Sines pode receber gás americano mais barato

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Cabeça de Martelo

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Sines pode receber gás americano mais barato
« em: Agosto 19, 2014, 03:49:11 pm »

O secretário de Estado da Energia revela que o mercado ibérico vai ter acesso a gás norte-americano com preços bastante inferiores ao gás natural africano.



Portugal "está em condições de poder receber gás norte-americano - muito mais barato que o gás natural de origem africana ou russa - através do terminal portuário de Sines", revela ao Expresso o secretário de Estado da Energia, Artur Trindade.

O governante explica que esta nova alternativa de abastecimento de gás reduz a dependência ibérica e europeia face aos produtores tradicionais, sobretudo em relação às empresas de energia russas que controlam boa parte dos fornecedores de gás que abastecem a Europa.

Num momento em que a tensão nas relações entre a União Europeia e a Rússia aumentou por causa da crise na Ucrânia - o contencioso já envolve o embargo russo aos produtos agrícolas europeus -, Artur Trindade explica que "podemos tirar partido dos frutos da última visita oficial aos EUA, em que o Governo português promoveu, com sucesso, um encontro entre as empresas de energia que operam em Portugal e os fornecedores de gás não convencional norte-americanos".

Preços mais baixos


"O mercado do designado shale gas, ou gás de xisto, tem preços muito mais baixos que os que são praticados para o gás natural na Europa e constitui uma boa base para ter fornecedores alternativos de gás destinado aos consumidores ibéricos", explica Artur Trindade.

Estes contactos não se ficaram pelas palavras e foram firmados contratos de abastecimento. "Um dos primeiros contratos foi firmado pela Endesa, que poderá começar a receber gás norte-americano a partir de 2016, o que no setor do gás é um prazo muito curto", refere o secretário de Estado.

"Sines é um porto com capacidade ideal para receber este gás, que depois poderá ser distribuído pela rede de gasodutos existente em Portugal e Espanha, com a vantagem deste gás ter preços muito convidativos para os consumidores do mercado ibérico", adianta Artur Trindade.

Reduzir e uniformizar preços do gás


O grande aumento da extração de gás não convencional nos EUA - habitualmente referido como gás de xisto, também extraído de solos de ardósia - contribuirá para reduzir a uniformizar o preço do gás a nível mundial, refere a seguradora Crédito y Caución no estudo "Gas Market Outlook". Para a convergência dos preços do gás a nível mundial contribuirá igualmente o aumento da distribuição do gás natural liquefeito (GNL), considera a seguradora.

Ao contrário do mercado dos produtos petrolíferos, que está globalizado, o mercado do gás tem atualmente grandes diferenças de preços regionais, com os países asiáticos a pagaram o gás por um preço seis vezes mais elevado que nos Estados Unidos, onde o baixo custo do gás de xisto tem vindo a pressionar a queda de preços de mercado.

A Crédito y Caución considera que nos próximos anos vai assistir-se a uma convergência de preços do gás, levando à uniformização dos seus custos em todo o mundo. Por enquanto, não existe um mercado global para o gás, dividindo os grandes grupos de consumidores e três grandes mercados regionais que não se encontram ligados entre si, designadamente, os Estados Unidos, a Ásia e a Europa, sendo neste último mercado que se praticam preços intermédios.

Rússia controla 26% do mercado mundial de gás


A Rússia controla 26% do comércio mundial de gás através de gasodutos, sendo a principal fonte para os consumidores europeus. Os Estados Unidos estão interligados ao Canadá e ao México. A região mais recente no mercado do gás é a Ásia, que produz 12% do produto extraído, embora já seja responsável pelo consumo de 22% do gás mundial.

Foram precisamente as crescentes necessidades de consumo da Ásia que motivaram o desenvolvimento da tecnologia alternativa ao gás canalizado e transportado pela via dos gasodutos, e que é o GNL, que tem custos superiores e implica o arrefecimento do gás a temperaturas muito negativas (até -162ºC) e que alteram o seu estado gasoso para líquido, reduzindo o seu volume 600 vezes.

O GNL começou a ser produzido no início da I Guerra Mundial - em 1914 - mas só começou a ser utilizado em grande escala em 1964, pela Argélia, para poder abastecer os mercados francês e italiano. A Crédito y Caución diz que atualmente "o GNL corresponde a três quartos do comércio de gás entre continentes, especialmente do Médio Oriente à Ásia."

EUA com energia mais barata


Segundo o estudo, "os preços do gás na Ásia triplicaram e são atualmente os mais elevados do mundo, enquanto na Europa os preços do gás apenas duplicaram e, ao invés, nos Estados Unidos, os preços não deixaram de cair".

"Desde 2005, a produção de gás natural nos Estados Unidos acumulou um crescimento de 26% e esse é um dos principais fatores que explica esta evolução com preços favoráveis", refere o estudo. A extração de gás de xisto e de ardósia nos EUA é feita por perfuração horizontal, com fratura hidráulica de rochas, e "tem permitido aumentar a sua produção, passado dos 11 biliões de metros cúbicos em 2000 para os 287 biliões em 2012", adianta o estudo.



Ler mais: http://expresso.sapo.pt/sines-pode-rece ... z3AqjtIxiB
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Cabeça de Martelo

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #1 em: Agosto 19, 2014, 06:07:04 pm »
Como ainda ninguém pegou neste tópico deixo as seguintes questões:

1 -  Será que é mesmo possível abastecer as necessidades da UE através de Portugal?

2 - Será que o preço do gás seria mesmo competitivo?

3 - Será que há vontade da UE para isso?

4 - ...
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Edu

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #2 em: Agosto 20, 2014, 05:32:39 pm »
Bem há logo uma consequência que salta à vista (mesmo que não se concretize o "negócio") que é a pressão politica que é feita sobre a Rússia, só por este facto os EUA vão ter todo o interesse em explorar essa hipótese.  

No entanto não me parece que os "grandes" da UE deixem ficar Portugal com o monopólio ou com uma parcela muito grande da recepção do gás. A concretizar-se a espanha tentará certamente colher a sua quota parte.
« Última modificação: Agosto 20, 2014, 11:42:20 pm por Edu »
 

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FoxTroop

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #3 em: Agosto 20, 2014, 07:19:55 pm »
Citação de: "Cabeça de Martelo"
Como ainda ninguém pegou neste tópico deixo as seguintes questões:

1 -  Será que é mesmo possível abastecer as necessidades da UE através de Portugal?
Com muitos milhões de milhões de € de investimento só em terminais nos USA e em Portugal, fora ter de ligar isso à rede europeia (que até é o mais barato)

2 - Será que o preço do gás seria mesmo competitivo?
Não, justamente por causa do investimento em terminais.

3 - Será que há vontade da UE para isso?
Se houvesse e fosse realmente mais barato já estariamos a receber esse tipo de gás vindo do Qatar

4 - ...
 

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Edu

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #4 em: Agosto 20, 2014, 11:48:28 pm »
Relativamente ao investimento em terminais penso que os EUA já o fizeram em parte ou mesmo em grande parte.

A questão é o investimento em Portugal. Seria Portugal capaz de fazer esse investimento ou teria de ser com fundos externos?

Caso fosse com fundos externos, os países de origem (UE) desses fundos não teriam eles interesse em ter os ditos terminais?
 

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Cabeça de Martelo

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #5 em: Agosto 21, 2014, 10:53:48 am »
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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FoxTroop

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #6 em: Agosto 21, 2014, 01:08:19 pm »
Citação de: "Edu"
Relativamente ao investimento em terminais penso que os EUA já o fizeram em parte ou mesmo em grande parte.

A questão é o investimento em Portugal. Seria Portugal capaz de fazer esse investimento ou teria de ser com fundos externos?

Caso fosse com fundos externos, os países de origem (UE) desses fundos não teriam eles interesse em ter os ditos terminais?

Não, os USA teriam de investir biliões na construcão de terminais de processamento para LNG de modo a ser transportado. Esses terminais não se constoem em dois ou 3 anos, seria um investimento para 7 anos a uma década e os mesmo teria de ser feito do lado de cá. Esses terminais de liquidificação do gás e de gaseificação do gás são extremamente caros e complexos.

Ou seja, LNG "made in USA" não será possível em quantidades minimas que permitam diversificar dos russos em menos de 5 anos a 10 anos e muito menos será barato e ainda muito menos países como a Holanda irão permitir que países como Portugal ficar com a fatia mais grossa do bolo. Sempre que se alvitra essa possibilidade para ameaçar os russos, eles dificilmente conseguem conter as gargalhadas.
 

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Edu

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #7 em: Agosto 21, 2014, 01:56:36 pm »
Citação de: "FoxTroop"
... e ainda muito menos países como a Holanda irão permitir que países como Portugal ficar com a fatia mais grossa do bolo.

Isso de facto parece-me o maior entrave a que o gás passe por Portugal, seria um negocio demasiadamente importante para países como a holanda e até mesmo a espanha ficarem calados e não exigirem que a transfega se fizesse nos seus portos.

Já relativamente aos terminais lembro de ler já não sei onde que os EUA tinham construido terminais de gás natural que inicialmente iriam servir para receber gás mas que desde que o país está a produzir grandes quantidades de gás os mesmos iriam de facto servir para exportar gás. Não me recordo já onde vi essa noticia nem a consigo confirmar neste momento, mas fico com a ideia que os terminais já existem ou já estão a ser construidos pelos EUA.
 

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FoxTroop

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Re: Sines pode receber gás americano mais barato
« Responder #8 em: Agosto 22, 2014, 11:22:56 am »
Sim, os USA já construiram e estão a construir terminais, mas de distribuição. Os terminais para liquidificação do gás não estão construidos nem há planos sólidos sobre isso. Mais uma vez friso que esses terminais de tratamento são muito caros e complexos além de demorarem anos a serem construidos. Do mesmo modo que cá teriam de ser construidos terminais de gaseificação de modo a que o gás fosse depois colocado na rede e, de novo, a questão do enorme custo e tempo.

Mesmo que os USA conseguissem um produção capaz de os servir a eles e ao mesmo tempo alimentar a Europa a preços que competissem com os russos, a janela de tempo para a criação de uma rede capaz seria na ordem de uma década.