O que é um troll?Originalmente, trolls são criaturas antropomórficas do folclore escandinavo. Na Wikipédia, trolls são editores que promovem tentativas deliberadas e intencionais de perturbar as actividades de editores, administradores, desenvolvedores e outras pessoas que trabalham para criar conteúdo e ajudar a manter a Wikipédia. O trollismo é assim uma violação deliberada das regras implícitas de convivência social da internet. A sua identificação implica necessariamente um juízo de valor feito por um usuário sobre o valor da contribuição de outro usuário. Devido a isso, não é considerado mais útil do que um simples "Eu não concordo com você." por muitos usuários, que preferem concentrar-se sobre os comportamentos em vez de presumir intenções.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:O_que_%C3%A9_um_troll%3FAinda sobre o navio para a GNR vi no FB através da AOFA um artigo do Professor João Freire
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Freire sobre este tema
http://www.aofa.pt/artigos/Professor_Joao_Freire_Controlo_do_mar_sem_marinheiros.pdf?fbclid=IwAR1xjRlU371WW1RX8Ap-NI8PIZ9IH8-uDCG3AH1FVXLBjWtsXXvkbAeansMControlo do mar sem marinheiros?
Não só a história, como também a sociologia, são capazes de reconhecer os
marinheiros (hoje, homens e mulheres) como sujeitos portadores de uma
verdadeira profissão – evoluindo aliás numa segmentação progressiva desde
o ofício –, e não meramente como uma ocupação profissional ou uma
vocação, ainda que ditada por alguma ordenação divina ou um sentido
simbólico de Pátria.
Vem isto a propósito de mais um passo que estará em vias de ser dado com
a aquisição de meios de navegação oceânicos atribuídos à Unidade de
Controlo Costeiro da Guarda Nacional Republicana e não à Marinha,
alimentando rivalidades estúpidas e menosprezando uma racional
contabilização de vantagens e inconvenientes. Mas sobretudo ignorando a
cultura socio-histórica de cada uma destas instituições e das suas respectivas
corporações. Emprego este termo no seu sentido mais rico de corpo de
indivíduos que, formados em processos de aprendizagem longos e custosos,
desenvolvem ao longo de toda a sua vida útil e de uma carreira profissional
devidamente estruturada a actividade (organicamente integrada) que a
sociedade e o seu Estado reconhecem ser de necessidade e utilidade
essenciais. E por isso lhes paga.
Não se ignoram os fechamentos e auto-centramentos a que um exagerado
“espírito de corpo” pode levar, quase sempre face a outros corporativismos
(e há-os bastantes entre nós), vistos como concorrentes ou rivais. Mas o
tempo dessas disputas entre militares parece ser já coisa do passado,
sobretudo depois que se unificaram estruturas de comando conjunto e largas
décadas terem decorrido de efectiva cooperação operacional inter-ramos.
Serão então estas tensões provocadas por novos protagonistas mal definidos
agindo no seio de forças em ascensão (numérica, orçamental e mediática) no
quadro interno, como são as Forças de Segurança ou Policiais e as estruturas
de Protecção Civil? Ou serão velhos ressentimentos anti-militares alojados
em sectores partidários (talvez mais especialmente à esquerda) que disputam
entre si o poder político e para os quais estas oportunidades de “inovação”
podem ser rentáveis?
Nas últimas décadas, os espaços marítimos circundantes da Europa do Sul,
Magrebe e Próximo-Oriente suscitaram a exigência de um controlo marítimo
muito mais efectivo e diferenciado do que aquele que as antigas “esquadras”
podiam proporcionar. Compreende-se as preocupações da União Europeia
nesta matéria. Patrulha, busca-e-salvamento, controlo aeronaval, interdição
militar eventual, combate à pirataria, controlos migratórios, fiscalização e
protecção às actividades económicas no mar (de transporte, pesca,
exploração dos fundos, etc.) com observância das leis existentes e combate
aos tráficos ilícitos, são tarefas exigentes em meios e que implicam elevada
integração orgânica e boa cooperação interinstitucional. Mas só grandes
países se podem dar ao luxo de possuir Coast Guards organicamente
autónomas. Não foi já uma discutível decisão essa constituição da UCCGNR quando existia, desde há muito, a Polícia Marítima?
A Marinha portuguesa, com os seus meios navais (também aeronavais e
subaquáticos), detém um conjunto de qualidades, efectivas e potenciais, que
não devem ser desperdiçadas em improvisações custosas e finalmente pouco
eficientes.
As críticas que lhe são dirigidas pela natureza algo híbrida da sua instituição
– que inclui a Marinha militar, ou Armada, e a Autoridade Marítima
Nacional – não atingem o essencial. Aquela circunstância pode parecer um
resquício do passado ou um entorse jurídico numa linearidade formal e
abstrata. Na realidade, trata-se talvez de uma singularidade – que
nomeadamente a distingue do Exército, e também da Força Aérea – mas que
corresponde, não só a uma evolução histórica paulatina e prudente, como,
muito fundamentalmente, corresponde ao traço de carácter mais forte que
marca e define a cultura profissional de cada um dos seus membros: uma
identidade dupla, marinheira e militar. E um marinheiro – hoje muito bem
qualificado tecnicamente – faz-se fundamentalmente embarcado, na vida de
bordo. Não dá para “amadorismos” ou soluções em part-time.
Pode-se discutir se o país deve ter Forças Armadas e se elas devem ou não
participar em acções coordenadas no âmbito de alianças externas, sejam
atlânticas, europeias, ONUsianas ou outras. Mas, sendo a resposta
afirmativa, é preciso fornecer-lhes os meios humanos e materiais para que
elas possam cumprir cabalmente as missões atribuídas. O Exército tem
sobretudo alimentado em pessoal combatente especializado as participações
externas inter-aliadas em diversos cenários da Europa, Médio-Oriente e
África. A Força Aérea parece ter sido redimensionada para manter com
meios modernos um determinado grau de segurança do espaço aéreo
nacional e para poder ligar com rapidez e projectar forças ou outros
elementos a média distância, garantindo os apoios logísticos necessários.
Quanto à Marinha, que se move mais lentamente e em condições específicas
bem conhecidas, deverá competir-lhe o controlo da área marítima
reconhecida como sendo de legítima soberania ou interesse nacional (a
imensa ZEE atlântica), com os meios navais adequados, sem esquecer as
comunidades portuguesas concentradas em diversas partes do mundo.
Apesar das dificuldades da hora, é ainda tempo de remediar decisões
inadequadas – como esta e outras – antes que delas se venham a arrepender
no futuro.
João Freire
(Sociólogo e autor de obras sobre temas navais)
17.Nov.2020