Saudações guerreiras.
Caro Doctor Z, parabéns pelo seu novo emprego e muito boa sorte.
Sinceramente não consigo entender essa do olhar com desprezo, inveja ou outro sentimento qualquer menos bom por parte dos “outros” portugueses em relação aos emigrados (portugueses) seja onde for. Durante a minha infância e uma boa parte da adolescência, passei muito tempo na periferia de Coimbra, não muito longe da cidade – aí uns 10 km – portanto, mas já em ambiente rural.
Região que, para quem não conhece, foi sempre também de muita emigração. Talvez não tanta como noutras regiões, mas também foi. Só uma achega. Se não me falha a memória a região de maior emigração em Portugal é a de Viseu. O Concelho de Castelo de Paiva bate recordes.
Por laços de amizade e afinidade entre famílias eu fui criado por uma família de emigrados em França e passei muito momentos felizes da minha infância exatamente com muitos outros membros de famílias inteiras emigradas não só em França, mas também na Alemanha e ainda uns poucos no Canadá (alguns deles na região do Quebeque - estes muito poucos que se contavam pelos dedos de uma mão -, o que só trazia confusão para quem desconhecia as causas, pois havia muita gente a julgar que lá só se falava inglês).
Não me lembro sequer de alguma boca, um piropo, um gesto obsceno sequer, para com toda esta gente que acabo de mencionar. Mas é que não me lembro mesmo de nada, mesmo nada, absolutamente nada, contra seja quem for. O que havia eram alguns desacatos depois do baile. Era já o “vin de bordeaux” e a “Topázio” (cerveja de Coimbra) a trabalhar o juízo, nada mais.
Em relação a essa família - na qual eu a acompanhei para muitos lados - era raro o sítio, o lugar, o arraial do baile da paróquia onde não fossem convidados a jantar ou a almoçar num domingo na casa dos vizinhos, amigos e outros familiares que, não só estavam emigrados também, como os que cá estavam. Eram/são sempre recebidos de braços abertos. Foi graças a eles que ganhei uns centímetros de altura e algum peso extra num curto espaço de tempo por causa da comida, os chocolates e rebuçados e sei lá mais o quê… Era sempre á grande e á francesa.
Eram verões inteiros a percorrer rios e floresta (em que hoje só se vê destruição pelas chamas) desde o raiar do Sol até antes do jantar, depois de uma fotebolada no adro da igreja com a malta da minha geração. Éramos “resmas”, “rabanhadas” montes de putos á solta e sempre prontos para mais uma asneiras, se possível. Pena que hoje, por razões profissionais, não consiga estar com aqueles que ainda na minha adolescência e já como adulto, me acompanharam. Muitos deles já têm família constituída em todo o lado.
A questão dos “franciús” não é para ser levada a sério. Antes dos “franciús” á outra boca (alcunha) que é “francês de Alcochete”. Esta última sempre a ouvi e não foi somente utilizada pelos não emigrantes. Os próprios emigrantes entre si faziam questão de utilizá-la. Os motivos não são bons, mas tem um bom propósito, ou seja, uma lição.
Como se costuma dizer, no meio de muita gente boazinha há sempre algum que desatina. Esse é sempre classificado de ovelha ranhosa. Esta expressão foi sempre utilizada para aqueles que se armavam, aqueles que se achavam superiores aos outros, por ex. É só nesse sentido, nada mais.
Quanto ao “franciú” e no que me diz respeito, eu utilizo-a, mas só para designar
os nacionais franceses e sem qualquer sentido depreciativo. Utilizo-a como utilizo o termo “camone” para designar os americanos dos Estados Unidos da América ou estado-unidenses (esta última muito pouco utilizada), se preferir (e mais uma vez) sem qualquer má intenção ou segunda intenção.
Por exemplo, a palavra “tuga” ou “portuga” que também nós utilizamos, não tem nada de especial. Pelo menos para mim. Eu utilizo-a várias vezes e até agora não têm havido problemas. Desconheço se há ou não alguma coisa má nestas coisas.
Emarques, essa do "avec" é nova para mim.
Cumprimentos