Economia nacional

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Re: Economia nacional
« Responder #255 em: Julho 14, 2020, 01:32:24 pm »
Quer dizer, um dos grandes problemas de competitividade que as nossas empresas enfrentam é o facto de o escoamento ter de ser feito por camião ou, mais raro, por navio.
Uma das razões do nosso atraso em infraestrutura ferroviária foi e é o lobby e ameaças veladas das ANTRAM além de que as ferrovias não alimentam portagens pornográficas a encher o cu a PPP's.
Podemos discordar, tal como eu discordo, do facto de, por pressão de Espanha, quererem ligar a Madrid, em vez de se apostar numa ligação directa a Vilar Formoso e daí para Hendaia, o  que nos tornará ainda mais periféricos, mas aí estamos sempre pendentes da vontade espanhola, mas é, na minha opinião, um projecto de maior prioridade para a economias nacional que o raio de um aeroporto.

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Ou vamos criar 2 sistemas: Manter o imbróglio actual, cheio de engarrafamentos e fazermos à parte um TGV que só vai servir para levar e trazer mercadorias e turistas?

Creio que os comboios, sejam TGV ou outra coisa qualquer, servem mesmo para isso.........
 

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Re: Economia nacional
« Responder #256 em: Julho 14, 2020, 02:51:45 pm »
Quer dizer, um dos grandes problemas de competitividade que as nossas empresas enfrentam é o facto de o escoamento ter de ser feito por camião ou, mais raro, por navio.
Uma das razões do nosso atraso em infraestrutura ferroviária foi e é o lobby e ameaças veladas das ANTRAM além de que as ferrovias não alimentam portagens pornográficas a encher o cu a PPP's.
Podemos discordar, tal como eu discordo, do facto de, por pressão de Espanha, quererem ligar a Madrid, em vez de se apostar numa ligação directa a Vilar Formoso e daí para Hendaia, o  que nos tornará ainda mais periféricos, mas aí estamos sempre pendentes da vontade espanhola, mas é, na minha opinião, um projecto de maior prioridade para a economias nacional que o raio de um aeroporto.

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Ou vamos criar 2 sistemas: Manter o imbróglio actual, cheio de engarrafamentos e fazermos à parte um TGV que só vai servir para levar e trazer mercadorias e turistas?

Creio que os comboios, sejam TGV ou outra coisa qualquer, servem mesmo para isso.........

Não percebeu o que eu queria dizer. Se vamos apostar no TGV, obviamente vai ser de bitola europeia e é aí que passamos a ter 2 sistemas completamente incompatíveis, comboios que ou só circulam em linhas de bitola ibérica ou só de bitola europeia/TGV!!!!!
E nesse caso vamos passar a ter comboios de mercadorias em bitola europeia, comboios de mercadorias em bitola ibérica e ainda comboios de passageiros de bitola europeia e comboio de passageiros de bitola ibérica.
Mas como somos ricos e até podemos dar-nos a esse luxo de gastar 12 mil milhões (preços de à 15 anos atrás) na construção de raíz de linhas, estações e comboios totalmente incompatíveis com o que temos agora...... vamos deixar de investir no que já temos agora!?!?! Ou vai ser um TGV para cada concelho!?!?

Não tenhamos dúvidas, eu vejo o governo estourar dinheiro na TAP (preparem-se para outro Novo Banco), só este ano já vai em 30 mil milhões a acrescer à nossa dívida, vamos apostar num sistema incompatível com o que temos?

Investindo no TGV, vamos ter dinheiro para manter os milhares de km que a CP já tem? Vai tudo para o lixo? É que a CP normalmente tem prejuízos anuais a rondar os 200 milhões e já tem uma dívida acumulada de quase 3 mil milhões.

Alerto apenas para isso, se a actual CP não é rentável, o TGV vai ser? E já agora se alguém conseguir, compatibilizar o futuro TGV com as os aeroportos (que já não são nossos) e até com a TAP!
 
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Re: Economia nacional
« Responder #257 em: Julho 14, 2020, 03:02:15 pm »
O plano tem aspectos muito interessantes que ajudam a economia, mas tem outros que são cópia chapada da teimosia PS, como a aposta no TGV!!!!!!

Antes de se fazer contas a quanto custa este plano, é preciso recordar que o estado vai endividar-se pelo menos mais 30 mil milhões de euros só este ano a acrescer à divida gigantesca que já tínhamos. E como a riqueza do país vai caír, quer isto dizer que o endividamento em percentagem, medida mais exacta para vermos o colosso do nosso endividamento em comparação com a riqueza criada para..... pelo menos pagar os juros.

Alguém sabe quanto custa por exemplo este plano?

Vou referir só o TGV.
O Sócrates quando apostou no TGV, justificava que servia para os espanhóis virem passar férias a Portugal!!!!! Era essa a justificação para gastarmos 11 ou 12 mil milhões de euros! Chegou mesmo a adjudicar o arranque da obra, que foi parado logo a seguir.
Em 2017 o amigo Costa volta a insistir e agora aposta apenas do TGV de mercadorias!!!!! Mais tarde vem com certeza o de passageiros......

Porque a fixação do PS no TGV? Vai concorrer com a TAP? (para que é que salvamos a TAP então?) É para transportar mercadorias para a Europa? E passageiros?
Temos um enorme problema já com 100 anos, devido à decisão absurda por parte de Espanha em criar uma bitola diferente do resto da Europa (distãncia entre carris maior em 23 centímetros relativamente ao resto da Europa). Com essa decisão, Portugal e Espanha ficaram isolados do resto da Europa (reza a história que tal decisão não era por receio de uma invasão francesa a Espanha..... de comboio, mas sim porque os Engenheiros espanhóis pensavam que teriam de ter locomotivas mais largas, com caldeiras a carvão mais largas para gerarem maior potência para vencerem as montanhas!!!!!!).

Importa referir que TGV significa um comboio de alta velocidade (Train a Grand Vitesse) e que circula a mais de 280Km/h. Tem custos de construção, manutenção e locomoção estratosféricos e não vejo como possa ser rentável. Se a nossa actual CP não é rentável, o futuro TGV vai ser?

Pergunto eu, não é melhor construirmos linhas novas que permitam aproveitar aquilo que já temos (mesmo que sejam as famosas travessas especiais que permitam de futuro mudar para a bitola europeia)? O nosso Alfa Pendular, não sendo um comboio de alta velocidade, sempre consegue circular a 230Km/h. Só não o faz porque são poucas as linhas modernizadas que o permitam!!!!!! Até as nossas locomotivas Siemens 5600 conseguem circular a 220Km/h...... se as linhas permitissem, quer a transportar mercadorias como passageiros!!!! Por esse motivo não percebo a fixação no TGV que depois não podia ser aproveitado para aquilo que já temos, passávamos a ter as actuais linhas de bitola ibérica e incompatíveis com o novo TGV!!!!!!!
Não percebo esta fixação!
O actual pendular, se tivessemos linhas novas e quádruplas em vez de duplas, para evitar os engarrafamentos dos cruzamentos com os comboios regionais e de mercadorias, conseguia perfeitamente fazer Lisboa - Porto em menos de 2 horas, com apenas umas 6 ou 8 paragens!!!!! Pergunto eu, isso é mau?

Ou somos ricos e vamos já criar do zero uma linha de bitola europeia e substituímos tudo!? Comboios, linhas e até as obras nas paragens (os espertos dos franceses criaram um novo TGV mais largo que obrigou a fazerem obras em 1300 estações de comboios: https://www.dinheirovivo.pt/empresas/cp-francesa-gasta-15-mil-milhoes-em-1800-novos-comboios-que-nao-cabem-nas-estacoes/), caso contrário e ao contrário dos franceses, ficamos com os comboios afastados das plataformas de embarque/desembarque!!!!!

Ou vamos criar 2 sistemas: Manter o imbróglio actual, cheio de engarrafamentos e fazermos à parte um TGV que só vai servir para levar e trazer mercadorias e turistas?

https://www.publico.pt/2017/09/26/economia/noticia/a-bitola-na-rede-ferroviaria-portuguesa-e-um-problema-1785629
https://www.infraestruturasdeportugal.pt/pt-pt/ferrovia-2020
https://sol.sapo.pt/artigo/603695/tgv-avanca-mesmo

Viajante,

É preciso ter em conta que os planos para uma rede europeia de comboios de alta velocidade não apareceram do nada. Fazem parte duma estratégia criada pela Comissão Europeia. Obviamente que dentro do PS há muita gente a querer "mamar" à custa deste projecto, mas há uma pressão também proveniente de Bruxelas para criar uma rede europeia de comboios de alta velocidade. Mesmo depois de em 2018 ter existido um "special report" a questionar a estratégia.
https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/themes/infrastructure/studies/doc/2010_high_speed_rail_en.pdf
https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/media/publications/doc/modern_rail_en.pdf
https://op.europa.eu/webpub/eca/special-reports/high-speed-rail-19-2018/en/
https://op.europa.eu/webpub/eca/special-reports/high-speed-rail-19-2018/en/#chapter4

Eu percebo a ideia da UE em uniformizar, mas eu tenho muitas dúvidas a começar sobre o que é estratégico para o país!!!!
A linha do TGV que está traçada para o nosso país, tem 2 ligações a Espanha que lhes interessa a eles bastante, a ligação a Madrid e a Vigo.
Vamos investir pesadamente num novo sistema completamente incompatível com tudo o que tem a actual CP para servir os aeroportos da ANA que nem são nossos?

Depois de investirmos no novo TGV, temos dinheiro para o manter e manter ainda a actual CP que tem prejuízos anuais de 200 milhões!?!?! E que nem sequer tem dinheiro para comprar comboios novos, se estão recordados?!

Eu fico parvo com tantas dificuldades financeiras evidenciadas para mantermos e até modernizarmos o que temos, mas vamos lançar-nos de cabeça num projecto incompatível com o que temos e a custar para cima de 12 mil milhões!!!!!

Afinal há muito dinheiro no estado português!!!!!!!
« Última modificação: Julho 14, 2020, 03:06:42 pm por Viajante »
 

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Re: Economia nacional
« Responder #258 em: Julho 14, 2020, 06:09:39 pm »
Porque não precisamos da TAP

O que traz prestígio a um país é o investimento na formação da população, na saúde e num nível de vida elevado. Não é ter a bandeira pintada numas quantas chapas de alumínio.

Quero começar por resumir o que de seguida vão ler: não só Portugal não precisa da TAP, como a TAP é o arquétipo de uma empresa disfuncional, arcaica, onde reinam o compadrio e as cunhas, e cuja nacionalização é dos maiores erros que o país pode fazer.  Por exemplo, esta injeção de 1,2 mil milhões de euros, que assumidamente não vai ser recuperado, é tanto como 50% do orçamento do Ensino Superior português e não pode ser desperdiçado em recursos não estratégicos. Queria trazer alguns números a um debate onde só há a ardente paixão do patriotismo rococó.

A TAP foi fundada em 1945 para suprir os desejos de conexão ao império colonial. Uma empresa sempre privada e sempre envolta em prejuízos avultados, já que nos últimos 20 anos, apenas deu lucro num, em 2017, possivelmente um resquício de um processo de privatização. Há já uma década, que a TAP está em falência técnica e em suporte de vida constante do Governo português, que se orgulha de ter as ditas bandeiras pintadas na fuselagem. Mesmo em 2018 e 2019, tendo Portugal assistido a um “boom” no turismo, que nos próximos anos muito dificilmente se vai repetir, a TAP apresenta prejuízos recordes, ao mesmo tempo que premeia descaradamente os seus gestores. Este facto deve-se, sem que alguma dúvida haja, à incapacidade de gestão da mesma, pois todas as outras companhias aéreas a operar em Portugal apresentam lucro. As que não o fazem, abrindo falência, são compradas, reestruturadas e depressa integram novas companhias, sem que o cliente sofra de alguma forma. As leis do mercado são simples e sempre foram: havendo  procura, há oferta. Hoje, com as dezenas de companhias aéreas a operar em Portugal, e com sede de expansão, com custo praticamente zero para os contribuintes, porquê sustentar uma empresa que tão mal nos serve?

1 Há quem diga que a TAP é indispensável para unir o país e que presta um serviço insubstituível à população. Na realidade, a TAP pouco ou nada serve a maioria da população. No ano de 2019, no aeroporto do Porto, 81% dos passageiros utilizaram outras companhias aéreas; em Faro são 96.5%; em Ponta Delgada são 84%; no Funchal 73%. A TAP apenas teve hegemonia em Lisboa, com 52% do número de passageiros transportados em 2019 (1). No Porto, a reestruturação prevê três rotas internacionais, às vezes com o argumento confuso de que o Aeroporto Sá Carneiro não é rentável – confuso, pois todas as restantes 29 companhias que operam a partir do Porto são rentáveis num período normal (é por isso que voam para lá, evidentemente). Isto vem de um dos maiores erros que a TAP fez. Em 2016, decidiu mudar grande parte das operações que tinha no aeroporto Francisco Sá Carneiro para a Portela, estabelecendo a Ponte Aérea, alegando que os voos a partir do Porto não eram rentáveis, motivando críticas de Rui Moreira e Pinto da Costa. Se foi alguma guerra interna ou pura negligência é difícil saber, mas pouco depois disso acontecer, a Ryanair e a easyJet entraram em força na Invicta, a primeira destas transportou 34% dos passageiros em 2019, eclipsando os 21% da TAP, e mostrando que procura sempre houve.

Em Faro, a situação é ainda mais gritante: não precisamos de um mestrado em turismo para perceber que uma grande percentagem dos turistas que visitam o Algarve é de nacionalidade britânica. A TAP realiza 0 (zero) voos internacionais, e apenas um voo para Lisboa. Sendo Faro o centro do turismo português, com 20 milhões de dormidas em 2019, é evidente que quase nenhum dos quase 9 milhões turistas estrangeiros lá chegou pela TAP – tinham essa possibilidade, se marcassem uma passagem de 5 dias por Lisboa, um disparate. Logo, é insensato desejar que os habitantes do Sul vejam o dinheiro das suas contribuições investido numa companhia que não beneficia a sua região em praticamente nada.

Nas ilhas, a situação repete-se. Embora a TAP ainda transporte a maioria dos passageiros para o Funchal, vai perdendo terreno para a easyJet e a Transavia, não apresentando um único voo para o estrangeiro (excetuando o Funchal-Sal, que retomou no dia 7). Nos Açores, onde a companhia de bandeira divide a responsabilidade de ligação do arquipélago com a SATA, já perdeu o segundo lugar do pódio para a Ryanair.

Em 2019 passaram pelos aeroportos do Porto e Faro, 13 e 9 milhões de passageiros (2), respetivamente, uma fatia de quase metade do total nacional, não servidos pela TAP. É de acrescentar que, durante anos, o lobby vigente da TAP barrou o estabelecimento de bases de companhias aéreas low cost, que atualmente a superam liminarmente.

No que remete para as ligações a África, a TAP enfrenta cada vez mais concorrência de outras companhias e chega mesmo a apresentar preços menos apelativos do que a Qatar Airways nas suas rotas, não obstante o salto de qualidade desta última.

2 Então e a Ponte Aérea? A TAP optou por concentrar operações num aeroporto sobrelotado, em Lisboa, e com enorme necessidade de reformas severas. A “solução encontrada” seria a de voos constantes a ligar Lisboa e o Porto, mas o produto final são 3 ou 4 voos diários, dispendiosos, a chegar a Lisboa a meio da tarde – o que leva qualquer turista a recusar esta opção, pois para apanhar um voo antes das 15h, com esta “ponte”, só mesmo com máquina do tempo (sábado, dia 22 de agosto: 3 voos da TAP, o primeiro a chegar às 16h45). Mais ainda, qual será a motivação de um habitante do Porto para perder uma hora num voo até Lisboa, mais uma hora em escala (excetuando os atrasos constantes) para depois apanhar um voo de ligação para um dos vários destinos que a TAP oferece na Europa, quando a easyJet, Ryanair, Transavia e Lufthansa oferecem o mesmo destino, com um preço mais barato e sem a necessidade de perder duas horas a viajar na direção errada? Sem falar sequer nos atrasos, que em algumas situações colocam os voos da Ponte Aérea à mesma velocidade que o Intercidades da CP, a ocupação de slots desnecessária na Portela, e o dano que é feito ao ambiente.

3 A fatura exorbitante para os contribuintes é justificada, pois melhora a imagem de Portugal no exterior” – este é um argumento um tanto ridículo, pois mais nenhum país europeu nacionalizou a sua companhia aérea (2019 e antes). A Suíça, um país riquíssimo em comparação com Portugal, deixou deliberadamente a companhia nacional, a Swissair, falir, em 2002. A companhia foi vendida, reestruturada, e em 2019 originou lucros de 540 milhões de euros – sem intervenção estatal. Atrevo-me a dizer que o que define o prestígio do país é o rigor da educação, a qualidade dos serviços de saúde, um salário mínimo elevado e dinamismo. E este último esbarra completamente com um artefacto dos tempos coloniais – diga-se, TAP. Hei-de de desafiar um suíço a vir a Portugal e dizer-lhe “estamos ao vosso nível!”, “Na educação?”, “Não”, “Na economia?”, “Não, mas temos uns aviõezinhos de bandeira que são uma beleza”. Não o iria convencer.


4 A qualidade ímpar da TAP tem de se pagar”: em termos de pontualidade, passo a citar, “TAP é uma das companhias menos pontuais do mundo” onde, de resto, “a maioria das companhias listadas são operadoras “low cost” de longo curso como a Norwegian ou a Air Asia X”(3, 4). Em termos de qualidade, a Skytrax, principal consultora de análise a companhias aéreas do Reino Unido, deu 4/10  à qualidade da TAP, classificando-a como uma companhia 3 estrelas. Em comparação, as low cost EasyJet e Ryanair tiveram ambas 5 em 10 – nada mal, e ficam mais em conta. Vendo a Lufthansa, uma concorrente direta, temos 6/10 e 5 estrelas. Falamos de companhias com qualidade superior à da TAP, a operar em Portugal com preços mais competitivos, e que, novamente, são privadas e não carecem de fundos públicos. Convém também acrescentar que, qualquer pessoa que tenha viajado com alguma regularidade na TAP nos últimos anos, nota a descida de qualidade. Refeições quentes, essas já não existem nos voos para a Europa, e se há qualquer tipo de refeição, esta não passa de uma sandes de 3,5 polegadas, que serve mais de insulto do que sacia a fome.

5 O português deve pagar a TAP, pois tem o direito de utilizar a TAP”: dois terços dos portugueses utilizam outras companhias aéreas devido à maior oferta e preços mais baixos, e essas, ele não foi obrigado a pagar. Acrescento: perante uma crise económica monumental, penso que a preocupação dos portugueses não é utilizar o bem público que é a TAP, mas sim focar nas suas necessidades básicas, quer incluam viajar ou não. Mais ainda, apesar de não haver dados, será que não se pode argumentar que os membros da nossa comunidade emigrante espalhada pela Europa não passaram a poder regressar a Portugal com mais frequência depois do aparecimento das low cost? E os estudantes em Erasmus e demais portugueses deslocados do nosso país?

6 A TAP faz serviço público e isso está à vista durante a pandemia”. É verdade que a TAP repatriou portugueses retidos em Luanda e Maputo, mas não há confusão nenhuma: o custo dos bilhetes foi superior ao já normal elevado (com um bilhete de ida a custar valores acima dos mil euros). O material trazido da China para Portugal veio através da HiFly e de outras companhias, o que não é de estranhar. Qualquer companhia aérea, nesta fase, está pronta a fazer leasing dos seus aviões parados para colmatar as necessidades dos países. Havendo concurso público, o custo desses voos será sem dúvida inferior aos da TAP. Nada contra ajuda humanitária taxada à hora, mas penso que poderíamos pagar apenas o custo do voo e não outros 1,2 mil milhões em cima.

7 É necessário proteger os 10 mil empregos da TAP” : Portugal serve de base de operações para inúmeras companhias aéreas, cujos trabalhadores são cidadãos portugueses e contribuintes. É inaceitável ter preferências e defender que uns devem ser salvos ao mesmo tempo que se despreza completamente os restantes. Este movimento não está restrito a companhias aéreas, pois testemunhamos a subida galopante do desemprego. Acrescento: 1,2 mil milhões de euros para 10 mil corresponde a 120 mil euros por posto de trabalho, o que é absolutamente impensável. Durante o período de  lay-off, a companhia recusou-se mesmo a reduzir os salários ao estipulado pelo Estado e optou por compensar os trabalhadores, uma medida ótima, não fosse ser paga após uns meses pelos milhares de portugueses que não tiveram essa sorte. Mesmo se a empresa falir, os seus bens e trabalhadores serão absorvidos pelas outras companhias, sem necessidade destes gastos.

8 A TAP contribui para 2% do PIB, tanto como 3,5 mil milhões de euros”: é igualmente verdade que as dívidas da TAP, tendo em conta o leasing de aeronaves, ronda igualmente os 3 mil milhões de euros.  A maior parte desta contribuição prende-se com serviços de manutenção e consumo de combustível, que, novamente, podem continuar a existir mesmo com a falência da TAP, ou de forma independente, ou integrando outras companhias. Não é descabido pensar que, se esta é a contribuição da TAP, servindo praticamente só um aeroporto, as outras companhias rentáveis devem ter contribuições da mesma ordem de grandeza, se não superiores. O mesmo pode ser dito das exportações, que a TAP diz serem no valor de 2 mil milhões de euros, mas cada um dos novos A330neo custa (a preços tabelados) 263,8 milhões de euros. Os 21 que a TAP encomendou custam no total 5,535 mil milhões de euros, sem falarmos sequer na compra de outros modelos, combustível, peças, etc.

Então e como proceder nesta crise? Nas palavras do CEO da Ryanair, em entrevista ao Público, “seria melhor distribuído através das várias companhias aéreas que operam em Portugal ,em proporção do seu contributo para a conectividade do país”. Em vez disso, a escolha dos dirigentes do país cinge-se a suportar uma única companhia, com ajudas que em março se estimavam ser de 300 milhões de euros, mas que já vão em 1,2 mil milhões, e que todas as partes envolvidas reconhecem ser impossível pagar nos 6 meses impostos pela UE.

Não nos deixemos enganar. A TAP até poderia ser muito rentável, se fosse feita uma reestruturação, uma que já vem não com anos, mas décadas de atraso, para reverter o que anos e anos de gestão danosa fizeram. E teria de ser uma reestruturação profunda, não fogo de vista, para limpar todas as cunhas, relações de compadrio impregnadas na empresa há décadas e fazer contratos de trabalho que não prejudiquem a empresa. Mas como isso nunca vai acontecer, não fosse a TAP deixar de ser tacho para qualquer que seja o partido no poder, se calhar é altura de abdicarmos da TAP, deste elefante branco, pois, do mesmo modo que não é com a Champions que se melhoram as condições dos trabalhadores de saúde, não é por ter as cores da bandeira nos aviões que somos melhor país ou os que estão lá fora nos veem melhor.

Em suma, favorecer uma empresa falida e não dar um cêntimo a outras companhias aéreas rentáveis e que melhor servem Portugal, especialmente durante uma crise económica onde os fundos são escassos e necessários em outras aplicações, é obsceno, imoral e um atentado às regras do mercado livre, onde a ineficiência, inutilidade e prejuízo são colocados num pedestal em nome do “orgulho” nacional, quando os potenciadores de mudança e ascensão do país são descartados para segundo plano.

Olhando a números e não a paixões, a escolha é clara, como foi para tantos portugueses.

(1) (2) Relatórios trimestrais ANAC 2019

https://observador.pt/opiniao/porque-nao-precisamos-da-tap/

Abraços
« Última modificação: Julho 14, 2020, 06:10:22 pm por tenente »
Quando um Povo/Governo não Respeita as Suas FFAA, Não Respeita a Sua História nem se Respeita a Si Próprio  !!
 
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Re: Economia nacional
« Responder #261 em: Julho 21, 2020, 08:45:00 pm »
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Re: Economia nacional
« Responder #262 em: Julho 21, 2020, 09:48:44 pm »
É tudo para estourar!!!! Aeroportos, TGVs....
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Re: Economia nacional
« Responder #263 em: Julho 21, 2020, 10:31:47 pm »
Infelizmente há várias decisões que apontam sem dúvida para que o actual governo derreta o dinheiro todo sem contemplações! E o facto do Centeno (o cativador) ter ido para o Banco de Portugal, é a cereja em cima do bolo!!!!

Nacionalizar a falida TAP, novo aeroporto (em plena pandemia), TGV (custava à 15 anos pelo menos 12 mil milhões de euros)...... orçamento suplementar de 20 mil milhões de euros a agravar o défice.......

Depois admiram-se quando chegarmos à próxima crise, lá para 2030, estivermos ainda mais endividados e novamente em crise e de chapéu estendido na mão, desconfiem (no norte), da forma como aplicamos o dinheiro dado!!!! E vamos voltar a chamá-los forretas!!!!!
 
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Re: Economia nacional
« Responder #264 em: Julho 22, 2020, 12:02:24 am »
Mas é que a primeira coisa que me passou pela cabeça mal se tornou oficial o acordo da UE, foi precisamente esta dúvida face à nossa incapacidade de gerir a verba. Então aqueles 15 mil milhões a fundo perdido, devem dar para algumas obras públicas. Com jeitinho ainda dá para um mini aeroporto por cada distrito!

Gostava de acreditar que iam ter a decência de usar a verba como deve ser, mas isso é wishful thinking a mais.
 
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Re: Economia nacional
« Responder #265 em: Julho 22, 2020, 07:25:23 am »
Já deve dar para pintar muitas ruas e construir muitos obeliscos em Oeiras
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Re: Economia nacional
« Responder #266 em: Julho 22, 2020, 10:19:50 am »
Se fossemos poupados, ao menos aproveitavamos esta oportunidade única e usavamos os 10,8 mil milhões de euros disponíveis em empréstimos (já que os restantes 45 mil milhões vão ser todos derretidos, não tenho dúvidas), para criarmos um fundo soberano à imagem do que tem a Noruega. Fundo este que seria auto-alimentado pelos dividendos gerados e até acrescentava outras receitas extraordinárias para ir engordando o fundo.

E só quando houvesse uma emergência, é que o estado podia recorrer ao fundo para cobrir despesas extraordinárias (como aconteceu agora).

Só a título de comparação, a Noruega tem um fundo de cerca de 1 bilião de euros (valor do orçamento da União Europeia para o próximo quadro comunitário de 7 anos a distribuir pelos 27 países de 2021 a 2027!!!!!!). Em 2019 este fundo teve um lucro de 30 mil milhões de euros e é a 2ª vez que a Noruega resgata esse valor (normalmente é sempre reinvestido para aumentar o fundo, conjugado com parte das vendas de petróleo que é entregue ao fundo) e mais uns positos. No total a Noruega vai resgatar 35 mil milhões do Fundo para ajudar a economia a ultrapassar esta crise dupla da Noruega (crise do petróleo e do COVID-19).

É um dos bons exemplos que devíamos seguir.
 
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miguelbud

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Re: Economia nacional
« Responder #267 em: Julho 22, 2020, 03:29:55 pm »
Se fossemos poupados, ao menos aproveitavamos esta oportunidade única e usavamos os 10,8 mil milhões de euros disponíveis em empréstimos (já que os restantes 45 mil milhões vão ser todos derretidos, não tenho dúvidas), para criarmos um fundo soberano à imagem do que tem a Noruega. Fundo este que seria auto-alimentado pelos dividendos gerados e até acrescentava outras receitas extraordinárias para ir engordando o fundo.

E só quando houvesse uma emergência, é que o estado podia recorrer ao fundo para cobrir despesas extraordinárias (como aconteceu agora).

Só a título de comparação, a Noruega tem um fundo de cerca de 1 bilião de euros (valor do orçamento da União Europeia para o próximo quadro comunitário de 7 anos a distribuir pelos 27 países de 2021 a 2027!!!!!!). Em 2019 este fundo teve um lucro de 30 mil milhões de euros e é a 2ª vez que a Noruega resgata esse valor (normalmente é sempre reinvestido para aumentar o fundo, conjugado com parte das vendas de petróleo que é entregue ao fundo) e mais uns positos. No total a Noruega vai resgatar 35 mil milhões do Fundo para ajudar a economia a ultrapassar esta crise dupla da Noruega (crise do petróleo e do COVID-19).

É um dos bons exemplos que devíamos seguir.

A ideia nao é má, mas em Portugal isso nao resulta, pois passaria a ser o FSPPDG (Fundo Soberano Portugues Para Desvarios Governamentais), gerido através do Banco de Portugal para dar seriedade á coisa, mas com os administradores sendo ex-politicos associados ao arco da governaçao.

A ideia do Aeroporto de raíz de que falam é o novo em Alcochete ou a conversao da BA6? É que se for o de Alcochete construido modularmente de acordo com o crescimento do trafego aereo para mim faria sentido. Pois o que o estado poderia ganhar com a venda dos terrenos do actual aeroporto pagaria grande parte da obra. 

En relaçao ao TGV, isso é uma decisao de Espanha nao é nossa. Sem a Espanha aceitar seremos apenhas uma ilha ferroviaria.
« Última modificação: Julho 22, 2020, 03:33:34 pm por miguelbud »
 

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dc

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Re: Economia nacional
« Responder #268 em: Julho 22, 2020, 07:05:40 pm »
Já deve dar para pintar muitas ruas e construir muitos obeliscos em Oeiras

Mas é que não duvides que para o ano não vão faltar zonas balneares e zonas ricas remodeladas. Ele é passadiços para bicicletas, passadeiras/lombas coloridas, palmeiras... Pequenas Beverly Hills pelo país!

Oh Viajante, não te ofendas... E falo muito a sério... Alguma vez os nossos políticos teriam pensamento estratégico para criar um fundo desses? O único fundo que conhecem é o dos seus bolsos e o dos amigos, e o buraco sem fundo do NB, TAP, etc.

Agora com o fundo da UE, somos um país rico, pelo menos é esta a mentalidade que muitos vão ter, até à próxima crise. Vai ser esbanjar à grande e à portuguesa.

Nem vou falar nos TGVs, porque aí então é o descalabro.
 

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Get_It

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Re: Economia nacional
« Responder #269 em: Julho 23, 2020, 12:09:07 am »
Só a título de comparação, a Noruega
Esses é que são os verdadeiros Ronaldos da economia e finanças.

Cumprimentos,
:snip: :snip: :Tanque: