os abastecimentos às Ilhas.Os adversários dos pilotos
eram os aviões contrários e foi entre estes que se travou a guerra aérea.Na verdade a fragilidade dos aparelhos
era tal que não lhes permitia ficar ao alcance da Infantaria,e só com muita sorte atingiam as trincheiras com
granadas.Os blindados estavam na infância,embora já demonstrassem  que se podia contar com eles  no futuro.


Mas  a I Guerra tinha outras frentes,em geral desconhecidas em Portugal,designadamente a frente leste,a batalha
de Tannenberg,a queda do Império Turco e na  África Oriental,hoje Tanzania.São enfrentamentos militares que
permitem um conhecimento acrescentado,que nunca se sabe se podem voltar a servir.Esperemos que não.


    Em tempo:na minha última MSG procurei voltar ao tema das armas do CEP, e dos blindados de modo a tornar
                    explícito o texto,visto que estamos a trabalhar para o público que nos lê,e não para exibir a nossa
                    erudição.Se para evitar "misturar alhos com bugalhos" necessitamos um fio condutor então será
                    melhor escrever um romance ou um Relatório sobre Física Quântica.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Janeiro 01, 2013, 06:27:44 pm
Eu limitei-me apenas a comentar a seguinte afirmação:
Citar
O nosso armamento,obsoleto para este tipo de guerra foi outro caso em que os lusos ficaram apreensivos pois a todos era pedida a resistência,mesmo nos casos de material com munições trocadas.Iam bater-se contra carros blindados ,metralhadoras pesadas e aviões usando a Mauser de museu.
Quem escreveu que as tropas portuguesas iam para a Flandres com a Mauser de museu, NÃO SABE O QUE ESTÁ A DIZER. Nem a Mauser era peça de museu, e pior que isso, nem sequer a Mauser era a arma atribuída às tropas portuguesas.
A afirmação está duplamente errada e o autor não refere que os tanques estavam em desenvolvimento, nem que apresentavam boas perspetivas para o futuro, afirma sem tirar nem por os portugueses iam-se bater contra carros blindados, quando os alemães ainda nem tinham construido um único carro blindado.

O texto é por isso um logro. E se a autora, Barbara W.Tuchman ganhou o premio Pulitzer, deve ter sido por jornalismo culinário, não sobre investigação histórica/militar.

-1-
De onde é que veio a ideia de que as forças portuguesas tinham sido sujeitas a 24h de bombardeamento de artilharia ?  :shock:

-2-
O CEP era um corpo de exército, já que tinha mais que uma divisão. Os corpos de exército normalmente tinham três divisões (tanto do lado aliado como do lado alemão), dado isto permitir que uma estivesse na primeira linha, uma de reserva e uma terceira em descanso ou recuperação.
As forças portuguesas estavam onde tinham que estar, na primeira linha, como era suposto estarem, sendo para isso que foram enviadas e foi também por isso que se insistiu em enviar mais que uma divisão, para se poder formar um Corpo de Exército.

-3-
As tropas portuguesas estavam cansadas porque não eram substituídas como seria adequado para forças naquelas circunstâncias. Isto decorre da situação política portuguesa com a chegada ao poder dos Sidonistas e das forças que inicialmente eram contra a guerra.

-4-
Eu não entendo qual a relevância de os britânicos dizerem que se fossem eles também tinham «desandado»

Desde o inicio da «Kaiserschlart» a última série de ofensivas alemãs da guerra, os britânicos sofreram pesadíssimas baixas com milhares de homens a ficarem cercados e a renderem-se sem resistência. Tal como os portugueses, também os ingleses após a ofensiva alemã do dia 21 de Março (2 semanas antes de La Lys) sofreram enormes perdas. Num só dia o BEF (British Expeditionary Force) deu conta de ter perdido 28.000 homens.
Muitos dos prisioneiros ingleses estavam tão abalados que foram enviados para a retaguarda alemã, virtualmente sem escolta.
Em um só dia há um historiador que demonstrou que 21.000 (vinte e um mil) soldados aliados se renderam.
Os soldados a baixar os braços eram tantos que os alemães apenas registaram 7.000.
Todos foram carne para canhão, a começar pelos ingleses.

Logo, os comentários que alguns ingleses fizeram após a batalha de La Lys, nada têm a ver com os estudos mais sérios que se fizeram depois.


-5-
As Mauser não serviam, porque o CEP estava integrado no I exército britânico, que contava outras 12 divisões britânicas. Os ingleses não podiam ter uma parte do seu exército com armamento alemão.
Não está em causa se houve ou não houve ensaios para a guerra. Os factos são:
As forças portuguesas receberam a Lee Enfield britânica, como a receberam todos os soldados britânicos.
A arma era adequada para os portugueses como era adequada para os britânicos.

O que se pode dizer que era desadequada era a alimentação, que era feita a pensar nos gostos dos ingleses e não nos gostos dos portugueses.

-6-
Não está em causa se os submarinos alemães utilizavam ou não as táticas que utilizariam na II guerra mundial. Isolar as ilhas britânicas também o Filipe II e Napoleão tentaram. Isso é irrelevante para o texto em causa.

-7-
As tropas portuguesas não precisavam estar equipadas com anti-aérea. Isso não fazia qualquer sentido. As tropas portuguesas, para um combate como o que se desenrolava no norte de França e na Bélgica, precisavam de comida, munições, armas, roupa seca, artilharia e munição para a artilharia.
E claro, precisavam de um sistema de saúde e de evacuação para Portugal que funcionasse.

Em suma: Precisavam em Lisboa de um governo que entendesse que tinha que prosseguir a política do governo anterior em tempo de guerra.
Ou então tinha pedido para sair.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Luso em Janeiro 02, 2013, 04:12:17 pm
Só um pormenor: as Vergueiro, mistura de culatra Mannlicher e depósito Mauser, só fora utilizadas em Africa. Foi fornecido um número apreciável para equipar forças sul-africanas. As kropatcheck também aí foram utilizadas.
Na Flandres foram utilizadas armas em .303. O CEP utilizou a SMLE e a Enfield Pattern 14, de acordo com fotos da época. Padrão inglês, portanto, tirando as pistolas Savage 1915.
Devo recordar que as nossas armas utilizadas em África eram tão boas como as dos alemães e isso é afirmado por toda a gente.
Gostaria de ler o livro "A Epopeia Maldita" que relata a pouca vergonha do que se passou em Moçambique, onde os meios aos dispôr dos portugueses eram superiores aos alemães mas sendo abissal a qualidade da chefia e dos serviços de saúde, falta de treino. Básicamente, tudo o que implica trabalho de gestão superior. Grandes bimbos a maior parte dos oficiais da altura. O Vorbeck relata alguns aspectos vergonhosos. Já aí se notava a "eficiência da ética republicana" nas nomeações das chefias e na gestão de logística e aprovisionamento (quinino falso, etc)...
Comentário "um pouco off-tópic" mas o descalabro moçambicano merecia bem um tópico abordado por quem sabe mais do assunto.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: papatango em Janeiro 02, 2013, 07:03:04 pm
Em Moçambique, o exército português foi uma da principais, senão a principal fonte de armamento das forças de Von Lettow.
O problema das forças portuguesas (incluindo-se aqui a Flandres) não estava tanto no armamento como estava nos comandos e no enquadramento das forças.
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Janeiro 05, 2013, 10:59:52 am
Citar
"Um plano que resulta é ousado,um plano que fracassa é temerário"
[/u]  Clausewitz,1832

Quero em primeiro lugar penitenciar-me por um erro referente  à preparação  do ataque alemão a La Lys.Como é sabido os alemães empregaram na 1ª fase gases tóxicos,ao que parece gás
mostarda,e na 2º obuses de artilharia convencional.Admito que o bombardeamento durasse entre 4 e 7 horas.Foi uma ofensiva brutal com os germânicos a dar tudo por tudo para varrer os
ingleses da Flandres antes da chegada dos norte americanospois o Kaiser tinha uma ideia bem clara do poderio americano e do desequilíbrio que iria provocar com tropas frescas,
numerosas e bem armadas.E não lhe chegava de consôlo a frente leste se ter esboroado,com os russos a voltarem costas e a executar os oficiais que os mandavam combater.Na verdade
alastrava uma nova elaboração política,teorizada por Marx e Engels e divulgada por Vladimir Ulianov(também chamado Lenine) que vivendo na Suiça foi levado para a Russia e provido
de meios financeiros abundantes para desencadear a Revolução Soviética,e isto tudo por quem? Pelos alemães que assim aprendiam a fazer a guerra sem dar tiros em casa.


Para concluir outro assunto em aberto,os portugueses na Flandres usavam tal como os ingleses as espingardas Lee-Enfield e os americanos as M1903 e os germânicos as Mauser 98,no entan-
to,em Portugal a arma do Exército era a Mauser Vergueiro.Ponto Final.


Barbara W.Tuchman foi uma escritora norte-americana que acompanhou os últimos  meses antes da guerra de 14-18,designadamente entre franceses,ingleses e alemães e escreveu o livro
"Os canhões de Agosto" que relata as expectativas e dúvidas das populações dos últimos meses antes do confllito.Ao ser declarada a guerra,as pessoas abraçavam-se e beijavam-se na rua
e clamavam : Vamos a eles...e Agora é que vão entrar nos eixos...  e levam uma tosa que fica na memória.Esta alegria fútil e efémera é magistralmente descrita e para conluir uma fra-
se de Barbara:."A guerra é um desabrochar de cálulos errados".


Para continuar com os "cálculos errados",melhor dizendo o improvável dá-se um "putsch" em Lisboa encabeçado por Sidónio Pais,professor catedrático de Matemática em Coimbra,e ex embai-
xador de Portugal em Berlim,germanófilo convicto,sem esconder a intenção do seu governo fazer a paz.Nesse ponto deveria fazer o que a maioria da população pensava sobre  a razão de os
nossos rapazes irem morrer tão longe e aqui se viver cada vez pior. O Sidonismo criou uma situação delicada no CEP com uma divisão clara entre os belicistas e os pacifistas nos graduados
e a partir daí,sem oficiais,os homens foram integrados em unidades francesas e britânicas,enquanto os oficiais leais levaram outro golpe na sua determinação.


A Kaiserschlacht induziu na guerra o sentido da urgência em bater os ingleses antes da chegada dos americanos o que,na frente ocidental seria o fim da guerra não fosse dar-se o colapso
russo no leste.No entanto as forças europeias no teatro da guerra nunca superaram as imensas baixas ocorridas,deixando os norte americanos donos e senhores no terreno.


Não considero a guerra no mar "irrelevante."Tratava-se de outra frente de combate susceptível de desequilibrar o esforço de guerra.


Na África  Oriental deu-se a parir de 1914 a primeira guerra de guerrilhas do continente africano.Sob o comando Von Lettow Vorbeck umas dúzias de quadros alemães  acolitados por negros escolhidos
nas tribos mais guerreiras,desencadearam uma guerra de movimento para deitar a mão a água,alimentos,munições e armas.Dado a Royal Navy ser dona dos mares poucas ajudas eram de esperar
da Alemanha empenhada em várias frentes.O principal  fornecedor dos "partisans"era a Inglaterra (Batalha das Abelhas) e foi em pequena escala Moçambique.Quando Von Lettow entrou em Moçambique
levou o que lhe apeteceu,deu uns empurrões aos portugueses e foi para a hoje Tanzania.Von Lettow,já  depois da rendição da Alemanha continuou a guerra até receber ordens de Berlim.É mais um caso de
olvido,no caos que se seguiu à guerra,pois Von Lettow merece figurar  a par da elite  de generais que travaram o combate no terreno.
CR
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: HSMW em Maio 24, 2013, 10:37:27 pm
:Soldado2:
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Lusitano89 em Abril 17, 2014, 01:58:52 pm
AR lembra portugueses que participaram na batalha de La Lys


O Parlamento exprimiu hoje o seu "profundo reconhecimento" aos soldados portugueses que participaram na batalha de La Lys, na I Guerra Mundial, num voto que teve a oposição do BE e a abstenção do PCP e do PEV. As bancadas do PSD, do PS e do CDS-PP votaram favoravelmente o voto subscrito por deputados sociais-democratas e socialistas.

"Num gesto pela participação valerosa dos militares portugueses na batalha La Lys e na I Grande Guerra, a Assembleia da República exprime um profundo reconhecimento a todos os portugueses que defenderam a liberdade da França e da Europa, e por ela deram a sua vida. O recurso à guerra nunca é uma solução. O exemplo desses valerosos soldados deve servir sempre para isso nos recordar", lê-se no voto.

No voto recorda-se que no passado dia 12 de Abril, numa homenagem à participação dos soldados portugueses na batalha de La Lys, a 9 de Abril de 1918, foi erguido um monumento no cemitério militar português de Richebourg e no município de La Couture.

"É, por isso importante que também em Portugal haja um reconhecimento adequado do valor daqueles portugueses que, num contexto nacional e internacional complexo e instável, combateram em condições muito difíceis e precárias, mas que defenderam até aos limites da resistência humana a missão que lhes foi destinada", lê-se no voto.

Trata-se, é ainda referido, de "uma forma de os resgatar ao esquecimento e de honrar os que estiveram nos campos de batalha e que foram vítimas dessa guerra. É também uma forma de honrar as suas famílias e descendentes".

Mais de sete mil portugueses morreram na batalha de La Lys.

As bancadas do PCP e do BE anunciaram a apresentação de declarações de voto.

Lusa
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Abril 17, 2014, 06:38:32 pm
Da Introdução  do livro "Os fantasmas do Rovuma"  de Ricardo Marques retiro as seguintes considerações:

 
Citar
As páginas que se seguem contam a história de uma guerra de que ninguém fala.Não se comemora,não enche páginas de jornais,e salvo raras,mas boas,
 excepções,é tratada em meia dúzia de linhas nos livros de História. Ross Anderson, um dos maiores especialistas do tema chamou á Frente da  África Oriental
 a Frente Esquecida. E com razão.Um século depois, ainda há muito por saber,muitos pontos por ligar,muitas perguntas sem resposta.No final de 1917,depois de
um breve ensaio  meses antes,com as tropas alemãs prestes a entrar definitivamente em território português,e as  inglesas em número muito superior atrás delas
uma real invasão estrangeira que não sucedia desde Napoleão e que nunca mais se repetiu,um oficial alemão resumia  a guerra africana de forma divertida: Os
ingleses perseguem-nos a nós e nós perseguimos os portugueses.A simplicidade tem destas coisas. A  verdade  é que tudo correu mal aos portugueses.Na Frente
 e na Retaguarda.As constantes mudanças de governo e a instabilidade política em Lisboa sentiam-se a milhares de quilómetros.Em África as condições não po-
diam ser piores. Os soldados morriam às centenas  sem darem um tiro,sem saírem da base,atacados por paludismo,disenteria e sífilis. Outros morriam de cansa-
ço nas marchas de milhares de quilómetros pela selva,sem outro objectivo  que não fosse andar.Depois , havia os alemães  comandados por um estranho general
 que  insistia em viver do mato e do que roubava ao inimigo e que optava por uma mobilidade extrema das suas reduzidas forças para atacar  as  enormes colu-
nas  adversárias. Havia  também leões,formigas, e elefantes e toda a espécie de mosquitos capazes de matar um homem. Contra tudo isto Portugal  mandava
 soldados indisciplinados, mal preparados,com escassa formação militar, que se recusavam a tomar medicamentos, que bebiam àgua  sem ser fervida, que passa-
vam fome e sede,que andavam rotos e doentes.E era com estes homens,comandados por oficiais que não  conheciam o terreno  nem os hábitos das populações
 que em Lisboa se contava  para invadir o território alemão,primeiro, e,para garantir que os alemães não  invadiam o território português,depois. Falharam
ambas.
     

                Tudo isto configura uma imagem deprimente e  confirma o que já se suspeitava: falta de preparação militar,ausência de patriotismo, e, ignorância
                de objectivos.

                 Mais uma vez demos ao mundo uma lição de como  as coisas  não se fazem.E,nós, aprendemos a lição?
                                                                                                                                                                                                                              cr
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: mafets em Abril 17, 2014, 08:56:56 pm
Citação de: "Carlos Rendel"
Da Introdução  do livro "Os fantasmas do Rovuma"  de Ricardo Marques retiro as seguintes considerações:

 
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As páginas que se seguem contam a história de uma guerra de que ninguém fala.Não se comemora,não enche páginas de jornais,e salvo raras,mas boas,
 excepções,é tratada em meia dúzia de linhas nos livros de História. Ross Anderson, um dos maiores especialistas do tema chamou á Frente da  África Oriental
 a Frente Esquecida. E com razão.Um século depois, ainda há muito por saber,muitos pontos por ligar,muitas perguntas sem resposta.No final de 1917,depois de
um breve ensaio  meses antes,com as tropas alemãs prestes a entrar definitivamente em território português,e as  inglesas em número muito superior atrás delas
uma real invasão estrangeira que não sucedia desde Napoleão e que nunca mais se repetiu,um oficial alemão resumia  a guerra africana de forma divertida: Os
ingleses perseguem-nos a nós e nós perseguimos os portugueses.A simplicidade tem destas coisas. A  verdade  é que tudo correu mal aos portugueses.Na Frente
 e na Retaguarda.As constantes mudanças de governo e a instabilidade política em Lisboa sentiam-se a milhares de quilómetros.Em África as condições não po-
diam ser piores. Os soldados morriam às centenas  sem darem um tiro,sem saírem da base,atacados por paludismo,disenteria e sífilis. Outros morriam de cansa-
ço nas marchas de milhares de quilómetros pela selva,sem outro objectivo  que não fosse andar.Depois , havia os alemães  comandados por um estranho general
 que  insistia em viver do mato e do que roubava ao inimigo e que optava por uma mobilidade extrema das suas reduzidas forças para atacar  as  enormes colu-
nas  adversárias. Havia  também leões,formigas, e elefantes e toda a espécie de mosquitos capazes de matar um homem. Contra tudo isto Portugal  mandava
 soldados indisciplinados, mal preparados,com escassa formação militar, que se recusavam a tomar medicamentos, que bebiam àgua  sem ser fervida, que passa-
vam fome e sede,que andavam rotos e doentes.E era com estes homens,comandados por oficiais que não  conheciam o terreno  nem os hábitos das populações
 que em Lisboa se contava  para invadir o território alemão,primeiro, e,para garantir que os alemães não  invadiam o território português,depois. Falharam
ambas.
     

                Tudo isto configura uma imagem deprimente e  confirma o que já se suspeitava: falta de preparação militar,ausência de patriotismo, e, ignorância
                de objectivos.

                 Mais uma vez demos ao mundo uma lição de como  as coisas  não se fazem.E,nós, aprendemos a lição?
                                                                                                                                                                                                                              cr

O principal objectivo da entrada de Portugal na primeira grande guerra foi o dinheiro, vulgo carcanhol, pilim, massa, bagalho  :twisted:
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2F0%2F06%2FWorld_War_I_in_East_Africa.jpg&hash=98d7b1989da21b509930c5b370f4e0cb)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F-KQf2i5Um_yA%2FUpN7pnun5mI%2FAAAAAAAAd9k%2FpN5QC2JnsE4%2Fs640%2FNegumano.jpg&hash=4af525af313adeed2d0af205b80e4028)
http://es.wikipedia.org/wiki/Teatro_africano_de_la_Primera_Guerra_Mundial
Agora, em África e apesar dos seus problemas Portugal manteve os alemães pelo menos ocupados e com tropas envolvidas que se não estivessem nas possessões portuguesas estariam noutro lado qualquer (Aliás, esta sempre foi a visão de Gen. Vorbeck quanto Às forças principalmente inglesas). Além disso é preciso perceber que a frente africana nada teve a ver com as frentes europeias, pois foi pautada por alta mobilidade e tácticas de guerrilha (as doenças tropicais causarem problemas a todas as forças não apenas às portuguesas, embora os alemães com maior numero de forças recrutadas entre os nativos sofressem assim menos que os europeus). E Portugal, quando foi chamado a combater novamente em África, mesmo menos bem preparado e com meios limitados, nada deve neste tipo de combate, mesmo às super-potências com logística, treino e armamento completamente diferentes (basta ver a actuação e as baixas portuguesas na guerra colonial em comparação com outros países em conflitos semelhantes).  :wink:
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.arqnet.pt%2Fimagens2%2Fph_exped.jpg&hash=4e5f7704440e3c0e4e3db7a8d78167cf)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F__9z_DDhipVg%2FTCWbQTI03iI%2FAAAAAAAAAFA%2FyLoKRixyo68%2Fs320%2F200px-Prisioneiros_ingleses_portugueses_09_04_1918.jpg&hash=9c3699911188e65246c0589a929cfcd7)
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A força expedicionária Portuguesa a Embarcar. Na imagem de baixo prisioneiros ingleses e portugueses capturados pelos alemães
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimage.slidesharecdn.com%2Fguerracolonial-130601112509-phpapp02%2F95%2Fslide-1-638.jpg%3Fcb%3D1370103962&hash=d41c51bf11d404a2d497029625842b21)

Cumprimentos
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Carlos Rendel em Abril 19, 2014, 11:18:34 pm
Citando mafets :
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O principal objectivo da entrada de Portugal na primeira grande guerra foi o dinheiro,vulgo carcanhol,,pilim,massa,bagalho.

As razões da entrada de Portugal na 1ª Grande Guerra foram ,alegadamente  provar o nosso "europeísmo" e a esperança de nos convidarem para a mesa do festim,após
a derrota dos alemães,diga-se  aumentar  Moçambique à custa da África  Oriental Alemã. Aliás, as provocações do governo luso  foram várias,com vista a uma declaração
de guerra,que  apesar de tudo só apareceu quando o resultado do conflito já era previsto.Não compreendo é a lógica de fazer os alemães  pagarem as dívidas dando cabo
deles.

Ainda citando mafets:
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Agora em  África e apesar dos seus problemas,Portugal manteve os alemães  pelo menos ocupados e com tropas envolvidas que se não estivessem nas possessões portuguesas estariam noutro lado qualquer.
Citar



Vejamos:  O Estado Maior do Exército  alemão solicitou ao gen. Lettow Vorbeck que continuasse a lutar para  segurar em África o máximo de tropas britânicas ou das
colónias.   Dada a situação de escassez de homens e mantimentos Lettow  executou a primeira guerra de guerrilha no continente africano,sendo hoje  considerado dos
melhores generais da I guerra.E os portugueses ? Além de escaramuças,quando os homens de Von Lettow entravam em Moçambique,aguardavam uma forte  escorregade-
la dos germânicos  para se lançarem e  dilatarem o Império.

Por outro lado, concordo que se os alemães não estivessem nas possessões portuguesas estariam noutro lado qualquer.

Cumprimenta  cr
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: mafets em Abril 20, 2014, 12:12:29 am
Citação de: "Carlos Rendel"
Citando mafets :
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O principal objectivo da entrada de Portugal na primeira grande guerra foi o dinheiro,vulgo carcanhol,,pilim,massa,bagalho.

As razões da entrada de Portugal na 1ª Grande Guerra foram ,alegadamente  provar o nosso "europeísmo" e a esperança de nos convidarem para a mesa do festim,após
a derrota dos alemães,diga-se  aumentar  Moçambique à custa da África  Oriental Alemã. Aliás, as provocações do governo luso  foram várias,com vista a uma declaração
de guerra,que  apesar de tudo só apareceu quando o resultado do conflito já era previsto.Não compreendo é a lógica de fazer os alemães  pagarem as dívidas dando cabo
deles.

Ainda citando mafets:
Citar
Agora em  África e apesar dos seus problemas,Portugal manteve os alemães  pelo menos ocupados e com tropas envolvidas que se não estivessem nas possessões portuguesas estariam noutro lado qualquer.
Citar

Vejamos:  O Estado Maior do Exército  alemão solicitou ao gen. Lettow Vorbeck que continuasse a lutar para  segurar em África o máximo de tropas britânicas ou das
colónias.   Dada a situação de escassez de homens e mantimentos Lettow  executou a primeira guerra de guerrilha no continente africano,sendo hoje  considerado dos
melhores generais da I guerra.E os portugueses ? Além de escaramuças,quando os homens de Von Lettow entravam em Moçambique,aguardavam uma forte  escorregade-
la dos germânicos  para se lançarem e  dilatarem o Império.

Por outro lado, concordo que se os alemães não estivessem nas possessões portuguesas estariam noutro lado qualquer.

Cumprimenta  cr
O "festim" por muito que incluísse razões imperiais, nacionalistas, de honra com a velha aliança inglesa, etc, conforme a corrente, também olhava e muito para o dinheiro. Basta ver quanto Portugal pedia quando se sentou à mesa das negociações, já que depois da guerra ainda estava mais falido do que quando entrou.
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.arqnet.pt%2Fimagens2%2Fph_manif14.jpg&hash=628c0b9f451fd0f911d2b0b645823e77)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2Fa%2Fab%2FEmbarque_tropas_para_angola_1.jpg&hash=1333bc5fa332a67ea804189b72a9e9d3)
Como em tudo existiam os que em 1914 já pediam a entrada de Portugal na Guerra. Na primeira imagem vemos a manifestação de apoio à entrada de Portugal na Guerra, realizada em 7 de Agosto de 1914, na Avenida das Cortes em Lisboa.  
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Ftimashby.com%2Fwp-content%2Fuploads%2F2012%2F07%2Fvon-Lettow2.jpg&hash=6678eaa69310443aa042ad0687255d91)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.jpires.org%2Fwp-content%2Fuploads%2F2013%2F07%2Flettowvorbeckportrait.jpg&hash=feec243259d13609aa16b0bb4a8bc28b)
Citar
A master of guerrilla warfare, General von Lettow-Vorbeck lived by a warrior’s code of chivalry embodying honor, respect for one’s enemies, and humanitarian treatment of his men as well as civilians.  During a world war in which the U.S. Army actively discriminated against black soldiers, von Lettow-Vorbeck treated his African Askaris no differently from white Germans under his command.  
Em parte explica o porque de o General von Lettow-Vorbeck ter sido muito bem sucedido e de Portugal muito pouco ter feito para o combater e poder ascender a outros voos (a guerra de guerrilha no futuro verá por diversas vezes grandes e poderosos exercitos vergados à vontade de grupos de homens menos preparados e mais mal armados  :wink: ). Além de um estilo de guerra que nenhum militar português conhecia e estava preparado para combater ainda possuía nas suas fileiras nativos que conheciam bem o terreno e tinham maior resistência às doenças tropicais. Mesmo os britânicos, mas bem preparados, treinados e com conhecimentos neste tipo de conflitos que vinham pelo menos desde a guerra da independência americana, tiverem problemas com estes 300 homens. Imaginemos que em vês de atacar e abastecer-se à conta dos portugueses o faziam exclusivamente com os ingleses, qual o número que estes últimos teriam de aumentar os efectivos para apanhar Von Lettow e os seus Askari?
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Ftimashby.com%2Fwp-content%2Fuploads%2F2012%2F07%2FAskari-on-March.jpg&hash=a60341986cf27fd1a7277707480b54fe)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Ftimashby.com%2Fwp-content%2Fuploads%2F2012%2F07%2FAskari-in-car1.jpg&hash=adff4c354f488f6d16ab7dfc54d0b32e)

http://timashby.com/the-german-general-who-told-hitler-to-go-screw-himself/

Saudações
Título: Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
Enviado por: Lusitano89 em Abril 09, 2021, 03:16:33 pm
(https://images2.imgbox.com/4c/ee/NegWqoB0_o.png)