Fonte: AbruptoTREINOS E TESTES DO PCP
Não são só os futebolistas que andam em treinos e testes, o PCP também. Não em Viseu, mas no Porto. O PCP é o partido português com maior experiência na agitação, na manifestação, na concentração “espontânea” ou não, na conflitualidade de todo o tipo. Daqui não vem mal nenhum ao mundo, desde que tudo se passe na legalidade. Fazer manifestações, greves, protestos é uma marca típica da democracia e uma saudável sociedade contém uma dose considerável de actos de protesto cívico, e, desse ponto de vista, a sobrevivência da “ordem” e do “respeitinho” salazaristas ainda se revela na demonização desses actos.
O PCP sabe que a emergência de um “movimento social” (palavra de costas largas) com sucesso exige uma gestão muito cuidada dos avanços e recuos, e o melhor exemplo disso foi a componente sindical da luta dos professores, em que desde o crescendo da agitação até ao recuo organizado, tudo foi cuidadosamente medido. E era difícil, porque o PCP sabe melhor conduzir lutas que caibam nas baias sindicais, ou seja lutas minoritárias e limitadas, do que um movimento que cresceu mais do que a capacidade dos sindicatos de o controlar e lhes escapava à máquina. Ou seja, um movimento perigoso, pasto para moderados fortes ou esquerdistas sem freio, os dois riscos que o PCP não gosta de correr.
Por isso, é interessante ver o PCP a treinar-se para “novas lutas”, com o movimento contra o pagamento das SCUTs no Norte, uma marcha lenta na estrada (aceitável), seguida de uma tentativa de criar uma paralisação no centro do Porto (já menos aceitável). À frente da manifestação, gente conhecida do PCP, a medir o pulso às coisas, prestes a recuar, caso começassem a haver problemas que virassem a população contra os manifestantes, pronta a puxar a coisa mais para a frente até ao limite da confrontação com a polícia, com as televisões presentes.
Sabem-na toda, estes velhos militantes, a treinar uma variante do boicote da Ponte 25 de Abril, não para já, mas mais para cima das eleições, agora contra o PS e contra alguns dos idiotas úteis socialistas que andaram a brincar a quebrar a lei, porque era contra Cavaco. Eles sabem que é um jogo arriscado, porque a radicalização é uma arma que tanto dispara para a frente como para trás, tanto pode ajudar a consolidar os votos que da esquerda do PS têm ido para o PCP e o BE, como favorecer uma desagregação do PS (que só desejam na medida certa) a favor do PSD. Mas esta direcção do PCP está mais disposta que a anterior a ir mais longe, sente um terreno mais favorável, tem tido sucessos inegáveis. E treina, treina as tropas antes da batalha."
Fonte: AbruptoEstá toda a gente a fazer de conta, a começar pelo governo, que não existe hoje um grave problema de ordem pública em Portugal. Tudo na paralisação das empresas de camionagem é ilegal e ninguém quer saber. Impedir a circulação e bloquear estradas é ilegal, organizar piquetes que impedem com violência os camiões de passar é ilegal, e tudo isto é feito diante dos olhos dos agentes da GNR que passivamente assistem não se sabe bem para quê. Presumo que terão instruções para não prenderem ninguém, para não irem ver de onde vieram as pedradas, para garantir a passagem de quem quer passar e são bastantes os que o desejam fazer. Eu sei que no governo estão os que foram para a Ponte 25 de Abril incitar ao bloqueio e participar nele, mas deixar que o império da força se instale nas ruas e estradas paga-se muito caro. Os sinais que estão a ser dados são todos de fraqueza do estado e da lei.