Tendências do terrorismo jihadista, sete anos após o 11 de Setembro[/size]
José Vale Faria
O Secretário da Defesa norte-americano, Robert Gates, disse recentemente que mesmo vencendo os conflitos no Iraque e no Afeganistão, tal facto não irá pôr termo à "longa guerra" contra o extremismo violento e que a luta contra a Al Qaeda e outras organizações terroristas deverá ser a prioridade militar da nação nas próximas décadas, de acordo com a nova Estratégia de Defesa Nacional dos Estados Unidos, aprovada no passado mês de Junho. Segundo o novo documento estratégico, o Iraque e o Afeganistão continuam a ser a frente central no combate ao terrorismo, mas não se pode perder, a visão das implicações de uma luta a longo prazo, episódica, com múltiplas frentes, e um conflito multi-dimensional, mais complexo e diversificado do que a Guerra Fria.
Este artigo visa analisar sinteticamente a situação actual e as tendências do terrorismo de matriz jihadista salafista, volvidos sete anos após os fatídicos atentados de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos da América.
1. Dificuldades e constrangimentos operacionais da Al Qaeda no IraqueEm 2006 o Iraque caminhava para o abismo. Na enorme província de Anbar, a Al Qaeda estava à beira de conseguir uma vitória crucial sobre os militares norte-americanos e as forças iraquianas leais ao governo de Bagdad. Os ataques terroristas contra iraquianos inocentes causavam milhares de mortos e semeavam a tragédia e o ódio entre os principais grupos da sociedade iraquiana.
A Al Qaeda, que viu no Iraque uma enorme oportunidade estratégica, perdeu o apoio das tribos sunitas e tem vindo a ser metodicamente dizimada pelas forças norte-americanas e iraquianas. Francis 'Bing' West, ex-capitão dos fuzileiros norte-americanos no Vietnam, defende que a guerra mudou de baixo para cima, tendo o reino do terror, promovido pela Al Qaeda levado as tribos sunitas a pedir a protecção das forças norte-americanas, alterando radicalmente a situação em Anbar, durante o final de 2006. Miguel Monjardino referiu no
Expresso, que ao contrário da maioria dos oficiais-generais em Washington, que tiveram enorme dificuldade em compreender o que fazer nesta insurreição, os oficiais americanos, no terreno, sabiam o que era preciso fazer para tentar ganhar, tendo a frente oriental mudado ao longo de 2007, após o reforço de cerca de trinta mil homens (designado
The Surge), para controlar o caos e a violência em Bagdad e arredores. Os generais Petraeus e Odierno usaram estas tropas para esmagar a Al Qaeda à volta de Bagdad e para separar sunitas e xiitas, fazendo a diferença, como descreve Bing West, num livro indispensável, para se compreender o que realmente aconteceu no Iraque desde 2006 –
The Strongest Tribe.
Recentemente, nos finais do mês de Julho, cerca de cinquenta mil polícias e soldados iraquianos, foram empenhados numa operação contra a Al Qaeda no Iraque, apoiados por forças dos Estados Unidos, numa das últimas grandes fortalezas da Al Qaeda, perto da capital iraquiana. Esta operação em grande escala, designada "Bons Presságios" (Operation Omens of Prosperity) foi realizada principalmente por forças iraquianas, constituindo uma demonstração de força e capacidade operacional das Forças Armadas Iraquianas, para assumirem a sua própria segurança e, eventualmente, permitir que as forças armadas norte-americanas retirem e, reforcem o teatro de operações afegão, onde os taliban e a Al Qaeda demonstram ter cada vez mais potencial e capacidade operacional.
Diyala tem sido uma das províncias mais difíceis de controlar, apesar de numerosas operações militares. Em Baquba houve, recentemente, uma evolução positiva no sentimento de segurança, contudo continuam a surgir ataques, tais como, os atentados bombistas suicidas simultâneos, que mataram cerca de vinte e oito pessoas, em 15 de Julho passado, para além de uma série de ataques bombistas suicidas, realizados por mulheres.
Em finais de Julho, fontes dos serviços de informações iraquianos, informaram que o líder sunita da Al Qaeda no Iraque e vários dos seus adjuntos, haviam saído recentemente do país, deslocando-se para o Afeganistão, constituindo mais um indicador da crescente desorganização e debilidade do grupo terrorista. Fontes norte-americanas dizem haver indícios, de que a Al Qaeda está a desviar os novos recrutas do teatro iraquiano, onde os seus combatentes sofreram reveses dramáticos, para se deslocarem para o Afeganistão e o Paquistão, onde a situação é mais favorável.
A crescente capacidade dos taliban e da Al Qaeda no Afeganistão, é bem ilustrada pelas baixas ocidentais, tendo a coligação da NATO, em Junho deste ano, sofrido um número superior de baixas, comparativamente às do teatro iraquiano. Foi o segundo mês consecutivo, em que houve mais baixas no Afeganistão e, onde as forças internacionais sofreram os seus meses mais mortíferos, desde a invasão, liderada pelos Estados Unidos em 2001.
Nesta perspectiva, o Presidente George W. Bush anunciou, em nove de Setembro do corrente ano, num discurso proferido na Universidade de Defesa Nacional, em Washington, que até Fevereiro de 2009, os Estados Unidos vão retirar do Iraque cerca de oito mil soldados, reforçando em simultâneo, o seu contingente no Afeganistão com mais quatro mil e quinhentos efectivos. O Presidente Bush reiterou os elogios aos progressos no Iraque, referindo que "estes ainda são frágeis e reversíveis", admitindo ainda que "permanecem enormes desafios no Afeganistão".
2. O recrutamento de mulheres suicidas no Iraque – uma tendência alarmanteNo Iraque, a tendência de terrorismo suicida é imprevisível e sem precedentes. A Al Qaeda no Iraque, está a aumentar os seus esforços no recrutamento de mulheres muçulmanas, para apoiar as suas operações e o seu objectivo estratégico no país. Desde a invasão do Iraque, em Março de 2003, o ritmo a que as mulheres são escolhidas para operações de martírio é alarmante, representando uma taxa aproximada de trinta por cento.
Responsáveis norte-americanos suspeitam que a Al Qaeda desenvolveu uma rede de células, para recrutar mulheres e as transformar em assassinas. As mulheres são a arma perfeita, num país onde existem normas tradicionais, culturais e religiosas que desautorizam e censuram, um homem aproximar-se de uma mulher, sem a companhia do marido ou do pai, e muito menos efectuar uma revista pessoal de segurança, o que lhes permite a aproximação, relativamente fácil, aos objectivos, nomeadamente os postos de controlo (checkpoints), que são os alvos preferidos dos bombistas suicidas. Além disso, é extraordinariamente fácil, esconder armamento ou um colete repleto de explosivos, no interior da
abaya (a túnica tradicional, preta e longa, usada pelas mulheres em países árabes), sem despertar qualquer suspeita e, com maior probabilidade de êxito.
Esta realidade cada vez mais acentuada, numa sociedade, em que os homens são cada vez mais, presos ou mortos, pelo seu envolvimento em actividades terroristas, é a “invisibilidade” da mulher bombista que constitui uma grande preocupação para a segurança. O anonimato da bombista suicida protege a sua identidade pessoal e, disfarça o terror dos grupos, a localização, a filiação, e as actividades. Porque é um actor não estatal e invisível, a mulher apoiante do terrorismo, dificulta o trabalho dos investigadores dos serviços de segurança, em desenvolver e traçar um perfil dos terroristas suicidas.
Esta ameaça é bem ilustrada, com o seguinte exemplo: uma mulher que simulava estar grávida caminhou até um hospital, numa das mais perigosas regiões do Iraque e fez-se explodir. Minutos mais tarde um homem, também carregado com explosivos, efectuou outra operação de martírio, contra os membros das equipas médicas e de socorro que se haviam deslocado para o local, na província de Diyala, a norte de Bagdad. Trinta e duas pessoas foram mortas e cinquenta e duas foram feridas. O ataque coordenado dos bombistas suicidas que eclodiram na cidade de Baladruz, em Maio, foram um dos doze ataques bombistas suicidas, envolvendo treze mulheres, no ataque a Diyala, este ano, representando uma nova táctica dos terroristas da Al Qaeda na Mesopotâmia.
Um capitão das forças especiais dos Estados Unidos, estacionado em Diyala, disse que a Al Qaeda é "muito adaptável", utilizando "qualquer facto ou acontecimento favorável para a organização, tais como, explorar acontecimentos e incidentes políticos, culturais ou religiosos, inerentes às restrições que tem a coligação", como no passado recente, utilizando mesquitas, para a realização de reuniões e esconderijo de armamento, sabendo que os militares da coligação, não entram em edifícios religiosos.
Segundo o capitão Matthew Shown, oficial de informações (intelligence) do “Esquadrão Sabre” – 2º Esquadrão do 3º Regimento Blindado de Cavalaria, aquartelado no sudeste de Diyala, a Al Qaeda emprega uma variedade de tácticas no recrutamento de mulheres, para se tornarem bombistas suicidas:
1. Algumas são presas fáceis porque os seus maridos ou filhos, foram mortos ou detidos, por forças norte-americanas;
2. Outro método, é um membro da Al Qaeda casar com uma mulher e, depois, ela ser desonrada de alguma forma, como por exemplo, deixar alguém violá-la. “Este facto não deixa qualquer alternativa à mulher, excepto lavar a sua honra, pondo termo à sua vida, através de uma operação de martírio;
3. Também existem relatos de mulheres, a quem lhes foi comunicado que o seu marido ou filhos seriam mortos, a menos que concordassem em tornarem-se bombistas suicidas.
Esta situação veio colocar uma nova ameaça às forças da coligação, porquanto existem poucos elementos do sexo feminino, nas Forças Armadas e de Segurança iraquianas, devido a factores ideossincráticos e culturais, contudo, esta ameaça parece estar a mudar as atitudes, constituindo um factor valioso para a actuação das forças iraquianas e norte-americanas que enfrentam a ameaça de ataques suicidas do sexo feminino, em Diyala e em todo o teatro de operações.
Os ataques das mulheres bombistas suicidas no Iraque, são uma inovação com a marca da Al Qaeda, creditada ao dirigente terrorista, Abu Musab al-Zarqawi, o primeiro jihadista salafista, a reconhecer a utilidade táctica da mulher e a enorme vantagem para garantir a sobrevivência dos grupos terroristas.
3. Novos SantuáriosO núcleo da Al Qaeda, sedeado nas áreas tribais do Paquistão coloca o mais sério perigo para o Reino Unido, refere o editor de defesa, do diário londrino
The Times. A organização de Osama Bin Laden, enfrenta constrangimentos e dificuldades no Afeganistão e estará em grandes dificuldades no Iraque, contudo está a reemergir em força, em três "santuários" alternativos, para a formação, planeamento operacional e recrutamento – Paquistão, Somália e Argélia – de acordo com fontes dos serviços de informações e de defesa ocidentais.
Na Somália, através das milícias Al-Shabab e na Argélia, a chamada Al Qaeda para o Magrebe Islâmico, criada em 2004, como um poderoso desdobramento da organização de Bin Laden, estão a recrutar energicamente e, os seus líderes têm aspirações em atingir alvos ocidentais. No Paquistão, existem cada vez mais provas da reconstrução da Al Qaeda, agora bem enraizada nas áreas tribais, e apesar da vigilância e ataques, cada vez mais intensos, dos Estados Unidos, com aviões não tripulados,
Predator e
Reaper, armados com mísseis Hellfire e bombas guiadas de precisão, para eliminar dirigentes da Al Qaeda, parece que os líderes terroristas ainda podem comunicar, uns com os outros, mantendo contacto com as suas principais filiais, na Somália e na Argélia.
A Al Qaeda para o Magrebe Islâmico foi colocada na linha da frente das operações terroristas, incluindo os atentados bombistas suicidas, em carros-bomba e assassínio de turistas europeus. Esta filial constitui uma ameaça para além das fronteiras da Argélia, estimando responsáveis norte-americanos que existam entre trezentos a quatrocentos terroristas nas montanhas a leste de Argel, e mais duzentos no resto do país. A mesma transformação, está a ocorrer na Somália, particularmente no sul e, receia-se que os jihadistas, em vez de se deslocarem ao Paquistão para formação, estejam a viajar para a Somália. Acrescente-se ainda que a costa da Somália e do Iémen, é actualmente uma das zonas mais perigosas do mundo para as rotas marítimas, junto ao estratégico Golfo de Adém – que separa o oceano Índico do Mar Vermelho e é rota obrigatória para o Mediterrâneo, através do Canal de Suez –, e o Estreito de Malaca, a principal passagem marítima entre os oceanos Índico e Pacífico, são os locais com mais acções de pirataria.
As zonas tribais entre o Afeganistão e o Paquistão, designadas por alguns autores como "Al-Qaedistão", constituem actualmente uma enorme preocupação e, como afirmou Michael Hayden, director da CIA, “as áreas tribais são um perigo claro e presente para o Afeganistão, o Paquistão e o Ocidente”, sendo o Waziristão, em particular, a nova frente no combate ao terrorismo. É nesta vasta zona fronteiriça entre o Afeganistão e o Paquistão, ao longo da linha de alturas que os ingleses escolheram como limite do seu império no subcontinente indiano, onde, desde há cerca de dois anos, vigora a lei islâmica radical que a Al Qaeda pretende impor em todos os países muçulmanos, restaurando o "califado", o que a prevalecer, alteraria a relação de forças no mundo a favor do Islão.
Um "Al-Qaedistão" onde impere a sharia constitui uma vitória de vulto para o "al-qaedismo". Organizado e controlado pelos talibãs e jihadistas que ali acorrem de todo o lado, serve de santuário para a Al Qaeda Central, para os grupos que entram no Afeganistão, disputando e recuperando território à NATO, e para os extremistas que avançam nas montanhas paquistanesas em direcção à planície, o que tem motivado as recentes incursões de forças especiais dos Estados Unidos, estacionadas no Afeganistão.
Segundo o General Loureiro dos Santos, a partir do "Al-Qaedistão", é possível aos jihadistas:
1. Preparar e accionar atentados de retumbância global em todo o mundo, nomeadamente nos EUA e na Europa, visando vergar favoravelmente aos objectivos estratégicos de Bin Laden as políticas externas dos países visados;
2. Negar ao Ocidente a estabilização do Afeganistão, mantendo-o nas mãos dos taliban, isto é, derrotar a NATO;
3. Progredir no controlo do Paquistão - no mínimo, fracturá-lo, colocando materiais nucleares nas mãos de terroristas, no máximo, dispor de um país com armas atómicas que desempenhe o papel de potência directora do islamismo extremista, usando a terminologia de Samuel Huntington;
4. Estimular o radicalismo violento em todo o islão, fazendo multiplicar as suas acções e provocando sucessivas revoltas internas que alterem a natureza dos estados muçulmanos, tornando-os regimes tipo taliban ou, no mínimo, simpatizantes da ideologia “al-qaedista”, que procura a alteração da relação de forças mundial.
A instabilidade no Paquistão mantém-se, tendo o recente ataque suicida (o décimo primeiro, desde que as autoridades intensificaram as suas operações contra os radicais) ao hotel Mariott, o mais luxuoso de Islamabad – visado o local favorito da elite paquistanesa e muito frequentado por ocidentais. De grandes dimensões, este edifício fica numa das zonas mais sofisticadas da cidade governamental, onde vigoram rigorosas medidas de segurança e atingi-lo, demonstra a capacidade dos islamistas em as ultrapassar. Mas, para além do poder, o Marriott simboliza outra coisa para os grupos ultra-conservadores – a ocidentalização e a decadência moral.
Para Walid Phares, da Foundation for the Defense of Democracies, este ataque que alguns comentadores designaram como o 11 de Setembro paquistanês, visou pressionar o Governo e as Forças Armadas a recuar, tendo ainda outro alvo, a política secular, saída das eleições que derrotaram o bloco pró-Musharraf. O jornalista Ahmed Rashid escreveu no diário paquistanês
Daily Times que "os taliban são agora um problema regional e a próxima administração norte-americana deve criar uma estratégia regional que inclua o Irão, o Paquistão, a Índia, o Afeganistão e as cinco repúblicas da Ásia Central".
Este atentado é o mais recente de uma série de ataques, contra complexos militares, no Médio Oriente e no Sul da Ásia, durante os últimos cinco anos pela Al-Qaeda, os talibans e os seus aliados. Estes ataques exigem apoio logístico e financeiro, formação, coordenação, a recolha de informações, bem como o acesso a armas e explosivos.
Fontes militares e dos serviços de informações norte-americanas disseram ao
The Long War Journal, no passado mês de Julho, que a Al Qaeda teria reestruturado a Brigada 055,
(combateu ao lado dos talibãs contra a Aliança do Norte e posteriormente foi dizimada durante a invasão do Afeganistão) com recrutas árabes, sendo a unidade comandada por Khalid Shaikh Habib al Shami. Foram ainda formadas outras brigadas árabes, constituídas por alguns ex-membros da Guarda Republicana de Saddam Hussein, que têm contribuído para o aumento da sofisticação dos taliban, em operações militares, nos teatros do Afeganistão e Paquistão.
4. Terrorismo autóctone: células unipessoais e lobos solitariosA criação de células terroristas unipessoais parece ser a nova estratégia da Al Qaeda. Esta informação foi revelada pelos serviços de informações, após a descoberta e análise de um manual on-line da Al Qaeda, onde são vertidas orientações para os líderes da organização, para a formação de jihadistas, com o objectivo de funcionarem como pequenas células, em todo o mundo.
O manual, chamado "Método para a Construção da Personalidade de um Terrorista Mujahid" foi escrito por um colaborador de um fórum islamista apelidado Shamil al-al Baghdadi, e incentiva os jihadistas a deixarem de se concentrar em ataques, à escala do 11 de Setembro, nos Estados Unidos, executando principalmente, ataques de menor escala.
Se por alguma razão a missão falhar, o jihadista não a deve abortar, mas sim, actuar isoladamente, como um elemento de uma célula. Incentiva ainda os assassinatos a tiro, envenenamento e armadilhas com engenhos explosivos improvisados, telefones móveis e computadores. Além disso, os alvos devem ser seleccionados e hierarquizados por categorias, tais como “alto perfil” que designa presidentes e primeiros-ministros. Os recrutas são também aconselhados, a organizar golpes com cartões de crédito (furtar, falsificar e clonar), assim como, assaltar postos policiais, para aquisição de armamento.
Este código de conduta destinado às células adormecidas e, especialmente aos "lobos solitários", nos Estados Unidos, traça as seguintes orientações:
- Ter excelente domínio das suas origens, árabes e islâmicas;
- A aparência do operacional, não deve revelar, as suas origens árabes ou islâmicas. Para a pretensão de ser hispânico é preferível, aprender espanhol e usar pseudónimos hispânicos;
- Deve possuir documentos de identidade falsos, que devem ser utilizados na compra de munições, armas ou equipamento de visão nocturna, entre outras coisas;
- Escolher o seu local de residência com muito cuidado. A escolha da residência deve evitar os bairros acentuadamente multiculturais ou zonas frequentadas por traficantes de droga, para evitar a fiscalização da agência federal de combate à droga (Drug Enforcement Administration - DEA);
- Aprender artes marciais e manter-se apto para protecção pessoal;
- Dominar as tecnologias de informação, informática e internet;
- O operacional deve tornar-se um especialista em vigilância, contra-vigilância e reconhecimento;
- O operacional deve treinar com espingardas, principalmente americanas, facilmente adquiridas no interior do país, assim como, com pistolas com silenciadores, a arma ideal para assassinatos;
- Deve ainda aprender a preparar cinturões explosivos e cargas explosivas, suficientes, para armadilhar um carro pequeno.
5. Considerações finais Nos últimos três anos a Al Qaeda falhou a consumação de quatro grandes atentados na Europa: o primeiro destes tinha como alvo a rede de transportes de Londres, a 21 de Julho de 2005, duas semanas depois dos ataques terroristas que provocaram 52 mortos naquela cidade. Um ano depois, foi desmantelada uma rede que se preparava para fazer explodir sete aviões de passageiros, que faziam a ligação entre o Reino Unido, Canadá e EUA, utilizando explosivos líquidos (conhecido como "liquid bomb plot") e levou à imposição de restrições de líquidos na bagagem de mão nas viagens aéreas. A 29 de Junho de 2007, a polícia inglesa localizou dois carros-bomba, prestes a serem accionados na zona dos teatros em Londres e, um dia depois, um veículo suspeito atacou o aeroporto de Glasgow, na Escócia. Dois meses mais tarde, a polícia alemã deteve três homens que preparavam uma série de atentados no país.
Estes e outros atentados falharam, devido a duas razões de natureza diferente. A primeira, foi o reforço das medidas de segurança, internas e externas, implementadas após os atentados de 11 de Setembro de 2001, e que tiveram uma eficácia real contra as organizações pan-islâmicas, a segunda, refere-se à cooperação internacional, principalmente, entre os serviços de informações ocidentais, passando estes a estar mais informados sobre a ameaça terrorista. Contudo, como referiu Gilles de Kerchove, coordenador da luta antiterrorista da União Europeia, apesar de ainda não se ter adoptado uma estratégia conjunta entre os estados membros da União Europeia, para que o combate seja mais eficaz, este responsável, salienta a importância da partilha de informação entre as autoridades policiais da UE e as estruturas comunitárias como a Europol e o Eurojust.
Num mundo em que as ameaças que afectam os interesses dos Estados assumem contornos cada vez mais indefinidos e multifacetados, onde o puro poder militar já não é suficiente para as combater com absoluta eficácia, nem mesmo é possível, o intercâmbio de informações, a nível internacional, e particularmente no quadro europeu, desempenha um papel fundamental na prevenção da multiplicidade de ameaças que afectam as sociedades ocidentais, pelo que as forças e serviços de segurança, em estreita coordenação e colaboração com os serviços de informações, constituem a arma mais poderosa e eficiente no combate a estas ameaças.
Jornal de Defesa