Nós, os daqui, é que vamos sofrer "só" mais um murro no estômago, numa zona onde dávamos cartas.
Mas dava cartas quando ?
Temos que olhar para estas coisas numa perspectiva histórica.
Grande parte dos países da África tornou-se independente na década de 1960 e muitos deles escolheram a União Soviética como aliado.
Rapidamente se entendeu que a URSS não era aliada, era apenas uma nova potência colonial, muito mais perigosa e violenta.
Mas os russos apoiaram umas étnias contra as outras (caso de Angola, que nos é mais próximo) e protegeram algumas das elites.
Há uns anos estive em Moçambique e fiquei espantado com a quantidade de pessoas ligadas à administração publica, que falavam russo.
Os que conheci, eram filhos de africanos, que durante o governo português já tinham dinheiro para mandar os filhos para escolas pagas.
Essa elite é muito reduzida, mas tem uma ligação com a Russia. Quando a URSS entrou em decadência eles tiveram que voltar-se para algum lado e alguns deles reataram as relações com Portugal. Passaram a vir ao médico a Lisboa em vez de ir a Moscovo, por exemplo.
Isto aconteceu com os portugueses, com os franceses e com os ingleses. Só não aconteceu com a única colónia espanhola, a Guiné Equatorial, que teve que se voltar para os franceses e como sabemos, para o mundo de Lingua Portuguesa com o apoio do Lula, à adesão da Guiné Equatorial à CPLP.
Portanto, esta ideia de que sempre démos cartas, não corresponde à verdade.
Ou então temos que dizer, que já demos cartas, depois deixámos de dar cartas, depois voltámos a dar cartas e agora parece que vamos outra vez deixar de dar cartas ...
Considerando a real capacidade da Russia, eu diria que a capacidade de eles darem cartas, também depende do que os chineses os deixarem fazer.
A História vive de ciclos. Se olharmos para as coisas considerando o último século, estamos apenas num ciclo.
Se olharmos apenas para o que se passou nos últimos dois anos, então, chegámos ao fim do mundo.