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Conflitos => Conflitos do Passado e História Militar => Tópico iniciado por: TOMKAT em Setembro 11, 2005, 08:02:19 pm

Título: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: TOMKAT em Setembro 11, 2005, 08:02:19 pm
Este tópico é dedicado aos muitos heróis esquecidos da nossa história.


Pêro Covilhã

Pedro da Covilhã ou Pêro Covilhã (1450? - 1530?) um nome pouco referenciado mas intimamente ligado à epopeia dos descobrimentos, talvez o primeiro espião português, pelo menos dos poucos a ficar na história.

Disfarçado de mercador, 10 anos antes de Vasco da Gama descobrir o caminho marítimo para a Índia, Pêro Covilhã a mando de D. João II, percorreu a Índia recolhendo informações sobre as rotas e o comércio de especiarias que depois passou a 2 judeus espiões enviados ao Cairo por D. João II que por sua vez levaram essa informação preciosa ao monarca Portugês que se mostrou vital na epopeia de Vasco da Gama.

Concluida essa missão, Pêro Covilhã partiu para a actual Etiópia em busca do mítico reino de Preste João, que encontrou.
Por lá ficou até ao fim dos seus dias.
Quando os portugueses chegaram ao que é hoje a Etiópia, 30 anos depois, bem instalado, feito senhor feudal pelo Imperador Alexandre (descendente de Preste João ) já com uma grande prole (era português pois então  :lol: ) já estava velho demais para regressar.

Muito resumidamente alguns aspectos da vida fascinante deste PORTUGUÊS notável.

Recomendo visitarem http://pt.wikipedia.org/wiki/categoria:exploradores_de_portugal
Pesquisem Pêro Covilhã.
Aí encontraram informação detalhada sobre a vida deste grande PORTUGUÊS.

Este é o meu herói.
Qual o herói que se segue?
Título:
Enviado por: dremanu em Setembro 13, 2005, 10:08:13 pm
Eu tenho um, Geraldo Sem Pavor (até o nome é fantástico  :D )

Geraldo Geraldes, que mais tarde viria a ser conhecido como o Geraldo Sem Pavor, é uma figura central na iconografia da cidade de Évora e do período da formação de Portugal. Pensa-se que fosse um nobre de trato difícil pelo que muito cedo abandonou o norte de Portugal para se estabelecer no sul do país (ainda ocupado pelos Mouros) e chefiar como caudilho um bando de salteadores e aventureiros. Aquando da conquista do Alentejo por D. Afonso Henriques, Geraldo Sem Pavor oferece-se para tomar a cidade de Évora, bem como outras localidades vizinhas. Tendo como base o castro que hoje é conhecido como Castelo do Geraldo em Valverde e do qual existem algumas ruínas, introduziu-se nos muros da cidade, executando o governador mouro e entregando a mesma a D. Afonso Henriques. Geraldo era um homem imprevisível e foi um dos principais entusiastas da tomada de Badajoz que se viria a revelar um desastre para o Rei e também para Geraldo que perdeu todas as suas terras excepto a Juromenha. Diz-se que o espírito aventureiro o levou a Ceuta em missão de espionagem ao serviço secreto de D. Afonso Henriques, recomendando-lhe que tomasse a cidade norte-africana. Quando a conspiração foi descoberta Geraldo morreu à mãos dos almóadas. Ainda hoje o escudo da cidade de Évora ostenta a imagem do Geraldo Sem Pavor montando o seu cavalo e empunhando a espada.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.cm-evora.pt%2Fimages%2Fbandeira_a.gif&hash=f33ff7b2f1f6e3e4550ac73599b055ee)
Título:
Enviado por: Benny em Outubro 11, 2005, 06:50:05 pm
Capitão Jerónimo Pereira de Vasconcelos, de Caçadores 12, que em 22 de Julho de 1812, em Salamanca, capturou uma Águia Imperial ao 22º Regimento de Linha dos Franciús.

Para ele, e para todos os que ao lado dele combateram, sejam Portugueses ou aliados Britânicos, vai a minha homenagem e o meu respeito.
Título:
Enviado por: Normando em Outubro 12, 2005, 03:15:51 am
Já devem ter ouvido falar de Aníbal Augusto Milhais e dos seus feitos heróicos na Flandres nos últimos meses da Grande Guerra 1914-18. Eu sempre guardei na memória o seu nome (e a sua alcunha "Soldado Milhões") e os seus feitos em La Lys (e não só). Mas vejam só o que diz no site da Câmara Municipal de Murça:

Citar
Valeu-lhe a sua bravura e coragem para que de metrilhadora ao ombro conseguisse dizimar em pleno vale, milhares de inimigos, protegendo simultaneamente a retirada de muitos e desfalecidos companheiros.
 

Ah! Leão! Milhares de alemães varridos pelo fogo do Aníbal... Com gajos assim não percebo como a guerra não acabou mais cedo.
Título:
Enviado por: Benny em Outubro 12, 2005, 10:18:52 am
O título de "soldado milhões" não tem a ver com o facto de ter abatido "milhões" de alemães?

E, se ele abateu uns meros milhares de alemães, não deveria ter ficado conhecido apenas como "soldado milhares"? :D

Seja como for, sejam "Milhões", "milhares", "centenas" ou "dezenas", tomara que todos houvessem sido como ele.

Benny
Título:
Enviado por: Yosy em Outubro 12, 2005, 01:29:12 pm
Citação de: "Benny"


Seja como for, sejam "Milhões", "milhares", "centenas" ou "dezenas", tomara que todos houvessem sido como ele.

Benny


Provavelmente a maioria foi e os seus feitos estão esquecidos.
Título:
Enviado por: dremanu em Outubro 12, 2005, 04:38:00 pm
E de soldados que participaram na guerra do ultramar, alguém têm estórias da bravura desses desconhecidos?
Título:
Enviado por: emarques em Outubro 12, 2005, 04:53:08 pm
Citação de: "Benny"
O título de "soldado milhões" não tem a ver com o facto de ter abatido "milhões" de alemães?

E, se ele abateu uns meros milhares de alemães, não deveria ter ficado conhecido apenas como "soldado milhares"? :D

Seja como for, sejam "Milhões", "milhares", "centenas" ou "dezenas", tomara que todos houvessem sido como ele.

Benny

Não, a alcunha acho que era porque o comandante lhe disse depois que "podes-te chamar milhais, mas vales milhões", ou coisa pelo mesmo estilo.
Título:
Enviado por: Benny em Outubro 15, 2005, 11:13:32 pm
Obrigado pelo esclarecimento, prezado emarques.

Quantos veteranos Portugueses da Grande Guerra ainda haverá vivos?

Gostava de conhecer as recordações destes veteranos. Recordo-me de, ainda não há muito tempo ter visto uma entrevista a um deles, num canal de televisão qualquer. Infelizmente, foi uma reportagem muito superficial.

Será que há algum livro ou publicação recente sobre este assunto?

Benny
Título:
Enviado por: NotePad em Outubro 15, 2005, 11:18:44 pm
Sim há bastantes veteranos da 1ª guerra mundial vivos entre eles um avô do Historiador e ex-ministro Jose Hermano Saraiva.
Título:
Enviado por: Yosy em Outubro 16, 2005, 01:12:40 am
Fernão Mendes Pinto: não está assim tão esquecido (e ainda bem)

http://en.wikipedia.org/wiki/Fernao_Mendes_Pinto
Título:
Enviado por: p_shadow em Outubro 16, 2005, 04:51:25 pm
Citar
Sim há bastantes veteranos da 1ª guerra mundial vivos entre eles um avô do Historiador e ex-ministro Jose Hermano Saraiva.


Notepad, se o José Hermano Saraiva já tá na casa dos 80, como é possivel ter um avô ainda vivo? :?  Talvez pai, não?


Cumptos
Título:
Enviado por: NotePad em Outubro 16, 2005, 06:40:11 pm
Peço desculpa tive a verificar não era pai nem avo é tio!
Título:
Enviado por: Normando em Outubro 20, 2005, 02:08:19 am
Já deve ser bastante complicado encontrar pessoas que lutaram na Guerra 1914-18.  Vejam bem: imaginando que um homem tinha 20 anos em 1918, terá agora 107 anos... Os veteranos dessa terrível guerra terão entre 105 e 115 anos... É bué, não? Ainda me lembro de um doc na RTP2 sobre a aviação nessa guerra, em que estavam 3 ou 4 velhotes, pilotos de caça, a relembrar, em amena cavaqueira, os dias de combates nos céus de França. Lembro-me que achei notável a lucidez e a clarividência com que relatavam as suas experiências de guerra, e a emoção com que lembravam camaradas mortos no conflito ou entretanto falecidos.
Título: António da Silveira
Enviado por: Benny em Outubro 20, 2005, 10:44:54 pm
Em 1537 António da Silveira escreveu assim ao turco Suleimão Paxá, em resposta a uma proposta de rendição da fortaleza de Diu, onde um exército de 25.000 homens defrontava 600 Portugueses (note-se que Suleimão Páxá era um eunuco):

"Muito honrado capitão Paxá, bem vi as palavras da tua carta. Se em Rodes tivessem estado os cavaleiros que aqui estão neste curral podes crer que não a terias tomado. Fica a saber que aqui estão Porugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os Portugueses aqui têm tomates e não temem quem os não tenha".

Diu permaneceu em mãos Portuguesas até 1961...


Fonte: Rainer Daehnhardt "Homens, espadas e tomates"
Título: Re: António da Silveira
Enviado por: Cabeça de Martelo em Outubro 21, 2005, 10:17:42 am
Citação de: "Benny"
Em 1537 António da Silveira escreveu assim ao turco Suleimão Paxá, em resposta a uma proposta de rendição da fortaleza de Diu, onde um exército de 25.000 homens defrontava 600 Portugueses (note-se que Suleimão Páxá era um eunuco):

"Muito honrado capitão Paxá, bem vi as palavras da tua carta. Se em Rodes tivessem estado os cavaleiros que aqui estão neste curral podes crer que não a terias tomado. Fica a saber que aqui estão Porugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os Portugueses aqui têm tomates e não temem quem os não tenha".

Diu permaneceu em mãos Portuguesas até 1961...


Fonte: Rainer Daehnhardt "Homens, espadas e tomates"


Á GANDA HOMEM!
Já não se fazem homens assim!
Título:
Enviado por: André em Julho 08, 2007, 09:43:05 pm
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2F0%2F04%2FDuarte_Pacheco_Pereira.jpg&hash=ea551ea655150e5f4a2b4819f2896eea)
DUARTE PACHECO PEREIRA
  :Soldado2:  :G-clever:

Duarte Pacheco Pereira (Lisboa, ? — 1533) foi um navegador, militar e cosmógrafo português.
Filho de João Pacheco e Isabel Pereira nasceu em Lisboa (afirma-se ainda que em Santarém) entre 1443 e 1450. O mais antigo dos seus antepassados conhecidos foi Diogo Lopes Pacheco, senhor de Ferreira de Aves, um dos carrascos de Inês de Castro. Tendo fugido para Espanha, retornou à época da Crise de 1383-1385, apoiando o Mestre de Avis, com quem conseguiu recuperar todos os seus bens, tornando-se um dos conselheiros do novo monarca.

Em 1455 encontra-se Duarte Pacheco letrado, recebendo uma bolsa de estudos do monarca. Cavaleiro da casa de D. João II (1481-1495), contrariamente à tradição é pouco provável que tenha ido em 1482 a São Jorge da Mina, onde Diogo de Azambuja iniciava a construção da Feitoria de São Jorge da Mina. De acordo com a obra Décadas da Ásia, do cronista João de Barros, na viagem de retorno do cabo da Boa Esperança, em 1488, Bartolomeu Dias, encontrou-o gravemente doente na ilha do Príncipe e levou-o para Portugal.

Reconhecido geógrafo e cosmógrafo, em 1490 viveu em Lisboa da pensão real a que o seu título lhe dava direito. Em 7 de junho de 1494 assinou, na "qualidade de contínuo da casa do senhor rei de Portugal", o Tratado de Tordesilhas.

Em 1498 D. Manuel I encarregou-o de uma expedição secreta, organizada com o objectivo de reconhecer as zonas situadas para além da linha de demarcação de Tordesilhas, expedição que, partindo do Arquipélago de Cabo Verde, se acredita teria culminado com o descobrimento do Brasil, em algum ponto da costa entre o Maranhão e o Pará, entre os meses de novembro e dezembro desse mesmo ano. Dali, teria acompanhado a costa Norte, alcançando a foz do rio Amazonas e a ilha do Marajó.

Em 1503 comandou a nau Espírito Santo, integrando a frota de Afonso de Albuquerque (este sim um grande português) à Índia. Ali guarneceu a Fortaleza de Cochim com 150 homens e alguns indianos onde sustentou vitorioso o cerco do Samorim de Calecute que dispunha de 50.000 homens. Tendo exercido os cargos de Capitão-general da Armada de Calicute e de Vice-rei e Governador do Malabar na Índia, retornou a Lisboa em 1505 quando foi recebido em grande triunfo. Em Lisboa e em todo o lado os seus feitos da Índia foram divulgados e um relato dos mesmos foi enviado ao Papa e a outros reis da cristandade. Foi como uma espécie de herói internacional que, nesse ano iniciou a redacção do Esmeraldo de situ orbis,revela-se um dos melhores representantes da escola naútica portuguesa, ao mesmo tempo que, no espírito desassombrado de um verdadeiro cientista, afirma o primado da experiência como fonte do conhecimento, contra o saber livresco tradicionalmente aceite.

 Obra que ele interrompeu nos primeiros meses de 1508, Nesse ano foi encarregado pelo soberano de dar caça ao corsário francês Mondragon que actuava entre os Açores e a costa portuguesa, onde atacava as naus das especiarias vindas da Índia. Duarte Pacheco localiza-o, em 1509, ao largo do cabo Finisterra, onde o derrotou e capturou.

Em 1511 comandou uma frota enviada em socorro a Tânger, sob cerco das forças do Rei de Fez. Desposou no ano seguinte a D. Antónia de Albuquerque que recebe do Rei um dote de 120.000 reais, que lhe será entregue em fracções, até 1515.

Em 1519 foi nomeado capitão e governador de São Jorge da Mina, onde serviu até 1522. Veio sob prisão para Portugal por ordem de D. João III pela acusação de contrabando de ouro, embora atualmente ainda não se conheçam os reais motivos de tal decisão do monarca.

Quando libertado por ordem do Rei, recebeu 300 cruzados a título de parte de pagamento por jóias que tinha trazido de São Jorge da Mina e havia confiado à Casa da Mina para serem fundidas.

Faleceu nos primeiros meses de 1533 e, pouco depois, o monarca concedeu a seu filho, João Fernandes Pacheco, uma pensão anual de 20.000 reais. Como as pensões reais frequentemente eram pagas com atraso, mãe e filho passaram dificuldades, o que os levou a recorrer a um empréstimo.

A lenda de Duarte Pacheco Pereira desenvolveu-se após a sua morte. Luís de Camões, n'Os Lusíadas chama-lhe Grão Pacheco Aquiles Lusitano. Mais tarde, no século XVII, Jacinto Cordeiro consagrou-lhe duas comédias bastante longas em castelhano e, Vicente Cerqueira Doce, um poema em dez cantos, de que se perdeu o rasto.

De acordo com um de seus mais importantes biógrafos, o historiador português Joaquim Barradas de Carvalho, que viveu exilado no Brasil na década de 1960, Duarte Pacheco foi um gênio comparável a Leonardo da Vinci. Com a antecipação de mais de dois séculos, o cosmógrafo foi o responsável pelo cálculo do valor do grau de meridiano com uma margem de erro de apenas 4%.
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Julho 08, 2007, 11:13:02 pm
" a experiência é a madre das coisas; por ela soubemos radicalmente a verdade." in Esmeraldo de Situ Orbi"
Título:
Enviado por: Luso em Julho 08, 2007, 11:40:51 pm
http://www.ancruzeiros.pt/anchistoria-comb-1504.html (http://www.ancruzeiros.pt/anchistoria-comb-1504.html)

A não perder "Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa" de Saturnino Monteiro.
Num número da desaparecida "Grande Reportagem", Duarte Pacheco Pereira teria arribado em 148? ao Brasil.
Título: ????
Enviado por: zocuni em Agosto 11, 2007, 03:13:28 pm
Tudo bem,

Não sei se chegou a ser herói,mas sem dúvida foi um grande vulto da nossa história.


Comemorações dos 150 anos de Wenceslau de Morais

"Sou português. Nasci em Lisboa no dia 30 de Maio de 1854. Estudei o curso de marinha e dediquei-me a official da marinha de guerra. Em tal qualidade fiz numerosas viagens, visitando as costas da África, da Ásia, da América, etc. Estive cerca de cinco annos na China, tendo ocasião de vir ao Japão a bordo de uma canhoneira de guerra e visitando Nagasaki, Kobe e Yokoama.

Em 1893, 1894, 1895 e 1896 voltei ao Japão, por curtas demoras, ao serviço do Governo de Macao, onde eu estava comissionado na capitania do porto de Macao. Em 1896, regressei a Macao, demorando-me por pouco tempo e voltando ao Japão (Kobe). Em 1899 fui nomeado cônsul de Portugal em Hiogo e Osaka, logar que exerci até 1913.

Em tal data, sentindo-me doente e julgando-me incapaz de exercer um cargo publico, pedi ao Governo portuguez a minha exoneração de official de marinha e de cônsul, que obtive, e retirei-me para a cidade de Tokushima, onde até agora me encontro, por me parecer logar apropriado para descançar de uma carreira trabalhosa e com saúde pouco robusta.

Devo acrescentar que, em Kobe e em Tokushima, escrevi, como mero passatempo, alguns livros sobre costumes japoneses, que foram benevolamente recebidos pelo publico de Portugal."

(Excerto de uma carta íntima, escrita por Wenceslau de Moraes em Fevereiro de 1928, a um japonês, Yanazi Wara, que lhe tinha solicitado uma autobiografia).

No pequeno texto atrás reproduzido, resume Wenceslau de Moraes (1854-1929) as principais etapas da sua longa vida.

Quando convidado pelo Instituto Camões para planear e dirigir as comemorações do seu 150° aniversário, o comissário propôs como forma de o fazer o seguimento dessas diversas fases, que passariam a ser outros tantos componentes ou núcleos.

Criou assim nove núcleos temáticos e procurou para cada um a forma de melhor o ilustrar.

Basicamente, as comemorações estão centradas numa grande exposição sobre "Wenceslau de Moraes, as Vidas e a Obra", em que se tentará fazer passar a mensagem da grande figura moderna que foi Wenceslau de Moraes, cujo pensamento político e económico antevia as alterações que se vieram a verificar ao longo do século XX e a emergência dos Estados Unidos da América, da Rússia, da China e do Japão para a liderança da comunidade de países.

Na sua obra e na sua correspondência, Wenceslau de Moraes sublinha constantemente a necessidade de grande compreensão mútua entre o Ocidente e o Oriente e revela um Japão real, não como até então chegava à Europa, depois de cerca de 200 anos de isolamento, envolto em bruma e mistério, de samurais cruéis, "geishas" de faces de porcelana e sangrentos "hara-kiris".

Insiste na necessidade da aproximação dos dois pólos civilizacionais, o europeu, ocidental e cristão, e o oriental, representado não só pelo Japão, mas também pela China, quer no aspecto comercial e económico, quer na área sócio-cultural e artística.

Grande observador das qualidades do povo japonês, consegue perceber perfeitamente que as mesmas irão projectar o país para um lugar preponderante, uma vez que, com a era Meiji, ou "do Brilhantismo", como ficou conhecido para a História o reinado do Imperador Mutsuhito, o Japão cortara de vez com o seu passado feudal.

Assim, é fundamental que, nas "comemorações", apareça ao público um Wenceslau de Moraes com essa dimensão moderna e não como um cronista das tradições folclóricas do Japão, como muitas vezes tem sido tratado.

Como afirma na carta reproduzida na introdução, Wenceslau de Moraes, ao contrário do que muitos afirmaram, nunca deixou de se considerar português.

Conhecedor da alma do povo japonês, é evidente que percebeu que nunca poderia metamorfosear-se, transformar-se em japonês.

O que provou foi a viabilidade de uma boa convivência, entre ele com a "longa barba hirsuta que lhe encobria meia cara" e os japoneses de "caras frescas, quase imberbes".

Essa boa convivência, provada à escala do indivíduo, seria também possível, a nível macro, a nível Ocidente/ Oriente, resultante de uma boa compreensão mútua.

A grande exposição programada para Novembro na Sociedade de Geografia será compartimentada nos núcleos atrás referidos e em que intervirão directamente os diversos parceiros, que desde logo aderiram à iniciativa proposta pelo Instituto Camões.

Com a mesma base programática dessa grande exposição, decidiu-se criar a possibilidade de a replicar em outra dimensão, em outras cidades, com maior ou menor ligação a Wenceslau de Moraes, no Japão, na China (Macau, Hong-Kong, Shangai) em Portugal (geminadas com cidades japonesas) e, eventualmente, em outros países através dos Centros Culturais Portugueses/ICA.

Para a realização destas exposições-réplica foram criados "posters" de cada um dos núcleos temáticos, (colecção de 18 "posters" de 100 x 140 cm) bem como um vídeo didáctico (produzido pela Universidade Aberta) que podem assim enquadrar e servir de denominador comum a essas mostras mais pequenas, realizadas por responsáveis de cada sítio com espólios e temas por eles mesmos pensados.

Durante o tempo de permanencia da grande exposição, e nos dias de inauguração das exposições-réplica, serão promovidos vários eventos relacionados com os diversos aspectos da vida e da obra de Wenceslau de Moraes.

Foi criado dentro do portal do Instituto Camões uma página dedicada às comemorações de Wenceslau de Moraes.

O que já foi realizado e o que está programado para as Comemorações

Depois de uma palestra a 28 de Abril na Casa Veva de Lima em Lisboa e de uma série de acções na Livraria "Garfos e Letras" no Porto, que incluíram uma montra evocativa, uma conferência sobre "O que comiam os marinheiros portugueses no Sec. XIX" e um curso de cozinha de Macau, acções essas integradas no núcleo Gastronomia, as comemorações iniciaram-se propriamente no Japão.

Em 13 e 14 de Maio, integrou-se a exposição de cartazes do Instituto Camões nas comemorações que a Sociedade Luso-Nipónica e a Associação Moraes de Tokushima celebraram no Museu de Literatura e Caligrafia daquela cidade, escolhida por Moraes para viver os últimos anos de vida. No dia 14 de Maio o comissário proferiu uma palestra "A Lisboa de Wenceslau de Moraes":

Em 17 de Maio, na Universidade para Estudos Estrangeiros de Quioto (Kyoto Gai Dai), o Comissário proferiu a mesma palestra para professores e alunos da mesma, seguida de debate.

Em 22 de Maio, foi inaugurada a exposição de Tóquio, no Espaço Cultural Manabu Mabe, Embaixada do Brasil, e, no mesmo espaço, decorreu um ciclo de conferências, muito participado, que contou com a presença, como palestrantes, do Comissário Pedro Barreiros, de Helmut Feldmann, de Takiko Okamura, de Daniel Pires, de Rui Zink, e de Kol de Carvalho. Foi apresentado nesta exposição o vídeo didáctico produzido pela Universidade Aberta e Instituto Camões.

A 24 de Maio o Instituto Camões, o IPOR e a Embaixada de Portugal no Japão promoveram um concerto pelo Duo NI-TOKI (piano a quatro mãos) com música clássica e folclórica portuguesa e japonesa, incluindo no programa a primeira audição mundial de uma peça inédita do compositor Vianna da Mota. Este concerto foi repetido a 28 de Maio em Osaka.

Na semana de 24 a 28 de Maio, no Restaurante "Manuel", decorreu uma semana gastronómica sob o signo de Moraes, com cozinha de Angola, Moçambique, Goa, Macau e Timor.

Entretanto, a 20 de Maio o Instituto Camões associou-se ao Dia da Marinha numa exposição alusiva àquele dia, em Viana do Castelo, em que foram expostos os cartazes produzidos pelo Instituto referentes a Wenceslau de Moraes e a Marinha.

Em Macau, no dia 30 de Maio, aniversário de Moraes, foi lançado um envelope comemorativo e um carimbo pelos correios de Macau (no mesmo dia, em Lisboa, era lançado pelo "Público" o CD-ROM "Fotobiografia de Wenceslau de Moraes", da autoria de Daniel Pires e editado pela Fundação Oriente).

Em 31 de Maio, o Instituto Camões e o IPOR inauguraram na Livraria Portuguesa em Macau uma exposição que, para além dos "posters", continha algumas peças reunidas naquele território pelo IPOR e outras que tinham sido trazidas pelo Comissário. Nos dias seguintes, 1 e 2 de Junho, nas mesmas instalações, houve um ciclo de conferências proferidas pelo comissário, por Daniel Pires, Teresa Senna e Carlos Morais José.

Em 28 de Junho o Comissário proferiu uma palestra sobre Wenceslau de Moraes na Casa de Macau em Lisboa. Em 12 de Julho foi inaugurada no Espaço Memória dos Exílios no Estoril, pela Câmara Municipal de Cascais e o Instituto Camões, a Exposição "Armando Martins Janeira nos 150 Anos de Wenceslau de Moraes", que junta o espólio deixado por aquele ilustre embaixador e biógrafo de Moraes aos cartazes produzidos pelo Instituto Camões.

No dia 15 de Julho, no Forum FNAC - Almada, o Comissário proferiu uma palestra sobre "Haikai-Poesia Japonesa" e no dia 16 de Julho, no Espaço Memória dos Exílios, uma outra, "Relances da Alma de Wenceslau de Moraes":

Estas exposições espalhadas por várias cidades do país (Vila do Bispo, Porto, Maia, Sintra, Aveiro, Viana do Castelo e Coimbra) estender-se-ão até ao fim de Dezembro.

Paralelamente às exposições e conferências, o Instituto Camões, em parceria com diversas entidades, está a promover uma série de edições de livros no âmbito das comemorações.

A INCM editará "O Essencial sobre Wenceslau de Moraes", da autoria de Ana Paula Laborinho, "Fernão Mendes Pinto no Japão", com introdução daquela mesma autora, e "O Yoné e Ko-Haru", com introdução de Teresa Sena.

A Editora COD (de Macau) começa em Julho uma edição em dez volumes das Obras de Wenceslau de Moraes, a ser vendida conjuntamente com o jornal "Hoje Macau":

A Comissão Cultural da Marinha vai lançar em Outubro o livro "Wenceslau de Moraes e a Marinha" da autoria do comandante Rodrigues Pereira.

A Fundação Oriente tem em preparação "O Poeta do Orvalho", poema que José Jorge Letria dedicou a Moraes, uma edição de luxo fac-similada dos postais que Moraes enviou a uma das irmãs e está a ponderar a publicação de um álbum de banda desenhada inspirada no autor do "Dai-Nippon".

O Instituto Camões lançou no dia 22 de Julho "Wenceslau de Moraes o Diplomata", da autoria do Embaixador Luís Gonzaga Ferreira e tem em preparação nas edições D. Quixote um livro de contos de autores modernos sobre Wenceslau de Moraes, coordenado por Rui Zink. Está ainda em fase de produção o CD do Duo NI-TOKI de música portuguesa e japonesa homenageando o escritor.

Helmut Feldmann, da Universidade de Colónia, está a preparar a publicação do díptico que inclui as duas obras mais autobiográficas de Moraes: "Fora da Pátria" e o "Bon Odori em Tokushima".

Em parceria com o canal A2, o Instituto Camões produzirá ainda um documentário sobre Wenceslau de Moraes, a ser exibido durante a exposição de Novembro.

Fonte:Instituto Camões
Título:
Enviado por: Duarte em Agosto 11, 2007, 08:33:28 pm
Citação de: "André"
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2F0%2F04%2FDuarte_Pacheco_Pereira.jpg&hash=ea551ea655150e5f4a2b4819f2896eea)
DUARTE PACHECO PEREIRA

Com este nome, só podia ser  c34x
Título: O último heroi do Império Português
Enviado por: Mueda em Agosto 20, 2007, 03:14:40 am

Comandante Roxo


Transmontano de boa cepa, rumou novo para Moçambique onde se tornou um conhecido caçador e um português de Africa, casando com uma natural da Provincia com quem teve filhos.

Com o surgimento da Guerrilha da FRELIMO a guerra veio até ele que com os seus pisteiros e vários naturais do territorio criou a mais eficaz unidade de contra-guerrilha de Moçambique.

Esta formação não respondia perante o Exercito mas perante a estrutura da Administração e actuava com pequenos grupos liderados pelos seus "Capitães" / Chefes.

Com o 25 de Abril tentou obter a independencia de um Moçambique de vários matizes realizando inclusivé uma ousada tomada da Rádio Local.

Com o fracasso deste movimento entra quase com 40 anos nas Forças Especiais da Africa do Sul e contribui decisivamente para o nascimento do conhecido Batalhão Bufalo, muito à imagem das forças lideradas por si em Moçambique.

Tal como aconteceu em Moçambique é também condecorado na Africa do Sul.

A combater em Angola, e após a explosão de uma mina que voltou a sua viatura sobre si, aguardou calmamente pela morte rodeado pelos seus homens e fumando um cigarro.
Título: Re: O último heroi do Império Português
Enviado por: Duarte em Agosto 20, 2007, 05:08:06 am
Citação de: "Mueda"

Comandante Roxo


Transmontano de boa cepa, rumou novo para Moçambique onde se tornou um conhecido caçador e um português de Africa, casando com uma natural da Provincia com quem teve filhos.

Com o surgimento da Guerrilha da FRELIMO a guerra veio até ele que com os seus pisteiros e vários naturais do territorio criou a mais eficaz unidade de contra-guerrilha de Moçambique.

Esta formação não respondia perante o Exercito mas perante a estrutura da Administração e actuava com pequenos grupos liderados pelos seus "Capitães" / Chefes.

Com o 25 de Abril tentou obter a independencia de um Moçambique de vários matizes realizando inclusivé uma ousada tomada da Rádio Local.

Com o fracasso deste movimento entra quase aos 40 nas Forças Especiais da Africa do Sul e contribui decisivamente para o nascimento do conhecido Batalhão Bufalo, muito à imagem das forças lideradas por si em Moçambique.

Tal como aconteceu em Moçambique é também condecorado na Africa do Sul.

A combater em Angola, e após a explosão de uma mina que voltou a sua viatura sobre si, aguardou calmamente pela morte rodeado pelos seus homens e fumando um cigarro.


(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fuk.geocities.com%2Fsadf_history2%2Froxopic.jpg&hash=362a9c17696e561194d23775a4eb2652)

http://uk.geocities.com/sadf_history2/operator.html
Título:
Enviado por: Cabecinhas em Agosto 20, 2007, 11:35:48 am
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Esta formação não respondia perante o Exercito mas perante a estrutura da Administração e actuava com pequenos grupos liderados pelos seus "Capitães" / Chefes.


Quem é que era esta estrutura da administração? O governo da província?
Título:
Enviado por: Duarte em Agosto 20, 2007, 12:39:14 pm
Citação de: "Cabecinhas"
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Esta formação não respondia perante o Exercito mas perante a estrutura da Administração e actuava com pequenos grupos liderados pelos seus "Capitães" / Chefes.

Quem é que era esta estrutura da administração? O governo da província?

Se não me engano, o governador do distrito, neste caso, do distrito do Tete. Acho que houve um evolução ao longo da guerra, e várias fórmulas e estruturas de comando.
Citar
"The militia took a wide range of organisational shapes, from very informal schemes of village forces acting under the authority of village chiefs, as happened in Angola, to more institutionally militarised groups assuring the defence of the aldeamentos, the protected villages formed along the lines of what the British had practiced in their counter-insurgency war in Malaysia, or the North-Americans in Vietnam.
As the war situation aggravated, and with the corresponding difficulties
experienced by the armed forces, the militia contingents were brought into more active roles exceeding the traditional defensive ones. Paradigmatic in this respect was the case of Guinea, where, besides the normal militias, special ones were created for offensive operations in their home areas. This new concept, which led to the emergence of very efficient troops, mixed the old colonial tradition with new counter-insurgency theories. These theories, to which the Portuguese
high military commanders were systematically exposed from the second half of the 1950s onward, had as one of their core concepts the so-called “same element theory,” according to which the guerrillas could be fought more efficiently by troops mirroring their organisation, weaponry, knowledge of the terrain, and even race—i.e., by African combat units. These theories became more extensively absorbed at a time when the need to adapt and to reinforce the Portuguese troops became more pressing."

in African Troops in the Portuguese Colonial Army, 1961-1974:
Angola, Guinea-Bissau and Mozambique1
João Paulo Borges Coelho
Eduardo Mondlane University, Maputo, Mozambique

Título:
Enviado por: Mueda em Agosto 21, 2007, 09:28:29 pm
Respondia perante a estrutura da administração colonial, penso que a administradores como o Intendente e mais tarde Governador Borges de Brito.

Claro que existia articulação com o exercito, muito embora alguns dos seus Oficias não se sentissem confortáveis com esta "inovação hierárquica". :)

A operacionalidade e a eficácia das suas tropas não tiveram rival em toda a guerra e inspiraram e contribuiram para a criação do multilinguistico e multicolorido Batalhão Bufalo !
Título:
Enviado por: André em Janeiro 26, 2008, 08:20:00 pm
Reabilitação de Barros Basto

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Mais de 2.800 pessoas já subscreveram a petição online lançada há um mês para a reabilitação do nome do capitão Barros Basto, herói da implantação da República expulso do Exército em 1943 por defender o Judaísmo.

Os signatários da petição (http://www.petitiononline.com/benrosh/petition.html) pedem ao Presidente da República, primeiro-ministro e Assembleia da República que nomeiem uma comissão para reanalisar o processo de expulsão de Barros Basto, que adoptou como nome judaico Ben-Rosh (filho do chefe).

Jorge Neves, primeiro subscritor da petição, disse hoje à agência Lusa que o documento só deverá ser enviado àquelas entidades depois de 12 de Fevereiro, dia em que a Comunidade Judaica do Porto terá uma reunião para preparar novas iniciativas em defesa da reabilitação de Barros Basto.

A Comunidade Judaica do Porto pretende enviar a petição também à Comissão da Liberdade Religiosa, agora presidida por Mário Soares.

«Estamos a preparar várias iniciativas ao longo do ano, para assinalar os 70 anos da Sinagoga do Porto, inaugurada em 16 de Janeiro de 1948», disse Jorge Neves.

Uma das iniciativas será a edição de uma brochura sobre a Comunidade Judaica do Porto, referiu.

Jorge Neves considerou natural a visita, prevista para domingo, do Presidente da República, Cavaco Silva, à Sinagoga de Lisboa, atendendo ao comportamento «correcto» que as autoridades portuguesas têm tido relativamente ao Judaísmo e restantes religiões.

«Do ponto de vista oficial, os responsáveis políticos têm sido correctos com o Judaísmo, nomeadamente desde a aprovação da Lei da Liberdade Religiosa. Não há nada a apontar», sublinhou.

A Comunidade Israelita do Porto assinalou em Dezembro de 2007 os 120 anos do nascimento do capitão Barros Basto com o lançamento de um novo apelo à reabilitação do nome deste herói da implantação da República, expulso do Exército em 1943.

Jorge Neves disse então à agência Lusa que o objectivo deste novo apelo é «que seja feita justiça», porque o único «crime» que Barros Basto cometeu foi ter-se convertido ao Judaísmo e ajudado centenas de pessoas a retornarem à fé dos seus antepassados, forçados pela Inquisição a converterem-se ao Catolicismo.

«Achamos que é um assunto que não pode ficar eternamente adiado», afirmou Jorge Neves, lamentando que não tenham resultado as várias tentativas de reabilitação feitas desde o 25 de Abril de 1974.

A mais forte tentativa, disse Jorge Neves, foi em 1996, quando o então Presidente da República, Jorge Sampaio, recebeu a família de Barros Bastos e «disse-lhe que o assunto seria resolvido em coisa de 15 dias».

Contudo, esta diligência também falhou, o que levou as comunidades judaicas do Porto, de Portugal, de Israel e dos Estados Unidos a lançarem novos apelos nos anos seguintes.

Em 2003, a organização judaica «Amishav» lançou uma campanha para a reabilitação pelo governo português do capitão Barros Basto, com a entrega de uma petição ao embaixador de Portugal em Israel.

No mesmo ano, a Conferência das Organizações Judaicas Americanas (COJA) entregou uma carta ao embaixador português em Washington, pedindo que «a verdade dos factos e a justiça sejam repostas».

Em 2005, o 1º Congresso dos Marranos, no Porto, foi palco de redobrados apelos à reabilitação do capitão Barros Basto.

«Gostávamos que o governo pedisse desculpas à família de Barros Basto e esperamos que em breve seja feita justiça», disse no congresso o director da Organização Shavei Israel, Michael Freund.

Jorge Neves admitiu que o obstáculo poderá estar na eventual relutância do Exército em reintegrar formalmente Barros Basto, pelo facto dessa decisão poder implicar o pagamento à família de indemnizações e pensões pelo que o capitão deixou de ganhar.

«O Exército não é uma estrutura fácil a admitir estas situações», disse.

Jorge Neves salientou que foi Barros Basto quem hasteou a bandeira da República, no Porto, em 1910 e que foi condecorado pela sua participação na I Grande Guerra Mundial, comandando um batalhão em França.

«Foi vítima de um certo anti-semitismo, de um processo que hoje sabemos que foi forjado. Foi condenado por ser judeu», realçou.

Jorge Neves, fundador da produtora independente Alfândega Filmes, disse à Lusa que está a preparar um documentário sobre Barros Basto, que espera ter concluído em 2008, caso obtenha financiamento.

«Estamos em negociação com uma televisão de Israel», referiu, acrescentando que já reuniu «grande parte do material», nomeadamente fotografias e documentos cedidos pela família.

A história de Barros Basto já foi compilada pela professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Elvira de Azevedo Mea e pelo jornalista Inácio Steinhardt no livro biográfico «Ben-Rosh», publicado em 1997 pelas Edições Afrontamento.

Diário Digital / Lusa
Título:
Enviado por: André em Fevereiro 13, 2008, 08:31:45 pm
Comunidade Judaica do Porto pede audiência ao PR para reabilitar capitão Barros Basto

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A Comunidade Judaica do Porto vai pedir uma audiência ao Presidente da República, Cavaco Silva, para apelar à reabilitação do nome do capitão Barros Basto, herói da implantação da República expulso do Exército em 1943 por defender o Judaísmo.

Jorge Neves, um dos membros da comunidade, disse hoje à agência Lusa que os judeus do Porto pretendem expor ao Presidente da República todo o processo tendente à reabilitação do nome de Barros Basto e decidiram também convidar Cavaco Silva a visitar a Sinagoga da cidade na primeira quinzena de Maio.

"Por ocasião dos 60 anos da fundação do estado de Israel, pretendemos fazer uma celebração evocando os 120 anos do nascimento de Barros Basto e os 70 anos da Sinagoga do Porto", disse Jorge Neves.

Cavaco Silva visitou recentemente a Sinagoga de Lisboa, atitude que Jorge Neves considerou natural, atendendo ao comportamento "correcto" que as autoridades portuguesas têm tido nos últimos anos relativamente ao Judaísmo e restantes religiões.

"Do ponto de vista oficial, os responsáveis políticos têm sido correctos com o Judaísmo, nomeadamente desde a aprovação da Lei da Liberdade Religiosa. Não há nada a apontar", sublinhou.

A comunidade judaica do Porto decidiu também pedir audiências ao Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e aos grupos parlamentares.

Jorge Neves referiu que a petição online para reabilitar o nome de Barros Basto, de que é primeiro subscritor, será enviada aos órgãos de soberania logo que atinja as 4.000 subscrições.

Os signatários da petição http://www.petitiononline.com/benrosh/petition.html (http://www.petitiononline.com/benrosh/petition.html), que reuniu até hoje cerca de 3.200 subscrições, pedem ao Presidente da República, primeiro-ministro e Assembleia da República que nomeiem uma comissão para reanalisar o processo de expulsão de Barros Basto, que adoptou como nome judaico Ben-Rosh (filho do chefe).

A Comunidade Judaica do Porto pretende enviar a petição também à Comissão da Liberdade Religiosa, agora presidida por Mário Soares.

A Comunidade Israelita do Porto assinalou em Dezembro de 2007 os 120 anos do nascimento de Barros Basto com o lançamento de um novo apelo à reabilitação do nome do capitão.

Jorge Neves disse então à agência Lusa que o objectivo deste novo apelo é "que seja feita justiça", porque o único "crime" que Barros Basto cometeu foi ter-se convertido ao Judaísmo e ajudado centenas de pessoas a retornarem à fé dos seus antepassados, forçados pela Inquisição a converterem-se ao Catolicismo.

"Achamos que é um assunto que não pode ficar eternamente adiado", afirmou Jorge Neves, lamentando que não tenham resultado as várias tentativas de reabilitação feitas desde o 25 de Abril de 1974.

A mais forte tentativa, disse Jorge Neves, foi em 1996, quando o então Presidente da República, Jorge Sampaio, recebeu a família de Barros Bastos e "disse-lhe que o assunto seria resolvido em coisa de 15 dias".

Contudo, esta diligência também falhou, o que levou as comunidades judaicas do Porto, de Portugal, de Israel e dos Estados Unidos a lançarem novos apelos nos anos seguintes.

Jorge Neves salientou que foi Barros Basto quem hasteou a bandeira da República, no Porto, em 1910 e que foi condecorado pela sua participação na I Guerra Mundial, comandando um batalhão em França.

"Foi vítima de um certo anti-semitismo, de um processo que hoje sabemos que foi forjado. Foi condenado por ser judeu", realçou.

Jorge Neves, fundador da produtora independente Alfândega Filmes, está a preparar um documentário sobre Barros Basto, que espera ter concluído em 2008, caso obtenha financiamento.

"Estamos em negociação com uma televisão de Israel", referiu, acrescentando que já reuniu "grande parte do material", nomeadamente fotografias e documentos cedidos pela família.

A história de Barros Basto já foi compilada pela professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Elvira de Azevedo Mea e pelo jornalista Inácio Steinhardt no livro biográfico "Ben-Rosh", publicado em 1997 pelas Edições Afrontamento.

Lusa
Título:
Enviado por: Nitrox13 em Fevereiro 14, 2008, 03:42:19 pm
Aqui proponho para distinção todos os COMANDOS Africanos que foram fuzilados por terem apoiado a causa errada!!!!
Título:
Enviado por: Luso em Fevereiro 14, 2008, 03:51:26 pm
Citação de: "Nitrox13"
Aqui proponho para distinção todos os COMANDOS Africanos que foram fuzilados por terem apoiado a causa errada!!!!


E eu proponho para distinção todos os COMANDOS Africanos que foram fuzilados por terem apoiado a causa certa.
Título:
Enviado por: Duarte em Fevereiro 15, 2008, 01:47:46 am
Citação de: "Luso"
Citação de: "Nitrox13"
Aqui proponho para distinção todos os COMANDOS Africanos que foram fuzilados por terem apoiado a causa errada!!!!

E eu proponho para distinção todos os COMANDOS Africanos que foram fuzilados por terem apoiado a causa certa.


E eu proponho um castigo digno para aqueles que os trairam e abandonaram `a sua sorte.  :twisted:
Título: Re: O último heroi do Império Português
Enviado por: oultimoespiao em Fevereiro 15, 2008, 04:07:33 am
Citação de: "Mueda"

Comandante Roxo


Transmontano de boa cepa, rumou novo para Moçambique onde se tornou um conhecido caçador e um português de Africa, casando com uma natural da Provincia com quem teve filhos.

Com o surgimento da Guerrilha da FRELIMO a guerra veio até ele que com os seus pisteiros e vários naturais do territorio criou a mais eficaz unidade de contra-guerrilha de Moçambique.

Esta formação não respondia perante o Exercito mas perante a estrutura da Administração e actuava com pequenos grupos liderados pelos seus "Capitães" / Chefes.

Com o 25 de Abril tentou obter a independencia de um Moçambique de vários matizes realizando inclusivé uma ousada tomada da Rádio Local.

Com o fracasso deste movimento entra quase com 40 anos nas Forças Especiais da Africa do Sul e contribui decisivamente para o nascimento do conhecido Batalhão Bufalo, muito à imagem das forças lideradas por si em Moçambique.

Tal como aconteceu em Moçambique é também condecorado na Africa do Sul.

A combater em Angola, e após a explosão de uma mina que voltou a sua viatura sobre si, aguardou calmamente pela morte rodeado pelos seus homens e fumando um cigarro.


Danny Roxo, penso que nao era transmontano! Penso que era das caldas da rainha, pelo menos tem familia la! Ele ficou celebre foi por ser sargento no famoso 32nd battalion!
Título:
Enviado por: oultimoespiao em Fevereiro 17, 2008, 03:50:33 pm
32nd. Battalion foi onde o actor leonardo di caprio no filme blood diamonds supostamente tinha pertencido
Título:
Enviado por: Mueda em Fevereiro 18, 2008, 05:15:53 pm
Boas

Francisco Daniel Roxo nasceu em Mogadouro, Trás dos Montes, nunca procurou ser uma celebridade, contudo tornou-se uma Lenda ainda em Moçambique.

MUEDA
Título:
Enviado por: oultimoespiao em Fevereiro 25, 2008, 01:16:59 am
Citação de: "Mueda"
Boas

Francisco Daniel Roxo nasceu em Mogadouro, Trás dos Montes, nunca procurou ser uma celebridade, contudo tornou-se uma Lenda ainda em Moçambique.

MUEDA


Mas nao era comandante, era sargento das forcas especiais sul africanas!
Título:
Enviado por: Lancero em Fevereiro 25, 2008, 04:32:06 pm
Em Moçambique era conhecido pelo comadante Roxo. O seu posto, se é que tinha algum, desconheço.
Título:
Enviado por: Duarte em Fevereiro 25, 2008, 09:33:02 pm
Citação de: "oultimoespiao"
Mas nao era comandante, era sargento das forcas especiais sul africanas!


Era Comandante das Miliícias do Distrito de Tete.
Título:
Enviado por: oultimoespiao em Fevereiro 26, 2008, 02:37:23 am
Citação de: "Duarte"
Citação de: "oultimoespiao"
Mas nao era comandante, era sargento das forcas especiais sul africanas!

Era Comandante das Miliícias do Distrito de Tete.


Sim compreendo, mas num exercito regular isso nao tem equivalencia.
Título:
Enviado por: André em Março 17, 2008, 09:47:24 pm
Portugueses foram os primeiros a chegar ao Tibete, há quase 400 anos ...

Citar
António de Andrade representa, literalmente, o ponto mais alto dos descobrimentos portugueses: ele foi o primeiro europeu a chegar ao Tibete, o «Tecto do Mundo», há quase 400 anos

Para o historiador Luís de Albuquerque, aquele missionário jesuíta foi, também, «o último dos grandes viajantes portugueses dos séculos XV e XVI»

António de Andrade (1581-1634) nasceu em Oleiros, distrito de Castelo Branco. Entrou para a Companhia de Jesus com 15 anos de idade e em 1600 partiu para a Índia, onde viveu até morrer.

A sua primeira viagem ao Tibete, iniciada a partir do Reino de Agra, no norte da Índia, ocorreu em 1624. Segundo a mitologia da época, haveria no Tibete «muitos cristãos» e «igrejas ricamente ornadas com imagens do Nosso Senhor Jesus Cristo e da Nossa Senhora».

António de Andrade viajava acompanhado por um sacerdote da mesma Ordem chamado Manuel Marques. Iam ambos «disfarçados de mouros», com um grupo de «peregrinos pagãos».

Quando foram descobertos, em Srinagar, a capital de Caxemira, António de Andrade alegou que ia à procura de um irmão que não via há muito tempo e que pensava ser o rei do Tibete.

O missionário português falava persa, a língua literária e comercial da região.

Ao fim de cerca de dois meses e de muitas peripécias, António de Andrade e Manuel Marques chegaram finalmente a Chaparangue, a capital do então Tibete Ocidental.

A chegada dos dois portugueses não passou despercebida: «saía gente pelas ruas, e as mulheres às janelas a nos ver, como coisa rara e estranha», escreveu António de Andrade.

O missionário constatou, também, que «a maior parte da população era muito acolhedora». Pelo que viu, o vestuário «não era propriamente limpo», mas as pessoas eram «muito meigas» e «raramente pronunciavam palavrões».

Quanto à geografia, o que aparentemente mais impressionou António de Andrade foram as «neves perpétuas» e a secura: «Não se encontra uma única arvore nem uma erva nos campos». Mesmo assim, havia «numerosos rebanhos de carneiros, cabras e cavalos» e «não faltava carne nem manteiga».

António de Andrade voltou a Chaparangue em 1625 e depois dele, outros missionários portugueses percorreram o mesmo caminho.

A Companhia de Jesus chegou a estabelecer duas missões no Tibete e até à segunda metade do século XVIII, os relatos de António de Andrade, traduzidos em quase todas as línguas do mundo católico, desde a Espanha à Polónia, foram a única fonte dos estudos de tibetologia na Europa.

Do ponto religioso, porem, a missão dos jesuítas ao Tecto do Mundo não parece ter sido um sucesso: quase 400 anos depois, a esmagadora maioria dos tibetanos continuam a ser budistas.

Lusa/SOL  
Título:
Enviado por: NaVeG em Julho 31, 2008, 08:36:18 pm
Citação de: "Benny"
Será que há algum livro ou publicação recente sobre este assunto?


Afirmativo: «Memórias de Um Dever Cumprido - Portugal na Primeira Grande Guerra», da autoria de Ana Luísa Araújo Pinto, editado em Outubro de 1996 pela Liga dos Combatentes.

No que respeita a veteranos da Grande Guerra, nesta data sobrevivos: a resposta é negativa. O mais antigo, meses antes de ser dada à estampa a edição da obra supra citada, era Francisco de Araújo Rebelo, nascido em 21-02-1892 no lugar de Moinhos, freguesia de Airães do concelho de Felgueiras, que esteve colocado na frente da Flandres e participou na Batalha de La Lys. Faleceu em Amarante, pouco antes de completar 105 anos de idade.
Título:
Enviado por: André em Agosto 13, 2008, 10:45:06 pm
Conhecem o Lopo Barriga ...

Lopo Barriga (nascido na Sertã) foi um guerreiro português do século XVI. Nuno Fernandes de Ataíde, assim que recebeu o cargo de governador de Safim, nomeou Lopo Barriga para adail desta praça.

Foi aprisionado com os seus homens quando se preparava para tomar o castelo de Alguel. No entanto conseguiu escapar, depois de matar o mouro que o segurava e conseguir um cavalo e uma lança para fugir. A sua fama de guerreiro intrépido e feroz consolidou-se depois de ter caído em poder dos mouros e de, mesmo algemado, matar um deles que se atreveu a pegar-lhe na barba.

Finalmente, D. João III de Portugal providencia o seu resgate. Quando Lopo Barriga chegou de novo ao reino casou-se com D. Joana de Eça. Deste casamento nasceram Pedro Barriga, D. Francisca de Vilhena e D. Beatriz de Vilhena.

O adail de Safim tinha tal fama de bravura que havia mouros que faziam viagens de propósito para o ver enquanto este esteve cativo, e quando se lançava alguma maldição a alguém sublinhava-se com a frase "lançadas de Lopo Barriga te colham!".

Wikipédia

Um verdadeiro português de Barba Rija ...  :D  :D  :wink:
Título:
Enviado por: André em Agosto 29, 2008, 06:38:37 pm
Antónia Rodrigues

Natural da Freguesia da Apresentação, em Aveiro, Antónia Rodrigues era filha de Simão Rodrigues, marinheiro, e de Leonor Dias. Nasceu numa família de recursos limitados. Entretanto, habituada a ouvir histórias aventureiras de tantos navegadores aveirenses, Antónia, ainda jovem, foi morar para Lisboa, na companhia de uma irmã casada, onde não se deu bem em virtude de seu espírito livre e insubmisso. Decidiu então, em 1593, radicalizar a sua forma de vida, disfarçou-se de homem, adoptou o nome de António Rodrigues e conseguiu emprego na tripulação de um navio carregado de trigo, que zarpou para a possessão portuguesa de Mazagão, em Marrocos.

Depois da viagem, alistou-se na infantaria local, na qual adquiriu habilidades no manejo das armas e alcançou o comando de uma tropa contra uma invasão dos mouros. Entrou vitorioso em Mazagão e foi triunfalmente aclamado e integrado à cavalaria da praça. Por suas seguidas e brilhantes actuações militares, ficou conhecido como o terror dos mouros e ganhou a estima e o respeito de todos. Contudo, uma donzela filha de um cavaleiro apaixonou-se pelo valente "soldado" e, devido ao seu prestígio, o pai pediu-lhe que casasse com sua filha. O assédio de várias jovens fidalgas portuguesas da época para que o jovem oficial as desposasse obrigou a heroína a confessar a verdade ao Provisor do Eclesiástico, cinco anos depois. Após revelar a sua verdadeira identidade, Antónia resolveu mudar as suas atividades militares e tornar-se uma cidadã civil.

Pouco depois, casou-se com um ex-colega de armas e regressou a Portugal, onde o rei Filipe II a recompensou pelos serviços prestados, conferindo-lhe diversas condecorações reais a ela e a sua família. A partir de então a sua vida ficou envolta em mistério e pouco se sabe sobre seus dados familiares, bem como a data e o local da sua morte.

Wikipédia
Título: Por ser Monárquico é esquecido, provávelmente de todos
Enviado por: Rui Monteiro em Setembro 03, 2008, 02:58:08 pm
Mouzinho de Albuquerque
Pelos caminhos da Honra, da Glória

http://imagens.webboom.pt/imagem?amb=ca ... &width=130 (http://imagens.webboom.pt/imagem?amb=capaprod&id=183765&width=130)

Monárquico convicto e conservador, Mouzinho de Albuquerque foi oficial da cavalaria, secretário-geral do governo do estado da Índia, governador do distrito de Lourenço Marques e, mais tarde, de Moçambique.
O êxito militar da captura do Gungunhana e a forma apoteótica como foi recebido na metrópole e nas principais cortes europeias fizeram de Mouzinho um dos grandes políticos do seu tempo. Como consequência desse prestígio, foi nomeado oficial-mor da Casa Real e responsável pela educação de D. Luís Filipe de Bragança. O clima de intriga e de indecisão política que se vivia em Portugal, no início do século XX, fá-lo retirar-se da cena política.
O seu desaparecimento continua envolto num grande mistério, mas Mouzinho de Albuquerque permanecerá como um protagonista maior da História de Portugal.
Título:
Enviado por: Viriato - chefe lusitano em Setembro 03, 2008, 05:59:22 pm
General Silveira, grande guerrilheiro e opositor às invasões de Napoleão...
Título:
Enviado por: TOMSK em Abril 27, 2009, 12:28:06 pm
D. Cristóvão da Gama

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi380.photobucket.com%2Falbums%2Foo246%2Fpanzer18%2Fcristovaodagama.jpg&hash=2607dd6254e83f946ea3d54ff97e564f)

Cristóvão da Gama foi o quarto filho de Vasco da Gama e de Catarina de Ataíde. Em 1532 acompanhou o seu irmão D. Estevão à Índia até Malaca. Regressando ao reino em 1534 voltou à Índia em 1538.
Em 1541 acompanhou novamente o irmão, então governador da Índia, na expedição de Goa ao Mar Vermelho, uma armada de 75 velas com o objectivo de queimar as naus turcas em Suez, em que tomou parte honrosa.

No século XVI os muçulmanos, chefiados por Ahmed Gran, lançaram uma guerra santa sobre a Etiiópia. Acudindo ao apelo do Imperador Cristão da Etiópia, os portugueses intervieram militarmente, enviando para isso uma expedição de 400 homens comandados por D. Cristóvão da Gama.

Com este exército diminuto, o jovem comandante lançou-se através dos montes ínvios do vasto país, tomou lugares aparentemente inacessíveis, venceu batalhas contra forças quatro vezes superiores, libertando grande parte do território etíope.

Onde é hoje a Eritreia, em Março de 1541, na batalha de Anasa os muçulmanos combateram as forças conjuntas da Imperatriz da Etiópia e de Cristóvão da Gama. A superioridade tecnológica do exército português parece ter levado a melhor e o chefe muçulmano, ferido, fugiu do campo de batalha. Imediatamente enviou um pedido de auxílio ao Paxá do Yemen o qual enviou uma força de 2000 árabes e turcos, conhecedores já dos segredos da pólvora.

Em Agosto de 1541, a Imperatriz e os portugueses encontraram-se novamente e combateram contra as tropas inimigas em Ashenge.
D. Cristóvão da Gama foi gravemente ferido no frenesim da batalha, e escondeu-se num bosque para que as suas feridas sarassem antes que pudesse voltar para junto do exército.

Enquanto se encontrava escondido, uma jovem rapariga turca que D. Cristóvão tinha mantido como sua amante parece ter decidido traí-lo e dirigiu os muçulmanos até ao local.
Os seus captores espancaram-no brutalmente e arrastaram-no até ao comandante muçulmano. Tentaram, através da tortura, fazê-lo revelar para onde a Imperatriz se tinha retirado mas ele recusou-se a tal.

O capitão aproximou-se do prisioneiro e disse-lhe que se ele aceitasse converter-se ao Islão, seria misericordioso.
A resposta de D. Cristóvão da Gama foi cuspir na cara do muçulmano.
Irritado, agarrou num machado e decapitou o filho de Vasco da Gama.

Entretanto, o Imperador da Etiópia finalmente regressou com o seu exército e juntou-o com as forças da sua mãe e dos portugueses. A chegada do jovem Imperador parece ter animado grandemente os soldados etíopes e portugueses, marchando atrás dele com grande entusiasmo.

Após algumas batalhas importantes, em que os portugueses se bateram heroicamente, talvez com o desejo de vingança a incendear-lhes o espírito, cristãos e muçulmanos encontraram-se em Fogera, nas margens do lago Tana, em Fevereiro de 1542, para aquila que viria a ser uma enorme e sangrenta batalha final.

Durante a batalha, um servo leal de D. Cristóvão chamado Pedro Leão viu a oportunidade de vingar o seu mestre e disparou contra o Capitão muçulmano que havia decapitado D. Cristóvão, ferindo-o com gravidade.
Este, de forma a não causar pânico nas suas tropas diz-se ter simplesmente dito "Continuem a lutar" e foi-se sentar atrás de um pedregulho de forma a não mostrar o quão seriamente ferido estava.

Pedro Leão, contudo, vendo isto, seguiu-o e acabou com ele. Cortou a orelha do Gragn e exibiu-a aos jubilantes portugueses e etíopes que dançarqam em sua volta em vitória. Estava vingado o filho de Vasco da Gama.

Aparentemente, antes da batalha, o Imperador tinha prometido aos seus homens o casamento com a princesa da Etiópia a quem lhe trouxesse a cabeça do chefe muçulmano. Ao que parece, o humilde Pedro Leão, sem o saber, tornou-se assim noivo da filha do Imperador da Abissínia, onde ainda hoje permanece com descendência na Etiópia.
Título:
Enviado por: André em Abril 27, 2009, 01:20:37 pm
Pena que todo esse esforço e sofrimento fosse por água abaixo, quando a Etiopia nos virou as costas no Século XVII por questões religiosas ...  :(  :cry:
Título:
Enviado por: TOMSK em Abril 27, 2009, 02:12:35 pm
Citação de: "André"
Pena que todo esse esforço e sofrimento fosse por água abaixo, quando a Etiopia nos virou as costas no Século XVII por questões religiosas ...  :(  :cry:

O que é que se passou ?
Título:
Enviado por: André em Abril 27, 2009, 02:23:21 pm
Citação de: "TOMSK"
O que é que se passou ?


Assim muito resumidamente os missionários estavam a fazer um trabalho que os Imperadores não estavam a gostar que era substituir a religião Copta pela Católica no seu pais foi como no Japão e assim cortaram as relações com a nação que os salvou o poleiro ...  :roll:  :roll:
Título:
Enviado por: TOMSK em Abril 27, 2009, 02:42:11 pm
Citação de: "André"
Assim muito resumidamente os missionários estavam a fazer um trabalho que os Imperadores não estavam a gostar que era substituir a religião Copta pela Católica no seu pais foi como no Japão e assim cortaram as relações com a nação que os salvou o poleiro ...  :roll:  :roll:


Nâo sabia, obrigado!
É que para além da ajuda militar, os portugueses deram um grande impulso ao desenvolvimento do país em termos de infra-estruturas.
Sei que ainda restam algumas pontes portuguesas, que estão no entanto em mau-estado de conservação, devido ao alheamento do governo.
Será que as relações permanecem cortadas? País ingrato...

Mas quem quiser saber mais, este livro, como toda a colecção, é dos melhores que por aí se encontram:
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fgenealogia.netopia.pt%2Fimages%2Fshop%2Flivro_1177.jpg&hash=606134f53e7274d2d51ff8b6a3685b74)
Título:
Enviado por: André em Abril 27, 2009, 03:52:10 pm
Citação de: "TOMSK"
Citação de: "André"
Assim muito resumidamente os missionários estavam a fazer um trabalho que os Imperadores não estavam a gostar que era substituir a religião Copta pela Católica no seu pais foi como no Japão e assim cortaram as relações com a nação que os salvou o poleiro ...  :roll:  :lol:  :lol: há umas décadas atrás um presidente Etiope até veio a Portugal, inclusive foi por flores no tumulo do Vasco da Gama em forma de agradecimento ...  :wink:
Título:
Enviado por: comanche em Abril 29, 2009, 12:26:58 am
Para lá do tratado de Tordesilhas, segue-se uma breve descrição dos feitos de Pedro Teixeira.


Acuña, Pedro Teixeira, e o Rio das Amazonas


"Parte de Cametá a expedição de Pedro Teixeira, capitão-mor por Sua Majestade, das entradas e descobrimentos de Quito e do rio das Amazonas. Levava um regimento dado pelo rei. Devia fazer a exploração do rio Amazonas, descobrir uma comunicação fluvial com Quito e escolher o limite mais conveniente entre os domínios das duas coroas e o local para uma povoação na linha divisória". (Barão do Rio Branco)




Cristobal de Acuña

Filho de família nobre e influente nasceu em Burgos, em 1597. Ingressou na Companhia de Jesus, em 1612, e tão logo recebeu as ordens sacras foi enviado para a América. Foi professor de Teologia moral no Colégio de Cuenca (Quito) e mais tarde reitor daquele estabelecimento. Em fevereiro de 1639, juntamente com outro irmão da ordem, o padre André de Artieda, foi designado para acompanhar Pedro Teixeira na sua viagem de volta pelo rio das Amazonas chegando à Belém em dezembro do mesmo ano.






Citar



Pedro Teixeira



As informações sobre a data de nascimento de Pedro Teixeira são conflitantes. O ’Conquistador da Amazônia’, de ascendência nobre, nasceu em São Pedro de Cantanhede, distrito de Coimbra, Portugal em 1587 (ou 1570). Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e Moço Fidalgo da Casa Real e, na localidade de Praia, nos Açores, casou-se com Ana Cunha, filha do Sargento-Maior Diogo de Campos Moreno. Veio para o Brasil em 1607 com 20 (ou 37) anos onde contribuiu de forma notável para manutenção da soberania portuguesa na Terra Brasilis e na expansão da fronteiras amazônicas para além do tratado de Tordesilhas.

 

O currículo de Pedro Teixeira é vasto e impressionante e, por isso, reproduziremos somente algumas de suas operações mais importantes. Como alferes, em fevereiro de 1614, enfrentou os franceses na Batalha de Guaxenduba e, em 1616, juntamente com Francisco Caldeira Castelo Branco, fundou a cidade de Belém do Pará. Ainda em 1616, com duas canoas armadas bateu uma nau holandesa na foz do Xingu e, em maio de 1623, destruiu a Fortificação de Mariocay, onde havia se instalado uma guarnição de holandeses e ingleses, e neste mesmo local construiu a fortificação de Santo Antônio de Gurupá.

 

"Em 23 de maio de 1625, Pedro Teixeira, tendo às suas ordens os Capitães Pedro da Costa Favela e Jerônimo de Albuquerque, ataca e toma o forte holandês de Maniutuba, na foz do Xingu. O comandante inimigo Oudaen consegue fugir, com parte da guarnição, em uma lancha, para a ilha de Tucujus". Após a vitória do dia anterior, Pedro Teixeira desembarca na ilha de Tucujus (Amazonas), onde os ingleses, comandados por Philipp Pursell, tinham três fortins. Os dois primeiros foram tomados quase sem resistência, fugindo os defensores. Adiantando-se então, teve o Capitão Favela de sustentar viva peleja com os ingleses e holandeses, que vinham ao encontro. Os dois chefes inimigos, Pursell e Oudaen, ficaram no campo entre os mortos. O outro fortim rendeu-se a Pedro Teixeira". (PARANHOS)

 

Em Maio de 1625 impede uma nova tentativa de ocupação pelos holandeses das ilhas da Foz do Amazonas; em 21 de Outubro de 1625 expulsa os holandeses da Fortificação de Torrego, na confluência do Maracapucu.

 

Em 21 de junho de 1629, "o Capitão Pedro da Costa Favela parte de Belém do Pará com a missão de tomar ou render o forte de Taurege (Torrego), construído pelos ingleses na margem esquerda do Amazonas. Nada consegue e suspende as hostilidades, retirando-se para a aldeia de Mariocai. O forte de Torrego só foi tomado, no dia 24 de outubro, por Pedro Teixeira". (PARANHOS)

 

24 de outubro de 1629, "o Capitão Pedro Teixeira, que assediava com forças do Pará o forte inglês de Taurege, pelos nossos chamados Torrego, derrota um corpo inimigo, que vinha em socorro dos sitiados. O assédio começara no dia 24 de setembro, em que Teixeira ai desembarcou, vencendo a oposição do inimigo. Duas sortidas foram repelidas, e, vencido o socorro que esperava, rendeu-se no mesmo dia o comandante do forte, James Pursell, com 80 soldados e alguns índios. Arrasada a fortificação, seguiu Teixeira para a aldeia de Mariocai, depois Vila de Gurupá. A guarnição inglesa foi conduzida para o Pará e seu chefe remetido para Lisboa. O forte de Taurege ficava na margem esquerda do Amazonas, junto ao rio hoje chamado Toheré. Cumpre não confundir este James Pursell com Philip Pursell, morto em combate na ilha de Tucujus". (PARANHOS)

 

Em 26 de outubro de 1629, "chegava o Capitão Pedro Teixeira com as tropas, que dois dias antes haviam rendido o forte de Taurege, e com os prisioneiros ingleses, à aldeia de Maiocai (10 anos depois Vila de Gurupá), quando o Capitão North, que trazia reforços para o inimigo em 2 navios maiores, 1 patacho e 2 ou 3 lanchas, tentou um desembarque. Repelido este ataque, foram os ingleses fundar o forte de Camaú, na ponta de Macapá, só conquistado pelos nossos a 9 de julho de 1932". (PARANHOS)

 

A expansão da soberania portuguesa



No século XVII a região amazônica era palco de disputa pelas potências européias, como Castela, França, Holanda e Inglaterra. O governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha, em outubro de 1636, no período em que os portugueses se encontravam sob o jugo castelhano (Coroa Ibérica - 1580/1640), idealizou a expansão da soberania portuguesa na bacia amazônica antevendo que o período da restauração se avizinhava. Para concretizar o audacioso empreendimento, nomeou Pedro Teixeira para a chefia da expedição, com o propósito de estender os domínios de Portugal até as terras peruanas fundando povoados que marcassem o limite das terras da Coroa Portuguesa no Amazonas. O motivo para a escolha de Pedro Teixeira, além de suas qualidades militares, era seu profundo conhecimento da região e a política que implementava em relação aos indígenas.



A narrativa



Cristobal de Acuña escreveu, em 1641, a ’Relación del Descubrimiento del rio de las Amazonas’, a obra teve a sua primeira edição publicada em Madrid, pela ’Imprensa del Reyno’. A crônica do padre jesuíta é leve, dividida em pequenos capítulos, com explicações objetivas e interessantes tornando sua leitura amena e agradável.


Pedro Teixeira começa a sua viagem



"Saiu, pois, este bom caudilho dos confins do Pará aos 28 de outubro de mil seiscentos e trinta e sete anos, com quarenta e sete canoas de bom tamanho e nelas setenta soldados portugueses, mil e duzentos índios de voga e guerra, que, juntos ás mulheres e moços de serviço, passariam de duas mil pessoas. Durou a viagem cerca de um ano, tanto pela força das correntes, como também pelo tempo que, em preparar subsistência para tão numeroso exército, era forçoso se gastasse, e principalmente por caminharem sem guias certos, que os pudessem dirigir sem rodeios nem dilações pelos caminhos mais curtos".

 

O capitão-mor chega a Quito



"Com esta confiança e poucos companheiros, continuou Pedro Teixeira em seguimento do seu coronel, que já se encontrava desde alguns dias na cidade de Quito. Aí foram bem recebidos e agasalhados, tanto dos Seculares como dos Eclesiásticos, mostrando todos o prazer que sentiam em ver, em seu tempo, e por vassalos de Sua Majestade não só o descoberto, senão também navegado, desde a sua foz até suas primeiras nascentes, ao afamado rio Amazonas".

 

Resolução do vice-rei do Peru



"Recebida naquela Real Audiência de Quito a notícia. que bastava para dar plano concreto do muito que às duas Majestades Divina e humana importava acudir com brevidade ao bom êxito de negócio tão importante, não se atreveram os senhores Presidente e Ouvidores a resolver coisa alguma, sem primeiro dar conhecimento ao vice-rei do Peru, que era então o Conde de Chinchón.

 

Conde de Chinchón: Jerônimo Fernandez de Cabrera Bobadilla y Mendoza chegou a Lima, como vice-rei do Perú em 14 de janeiro de 1629 e governou até 18 de dezembro de 1639. Seu nome está ligado à cinchona, a quina, usada como remédio contra a malária.

 

Este, depois de consultar sobre o assunto a gente mais ponderada da cidade de Lima, Corte daquele Novo Mundo, resolveu por carta sua ao Presidente de Quito (que era o licenciado D. Alonso Perez de Salazar), datada de dez de novembro de seiscentos e trinta e oito, que o Capitão Pedro Teixeira voltasse logo com toda a sua gente à cidade do Pará, pelo mesmo caminho por onde tinha vindo, dando-se-lhe todo o necessário para a viagem, pela falta que tão bons capitães e soldados fariam sem dúvida naquelas fronteiras, que de ordinário são infestadas pelo inimigo Holandês, mandando juntamente que, se fosse possível, se depusessem as coisas de modo que fossem em sua companhia duas pessoas dignas, às quais se pudessem dar fé pela Coroa de Castela, de todo o descoberto e do mais que na viagem de volta se fosse descobrindo".

 

A real audiência nomeia o padre Cristobal de Acuña para esta jornada

 

"(...) nomeou em primeiro lugar, para esta empresa, ao padre Cristobal de Acuña, religioso professo, e atual reitor do colégio da Companhia na cidade de Cuenca, jurisdição de Quito; e em segundo lugar, por seu companheiro, ao padre Andrés de Artieda, lente de Teologia no dito Colégio da mesma cidade de Quito. Aceita pelos senhores da Real Audiência a nomeação dos dois Religiosos da Companhia de Jesus, se lhes mandou uma Provisão Real (cuja cláusula pusemos no começo desta narrativa), na qual se lhes ordena que, sendo com ela requeridos, partam imediatamente da cidade São Francisco de Quito, em companhia do Capitão-Mor Pedro Teixeira, e chegando à do Pará, passem à Espanha, a dar conita ao rei, nosso Senhor, em sua real pessoa, de tudo o que cuidadosamente tiverem notado no decurso da viagem".


Peixe Boi e Pescados deste Rio

 

"Contudo do que mais se alimentam e que, dizem, lhes faz pratos, é o incontave1 pescado, que com incrível abundância colhem todos os dias, às mãos cheias, neste Rio. Mas entre todos o que como Rei aí domina, e do qual está povoado todo o Rio, desde as suas nascentes até que deságua nos mares, é o Peixe-boi, peixe que de tal só tem o nome, pois não há pessoa que, quando o come, não o tenha por carne temperada; é do tamanho de um bezerro de ano e meio e na cabeça, se tivesse chifres e orelhas, não se diferenciaria dele; tem por todo o corpo alguns pelos, não muito compridos, a modo de cerdas moles, e se move dentro d’água com dois braço curtos, que em forma de pás lhe servem de remos, de baixo dos quais mostra a fêmea os seus peitos, com que nutre com leite os filhos que pare. Do couro, que é muito grosso, fazem adargas os guerreiros, e tão fortes, que bem curtido, não o atravessa uma bala de arcabuz.

 

Este peixe só se sustenta de erva que pasce, como se fosse boi verdadeiro, donde adquire a sua carne tão bom gosto, e é de tanta sustância, que com pequena quantidade fica uma pessoa mais satisfeita e com mais força que se comesse o dobro de carneiro. Debaixo d’água sustém pouco o anhélito e assim, onde quer que ande, levanta amiúde o focinho para cobrir novo alento, donde vem a sua total destruição, pois ele mesmo se vai mostrando ao seu inimigo; vêem-no os índios e o seguem em pequenas canoas, e esperam que, querendo respirar, tire fora d’água a cabeça, e cravando-o com os seus arpões, que fazem de conchas, lhe tiram a vida; dividem-no em porções médias, que assadas em grelhas de pau, duram, sem estragar-se, mais de um mês. Não fazem dele chacinas para o ano todo (e que são de muito preço) por não haver sal em abundância, que o que empregam para temperar as suas comidas é muito pouco, e feito de cinzas de certa qualidade de palmeiras, que mais é salitre que sal".

 

Tartarugas do Rio e como as guardam

 

"Mas já que não lhes é dado conservar estas chacinas, não lhes falta indústria para terem carne fresca durante todo o inverno, que, embora não seja tão gostosa como aquela, é mais sã e não menos proveitosa. Fazem para isto uns currais grandes, cercados de paus, e cavados por dentro, de modo que, como lagoas de pouco fundo, conservem sempre em si a água de chuva. Feito isso, no tempo em que as tartarugas saem a desovar nas praias, eles também deixam as suas casas, e emboscando-se nos postos conhecidos, por elas mais frequentados, esperam que, saindo à terra, venha cada qual ocupar-se em fazer a cova onde pretende deixar os ovos; saem nesta ocasião os índios, cercam-nas pelo lado da praia, por onde devem fazer a sua retirada para a água, e de chofre acometendo sobre elas, em breve tempo se vê,em senhores de grande quantidade, sem outro trabalho que o de as virar de pernas para o ar, com o que, sem se poderem mexer, as mantêm todo o tempo que querem, até que colocadas todas em vários cordéis, por uns furos que lhes fazem no casco, lançadas na água, remando eles em suas canoas, as levam a reboque sem nenhum trabalho, até mete-las nos currais que fizeram, onde as soltam, dando-lhes por prisão aquele estreito cárcere, e alimentando-as com ramos e folhas de árvores, as mantêm vivas por todo o tempo que necessitam.

 

São estas tartarugas tão grandes e maiores que rodelas de bom tamanho; é sua carne como de vitela; as fêmeas tem no bucho, quando as matam, mais de duzentos ovos cada uma, um pouco maiores e quase tão bons como os de galinha, embora de mais difícil digestão. Estão nesse momento tão gordas, que de duas se tira uma botija de manteiga, a qual, temperada com sal, é tão boa, mais gostosa e dura muito mais que a cozida de vacas; serve para frigir peixe e para quaisquer gêneros de guisados, em que aqui se usa a melhor e mais delicada manteiga. Apanham estas tartarugas em tal abundância, que não há um destes currais que não tenha de cem tartarugas para cima, com o que nunca sabem estes bárbaros que coisa seja a fome, pois uma só basta para satisfazer uma família, por muita gente que tenha".

 

Modos de pescar que usam

 

"(...) O modo de pescar é diferente, conforme as variações do tempo e as enchentes ou vazantes das águas. Assim, quando estas baixam tanto que já os lagos secam, sem ter comunicação com o Rio, usam de uma espécie de trovisco, que naquelas costas chamam timbó, da grossura de um braço, pouco mais ou menos, e tão forte, que machucados dois ou três destes paus, e batendo com eles a água que ainda naqueles lagos mantém os peixes, apenas estes chegam a provar do seu vigor, todos se deixam apanhar com as mãos. Mas o modo ordinário com que em todos os tempos e ocasiões se apoderam de quanto peixe vive neste abastecido rio, é com as flechas que com uma mão arremessam de uma pazinha que sustentam, e cravadas no peixe, lhes faz o ofício de bóia, para conhecer onde, depois de ferida, se retira a presa, a que com presteza se arrojam, e agarrando-a, a recolhem nas canoas.

 

Arpão de bico: formado por uma haste de madeira nobre de mais de dois metros de comprimento e, em cuja ponta é adaptado um bico em forma de ponta de flecha. No bico é amarrada uma corda de fibra vegetal de mais de uma dezena de metros e a outra ponta da corda é amarrada na popa da embarcação. Depois de arpoado o peixe o bico se solta da haste e esta faz o papel de bóia e, o pescador pode conduzi-lo, depois de cansado, como se faz com uma linha de pesca.

 

Este modo de pescaria não se limita a uma ou outra qualidade particular de peixe, mas em geral se estende a todos, que nem uns por grandes, nem os outros por pequenos, são privilegiados, passando todos pela mesma rasoura. Com ser estes peixes, como já disse, de tão diversas qualidades, são muito bons de gosto, e muitos deles de particularíssimas propriedades, como é a de um peixe, que os índios chamam Poraque, que é a modo de uma enorme enguia, ou por melhor dizer, como um pequeno congro, o qual tem a propriedade que, enquanto estiver vivo, quantos lhes tocam tremem do corpo inteiro enquanto dura o contacto, como se tivessem um calafrio de quartans, cessando tudo no instante em que dele se apartam".

 

As ferramentas que usam

 

"As ferramentas de que se utilizam para trabalhar, não só as suas canoas, mas também as suas casas e o mais de que hão mistér, são machados e enxós, não temperados por bons oficiais nas ferrarias de Viscaia, mas forjadas nas frágoas de seus entendimentos, tendo por mestra, como em outras coisas, a necessidade. Esta lhes ensinou a cortar no casco mais duro da tartaruga, que é a parte do peito, uma prancha de um palmo de comprimento e pouco menos de largura, que curada no fumeiro, e afiada numa pedra, é presa num cabo, e com ela, como bom machado, embora não com tanta presteza, cortam o que desejam. Deste mesmo metal fazem as suas enxós, servindo-lhes de cabo para elas uma queixada de peixe-boi, que a natureza formou com a sua volta, de propósito para tal fim. Com estas ferramentas lavram tão perfeitamente, não só as suas canoas, mas também mesas, taboas, assentos e outras coisas, como se tivessem os melhores instrumentos de nossa Espanha.

 

Em algumas nações são estes machados de pedra trabalhada a poder de braços, que adelgaçam de modo que, com menos receios de quebrar-se, e mais depressa que com os outros de tartaruga, cortam qualquer árvore, por grossa que seja. Seus escopros, goivas e cinzéis para obras delicadas, que as fazem com grande primor, são dentes e colmilhos de animais, os quais encabados em seus paus, não fazem menos bem o seu ofício que os de fino aço. Quase todos tem em suas províncias algodão, uns mais, outros menos; mas nem todos dele se aproveitam para vestir-se, mas antes quase todos andam nus, tanto os homens como as mulheres, sem que a vergonha natural os vexe, a não querer parecer que estão no estado de inocência".

 

Rio das Amazonas

 

"Estas mulheres varonis tem sua sede entre grandes montes e altíssimos cerros, dos quais o que mais se alteia entre os outros, e que, como o mais soberbo, é combatido dos ventos com mais rigor, pelo que sempre se mostra descalvado e limpo de vegetação, se chama Yacamiaba. São mulheres de grande coragem, e que sempre se conservaram sem o comércio ordinário de varões, e mesmo quando estes, pelo acordo que tem com elas, vêm uma vez por ano às suas terras, recebem-nos com as armas nas mãos, que são arco e flechas, que atiram durante algum tempo, até que cientes de que vêm de paz os conhecidos, deixando as armas, acodem todas às canoas ou embarcações dos hóspedes, e tomando cada qual a rede que encontra mais à mão, que são as camas em que eles dormem, a levam para casa, e pendurando-a em sítio onde o dono a reconheça, o recebem por hóspede aqueles poucos dias, passados os quais eles voltam para as suas terras, repetindo-se todos os anos esta viagem pela mesma época.

 

As filhas fêmeas que nascem desta união, conservam e criam entre elas, porque são as que hão de levar adiante o valor e costumes de sua nação, mas os filhos varões não se sabe com certeza o que fazem com eles. Um índio que, sendo pequeno, tinha ido com seu pai a esta entrada, afirmou que os filhos varões eram entregues aos pais, quando no ano seguinte voltavam a sua terras. Mas contam os outros, e parece o mais certo por ser mais corrente, que reconhecendo-os como tais, lhes tiram a vida. O tempo descobrirá a verdade, e se estas são as famosas Amazonas dos historiadores, que guardam em sua comarca tesouros que dão para enriquecer o mundo todo".


 

Entra no mar o rio das Amazonas


"A vinte e seis léguas da ilha do Sol, debaixo da linha Equinocial, espraiado em oitenta e quatro de boca, tendo pelo lado do Sul o Zaparará e do oposto o Cabo do Norte, deságua no Oceano o maior pélago de águas doces que há no descoberto, o mais caudaloso rio de todo o Orbe: a Fenix dos rios, o verdadeiro Maranhão, tão suspirado e nunca acertado dos do Perú, Orellana antigo e, para dize-lo de uma vez, o grande rio das Amazonas, depois de haver banhado com as suas águas mil trezentas e cinquenta e seis léguas de extensão, depois de sustentar com suas riquezas infinitas nações de Bárbaros, depois de fertilizar imensas terras e depois de haver passado pelo coração de todo o Perú e, como canal principal, recolhido em si o melhor e mais rico de todas as vertentes.


Este é em suma o novo descobrimento deste grande rio que, encerrando em si grandiosos tesouros, a ninguém repele, mas antes, a todo gênero de gente convida liberal a que deles se aproveite. Ao pobre oferece sustento, ao trabalhador recompensa do seu trabalho, ao mercador empregos, ao soldado ocasiões de mostrar o seu valor, ao rico maiores riquezas, ao nobre honras, ao poderoso estados, e ao próprio Rei um novo Império. (...)"


Fontes:
ACUÑA, Cristobal de - Novo Descobrimento do Rio Amazonas - Uruguai, Montevidéu,1994 - Editora Oltaver.

PARANHOS, José Maria da Silva (Barão do Rio Branco) - Efemérides Brasileiras (1845-1912) - Brasil - Rio de Janeiro, 1946 - Imprensa Nacional.






http://www.brasilwiki.com.br/noticia.ph ... icia=10381 (http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=10381)
Título: dois herois e pedido de informacaoes
Enviado por: rpedrot em Maio 05, 2009, 12:42:27 pm
boas

proponho miguel pereira forjaz. organizou a defesa pátria nas invasoes francesas e terá proposto a política da terra queimadahttp://en.wikipedia.org/wiki/Peninsular_War (http://queimadahttp://en.wikipedia.org/wiki/Peninsular_War) que seria depois adoptada pelos russos (várias vezes aliás)

gostaria que me dissessem mais algumas coisas sobre este homem.

um navegador teixeira queirós que terá explorado muito do pacífico e que cook dizia ter sido um dos presumíveis descobridores da austrália (sem contar com o quinhentista herédia).

a mesma coisa sobre este
Título: Re: dois herois e pedido de informacaoes
Enviado por: André em Maio 05, 2009, 12:56:52 pm
Citação de: "rpedrot"
um navegador teixeira queirós que terá explorado muito do pacífico e que cook dizia ter sido um dos presumíveis descobridores da austrália (sem contar com o quinhentista herédia).

a mesma coisa sobre este


Deve estar a confundir com Pedro Fernandes de Queirós que trabalhou para os Filipes no Pacifico ...  c34x

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2Fc%2Fcb%2FPedro_Fern%25C3%25A1ndez_de_Quir%25C3%25B3s.JPG&hash=2384e7d32437e39f8ff920817b449fdf)

Fernandes Queirós nasceu em Évora, Portugal. Ainda jovem veio a estar ao serviço da Dinastia Filipina, quando o Rei de Portugal era simultaneamente o Rei de Espanha. Ao serviço da coroa e da marinha espanhola, tornou-se um experiente marinheiro e navegador. Em 1595, serviu como piloto de Álvaro de Mendaña de Neira nas suas explorações do sudoeste do Oceano Pacífico e, após a sua morte, conduziu o único navio restante da expedição até às Filipinas.

Sendo um católico devoto, Queirós visitou Roma em 1600, onde obteve o apoio do Papa Clemente VIII para prosseguir as explorações. Navegou até ao Peru em 1603 com intenção de encontrar a Terra Australis, o mítico grande país a sul, por forma a reclamá-lo para a coroa espanhola e para a Igreja. Comandando três navios, San Pedro y Paulo, San Pedro e Los Tres Reyes, deixou El Callao, importante porto peruano, em 21 de Dezembro de 1605, com 300 tripulantes e soldados.

Em 22 de Janeiro de 1606, passaram a Ilha da Encarnação, acostaram na Ilha Sagitária, agora Taiti, em 10 de Fevereiro, e descobriram a 7 de Abril, a Ilha Toumako, onde o nativo Rei Tamay lhes forneceu importantes informações geográficas.

Em 25 de Abril de 1606, ou talvez já em Maio, a expedição alcançou as ilhas posteriormente designadas por Novas Híbridas e agora sendo a nação independente de Vanuatu. Queirós aportou numa grande ilha que considerou ser parte do tal continente a sul que procurava, a que chamou de Terra Austral ou Austrália do Espírito Santo. A ilha, uma das maiores do arquipélago de Vanuatu, ainda se chama actualmente Ilha do Espírito Santo. Ali, fundou uma colónia a que chamou Nova Jerusalém. O fervor religioso de Queirós levou-o a fundar uma nova Ordem de Cavalaria, os Cavaleiros do Espírito Santo. No entanto, a colónia acabou por ser rapidamente abandonada devido à hostilidade dos nativos e a desacordos entre a tripulação.

Após algumas semanas, Queirós fez-se ao mar novamente. Devido a mau tempo, acabou por se separar dos outros navios e foi incapaz, ou pelo menos assim o afirmou mais tarde, de voltar à costa. Assim, velejou até Acapulco, no México, onde chegou em Novembro de 1606. O seu braço direito no comando, o também português Luís Vaz de Torres, depois de procurar Queirós em vão, deixou a Ilha do Espírito Santo e dirigiu-se a Manila onde acabou por chegar passando pelas Molucas.

Queirós regressou a Madrid em 1607. Passou os próximos sete anos em pobreza, escrevendo numerosos relatos das suas viagens. Implorou ao Rei Filipe III de Espanha que lhe fosse dado financiamento para novas viagens. Foi então enviado para o Peru com cartas abonatórias, apesar do Rei não possuir qualquer intenção de financiar nova expedição. Queirós morreu no Panamá em 1615.

Feitos de Navegação

Durante a sua travessia do Oceano Pacifico, nenhum dos seus marinheiros morreu o que constituiu um feito incomum, devido à prevalência do escorbuto no início do Século XVII. é provável que Queirós conhecesse a solução para a doença, transportando frutos frescos e sumos a bordo. No entanto, ninguém soube desta relação entre a dieta contendo vitamina C, encontrada nas frutas e legumes, nos 150 anos seguintes à morte de Queirós. Crê-se que Queirós talvez tenha escrito sobre esta sua descoberta mas nada foi encontrado nos arquivos espanhóis, algo similar à informação sobre o estreito entre a Nova Guiné e a Austrália encontrado por Luís Vaz de Torres, que ainda hoje se chama Estreito de Torres, mas cuja descoberta só veio a ser publicada pelo geógrafo escocês Alexander Dalrymple em 1759. É provável que James Cook, que finalmente navegou pelo Estreito de Torres em 1770 e que também distribuía sumo de fruta aos seus marinheiros, tivesse tido acesso à informação escrita por Queirós e Torres.

Fernandes de Queirós e a Austrália

O nome de Pedro Fernandes de Queirós é actualmente bem conhecido na Austrália. Muitos historiadores creditam a Queirós a cunhagem da palavra "Austrália", por ter assim designado as ilhas do arquipélago de Vanuatu e que ele acreditava ser parte de um vasto continente. Cook incluiu a designação "Astralia del Espiritu Santo" (faltando a letra "u") no seu diário, em Agosto de 1770, numa referência à viagem de Queirós. A palavra "Australia" foi então usada em 1794 por George Shaw na sua obra Zoology of New Holland (Zoologia da Nova Holanda) quando se refere à "vasta ilha, ou melhor, Continente da Australia, Australásia, ou Nova Holanda, que só tão tarde atraiu particular atenção."

No relato da viagem de Matthew Flinders, em 1814, em torno do continente australiano, menciona que o termo "Australia" é "agradável ao ouvido, e assemelha-se aos nomes de outras grandes zonas da Terra." Este ponto de vista foi fortemente defendido pelo Governador Lachlan Macquarie, em 1817, que escreveu um relatório para Londres, onde afirmava que "o Continente da Australia, o qual espero que venha a ser o nome dado a este país no futuro, ao invés do incorrecto e mal aplicado nome de 'Nova Holanda', o qual, na verdade, apenas se pode aplicar a uma parte deste imenso Continente." Com este impulso de Macquarie, Austrália veio a provar-se ser a escolha mais popular.

No Século XIX, alguns católicos australianos, a viver sobre o domínio protestante, afirmavam que havia sido Queirós que na verdade descobriu a Austrália, muito antes dos protestantes Abel Tasman e James Cook. O arcebispo de Sydney entre 1884 a 1911, Francis Cardinal Moran, afirmava que isto era um facto, sendo este o ensino oficial das escolas católicas por muitos anos. Ele afirmava que o verdadeiro local da colónia estabelecida por Queirós, Nova Jerusalém, situava-se perto de Gladstone em Queensland.

Baseado nesta teoria, o poeta católico australiano, James McAuley (1917-1976) escreveu um poema épico intitulado Captain Quiros (Capitão Queirós), em 1964, no qual descrevia Queirós como um mártir pela causa da civilização da Cristandade Católica, apesar de não referir que Queirós tenha descoberto a Austrália. O tom extremamente político do poema foi friamente recebido pelos intelectuais e governantes australianos, numa época de grande rivalidade entre as facções católicas e protestantes. O escritor australiano John Toohey publicou um romance, inspirado e intitulado Quiros (Queirós), em 2002.

Na verdade, a afirmação de que os portugueses terão sido os primeiros a chegar à Austrália é cada vez mais consensual. Os argumentos avançados a favor desta ideia lembram que, na primeira metade do Século XVI, os navegadores portugueses percorriam não apenas os mares da Austrália, mas estavam firmemente estabelecidos na região, em ilhas como Timor, Solor e outras. Depois, ao se observar os mapas portugueses do Século XVI, aparecem terras com uma configuração semelhante à actual Austrália. A razão porque aí não se terão fixado talvez se prenda com a enorme distância que separa este continente de Portugal, implicando mais de um ano de viagem marítima. Outra razão para a não colonização do território tem a ver, sobretudo, com a ausência de população com quem se pudesse fazer comércio ou utilizar como mão-de-obra. Ainda hoje, a simples análise de um mapa denuncia os vestígios da presença portuguesa na região. A costa noroeste da Austrália inclui um local de nome Abrolhos, que não será mais do que a reminiscência de uma frase portuguesa que ecoa, através dos tempos, os gritos dos marinheiros portugueses ao navegarem por estas águas traiçoeiras: "Abre os olhos!". A situação toponímica do local alterou-se desde então tendo passado estas pequenas ilhas a ser hoje designadas por "Houtman Abrolhos Islands", sendo que se afirma que este nome data do Século XVI. A povoação de Geraldton, com cerca de 25.000 habitantes, tem uma Catedral de São Francisco Xavier. Um topónimo cuja origem ainda não foi possível deslindar foi o da "Lusitania Bay" (Baía Lusitânia), na Ilha de Macquarie a sudoeste da Tasmânia, considerada Reserva Natural desde 1933.

A relação entre os exploradores portugueses e a Austrália continua apaixonar muitos investigadores e historiadores.

wikipédia
Título: fernandes queiros
Enviado por: rpedrot em Maio 05, 2009, 01:59:04 pm
obrigado, é mesmo esse...
Título:
Enviado por: André em Maio 09, 2009, 10:45:20 pm
O outro Matias de Albuquerque

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg2.imageshack.us%2Fimg2%2F4586%2Fmatias.jpg&hash=c608e682aaa3df350cdc4d3521bf296e)


Para estudarmos a História dos portugueses no Oriente no período dos Descobrimentos necessitamos de compreender um pouco a forma como funcionava a “carreira militar”, digamos assim, dos homens que partiam para a Índia. A vida de Matias de Albuquerque constitui um bom exemplo do nobre guerreiro típico, que passou toda a sua vida no Oriente ao serviço de El-Rei de Portugal. A partida numa armada para a Índia era uma uma boa oportunidade para prestar serviços, conseguir mercês do rei, ou mais simplesmente fazer fortuna. No caso de um elemento da alta nobreza, como o presente caso, era uma forma de conseguir tudo isto. Foi de facto, o que conseguiu Matias de Albuquerque, que conseguiu aliás atingir o topo da hierarquia do Estado, mas que não deixou de ser atingido pelas contingências da sua própria carreira.

Matias de Albuquerque nasceu em Lisboa em 1547, de família da alta nobreza (o famoso Afonso de Albuquerque era seu tio-avô). Cerca de 1559 entra ao serviço do rei D. Sebastião, tendo sido educado como convinha a um fidalgo. Aos 19 anos parte como soldado para a Índia. Recebeu o seu baptismo de fogo numa expedição marítima no Malabar, na costa ocidental indiana, comandada por Álvaro Pais de Souto Maior, tendo aí prestado os seus primeiros serviços. Logo aqui se revelou um excelente soldado, bom organizador e comandante militar. Esta era uma característima essencial na vida militar de então, sobretudo no Oriente, onde o papel do vigor pessoal dos capitães tinha muitas vezes um efeito decisivo no desfecho de uma batalha. Nos anos seguintes Matias de Albuquerque prestou serviços em diversas regiões do Estado da Índia, nomeadamente em Damão, Goa, Chalé e Cochim. Em 1572, com apenas 25 anos de idade, Matias de Albuquerque recebe os primeiros louvores por parte do rei, que lhe reconheceu os serviços, sendo-lhe concedida a capitania da fortaleza de Ormuz, no Golfo Pérsico. Esta era uma das mais ricas e rendosas fortalezas do Oriente, pelo que a sua atribuição a Matias de Albuquerque revela quer a sua origem nobre, quer a qualidade dos serviços prestados. Porém, apenas exercerá este cargo mais tarde.

Em 1574, ao que parece devido a doença, Matias de Albuquerque regressou a Portugal, sendo recebido por D. Sebastião em Almeirim. Aqui prosseguiu a vida militar, tendo prestado serviço em Almada e no Algarve.

Em 1575 o nosso homem regressa á Índia, desta vez com um cargo de maior responsabilidade: capitão de uma armada que parte directamente de Lisboa a socorrer a fortaleza portuguesa de Malaca. Esta era uma das praças mais importantes do Estado da Índia e a chave da presença portuguesa no Extremo Oriente, nomeadamente do rico comércio com a China e o Japão, e encontrava-se seriamente ameaçada pelas forças do sultanato de Achém, tradicional inimigo dos portugueses. A situação era difícil, e o próprio facto de ter sido enviada uma armada directamente de Lisboa é um bom indicador da sua gravidade. Porém, Matias de Albuquerque foi bem sucedido na sua empresa, conseguindo afastar a ameaça que pairava sobre Malaca e garantir novamente a segurança na região para a navegação portuguesa. O êxito desta missão abriu-lhe novas portas: chegado a Goa, que era o centro da administração de todo o Estado da Índia (que ía de Moçambique ao Japão) foi nomeado comandante da armada de patrulhamento da costa do Malabar (1580-1584), após o que, por fim, entrou na capitania de Ormuz, para a qual tinha sido anteriormente nomeado. Aqui procedeu aos trabalhos de reparação da fortaleza, que se encontrava em mau estado, tendo inclusivamente mandado construir grandes cisternas. Foi este período uma época de pausa na sua vida de guerreiro, continuada com a decisão de voltar novamente a Portugal, o que faz em 1588.

Após voltar novamente a Portugal, onde casou com D. Filipa de Vilhena e defendeu Lisboa dos ataques do famoso corsário inglês Francis Drake (em 1589), Matias de Albuquerque foi, finalmente, designado para o mais alto cargo na Índia: o de vice-rei. Partiu então de Lisboa em 1590 para ocupar o cargo, que exerceu entre 1591 e 1597, seis anos portanto, o dobro do tempo habitual que era geralmente exercido por um vice-rei. Aqui, Matias de Albuquerque aplicou todas as suas capacidades de organização e comando para resolver os grandes problemas com que os portugueses se confrontavam, cada vez com maior gravidade. Estes resultavam quer do agravamento geral da situação do Estado da Índia, quer da má gestão e erros cometidos por vice-reis e governadores anteriores. Os principais problemas diziam respeito á má situação financeira, á corrupção generalizada e situação preocupante quer do estado das armadas e das fortalezas, quer da própria carência de soldados.

A sua principal e primeira preocupação foi a de mandar fortificar imediatamente as fortalezas, assim como enviar socorros militares ás que corriam maiores riscos. Também reorganizou o aparelho fiscal e da justiça e governou com a prudência e o rigor que se tornavam cada vez mais necessários. É evidente que não foi isento de defeitos e de suscitar inimizades, sobretudo por parte dos jesuítas e da Inquisição. Estas inimizades resultavam sobretudo da sua acção contra a corrupção e o clientelismo, o que desagradava evidentemente a parte da gente que rodeava o vice-rei, quer funcionários quer fidalgos.

Em 1597 regressa a Portugal, mas a sua partida foi marcada por um episódio grave: estando prestes a partir, uma das naus pegou fogo, perdendo assim uma parte considerável dos bens e da sua riqueza, que esperava enviar com destino a Portugal. Regressado ao reino, recolheu-se á sua quinta de Santo Amaro, mas as inimizades que havia criado provocaram-lhe graves problemas. Acabou por ser preso, mercê da campanha que lhe moveram os seus inimigos, mas conseguiu livrar-se de todas as acusações.

Assim, Matias de Albuquerque constitui um modelo exemplar do nobre guerreiro do século XVI, como homem de armas e notável chefe, autor de importantes decisões e empresas numa época de crise crescente para o Estado da Índia, e é simultaneamente o exemplo acabado da carreira militar bem sucedida, desde soldado até vice-rei.

Carreira da Índia
Título:
Enviado por: André em Maio 10, 2009, 04:00:17 pm
Fernando de Oliveira


A época dos Descobrimentos foi fértil em vidas aventurosas, de que são conhecidos tantos exemplos. Ficou célebre, entre outras, a de Fernão Mendes Pinto, descrita pelo próprio na sua Peregrinação. Mas outras personagens, igualmente interessantes e não menos curiosas, viveram no século XVI uma vida recheada de peripécias. Entre elas destaca-se uma, pouco conhecida ou mesmo geralmente ignorada. Trata-se do Padre Fernando de Oliveira, de cuja vida verdadeiramente excepcional e obra ímpar vamos hoje falar.

Fernando de Oliveira nasceu em 1507, em Aveiro, não se possuindo informações seguras sobre a sua ascendência. Estudou durante a sua juventude em Évora, no Convento de S. Domingos, Ordem na qual ingressa. Cedo se distinguiram os seus dotes académicos, sobretudo na disciplina de Gramática. Porém, Fernando Oliveira aliava a mais fina inteligência a um carácter irrequieto e desassossegado, que lhe causaria diversos problemas ao longo da sua vida. O primeiro surgiu cedo quando, aos 25 anos, o nosso homem, por motivos desconhecidos, deserta da Ordem religiosa e e foge para Castela. Mas alguns anos mais tarde está de regresso. Publica então uma Gramática de Língua Portuguesa, a primeira que se conhece. Até 1545 exerce a profissão de professor, chegando a dirigir a educação dos filhos de João de Barros, o célebre cronista. Fernando de Oliveira ganha a amizade de gente poderosa, que mais tarde lhe seria necessária em tempos de dificuldades. Sabe-se que por esta altura viajou a Itália, desconhecendo-se os motivos de tal estadia. De qualquer modo, o seu carácter irrequieto não se adaptava a uma vida sedentária, pelo que não ficou muito tempo em Lisboa. Nesse ano de 1545 alista-se como piloto, e com nome falso, numa armada francesa, ao serviço de Francisco I. Esta parte rumo a Inglaterra, com o objectivo de defrontar as armadas inglesas. Fernando Oliveira participa nos combates que se seguem, alcançando uma grande notoriedade junto do almirante francês. Acabou por ser feito prisioneiro pelos ingleses, e levado para Inglaterra. Os seus dotes diplomáticos, a sua habilidade, inteligência e cultura levaram a que alcançasse grande prestígio na corte inglesa, mesmo junto do rei Henrique VIII. Vive durante alguns anos em Inglaterra, regressando depois a Lisboa, onde entrega a D. João III uma carta do rei inglês.

As aventuras de Fernando Oliveira, a sua estadia em Inglaterra, a simpatia que sentia pela religião protestante, o contacto com o rei inglês que se havia revoltado contra o Papa, acabaram por lhe criar problemas. Pouco depois do seu regresso a Portugal é denunciado à Inquisição como hereje, preso e interrogado. Só em 1551, e devido á amizade de gente influente, é posto em liberdade. Este período difícil não o fez esmorecer no seu gosto pela aventura. Embarca imediatamente numa armada com destino a Marrocos. Esta é atacada por uma frota de piratas argelinos, e derrotada. Tal deveu-se em grande parte á má preparação dos marinheiros portugueses que navegavam na armada, que rapidamente se desorientaram, como ficou escrito numa das suas obras:

Os marinheiros eram lavradores de Entre Douro e Minho, e soldados vagabundos de Lisboa (…); desta feição equipadas as nossas caravelas, com a vista dos Turcos desatinou a gente delas de tal maneira que ferviam de uma para outra sem ordem, como formigueiro esgravatado. Uns faziam vela sem haver vento, (…) outros cortavam as amarras sem olhar para onde viravam as proas, outros deixavam os navios como homens que não cuidavam o que faziam. (…) A graça toda foi (…) quererem depois de perdidos dar a culpa uns a outros, tendo-a todos (…)”.

Foram os portugueses levados como prisioneiros para Argel, e mais uma vez conseguiu o nosso homem destacar-se, sendo encarregue das negociações com vista á obtenção do resgate. Regressado uma vez mais a Lisboa, segue para Coimbra, onde exerce o ofício de revisor na Imprensa da Universidade. Entre 1554 e 1555, Fernando Oliveira rege na mesma Universidade a cadeira de Humanidades. Mas os seus problemas não tinham ainda terminado. Fernando Oliveira era o que se pode chamar de um homem “sem papas na língua”, rebelde e irrequieto; a sua sinceridade e frontalidade grangeavam-lhe grandes amizades, mas criavam igualmente grandes inimigos. De qualquer modo, em 1555 é novamente preso pela Inquisição, que lhe criou problemas até ao fim da sua vida. Não sabemos a data da sua morte, e pouco conhecemos dos últimos anos da sua vida. Apenas sabemos que, mais tarde, quando contava cerca de 58 anos de idade, D. Sebastião lhe concedeu uma pensão vitalícia de 20 000 reis.

O padre Fernando Oliveira deixou-nos algumas obras escritas, sendo as mais importantes as que tratam de náutica e construção naval, onde revela ser um profundo conhecedor. A mais famosa chama-se “A arte da guerra do mar”. É um tratado de guerra naval, verdadeiramente notável e avançado para a época, onde se pode notar a lucidez e inteligência do autor ao tratar de problemas ainda actuais no nosso tempo. Eis como define ser a guerra justa:

Mal feito é fazer guerra sem justiça, e os cristãos a não podemos fazer a nenhuns homens que seja, de qualquer condição nem estado. (…) doutro modo seria falso nosso nome, e poder-nos-iam culpar de hipócritas, como aqueles de que Cristo diz; dizem e não fazem. Os quais ele mesmo chama hipócritas, que quer dizer falsos e mentirosos. Mentiroso é aquele que apregoa vinho e vende vinagre, aquele que se nomeia pacífico e faz guerra sem justiça.”

No resto da obra, o padre Fernando Oliveira traça o quadro completo da vida naval, desde a qualidade das madeiras para a construção dos navios, a escolha, treino e comportamento dos marinheiros e soldados, as tácticas navais, os equipamentos, materiais e mantimentos adequados, as condições de navegação, os ventos e marés. Tal decorria do conhecimento prático que tinha dos navios e navegação, do contacto com as gentes e lides do mar. Veja-se, por exemplo, e para terminar, o que diz acerca dos mantimentos adequados para os navios:

O biscoito, que é a principal vitualha, de trigo é o melhor, porque o centeio e cevada são mais húmidos e frios, e o pão deles toma mais bolor e corrompe-se mais cedo; o melhor é muito seco, e sendo muito cozido segundo se requere para biscoito por tempo esboroa-se e desfaz-se em pó.”

Pouco antes de falecer, defendeu António I de Portugal, Prior do Crato, contra Felipe II, com duas obras historiográficas a sustentarem a legitimidade do candidato português e contestarem a solução da Monarquia Dual, aprovada nas Cortes de Tomar (1581).


Carreira da Índia
Título:
Enviado por: TOMSK em Maio 10, 2009, 11:34:06 pm
Citação de: "André"
O outro Matias de Albuquerque

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg2.imageshack.us%2Fimg2%2F4586%2Fmatias.jpg&hash=c608e682aaa3df350cdc4d3521bf296e)
Obrigado André, não conhecia esta personagem. :P
Título:
Enviado por: JLRC em Maio 11, 2009, 01:40:32 am
Afonso de Albuquerque não foi vice-rei, foi somente governador. Nem todos os governadores foram vice-rei. Só os membros da alta nobreza tinham o titulo de vice-rei.
O 1º vice-rei foi o 1º governador, D. Francisco de Almeida (1505-1509), o 2º foi o 6º governador, D. Vasco da Gama (1524).
Título:
Enviado por: André em Maio 11, 2009, 01:45:48 am
Nuno Álvares Botelho
O último grande capitão da Índia Portuguesa


A História da presença portuguesa no Oriente está recheada de histórias de grandes feitos militares, sobretudo na sua época áurea, o século XVI. Entre os grandes capitães figuram os nomes de Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro, Duarte Pacheco Pereira e outros, que são geralmente citados como exemplos de coragem, bravura e capacidade de liderança no campo de batalha. Na verdade, apontam-se geralmente estes nomes, entre outros, para ilustrar uma época de prosperidade, a Idade de Ouro do Império Português no Oriente, em oposição ao século XVII, geralmente visto como uma era de decadência económica e derrocada militar. Na verdade, porém, podemos constatar que nesta época de dificuldades incomparavelmente maiores, quando os ingleses e holandeses faziam guerra sem tréguas aos portugueses enfraquecidos, outras figuras destacaram-se igualmente em diversos domínios, seja no campo das reformas administrativas, da política ou da guerra. Neste último caso convém destacar devidamente a figura de um grande capitão, por vezes esquecido, que provou ser, em condições nítidamente adversas, um excelente estratega e um comandante militar de primeiro plano: Nuno Álvares Botelho, considerado por alguns como o último grande capitão português da Índia.

Nuno Álvares Botelho começou a sua vida militar muito novo. Originário da alta nobreza da corte, teve ocasião de, durante mais de 15 anos, aprender as lides da guerra no mar nas armadas de vigia das costas de Gibraltar e Marrocos, entre 1598 e 1616. Aqui teve oportunidade de dominar perfeitamente os conhecimentos e as técnicas da luta naval, de que se tornou um exímio mas prudente capitão. O seu conhecimento não se esgotou, porém, nas costas africanas. Seria na Índia que se destacaria como o melhor comandante português, procedendo a arrojadas empresas que o tornariam numa personagem lendária, ainda em vida. Nuno Álvares Botelho foi por duas vezes á Índia entre 1617 e 1620, como comandante da armada da carreira Lisboa-Goa. A terceira foi definitiva, e ocorreu em 1624, com uma forte armada destinada a aliviar a aflitiva situação militar que os portugueses enfrentavam por todo o Índico.

A situação dos portugueses no Oriente havia-se degradado progressivamente desde os finais do século XVI. Nesta data haviam chegado ás águas do Índico os primeiros navios holandeses e ingleses, inimigos dos espanhóis, logo, dos portugueses que tinham agora um rei comum. Ingleses e Holandes haviam-se instalado no Oriente e tornavam-se a cada dia mais poderosos, ameaçando directamente as posições portuguesas. Durante as primeiras décadas, os portugueses, á custa de enormes despesas e de um grande esforço humano e financeiro, haviam conseguido resistir aos assaltos inimigos, mas a situação tendia a agravar-se. Em 1622 o primeiro grande golpe é desferido sobre Ormuz, cidade-chave de controle do Golfo Pérsico e que Afonso de Albuquerque havia tomado em 1515. Naquela data, o Xá da Pérsia, aliado aos ingleses, tomara a cidade de assalto, perante a impotência das forças portuguesas. A armada que Nuno Álvares Botelho comanda em 1624 destina-se precisamente a disputar o domínio do Estreito de Ormuz. Em Fevereiro de 1625 a armada portuguesa trava combate com uma frota anglo-holandesa muito superior em número e poder naval. Embora não fosse conclusiva, a batalha permitiu aos portugueses recuperar o prestígio na região e, provavelmente, salvar Mascate das investidas inglesas.

Durante os anos seguintes, ou seja até 1628, todo o esforço das autoridades portuguesas na Índia estava virado para a recuperação de Ormuz e a retomada do controle da região. Nuno Álvares Botelho empreendeu incessantes acções com este fim, onde se destacou a sua capacidade de comando e de conhecimento das tácticas de guerra naval. Não conseguiu, porém, por falta permanente de meios, atingir os seus objectivos. Pelo contrário, constata que o poderio naval dos inimigos, quer holandeses quer ingleses, crescia sem parar, ameaçando outras posições portuguesas, pelo que se tornava necessário enviar socorros a todo o lado ao mesmo tempo.

Devido ao agravamento da situação militar por todo o Índico, Nuno Álvares Botelho recolhe-se a Goa, onde faz uma pausa para retomar depois a sua actividade. O sinal de alarme surge imediatamente, desta vez do outro lado do Índico: Malaca estava cercada pelo sultão do Achém, velho inimigo dos portugueses, que já anteriormente havia assaltado a cidade sem êxito, mas que agora havia conseguido reunir uma formidável armada de 236 velas. Chegado o pedido de socorro a Goa, Nuno Álvares Botelho oferece-se para ir. Entretanto, havia integrado um triunvirato de Governadores da Índia, pelo falecimento do governador anterior. Resolvida a questão da sucessão, prepara-se então a armada de socorro a Malaca, que parte finalmente em Setembro de 1629 comandada pelo capitão Álvares Botelho. Era relativamente pequena, composta apenas de 28 navios pequenos, de remo, mas que a habilidade do comandante conseguiria ultrapassar.

Enquanto a armada fazia o caminho para Malaca, Achém atacava a fortaleza, mas não conseguindo vencer a determinação dos portugueses da cidade assim como as robustas fortificações de que estava provida. Chegada entretanto a armada de socorro, procedeu-se então ao confronto, em que a habilidade do capitão em combate com a desorientação do general malaio Lançamane se saldou por uma desastrosa derrota para a armada inimiga, com a destruição total da sua frota, já que dos 236 navios e dos dezanove mil homens que foram à conquista de Malaca nem um só regressou ao seu país. Nuno Álvares Botelho foi então recebido em triunfo na cidade pelo capitão português da praça Gaspar de Melo de Sampaio, procedendo-se á avaliação do valioso saque, sobretudo em peças de artilharia cujo número ultrapassava as 130.

Nuno Álvares Botelho tinha tanto de bom capitão como de modéstia. Era dotado, de facto, de uma personalidade excepcional. Enquanto outros se vangloriavam de pequenos e irrelevantes serviços, este capitão escrevia ao vice-rei de Goa com grande modéstia pessoal, nos termos seguintes:

Descerquei Malaca, conservei a armada em que sirvo e destruí a dos inimigos, de que sempre se devem infinitas graças a Deus; os capitães e soldados cumpriram tão pontualmente com as suas obrigações como eu desejo que façam sempre todas as minhas coisas.”

A situação dos portugueses na região de Malaca não era melhor do que a existente no Estreito de Ormuz. Na verdade, os portugueses haviam sido aqui quase completamente ultrapassados pelos holandeses, que dominavam o comércio das especiarias das Molucas e de outras ilhas da Insulíndia Oriental. Restava aos portugueses o comércio da China, que conseguiria subsistir aos assaltos inimigos. Os holandeses haviam fundado a sua capital no Oriente em Batávia, bem perto de Malaca, pelo que a cidade sufocava lentamente com o aumento do poderio holandês.

Nuno Álvares Botelho tentou, logo após a sua vitória, aliviar a difícil situação em que a cidade se encontrava, fazendo frente ás armadas holandesas que proliferavam na região. Porém, quis o destino que o general português não prolongasse por muito mais tempo as suas façanhas militares. Na verdade, pouco depois da sua retumbante vitória em Malaca, Nuno Álvares Botelho morreu em pleno combate, não sem antes conseguir aprisionar diversas embarcações holandesas que carregavam pimenta na costa norte de Samatra. Foi a 5 de Maio de 1631, quando, em pleno combate com uma nau holandesa, é atingida a pequena fusta em que seguia, morrendo afogado. Foi levado para Malaca onde foram celebradas as exéquias solenes, sendo enterrado na capela-mor. Assim morreu o último grande capitão português na Índia, cujos feitos militares causaram grande impressão na época, nomeadamente entre os cronistas que não deixaram de registar a sua biografia.

Carreira da Índia
Título:
Enviado por: TOMSK em Maio 11, 2009, 10:51:45 am
Citação de: "JLRC"
Afonso de Albuquerque não foi vice-rei, foi somente governador. Nem todos os governadores foram vice-rei. Só os membros da alta nobreza tinham o titulo de vice-rei.
O 1º vice-rei foi o 1º governador, D. Francisco de Almeida (1505-1509), o 2º foi o 6º governador, D. Vasco da Gama (1524).


Eu sei isso. Mas entendeu-se o que eu queria dizer.
E o 3º Vice-Rei for D. Garcia de Noronha (que já não tinha estofo para aquelas andanças) e o 4º D. João de Castro, que foi nomeado Governador, mas pelos altos serviços desempenhados, foi posteriormente indigitado Vice-Rei.
E por aí fora...
Este D. João de Castro marca no entanto um fim de um ciclo. A partir da sua morte a Índia Portuguesa entrou numa decadência progressiva que jamais recuperou.
Título:
Enviado por: Heraklion em Maio 12, 2009, 12:52:56 am
Á falra de melhor caça-se com o que há.
Andei á procura de um Tópico mais adequado, mas não o encontrei, portanto cá vai, um video do Youtube sobre Nun'Álvares que achei absolutamente genial:

http://www.youtube.com/watch?v=BVY2GNfK ... re=related (http://www.youtube.com/watch?v=BVY2GNfKD7E&feature=related)

Espero sinceramente que gostem.

Com os melhores cumprimentos;
Heraklion
Título:
Enviado por: André em Maio 12, 2009, 01:51:51 am
Duarte Lopes


Em 1578, partia de Lisboa, com destino a Luanda, um português chamado Duarte Lopes, acompanhando um seu tio que seguia para África com diversas mercadorias. Os portugueses ensaiavam então uma primeira fixação definitiva nesta região, com a fundação de Luanda três anos antes, por Paulo Dias de Novais. Os contactos com o reino do Congo eram, porém, muito anteriores. Na verdade, contavam já com quase um século, desde que Diogo Cão chegara à foz do Zaire e fora bem recebido pelas tribos locais. Duarte Lopes teve ocasião de conhecer com alguma profundidade a região, efectuando diversas viagens no interior do continente que o tornaram no primeiro grande explorador europeu de África. Vamos hoje acompanhar alguns passos da sua vida, assim como a obra que nos deixou, chamada de "Relação do Reino do Congo e das terras circumvizinhas".

Conhece-se muito pouco da vida de Duarte Lopes. Sabe-se que terá nascido em Benavente em meados do século XVI, de família cristã-nova, e ignora-se a data da sua morte. Os dados da sua biografia referem-se sobretudo à sua estadia no reino Congo. Aqui viveu durante alguns anos, até 1584. Durante este tempo, Duarte Lopes viajou por diversas regiões de África, em parte graças aos favores do rei do Congo, que conseguiu captar, em parte devido à sua curiosidade e espírito aventureiro. No decorrer de tais viagens recolheu um vasto conjunto de informações, que mais tarde viriam a ser publicadas, e que constituem a primeira descrição fidedigna do interior de África. Por esta altura, os portugueses detinham um conhecimento de África que só muito mais tarde veio a ser suplantado. Todos conhecemos as viagens pioneiras de Livingstone e de Stanley, e também dos portugueses Serpa Pinto,  Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, no século XIX. Estes homens exploraram o interior de África, mas não foram os primeiros, ao contrário do que muitas vezes se julga. Já alguns portugueses, entre os quais Duarte Lopes, haviam dados os primeiros passos. A este propósito escreveu um historiador belga, no século XIX:

Comparando uma carta de África, feita no ano de 1850, antes das viagens de Barth, Livingstone e Speke, com uma carta dos fins do século XVI, depois das grandes explorações de Diogo Cão, Francisco Gouveia e Duarte Lopes, vê-se que o interior desse continente era muito menos conhecido há 30 anos do que há 300 anos”.

Em 1585, após as suas viagens, Duarte Lopes regressa à Europa. A sua posição no interior do reino do Congo era tal que é nomeado embaixador deste reino junto do agora rei de Portugal Filipe I, e também junto do Papa. O Congo era nesta altura um reino cristão, mas havia uma situação de tensão e conflito com os portugueses estabelecidos em Angola. Duarte Lopes não consegue os seus objectivos junto do rei de Portugal, e segue para Roma, onde o Papa Sisto V o recebe favoravelmente. A política do rei do Congo nesta época, de que Duarte Lopes era porta-voz, era a de obter margem de manobra e apoio que contrabalançasse o peso crescente dos portugueses de Luanda, que ameaçavam o seu poder local e o seu prestígio.

É em Roma que Duarte Lopes entra em contactado com o humanista Filippo Pigafetta, certamente interessado em obter informações acerca do continente africano, que o português parecia conhecer tão bem. Dos contactos entre as duas personagens viria o italiano a escrever uma obra, chamada de “Relação do reino do Congo e das terras circumvizinhas”, que sairia em 1591. Na verdade, não sabemos se o italiano escreveu directamente dos relatos de Duarte Lopes, nem se este acompanhou de perto a redacção do texto. Desta forma, é impossível distinguir o que proveio das informações do português do que foram os acrescentos e correcções do humanista italiano.

Mas tal não diminui o interesse da “Relação”. Nela o autor mistura descrições do Congo e das suas diversas regiões com a história do reino desde a chegada dos portugueses, onde estão patentes as diferenças com a mentalidade europeia, mas igualmente o sentimento de curiosidade e interesse pela civilização africana. Eis como Lopes e Pigafetta descrevem os habitantes da terra:

Os homens e mulheres são negros, alguns menos, tirando mais a baço, e têm os cabelos crespos e negros, alguns também vermelhos, a estatura dos homens é de mediana grandeza, e tirando-lhes a cor negra, são parecidos com os Portugueses: as pupilas dos olhos de diversas cores, negras e da cor do mar, e os lábios são grossos, como os Núbios e outros negros, e assim os seus rostos são cheios e subtis e váriados como nestas regiões, não como os negros da Núbia e da Guiné, que são disformes.”

Esta obra conheceu uma rápida expansão por toda a Europa, tendo sido traduzida pouco depois para outras línguas, o que revela o interesse que este tema despertava na época. Pigafetta fez acompanhar o texto com uma série de desenhos e ilustrações supostamente baseadas no relato de Duarte Lopes. Mas estas mostram que quem as desenhou nunca esteve em África: os habitantes parecem europeus, as cidades congolesas assemelham-se à Roma Clássica e mesmo os animais não têm correspondência com a realidade: a zebra, por exemplo, é claramente um cavalo pintado às riscas.

Noutros aspectos, provavelmente os que provêm mais directamente de Duarte Lopes, a obra revela rigor e cuidado. A descrição da capital do reino, S. Salvador do Congo (no Norte da actual Angola) e das suas diversas províncias, assim como a história do reino desde a chegada dos portugueses, é muito interessante e provavelmente fidedigna. É particularmente curiosa a forma como descreve as alterações que a conversão do rei ao Cristianismo e o contacto com os portugueses provocaram ao nível do quotidiano e do vestuário local:

Antigamente este rei e os seus cortesãos vestiam-se de panos de palma, com os quais se cobriam da cintura para baixo, apertando-os com cintos feitos da mesma matéria e de belos lavores; no ombro traziam um rabo de zebra preso a um cabo, por ser de uso antigo naquelas regiões; na cabeça tinham carapuças de cor amarela e encarnada; andavam descalços a maior parte deles. Mas depois daquele reino ser cristianizado, os grandes da corte começaram a vestir-se à moda dos portugueses, trazendo mantos, capas, tabardos de escarlata e de telas de seda; na cabeça, chapéus e barretes, nos pés, alparcas de veludo, de couro, e borzeguins à moda portuguesa. Logo que o rei se converteu ao Cristianismo, reformou também a sua corte de certo modo imitando a de Portugal, e principalmente quanto ao modo de estar à mesa. Possui baixela de ouro e de prata, com um salva para comer e beber.”

Duarte Lopes regressou novamente a Madrid, onde voltou a contactar Filipe II e a informá-lo das vantagens de intervir no Congo e de promover o relacionamento com aquele rei. Lopes pretendia provavelmente incrementar a acção evangelizadora naquela região de África, invocando para tal o interesse da Coroa Portuguesa nas possíveis riquezas, como ouro e prata, que estariam hipoteticamente por descobrir no interior do reino. Nada mais conhecemos da sua vida, nem sequer se alguma vez regressou a África. Apenas conhecemos a “Relação do Congo”, que permaneceria durante muito tempo como a mais importante descrição de um reino africano.

Carreira da Índia
Título:
Enviado por: André em Maio 13, 2009, 02:16:43 am
Não é uma personagem muito desconhecida ou esquecida para quem gosta minimamente pela História da Expansão Portuguesa, no entanto cá vai para quem não a conhece a fundo ...  :wink:


Diogo de Azambuja


É bem conhecida de todos a importância da figura do rei D. João II, o Príncipe Perfeito, no processo dos Descobrimentos. É, de facto, durante o seu reinado que se consolida a Expansão Portuguesa e se assegura a descoberta da passagem marítima para o Oceano Índico, abrindo caminho á instalação dos portugueses no Oriente. Os Descobrimentos recebem, assim, um impulso decisivo para o seu bom sucesso, definindo este rei uma série de objectivos claros a atingir. Embora a grande etapa fosse a descoberta do caminho marítimo para a Índia, D. João II pretendia também assegurar a presença portuguesa em África, garantindo a segurança das rotas marítimas e promovendo a exploração económica, nomeadamente através do comércio. Neste sentido, uma das acções mais importantes desencadeadas no seu reinado é precisamente a construção de uma fortaleza na costa africana, que se viria a chamar São Jorge da Mina. É disto que falaremos hoje, acompanhando a biografia do seu construtor, Diogo de Azambuja.

Quando D. João II sobe ao trono, em 1481, os portugueses tinham já uma longa experiência acumulada de navegação, exploração e contacto com África. D. João II, como é sabido, tinha um projecto de centralização do seu poder, através da contenção dos privilégios da grande nobreza, que aplicou nas Cortes em que foi jurado rei, em Évora. Do mesmo modo, possuía igualmente um projecto bem definido de expansão ultramarina, assente na exploração da costa africana e na descoberta da passagem para Oriente contornando o continente africano. O monarca decide avançar imediatamente com um plano global de descobrimento da costa, que levaria pouco deposi á viagem de Bartolomeu Dias e ao descobrimento da passagem para o Índico. Para já, duas medidas foram imediatamente tomadas: a primeira foi a de prosseguir o reconhecimento da costa, e para tal foi enviado Diogo Cão, que chegaria ao reino do Congo. A segunda foi a de construir, na chamada Costa do Ouro, uma fortaleza que servisse de entreposto do tráfico daquele metal, de ponto de apoio à nevegação portuguesa e de sinal inequívoco, dirigido sobretudo aos castelhanos, da exclusividade de navegação portuguesa nas águas da Guiné.

Assim, o rei prepara em 1481 uma expedição composta por nove caravelas e duas grandes naus. Levava esta armada cerca de 600 soldados e 100 pedreiros e carpinteiros, e carregava a pedra necessária para a construção da fortaleza. Após alguma hesitação, D. João II acaba por entregar o comando desta expedição a um Diogo de Azambuja, homem já dos seus cinquenta anos. Quem era esta personagem, a quem o rei confiou o sucesso de tão importante missão?

Diogo de Azambuja, não sendo propriamente um navegador, era no entanto um homem inteligente e hábil, um excelente militar e estratega, da confiança, evidentemente, do rei, e capaz de erguer no espaço de tempo mais curto possível uma fortaleza numa região ainda em grande parte desconhecida. Era cavaleiro da Casa de el-rei, tendo prestado serviço em Alcácer-Ceguer e em Aragão. Participou nas guerras com Castela, recebendo em 1480 o privilégio de fidalgo. Vemos, assim, que D. João II entrega a responsabilidade da construção da fortaleza não a um navegador, mas a um militar experiente, capaz de conduzir tal tarefa arriscada e difícil. A armada parte em Dezembro de 1481, rumando para Sul. A expedição segue até ao Golfo da Guiné, na Costa mais tarde designada Da Mina, procedendo Diogo de Azambuja ao reconhecimento da costa, de forma a encontrar o local mais favorável para a construção da fortaleza. Escolhe uma baía para desembarcar, o que faz a 19 de Janeiro de 1482, e de imediato se iniciam os trabalhos de construção. Ao cabo de 20 dias, já estava a fortaleza bem encaminhada, concluindo-se a sua construção pouco depois. Á data encontrava-se no local um navio português, que procedia ao comércio com as populações locais, mas o seu bom senso, o tacto de Diogo de Azambuja e, sobretudo, a boa recepção do rei local permitiram evitar conflitos e foram o factor decisivo para o êxito da missão.

Acabada a fortaleza, estabelecidos os contactos amigáveis com as populações locais e accionadas as trocas comerciais, Diogo de Azambuja considerou terminada a tarefa, pelo que mandou regressar a armada a Lisboa com notícia do sucesso da missão, ficando ele próprio como capitão da fortaleza com sessenta soldados. Exerceu o cargo até 1484, data em que regressou a Lisboa. A fortaleza ficou conhecida como S. Jorge da Mina, devido á devoção que o rei tinha a este santo. Assim ficou assegurada a presença portuguesa na região, sendo a fortaleza a sede de um rico tráfico de ouro, que se manteve durante algumas décadas. Eis o que disse a esse respeito um dos homens de D. João II, Duarte Pacheco Pereira:

Temos sabido que em toda a Etiópia de Guiné, depois de ser dada Criação ao Mundo, este foi o primeiro edifício que se naquela região fez, na qual casa nosso senhor acrescentou tão grandemente o comércio, que em cada um ano se tira dali por resgate, que vêm para estes reinos de Portugal, 170 mil dobras de bom ouro fino, e muito mais em alguns anos se resgatam e compram aos negros que de longas terras este ouro ali trazem, os quais são mercadores de diversas nações (…); e estes levam desta casa muitas mercadorias, assim como lambéis, que é a principal delas (…), e pano vermelho e azul, e manilhas de latão, e lenços e corais, e umas conchas vermelhas que entre eles são muito estimadas, assim como nós cá estimamos as pedras preciosas. Isso mesmo vale aqui muito o vinho branco e umas contas azuis, a que eles chamam ‘coris’, e outras muitas coisas de desvairados modos. Esta gente até agora foram gentios, e já alguns deles são feitos cristãos. (…)

Quanto a Diogo de Azambuja, não terminaram aqui os seus feitos como homem de armas. Recompensado pelo rei com o cargo de alcaide de Monsaraz, para além de outras recompensas como a nomeação para o Conselho Real, Diogo de Azambuja manteve-se porém ligado á Corte e ao serviço do rei, embora a sua idade e uma deficiência física aconselhassem já a sua retirada. E é já com mais de setenta anos que aceita uma missão que o rei D. Manuel o encarrega, em 1506: construir uma fortaleza na região de Safim, no sul de Marrocos, de forma a aí permitir a fixação portuguesa. Diogo de Azambuja não só cumpriu tal missão com êxito, como tomou a própria cidade de Safim, permanecendo como capitão da cidade até 1509, com a idade de cerca de 77 anos. Nesta data regressou a Portugal, vindo a falecer em 1518.

Carreira da Índia
Título:
Enviado por: Granadeiro em Maio 13, 2009, 05:01:45 pm
Marcelino da Mata

«Quem controlava quase toda a tropa nativa era eu .Tudo o que eu falava eles ouviam O PAIGC só tinha cerca de 2000 homens e nós tínhamos à volta de 40 000. Cada companhia que estava na Guiné era constituída por uma só etnia,por isso, cada companhia queria mostrar que era melhor do que a outra.Dizem que o PAIGC tinha uma zona libertada na Guiné, mas eu ia para onde queria, com quatro, cinco seis, sete ou oito homens.Eu tinha um corneteiro e quando chegavamos ao meio do mato eu mandava-o tocar a corneta. Só depois é que iamos para cima do PAIGC. Mandava tocar a corneta para eles verem que eu ia a caminho e que não tinha medo»

«Mas eu nunca renunciei à nacionalidade portuguesa. Houve um animal na Administração Interna que me disse «O Sr foi colonizado»Eu disse -Eu nunca fui colonizado!Os meus antepassados foram colonizados , mas eu não. EU NASCI NUMA NAÇÃO CHAMADA PORTUGAL.

Quantos milhares de pessoas de pessoas mataram depois do 25 e Abril ? Foram 7447 mortos, numero que nunca houve durante a guerra»
Marcelino da Mata, «A Guerra de África 1961/64» Circulo dos Leitores

Retirado do Blog "O Povo" (http://http)
Título:
Enviado por: TOMSK em Maio 13, 2009, 05:54:17 pm
Citação de: "Granadeiro"
Marcelino da Mata


(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.fotoscomhistoria.canalhistoria.com%2Fphoto_images%2Fsp%2F1320_photo.jpg&hash=331fe8ced81547bfb7b1fec7a7474ba8)

«O Militar mais condecorado de toda a história das Forças Armadas Portuguesas»

Grande Homem!
Grande Militar!
Grande Português!
 ys7x9
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Maio 13, 2009, 08:05:41 pm
Citar
Marcelino da Mata


«O Militar mais condecorado de toda a história das Forças Armadas Portuguesas»



Por feitos em combate..provavelmente...mas em termos de número total há vários generais e almirantes que o ultrapassam...

Só para dar um exemplo, no caso do actual CEMA, ALM Melo Gomes, podemos contar 24.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F_ezaUKpkJ4Tc%2FSXnSdOX-BTI%2FAAAAAAAAKXA%2FbXpR96tXXR4%2Fs400%2FMeloGomes3.JPG&hash=aaf65d5c2b20d21ea631c55d6a9d4a82)
Título:
Enviado por: TOMSK em Maio 13, 2009, 08:15:47 pm
Distinção e feitos em combate, precisamente.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fultramar.terraweb.biz%2F00%2F06JUN2007%2F113%2520Marcelino%2520da%2520Mata.jpg&hash=72367d7f73d5827ead27f8f48fc7502a)
Título:
Enviado por: legionario em Maio 13, 2009, 10:19:34 pm
As medalhas que o Grande Marcelino da Mata tem nao sao certamente medalhas de secretaria nem medalhas de chocolate como tantos generais e almirantes. Para mim, foi o melhor entre os melhores da nossa Historia militar contemporanea.
Título:
Enviado por: TOMSK em Maio 14, 2009, 02:00:50 am
Exactamente.
As medalhas de Marcelino Mata foram ganhas com sangue, no ardor da guerra, e não com o cu enfiado num sofá.
 :Bajular:
Título:
Enviado por: Nuno Calhau em Maio 14, 2009, 08:09:52 pm
Citação de: "PereiraMarques"
Citar
Marcelino da Mata


«O Militar mais condecorado de toda a história das Forças Armadas Portuguesas»


Por feitos em combate..provavelmente...mas em termos de número total há vários generais e almirantes que o ultrapassam...

Só para dar um exemplo, no caso do actual CEMA, ALM Melo Gomes, podemos contar 24.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F_ezaUKpkJ4Tc%2FSXnSdOX-BTI%2FAAAAAAAAKXA%2FbXpR96tXXR4%2Fs400%2FMeloGomes3.JPG&hash=aaf65d5c2b20d21ea631c55d6a9d4a82)



Quem é o senhor General (CEME; CEMFA; CEMA ou CEMGFA) que tem ao peito uma Cruz Guerra ganha com mérito em campanha?

Certamente me responderão o CEMFA, e muito bem!

Todos os outros são Generais de "operações de paz"...

"A talho de foice", perguntem ao Macelino o que lhe fizeram no decurso do verão quente?

Um Abraço.
Título:
Enviado por: Granadeiro em Maio 15, 2009, 03:32:32 pm
Código: [Seleccione]
A prisão do Tenente-Coronel Marcelino da Mata - (Entrevista a Marcelino da Mata)

   P: Sabe que já descrevi em livros anteriores o sucedido consigo na altura do “Verão Quente” (1975), quando estava na Amadora. No entanto julgo que ocorreu algo a seguir ao 11 de Março, e ainda não referido por desconhecimento…
    R: Foi dois ou três dias depois do 11 de Março. Estava a voltar do Hospital, onde fora a uma consulta e o Comandante do Batalhão, Major Jaime Neves, dirigiu-se a mim e disse: “Olha! Veio uma ordem para te apresentares em Caxias”. Eu sabia lá onde era isso…
    Apareceu logo um voluntário, um tenente de Artilharia, para me escoltar. Fiquei no Presídio de Caxias durante dois meses, no isolamento (cela 41).
    Ao fim desse tempo, em 18 de Maio, vieram dizer-me que estava uma viatura à minha espera para me levar para o Regimento de Comandos (tinha sido mudada a designação da Unidade e o Comandante graduado em coronel). Fui para casa. Na noite seguinte, passadas 24h00, o oficial de dia, o então Capitão Ribeiro da Fonseca, mandou o oficial de ronda, Tenente Carronda Rodrigues, ir buscar-me a casa. Mas como eu já ouvira no Rádio Clube Português, que tinha sido preso “por pertencer ao grupo fascista e terrorista ELP”, dirigi-me para o quartel.
    Á minha frente, o Ribeiro da Fonseca, telefonou para o Jaime Neves dizendo que queriam a minha entrega, com escolta, no RALIS, o que o comandante autorizou. Depois, aquele oficial de dia disse ao Carronda Rodrigues que me levasse, esperasse pelo fim do interrogatório e me trouxesse de volta. Tal não aconteceu assim. Ele entregou-me ao oficial de dia e veio embora.
    P: A tortura a que foi sujeito no RALIS já está descrita no meu último livro”25 de Novembro de 1975; os «comandos» e o Combate pela Liberdade”. Saiu em liberdade depois de estar mais cinco meses em Caxias?
    R: Sim. Fui libertado em fins de Outubro. Depois decidi ir-me embora para Espanha.
Título:
Enviado por: Duarte em Maio 15, 2009, 10:07:35 pm
Citação de: "Granadeiro"
Código: [Seleccione]
A prisão do Tenente-Coronel Marcelino da Mata - (Entrevista a Marcelino da Mata)

   P: Sabe que já descrevi em livros anteriores o sucedido consigo na altura do “Verão Quente” (1975), quando estava na Amadora. No entanto julgo que ocorreu algo a seguir ao 11 de Março, e ainda não referido por desconhecimento…
    R: Foi dois ou três dias depois do 11 de Março. Estava a voltar do Hospital, onde fora a uma consulta e o Comandante do Batalhão, Major Jaime Neves, dirigiu-se a mim e disse: “Olha! Veio uma ordem para te apresentares em Caxias”. Eu sabia lá onde era isso…
    Apareceu logo um voluntário, um tenente de Artilharia, para me escoltar. Fiquei no Presídio de Caxias durante dois meses, no isolamento (cela 41).
    Ao fim desse tempo, em 18 de Maio, vieram dizer-me que estava uma viatura à minha espera para me levar para o Regimento de Comandos (tinha sido mudada a designação da Unidade e o Comandante graduado em coronel). Fui para casa. Na noite seguinte, passadas 24h00, o oficial de dia, o então Capitão Ribeiro da Fonseca, mandou o oficial de ronda, Tenente Carronda Rodrigues, ir buscar-me a casa. Mas como eu já ouvira no Rádio Clube Português, que tinha sido preso “por pertencer ao grupo fascista e terrorista ELP”, dirigi-me para o quartel.
    Á minha frente, o Ribeiro da Fonseca, telefonou para o Jaime Neves dizendo que queriam a minha entrega, com escolta, no RALIS, o que o comandante autorizou. Depois, aquele oficial de dia disse ao Carronda Rodrigues que me levasse, esperasse pelo fim do interrogatório e me trouxesse de volta. Tal não aconteceu assim. Ele entregou-me ao oficial de dia e veio embora.
    P: A tortura a que foi sujeito no RALIS já está descrita no meu último livro”25 de Novembro de 1975; os «comandos» e o Combate pela Liberdade”. Saiu em liberdade depois de estar mais cinco meses em Caxias?
    R: Sim. Fui libertado em fins de Outubro. Depois decidi ir-me embora para Espanha.



E vem a velha esquerdalha caduca badalar para aqui, quando fizeram muito pior, e muito mais do que a PIDE em 40 anos, num pequeníssimo espaço de tempo.. :evil:
Título:
Enviado por: TOMSK em Agosto 26, 2009, 09:30:13 pm
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi380.photobucket.com%2Falbums%2Foo246%2Fpanzer18%2FEsta.jpg&hash=e65fcbc525e6c906a56309f38fcecd5e)

André Furtado de Mendonça, o terror da Índia[/size]

André Furtado de Mendonça era filho de Afonso Furtado de Mendonça, comendador de Borba e de Rio Maior, e de D. Joana Pereira. Cedo, com apenas 16 anos, aquele que mais tarde viria a ser apelidado de "Grão-Capitão", se estreou nas cousas da guerra, acompanhando D. Sebastião na sua primeira jornada em África. Aos 20 partia para a Índia. Era aí que posteriormente viria a adquirir outra alcunha que o deixou célebre: "O Terror da Índia".

Em 1591, Furtado de Mendonça já tinha mostrado provas de valor. O Vice-Rei Matias de Albuquerque tratou então de o enviar a Goa com uma expedição punitiva de 20 velas contra o Rajá de Jafanapatão, que juntamente com o de Candia, havia declarado guerra contra os habitantes da ilha de Ceilão, cometendo grandes tiranias contra os que professavam a lei cristã.
Este Rajá de Jafanapatão intitulava-se "Rei dos Reis", pela sua arrogância e confiança no seu poder. Chegando à costa de Calecut, André Furtado de Mendonça encontrou três naus de Meca com numerosa guarnição de turcos, e outra bem armada de canhões e de todo o género de armas. Naquele mar navegava ao mesmo tempo o corsário Coti Muça com 14 ou 22 galés. Encontraram-se as armadas, e apesar de serem muito desiguais as nossas forças com as dos inimigos, estes ficaram completamente vencidos, sendo as galés rendidas, despojadas, e entregues ao fogo, tendo Coti Muça a fortuna de escapar, nadando...

Depois desta vitória, a esquadra de André Furtado de Mendonça aportou a Menar, encontrou outra nau inimiga, e travando-se renhido combate, que durou muitas horas, a vitória foi por fim declarada a favor dos portugueses. Faltava a empresa mais difícil, o ataque à cidade.
Apesar da dificuldade da empresa, estas eram contudo as preferidas de Furtado de Mendonça. Mais do que um bom marinheiro, André Furtado era sim um excelente cavaleiro, e mestre em guerra terrestre.
Descansaram as tropas naquela noite, e na madrugada seguinte, 27 de Janeiro do referido ano de 1591, desembarcaram as forças, e cortando todos os embaraços, seguiram valentemente até ao palácio real. O régulo indiano foi morto assim como o seu filho mais velho.
Aqui o "Grão-Capitão" demonstrou aquela célebre faceta dos grandes homens, quando o sentimento de misericórdia e humanidade substitui por uns momentos, a crueldade da guerra. Tenho o segundo filho do régulo indiano se atirado aos joelhos do capitão português, pedindo que não o matasse, este concedeu-lhe a vida, fazendo inclusive com que todos o reconhecessem como Rei, conseguindo desta forma o sossego e a tranquilidade daqueles povos. Em 1598 destroçou o pirata Cunhale, e destruiu uma fortaleza que ele erigira nas terras de Samorim de Calecut.

Em 1603 foi governador das ilhas Molucas, donde expulsou os holandeses de Amboino, e em 1605 passou a governar Malaca. Tornou-se o terror dos holandeses, que persistentes e tenazes haviam conseguido insinuar-se no Oriente, fazendo-nos concorrência ao comércio, tomando-nos um certo número de feitorias e fortalezas na costa de África, e rivalizando quase com os portugueses no domínio dos mares. Porém, quando tentaram introduzir-se na Índia e conquistar as nossas fortalezas, numerosos desastres assinalaram a sua tentativa. Não desanimaram, porém, e a fortuna afinal coroou a sua constância, mas as derrotas precederam as vitórias.

Era André Furtado governador, quando em 30 de Abril de 1606 apareceu em frente de Malaca uma esquadra holandesa de 11 navios com 1.500 homens de desembarque, comandados pelo Almirante Cornelius Matalief. A fortaleza portuguesa tinha de guarnição apenas 145 homens, porque não se esperava o ataque, mas André Furtado, costumado sempre a vencer, ousou fazer sortidas que foram tão felizes, que Matalief preferiu aos assaltos o bloqueio rigoroso. Além das forças de que dispunha, tinha a aliança de todos os régulos vizinhos de Malaca, dois dos quais, o de Jalhor e Singapura, o auxiliavam com tropas, mas a intrepidez e actividade de André Furtado, pareciam transformar em leões os soldados da pequena guarnição da fortaleza. Com este homem, renascia a velha chama dos primeiros varões ilustres que na Índia deixaram os seus nomes assinalados. Durante o extenuante cerco, André Furtado de Mendonça não retirou por uma única vez a armadura que trazia no corpo, e de noite, com ela posta nem a espada saia da sua cintura. Depois de três meses de bloqueio, Matalief, sabendo que o Vice-rei vinha em auxílio da fortaleza, desistiu do seu intento, a retirou, deixando André Furtado de Mendonça vitorioso!

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi380.photobucket.com%2Falbums%2Foo246%2Fpanzer18%2Fpes_34431copy.jpg&hash=83e1cf57207363faa255341616072222)

A 27 de Maio de 1609 chegava a recompensa pelos seus heróicos serviços. Era designado então Governador da Índia. Foi um governo curto, de apenas três meses, mas reza a história que fez mais do que outros em muitos anos. Chamado a Portugal, deixou Goa para trás a 26 de Dezembro de 1609. Os habitantes de Goa choraram a sua partida, o que atestou a simpatia que soube conquistar.

Nunca vencido pelos homens, acabou por morrer nas águas do Atlântico já depois de dobrado o Cabo da Boa Esperança. Foi sepultado no Convento da Graça.

(Homens, Espadas e Tomates - Rainer Daehnardt
Carreira da Índia, Marinha Portuguesa, Arqnet)
Título: Vímara Peres
Enviado por: cromwell em Setembro 13, 2009, 03:42:13 pm
Antes da fundação de Portugal, um cavaleiro conquistou um pedacinho de terra, juntamente com a cidade que iria dar origem ao nome da nossa nação.

Seu nome era:

Vímara Peres


Vímara Peres foi um fidalgo galego nascido em 820, finais do primeiro quartel do séc. IX.

Cristão da Reconquista, foi cavaleiro e senhor da guerra, enviado por D.Afonso III das Astúrias ao vale do rio Douro, com a incumbência de expulsar dali os mouros, da linha natural cujo domínio os asturo-leoneses consideravam fundamental para a sua defesa.

A ele se ficou a dever, entre outra coisas, o repovoamento cristâo das terras de entre Douro e Minho.

Ajudado pelos cavaleiros cristãos da regiâo, conquistou Portucale aos mouros no ano de 868.

Portucale, cidade situada nas duas margens da foz do Douro - Portus, na direita, e Cale na esquerda - viria, muito mais tarde, a tornar-se nas cidades do Porto e Gaia.

Nesse mesmo ano, de 868,  receberia Vímara Peres o título de Conde de Portucale, dando assim início a uma dinastia condal que duraria até ao ano de 1071.

O Condado de Portucale - não confundir com o Condado Portucalense, que lhe foi muito posterior - circunscrevia as terras que hoje constituem o distrito do Porto, melhor dizendo o Douro Litoral.

Entre as suas obras consta ainda a da fundação de um pequeno burgo fortificado, junto de Braga,  a que deu o nome de Vimaranis - que então significava "terras de Vimara" - e haveria de se transformar na cidade de Guimarães e berço de Portugal.

 Vímara Peres morreu no ano de 873, em Guimarães, contava apenas cinquenta e três anos de idade.

Quem passar junto da Sé do Porto pode admirar a monumental estátua que da sua imponente figura fez Barata Feyo em 1968, mil e cem anos portanto depois da libertação do burgo portucalense do jugo muçulmano.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fipt.olhares.com%2Fdata%2Fbig%2F111%2F1110099.jpg&hash=29e26ae9579ebc773fa46a41ced9fc97)
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Dezembro 10, 2009, 07:05:42 pm
Brasil homenageia português «conquistador da Amazónia»

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg706.imageshack.us%2Fimg706%2F7940%2Fr129pedroteixeira1b.jpg&hash=5cd517cb81cbfc3349ce938cc9a4f6a2)

O Senado brasileiro homenageia hoje em sessão especial o militar e navegador português Pedro Teixeira, um dos principais vultos da História de Portugal e Brasil e, ao longo de quatro séculos, um herói desconhecido.

A iniciativa é do senador Aloísio Mercadante e o objectivo é resgatar a memória de Pedro Teixeira, incluindo-a no Livro dos Heróis da Pátria, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.

«Pedro Teixeira é um herói esquecido da historiografia brasileira e portuguesa, porque a sua epopeia foi apagada na época do domínio espanhol. Mas queremos recuperar isto», disse à Lusa Aloísio Mercadante, do Partido dos Trabalhores (PT), que subscreve o projecto-lei na origem da homenagem de hoje.

O Senado vai ainda discutir a introdução do percurso de Pedro Teixeira nos manuais escolares brasileiros para alargar o conhecimento da descoberta da Amazónia.

O Brasil deve ao navegador, nascido em São Pedro de Cantanhede, no distrito de Coimbra, mais de metade do seu actual território, destacou Mercadante.

Considerado o «conquistador da Amazónia» por ter desbravado e tomado posse de muitas terras para a Coroa Portuguesa, Pedro Teixeira é, todavia, pouco conhecido no Brasil e em Portugal.

«Penso que reavivamos aquele que na História portuguesa poderá ser um desconhecido, mas a nível da História brasileira com certeza que não o é», salientou à Lusa o presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, João Carlos Moura.

O autarca vai estar presente na sessão do Senado, a convite de Aloísio Mercadante, que há mês e meio esteve em Cantanhede para conhecer melhor a história do navegador.

A grande aventura começou em Outubro de 1637, quando o navegador foi escolhido como chefe da expedição que concretizaria, dois anos depois, o ambicioso plano de conquistar o Alto Amazonas, à frente de 2500 homens, em cerca de 50 canoas.

A expedição contou com a ajuda de mais de mil índios que chamavam a Pedro Teixeira 'Curiuá-Catu' ('Homem Branco Bom').

O regresso a Belém deu-se a 12 de Dezembro de 1639, após uma viagem de mais de 10 mil quilómetros, que resultou na anexação de 4,8 milhões de quilómetros quadrados para a Coroa de Portugal.

Em Fevereiro de 1640, Pedro Teixeira foi nomeado para o cargo de capitão-mor do Grão-Parã, mas morreu no ano seguinte, em Belém.

Os recursos para a recuperação da memória fragmentada de Pedro Teixeira foram garantidos pela Portugal Telecom, que também hoje divulga em Brasília, à margem da sessão especial do Senado, a criação de um prémio com o nome do navegador, para preservar a sua vida e obra.

«Ficámos fascinados com a história. Achamos que era algo que também merecia ser celebrado por nós portugueses e por isso vamos instituir um prémio», destacou Zeinal Bava.

Lusa
Título: General José Celestino da Silva
Enviado por: Nuno PE em Abril 10, 2010, 07:36:26 pm
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi85.servimg.com%2Fu%2Ff85%2F13%2F85%2F69%2F53%2Fjosa_c10.jpg&hash=d02b197b8d651e5ee4b40aa04f16aef2)


O General José Celestino da Silva era natural de Vilar de Nantes,Concelho de Chaves,onde nasceu em 6 de Janeiro de 1849.Oficial de Cavalaria 6 até ao posto de Capitão,casou com Amélia Coelho Montalvão,filha de distinta família flaviense.Tendo dado nas vistas pelo seu aprumo,foi colocado em Lisboa à frente da Guarda Municipal.Aí o vai buscar D. Luís I pouco tempo depois para comandar o Esquadrão de Lanceiros 2,unidade em que servirá como subalterno o Príncipe Real D.Carlos de Bragança que,uma vez rei,entendeu tirar partido das muitas qualidades que viu no seu comandante,nomeando-o Governador de Timor.
Major de Cavalaria em 1894,encontra esta Colónia com a soberania e autoridade portuguesas pouco mais que quiméricas.
De terrenos acidentadíssimos,humidade extrema,vegetação luxuriante e povos constantemente em rebeldia,teve por diante uma tarefa homérica durando as campanhas de pacificação 12 anos, dos 14 que ali governou.De princípio não comanda mais do que 29 europeus, 350 moradores em Díli e 12 mil “carregadores”. Começa por pedir a autonomia administrativa de Timor – até então dependente de Macau – e tropas. Mandam-lhe landins de Moçambique e o decreto autonómico chega em 1896.Muito embora não estivesse parado, só com a chegada dos landins pôde efectuar a lenta ocupação dos reinos rebeldes com muita cautela e perseverança. Mesmo assim, não evita revezes como o massacre da coluna do Capitão Câmara, apanhada numa penetração menos cuidada na densa floresta. Igualmente perde no assalto a uma tranqueira (obra de defesa indígena) o Alferes Francisco Duarte que tinha por alcunha “Major Arbiru”, “homem invencível”. Estes dois oficiais há muito que possuíam as mais altas condecorações, entre elas a Torre-e-Espada.Durante os 12 anos de penetração, toma medidas administrativas, sociais, de cultura, saneamento e fomento agrícolas, tais como:

-Construção de 22 postos militares de defesa, soberania e penetração;
-Ligação dos postos (que não distavam mais de 40 kms) por estrada de penetração e escoamento de produtos;
-Criação de uma escola de ensino oficial em Díli e outra agrícola em Remexio;
-Distribuição dos alunos saídos da Escola Agrícola pelo interior do território com vista à divulgação das técnicas agrícolas;
-Introdução da seringueira e do tabaco de qualidade bem como desenvolvimento das culturas do arroz, milho e café;
-Introdução de árvores de fruto tais como pessegueiros, ameixieiras, figueiras e nespereiras criando postos de venda em feiras e mercados;
-Criação de um horto para o fornecimento de sementes e plantas aos postos militares e distribuição gratuita às populações;
-Proibição de corte do sândalo em toda a costa norte como forma de protecção da espécie, medida que vigorou até 1956;
-Fundação da Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho;
-Condução das populações para a aprendizagem das técnicas agrícolas e de ofícios;
-Administração da Justiça em conformidade com os usos e costumes nativos;
-Drenagem e aterro de pântanos em Díli, abertura de ruas e avenidas, fundação do Museu, construção do Hospital e de casas para funcionários;
-Captação, transporte e fornecimento de água a Díli, construção do cais acostável no porto da capital;
-Ligação telefónica com cerca de 500 kms entre os vários postos militares;
-Estabelecimento de ligações marítimas regulares com Macau e Austrália.
 
As suas relações pessoais com os chefes locais levam-no a conseguir organizar uma reunião mensal para os ouvir, dialogar e almoçarem juntos. Durante os seus dois últimos anos de governo, estes encontros desenvolveram-se em completa paz.A oposição política metropolitana chamava-lhe “o Rei de Timor” ao que D. Carlos, com muita estima, contrapunha com o epíteto jocoso de “o meu colega de Timor”. Chegou entretanto o ano de 1908 e com o regicídio vê-se exonerado do cargo. Sem dinheiro, deixa Timor com a ajuda financeira de um malaio amigo que lhe paga a viagem de regresso a Portugal via Austrália. Não é louvado pelo trabalho levado a cabo e é nomeado Comandante do Regimento de Cavalaria de Almeida como o posto de Coronel.Com a implantação da República é promovido a General e passa à situação de reserva. Morre a 10 de Fevereiro de 1911.
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Abril 11, 2010, 01:25:15 pm
Bento de Góis
O Marco Polo Português

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2F2%2F23%2FGois.jpg&hash=9f646d01aa9edc748e1729f54d7c913d)


Foi o primeiro europeu a percorrer o caminho terrestre da Índia para a China, através da Ásia Central. A sua viagem, uma das maiores explorações da história da humanidade, demonstrou que o reino de Cataio e o da China eram afinal o mesmo, o que alterou significativamente a concepção do mundo à época, uma vez que as relações comerciais entre a Ásia e a Europa eram muito intensas durante esse período.

Bento de Góis foi baptizado em Vila Franca do Campo nos Açores a 9 de Agosto de 1562, com o nome de Luís Gonçalves. Tornou-se soldado por volta dos vinte anos de idade, tendo sido destacado, em 1583, para a Índia.

De acordo com a lenda, nesse período levava uma vida boémia até que após ter tido uma visão, numa igreja da aldeia de Colachel (província de Travancor) decidiu ingressar na Companhia de Jesus, o que fez, em Fevereiro de 1584, no Colégio dos Jesuítas em Goa. Dois anos mais tarde, abandonou temporariamente o Colégio e viajou pela Pérsia, Arábia, Baluchistão, Sri Lanka, e muitos outros reinos da Ásia. Em 1588 regressou a Goa, ao Colégio dos Jesuítas, e mudou o seu nome para Bento de Goes.

Em 1594 integrou a 3º expedição dos Jesuítas, guiada desta vez pelo padre Jerónimo Xavier (sobrinho-neto de São Francisco Xavier), à corte do Grão-Mogol Akbar, o Grande, em Lahore, passando a granjear deste uma marcada amizade. Tanto que induziu Akbar, o Grande, a estabelecer tréguas com os portugueses. Para tal, Akbar incumbiu Bento de organizar uma faustosa embaixada (1600-1601) aos portugueses de Goa.

Em Setembro de 1602 Bento partiu de Goa com um grupo restrito, em busca do lendário Grão-Cataio, reino onde se afirmava existirem comunidades cristãs nestorianas. A viagem era muito extensa (mais de 6 mil quilómetros) e de longa duração (mais de três anos), e onde grandes obstáculos se deparam ao longo do percurso, sobretudo em virtude dos muitos conflitos na região, da profusão de reinos e estados, e da existência de grandes montanhas e desertos. Para além disso, a maior parte do seu percurso foi realizado em territórios de domínio muçulmano que nutriam especial animosidade pelos cristãos.

Em inícios de 1606 Bento de Góis chegou a Sochaw (Suzhou, agora denominada Jiuquan), junto da Muralha da China,uma cidade próxima de Dunhuang na provincia de Gansu. Góis provou assim que o reino de Cataio e o reino da China eram afinal o mesmo, tal como a cidade de Khambalaik, de Marco Polo, era efectivamente a cidade de Pequim. Doente (possivelmente por ter sido atacado/assaltado e ferido) e com poucos meios de subsistência comunicou-o em carta ao padre Matteo Ricci, residente em Pequim, que lhe enviou o padre João Fernandes, um jesuíta de origem chinesa, para o conduzir até Pequim. Contudo, quando este alcançou Bento de Góis este já estava à beira da morte, o que ocorreu em 11 de Abril de 1607.

Bento de Góis, que possuía um marcado conhecimento da cultura e costumes de múltiplos reinos da Ásia, e falava diversos idiomas como o Persa e o Turco, registou a sua viagem num diário. Contudo, pelo facto de no mesmo documento também registar as dívidas que terceiros lhe deviam o seu diário foi rasgado em inúmeros pedaços pouco antes da sua morte. O padre João Fernandes e o arménio Isaac, que acompanhou o missionário na longa viagem desde Goa, reuniram fragmentos do que sobrou desse diário e outros documentos, que entregaram posteriormente ao padre Matteo Ricci. Este padre, um grande erudito, através desses escassos documentos, do relato do arménio Isaac que o acompanhou sempre ao longo da Grande Odisseia, e de algumas cartas que Bento de Góis lhe tinha enviado anteriormente, escreveu, entre 1608 e 1610, uma narrativa dessa viagem. Esta relativa escassez de registos teve influência na projecção que a sua viagem assumiu doravante.

Bento de Góis tornou-se o primeiro português a atravessar a Ásia Central, transpondo grandes cadeias montanhosas como os Pamires e o Karakoram, ou o grande deserto de Gobi, numa odisseia considerada por muitos historiadores não inferior à empreendida por Marco Polo séculos antes. Polo atravessou um território mais pacífico, menos retalhado em reinos e estados, e com menor domínio muçulmano, do que Bento de Góis encontrou à data. Aliás, Bento de Góis foi a primeira pessoa após Marco Polo a empreender esta extensa viagem pela Ásia Central, o que realizou cerca de três séculos depois de Polo. Bento de Góis tem sido em Portugal, entre os exploradores portugueses da época dos Descobrimentos, dos mais subvalorizados. Tal pode ser atestado pelo facto de, no 4º centenário da sua morte não se verificarem quaisquer comemorações em Portugal continental, apenas se verificando tais celebrações na sua terra natal, Vila Franca do Campo, apesar de se tratar do maior explorador terrestre português.

A Câmara Municipal de Vila Franca do Campo homenageou-o em 1907, atribuindo o seu nome ao maior largo da vila, onde também se encontra uma estátua sua em bronze, da autoria de Numídico Bessone, inaugurada em 1962.

Wikipédia
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: cromwell em Abril 11, 2010, 07:33:29 pm
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Citar

D. Luís de Ataíde, 3º Conde de Atouguia
Vice-rei da Índia.

N. em 1517, fal. em Goa a 10 de Março de 1581. Era filho segundo de D. Afonso de Ataíde e de D. Maria de Magalhães, e bisneto do 2.º conde de Atouguia, D. Martinho de Ataíde.

Tendo feito as suas primeiras armas em África, com os mais célebres capitães do seu tempo, passou à Índia, acompanhando ao mar Roxo, D. Estêvão da Gama, filho do grande descobridor daqueles estados, a teve a honra de ser por ele armado cavaleiro na igreja de Santa Catarina de Monte Sinai, juntamente com D. Álvaro de Castro. Foi depois enviado à corte de Carlos V, e com este soberano tomou parte na expedição à Alemanha contra os luteranos, distinguindo-se em varias ocasiões, e muito particularmente no combate de Almis, onde salvou o estandarte imperial, que o alferes-mor D. Luís Quesada ia abandonar, não podendo suportar o peso da couraça que vestia, e vendo-se apertado pelos inimigos no maior ardor da peleja.  
Recolhendo a Portugal, onde o havia precedido a fama da sua bravura e intrepidez, conservou-se estranho às lutas políticas, que depois da morte de D. João III se travaram a propósito da regência, e quando D. Sebastião tomou conta do governo, nomeou-o vice-rei da Índia a 2 de Março de 1568; partiu então para Goa no dia 7 de Abril seguinte, onde chegou a 10 de Setembro, tomando logo posse do governo. D. Luís tratou então de estabelecer uma disciplina severa, que foi a base essencial das vitórias que depois alcançou e vendo que em possessões tão dilatadas era indispensável uma boa marinha, fez os maiores sacrifícios para organizar umas poucas de esquadras que protegessem o nosso comércio e livrassem os mares dos corsários neles consentidos pela indolência do governo do seu antecessor D. Antão de Noronha. Em poucos meses conseguiu D. Luís de Ataíde equipar uma esquadra composta duma galé e seis navios doutra lotação comandada por Afonso Pereira de Lacerda, que fez sossegar Baticala, que estava revolucionada; para a defesa da costa do Malabar mandou Martim Afonso de Miranda com uma esquadra de vinte navios; para as proximidades de Goa, Aires Teles de Menezes com alguns navios afim de reprimir os excessos dalguns malabares; D. Jorge de Meneses Baroche, com duas galés e um catur, para dar caça ao terrível corsário Kanachali; D. Diogo de Meneses para fazer guerra aos exércitos do Samorim. Os negócios da Índia mudavam visivel­mente. D. Luís Ataíde, comunicando aos seus subordinados as brilhantes qualidades milita­res que o adornavam, fez ressuscitar naquelas remotas paragens as virtudes guerreiras dos portugueses doutros tempos, e durante o seu gover­no é difícil encontrar algum desses actos de co­bardia, que principiaram de quando em quando a deslustrar a glória das nossas armas numa época de decadência; pelo contrário, as crónicas mencionam, durante o go­verno do ilustre vice-rei D. Luís de Ataíde, feitos de valor extraordinário praticados por muitos heróis portugueses. De pois de haver assegurado a defesa do que possuíamos, tratou de am­pliar as nossas conquis­tas, e em 1569 conquistou as fortes praças de Onor e de Bracelor, cujos portos eram um abrigo seguro para os corsários que in­festavam do continuo aqueles mares. Os poten­tados indianos, reconhecendo que a principal causa das nossas vitórias era a desunião que entre eles se notava, resolveram coligar-se para expul­sarem por uma vez da Índia os portugueses. Se não fosse o vice-rei D. Luís de Ataíde, teríamos decerto sofrido grandes desastres, mas o notável general fez face a todos os perigos, e os in­dianos, que já entre si haviam dividido os territórios, cuja conquista tinham por certa, viram-se obrigados a desistir do seu intento. Ao Hidalcão, que marchava contra Goa, devia ficar pertencen­do esta cidade, Onor e Bracelor; Nizam Melek, que avançava sobre Chaul, devia receber Da­mão, Baçaim e Chaul; ao Samorim caberia em particular Chale, Cananor, Cochim e Mangalor; Diu ficaria para o sultão de Cambaia, apesar de não entrar nesta liga, por andar empenhado na guerra contra as mongóis, e aos outros soberanos, em cujas terras estavam encravadas as nossas fortalezas, deixavam os príncipes, que for­mavam coligação, o cuidado de expulsarem deles os portugueses, e de os tomarem para si. D. Luís de Ataíde ficou em Goa, mas não se dei­xando nunca bloquear completamente pelo Hidalcão, e amiudando as sortidas achou meio, ape­sar de ter diante de si um exército numerosíssi­mo, de enviar socorros a Chaul. Foi em 29 de Junho de 1571 que esta praça sofreu um ataque geral com as tropas vindas de Goa, e Nizam Melek, entendendo que o Hidalcão havia levantado o cerco, desanimou e pediu a paz, que o vice-rei concedeu, assinando-se o tratado a 24 de Julho. O Hidalcão, não se achando com forças para re­sistir, levantou efectivamente o cerco, D. Luís, porém, para o castigar, demorou os preliminares da paz, e tendo concluído os três anos do seu governo, se retirou para o reino, embarcando a 6 de Janeiro de 1572, deixando ao seu sucessor o cuidado de a concluir.

D. Luís de Ataíde não atendera só à guerra; a justiça, a administração pública, a questão da moeda, em tudo pensou, tudo conduziu ao verdadeiro caminho, deixando a Índia em prosperidade, segura e respeitada. Chegou ao Tejo a 3 de Julho do referido ano de 1572, fazendo a sua entrada solene em Lisboa, sendo conduzido debaixo do palio desde a Sé até à igreja de S. Domingos, dando-lhe o rei a direita. Nesta igreja cantou-se um Te Deum, em acção de graças pelas suas vitórias. D. Sebastião consultava-o frequentemente sobre os negócios do Estado, a que ele, tendo-se conservado sempre estranho e sobranceiro às intrigas da, corte, dava desassombradamente o seu voto. Acerca da jornada de África, manifestou-se contra ela, e sendo afinal convidado pelo rei para comandar o exército, escusou-se delicadamente. Foi então, de novo, nomeado vice-rei da Índia, para onde partiu a 16 de Outubro de 1577, levando ás suas ordens somente três naus. Chegou a Goa a 31 de Agosto de 1578, depois de ter invernado em Moçambique. Tomando posse do governo, que prontamente lhe foi entregue por D. Diogo de Meneses tratou de sossegar a Índia, que balouçava um pouco, conservando ainda o prestígio das armas. O Hidalcão, tendo recomeçado a guerra, restabeleceu a paz que havia quebrado. O conde de Atouguia tudo consolidou, e providos todos os pontos onde se fazia mister força, continuava o seu governo, quando em Maio de 1579 chegaram a Goa notícias da perda da batalha de Alcácer Quibir, da morte do rei D. Sebastião, e da aclamação do cardeal D. Henrique. O vice-rei sentiu bastante aquele desastre. Deste segundo vice-reinado datam as suas sensatas providências para superar os prejuízos provenientes da alçada eclesiástica, que excitava a emigração dos gentios, enfraquecendo a população, e os excessos e as iniquidades dalguns frades e da Inquisição. Foi também neste tempo, já no ano de 1580, que a ilha de Ceilão ficou pertencendo a Portugal; sendo doada pelo seu rei, D. João Prea Punhar.

Enquanto na Índia se davam estes acontecimentos, morria o cardeal D. Henrique, e Filipe II de Espanha invadia o território português com os seus exércitos. Consta que o conde de Atouguia, sabendo tão desgraçadas notícias, pensara em reunir a flor das forcas de que podia dispor, desembarcar em França ou na Inglaterra, seguindo depois a Portugal para auxiliar D. António, prior do Crato, nas suas pretensões ao trono. Se efectivamente D. Luís formou esse plano, não pôde levá-lo a efeito, porque a morte veio surpreende-lo. Filipe apressara-se a atrair ao seu partido o notável vice-rei, elevando-o a marquês de Santarém, titulo que ele não teve ocasião de aceitar, nem de recusar, por já ter falecido. Diz-se que, ao sentir-se morrer, exclamara: Ora que morra eu e seja tudo contra Portugal! O seu cadáver foi depositado na capela-mor da igreja dos Reis Magos, de Goa.
Título: Capitão Óscar Monteiro Torres
Enviado por: Nuno PE em Maio 13, 2010, 04:39:01 am
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2Fthumb%2Fd%2Fd4%2FMonteiroTorres.jpg%2F200px-MonteiroTorres.jpg&hash=b820c9e9cf9ec5ee825c082c478a9f47)

Óscar Monteiro Torres nasceu na cidade de Luanda,em Angola,em 26 de Março de 1889.Entra,com 11 anos,para o Colégio Militar em Lisboa,e depois frequentou a Escola do Exército até 1909,onde termina o curso de Cavalaria.Em 1910,presta serviço militar em Angola. Republicano convicto,defendeu a intervenção de Portugal na Primeira Guerra Mundial .Esta posição política obriga-o a viajar para Inglaterra,de onde será chamado pelo então coronel Norton de Matos,em 1915.Integrando o destacamento aéreo,Torres é um dos organizadores da Escola de Aviação de Vila Nova da Rainha.Em Fevereiro de 1916,acompanhado por António Maya e Alberto Lello Portela,recebeu formação de voo em Hendon,na Grã-Bretanha.Passou depois à Escola Northold do Royal Flying Corps,onde prestou provas como piloto militar.Realizou 25 horas de voo e obteve a classificação final de 20 valores. Depois de tirar o brevet em Inglaterra,este oficial de Cavalaria foi um dos aviadores do Corpo Expedicionário Português enviados para França durante a Primeira Guerra Mundial.Integrado na Esquadrilha SPA 65,ou Esquadrilha das Cegonhas,equipada com aviões SPAD VII e,com base em Soissons,o capitão Óscar Monteiro Torres acabou por ser abatido a 19 de Novembro de 1917 depois de ter travado um combate aéreo em circunstâncias de extrema desigualdade de forças:o piloto português ainda conseguiu abater dois Halberstadt alemães mas a seguir já nada pôde fazer contra a esquadrilha de Fokker,que o atingiu. Acabou por falecer no dia seguinte,a 20 de Novembro de 1917,no Hospital de Militar de Laon,no norte de França.Inicialmente sepultado pelos alemães,com honras militares,no cemitério de Laon,teve depois funeral nacional a 22 de Junho de 1930. Até hoje,foi o primeiro,e único, aviador português a morrer em combate. Os seus restos repousam no Cemitério do Alto de São João,em Lisboa.Foi condecorado,a título póstumo,com a Legião de Honra e Cruz de Guerra francesas,e Medalha da Cruz de Guerra e Torre e Espada de Portugal.
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: PEREIRA em Maio 14, 2010, 04:30:34 pm
Devemos honrar e respeitar a morte e o sangue dos nossos antepassados que morreram pela nossa pátria mãe e que ambicionaram a expansão do nosso país e que por ele lutaram.
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: PEREIRA em Maio 14, 2010, 05:28:07 pm
Dom Fuas Roupinho foi um nobre português do século XII, mais conhecido pelo seu papel de milagrado por Nossa Senhora da Nazaré na Lenda da Nazaré.

É, Dom Fuas Roupinho, que na terra
E no mar resplandece juntamente,
Com o fogo que acendeu junto da serra
De Abila, nas galés da Maura gente.
Olha como, em tão justa e santa guerra,
De acabar pelejando está contente:
Das mãos dos Mouros entra a feliz alma,
Triunfando, nos céus, com justa palma.
 
— Os Lusíadas, estrofe 17 do Canto VIII  
Vês este que, saindo da cilada,
Dá sobre o Rei que cerca a vila forte?
Já o Rei tem preso e a vila descercada:
Ilustre feito, digno de Mavorte!
Vê-lo cá vai pintado nesta armada,
No mar também aos Mouros dando a morto,
Tomando-lhe as galés, levando a glória
Da primeira marítima vitória.
 
— Os Lusíadas, estrofe 16 do Canto VIII  
O nome deste cavaleiro, possivelmente um Templário, está ligado ao processo de Reconquista cristã da Península Ibérica, sob o comando do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Em reconhecimento pelos serviços prestados, o soberano nomeou-o alcaide-mor de Porto de Mós.

O seu nome também se destaca por ser o primeiro comandante naval português conhecido, e como tal, ser o responsável pela primeira vitória da Marinha Portuguesa, ao largo do cabo Espichel, contra uma esquadra muçulmana.

Camões refere D. Fuas Roupinho nas estrofes 16 e 17 do Canto VIII d'Os Lusíadas.
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: PEREIRA em Maio 14, 2010, 05:29:22 pm
Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d'aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.

Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

Fernando Pessoa
Título: Cônsul Aristedes de Sousa Mendes
Enviado por: Nuno PE em Maio 23, 2010, 02:16:54 pm
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fcodigodacultura.files.wordpress.com%2F2010%2F04%2Faristides20i.jpg&hash=064c3edef77f038cd89db1c96076d0d8)

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasce,na Casa do Aido,em Cabanas de Viriato,Concelho do Carregal do Sal,aos primeiros minutos do dia 19 de Julho de 1885;alguns minutos antes tinha visto a luz do dia o seu irmão gémeo,César,filhos do juiz Dr.José de Sousa Mendes,descendente de lavradores abastados da vizinha aldeia de Beijós, originários da Muxagata,e de D.Maria Angelina Paes do Amaral de Ribeiro Abranches,da nobre Familia dos viscondes de Midões,senhores do velho morgadio do Aido,cujas relações familiares estreitas permitiram que ai nascessem.Aristides,César e,mais tarde,o terceiro irmão,José Paulo,nascido em 1895,cresceram na casa familiar em Aveiro e frequentaram a escola em Mangualde.Os irmãos gémeos fazem os estudos secundários em Viseu,partindo depois para Coimbra,onde se formam em Direito no ano de 1907.Mas não seguirão as pisadas do pai: farão a especialidade em Diplomacia,precisamente no ano de 1910,marcado pelo golpe militar de 5 de Outubro,que impôs a República.Entretanto,Aristides casara em 1909 com a sua prima direita,Angelina de Sousa Mendes,três anos mais nova que ele,filha de seu tio paterno António de Sousa Mendes e de sua tia materna Clotilde do Amaral e Abranches.Nesse mesmo ano,nasce em Coimbra,Aristides César,o primeiro filho do casal.Muitos outros se seguirão, nascidos nos lugares onde o pai foi sendo colocado.A 12 de Abril de 1910,ainda vigorava o regime monárquico,Aristides é nomeado cônsul de segunda classe na Guiana Britânica,para onde parte levando já a sua esposa e o primeiro filho.Vê-se obrigado a regressar a Lisboa após um ano,devido às crises de paludismo.Depois de uma breve missão à Galiza,parte,a 10 de Novembro de 1911,para ocupar o posto de cônsul-geral,em Zanzibar.O segundo filho,Manuel,nasce em Portugal em 1912.Em Zanzibar vão nascer José,em 1912,Clotilde em 1913 e Isabel em 1915.De Março de 1914 a Junho de 1915,Aristides está em Lisboa e a familia em Cabanas.Volta a Zanzibar. A forma como dirige o consulado neste protectorado britânico leva-o a ser condecorado pelo sultão com a medalha de segunda classe da Estrela Brilhante,a mais alta condecoração que podia ser concedida a um estrangeiro.O próprio sultão será padrinho do seu filho Geraldo,sinal da estima que os unia.Em Maio de 1918 volta a ter de mudar de casa,partindo com a familia para Curitiba e Porto Alegre,no sul do Brasil,onde é promovido a cônsul de primeira classe,e onde permanecerão durante pouco mais de um ano.O tempo necessário para o nascimento de sua filha Joana,ainda em 1918.A missão poderia ter sido mais prolongada,não fora o facto de Aristides de Sousa Mendes ter sido suspenso de funções,com redução considerável do vencimento,em Agosto de 1919,por ser considerado hostil ao regime republicano.Depois de julgado,e absolvido por falta de provas,declara publicamente o seu catolicismo integro e os seus principios monárquicos e conservadores.Para que não restassem dúvidas,acrescenta ao seu nome os apelidos aristocráticos maternos: do Amaral e Abranches.Por tudo isto,na cimalha da casa que então erguia em Cabanas de Viriato (o Passal),lá mandou que esculpissem o brasão de sua mãe: um escudo esquartelado com as armas dos Abranches,Figueiredos,Abreu e Castelo Branco.No inicio de 1920 nasce,em Coimbra,Pedro Nuno.Nesse mesmo ano,Sousa Mendes é reintegrado e nomeado para S.Francisco,onde nasce Carlos.Nesta cidade californiana,o cônsul enfrentará alguns problemas com algumas associações patronais de portugueses por tentar defender os compatriotas mais pobres contra as condições de trabalho.Sebastião nasce em 1921,o ano em que Oliveira Salazar se lançou pela primeira vez na luta politica.Em 1924,Sousa Mendes é transferido para o consulado do Maranhão,seguindo depois para Porto Alegre,onde nasce Teresinha,em 1925. Regressa a Lisboa em 1926 para prestar serviço na Direcção Geral dos Negócios Comerciais e Consulares. Édepois enviado para o consulado de Vigo,a cidade espanhola mais próxima de Cabanas,onde nasce mais um filho: Luis Filipe.1929 é a data em que atinge o auge da sua carreira,quando parte para Antuérpia como cônsul-geral,cargo invejável,porquanto rentoso e honorifico.Em Julho de 1932,Salazar atinge o lugar de Presidente do Conselho de Ministros e confia a pasta dos Negócios Estrangeiros a César de Sousa Mendes,que ocupa durante pouco mais de um ano.Os irmãos Sousa Mendes haviam sido colegas em Coimbra de Oliveira Salazar e ambos lhe reconheciam a cultura e as capacidades de trabalho,de resto inegáveis pelos actuais "labutadores e incansáveis governantes".Aristides,Angelina,os seus doze filhos,e o pessoal doméstico que normalmente os acompanhavam mudam-se depois para Lovaina,cidade flamenga onde irão nascer mais dois filhos: João Paulo,em 1932,e Raquel em 1933, que viria a falecer dezoito meses mais tarde,vitima de doença desconhecida. Na Bélgica permanecerão até 1938,não sem Sousa Mendes ter constantes atritos com colegas seus e graves problemas financeiros,devidos não só à sua prole,mas também aos seus gastos megalómanos.Apenas como exemplo diremos que manda esculpir uma imagem do Cristo-Rei com vários metros de altura,que trás para Portugal para pôr na sua sumptuosa quinta de Cabanas.Mas esta não foi a primeira ocasião,nem virá a ser a última,em que Aristides tem de enfrentar problemas de dinheiro.Não raras vezes,César,que já tinha desempenhado funções em diversos paises,tinha casa em Mangualde,e vivia uma existência confortável,terá de vir em auxilio do irmão.A 1 de Agosto de 1938,Aristides pede a Salazar que o transfira de posto,cansado que estava da pressão dos seus colegas que cobiçavam o seu cargo.É transferido para Bordéus,para onde está marcado o seu encontro com a História.
A 29 de Setembro de 1938,acompanhados por parte dos filhos,chegam oficialmente a Bordéus.A familia instala-se nas catorze divisões,das quais duas foram reservadas para os serviços consulares,do número 14 do quai Louis XVIII.Aristides não tardou a dar provas da sua generosidade.Vários corredores portugueses, que tinham participado numa prova de ciclismo,não dispunham de meios para regressar a Portugal.O cônsul, com dinheiro do próprio bolso,alojou-os num hotel e pagou-lhes a viagem de regresso em comboio.Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial e o exército alemão a avançar pela França dentro no Verão de 1940,Bordéus,cidade fronteiriça entre França e Espanha,torna-se refúgio de muita alma fugida do norte da Europa e o consulado português é visto como a "tábua de salvação" por milhares de pessoas que lá se amontoam na esperança de obterem um visto de entrada ou salvo-conduto para puderem atravessar Espanha e entrar em Portugal com destino ao continente americano.Contrariando a circular nº14,de 13 de Novembro de 1939,que proibia a concessão de vistos a certas categorias de refugiados,especialmente judeus,Aristides, depois de passar vários dias de cama com febre e espasmos nervosos,face à desgraça humana que desfilava pelas ruas de Bordéus,toma a decisão,movido pela sua consciência,de passar vistos a todos quantos necessitem.Num impeto,a noticia corre célere entre os refugiados: o cônsul português dava vistos e o casarão nas margens do rio Garona é "invadido" por judeus,polacos e outros indesejados aos olhos dos nazis.Impossivel se torna controlar aquela multidão em desespero,e em plena conjugação de esforços com a mulher,os filhos e José Seabra,secretário consular,os passaportes são recolhidos em sacos e três dias a fio o diplomata não se deita para assinar interminavelmente o documento que permitia a vida e a salvação.Dias mais tarde,desloca-se ao consulado de Baiona, que se encontra sob jurisdição do de Bordéus,onde empreende uma nova "operação de salvamento",chegando ao ponto de mandar colocar uma mesa do consulado na rua,para facilitar a passagem de vistos.Salazar,ao tomar conhecimento da insubordinação de Sousa Mendes,dá instruções para que este regresse de imediato a Lisboa,escoltado por dois diplomatas,sob prisão. Com este gesto,Aristides salvou a vida a mais de trinta mil refugiados-um terço deles judeus-mas também lhe valeu em Outubro de 1940 ser condenado a "Um ano de suspensão sem remuneração e reforma compulsiva finde este prazo".Jamais em vida será reabilitado ou receberá qualquer indemnização,apesar das suas diligências e dos pedidos de seu irmão César,então com uma já longa e brilhante carreira diplomática,passando a (sobre)viver com uma reforma equivalente a metade do salário.Impedido de exercer advocacia e de sair do pais,vê-se na necessidade de enviar todos os seu filhos para o estrangeiro.Quatro anos após o processo disciplinar instaurado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros,ou melhor,após o castigo de Salazar,o ex-cônsul sofreu-talvez devido a toda a tensão psicológica-uma primeira hemorragia cerebral que lhe paralisou a parte direita do corpo.Mas não se pense que Salazar foi o único responsável pela cada vez mais dificil situação do cônsul: a 16 de Agosto de 1948,Angelina morre em Lisboa,vitima de uma congestão cerebral.Vendo-se viúvo,acaba por contrair segundas núpcias em 1949 com Andrae Cibial,de quem tivera uma filha,Maria Rosa,nascida em Lisboa,em 1939,e que fora concebida em Bordéus,fruto de uma relação extraconjugal.A francesa fá-lo sair de Lisboa para residirem no "Passal",a casa da aldeia que ele fechara,sempre na esperança de voltar a abri-la com a glória de outrora,e inicia um processo de vendas capciosas,de isolamento maléfico de seu marido e de maus tratos.A vida torna-se mais dificil a cada dia que passa e no final de 1952,Aristides é vitima de novo derrame cerebral e tem de ser submetido a uma intervenção cirúrgica.Numa manhã gélida encontram-no em frente a uma salamandra da casa,ao lado de uma cadeira desfeita,tentando acender o fogo com a tradução de um livro inglês que ele vertera para o português.É transportado para Lisboa onde morre,a 3 de Abril de 1954,longe dos filhos,pobre e amargurado.Como mortalha, vestiram-lhe um hábito de monge da Ordem Terceira de S. Francisco.O feretro foi depois transportado,de comboio,para Cabanas. O monumento funerário que abriga o seu corpo e o da sua primeira mulher está hoje perfeitamente deitado ao abandono.A 21 de Fevereiro de 1961,foi plantada uma árvore na Álea dos Justos,em Jerusalém,para honrar a memória de Aristides de Sousa Mendes.Apenas o empenho dos seus e as pressões internacionais fizeram com que a primeira cerimónia oficial de reabilitação de Aristides de Sousa Mendes pelas autoridades do seu pais viesse a ter lugar,a 24 de Maio de 1987,na embaixada de Portugal em Washington.Nesse dia,Mário Soares,então Presidente da República,condecorou Aristides de Sousa Mendes,a titulo póstumo,com a Ordem da Liberdade. A 13 de Março de 1988 a Assembleia da República votou,por unanimidade,a reabilitação do cônsul.Pessoa com tal Humanismo,protagonista da "maior acção de salvação levada a cabo por uma só pessoa durante o Holocausto" não deveria precisar de condecorações regateadas,nem louvores pressionados.
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: João Vaz em Setembro 27, 2010, 12:52:40 pm
Fernando, ou Ferrand, da Flandres (1188-1233)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2Fthumb%2F4%2F4b%2FPortugueseFlag1185.svg%2F150px-PortugueseFlag1185.svg.png&hash=cc481be67611020ed756dd8a47dcca74)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Flmarenco.free.fr%2FArticles%2FArmorial_Bouvines_fichiers%2Fimage073.gif&hash=ce445cc924fcfc2bcadefaf878d41557)
Brasão de Portugal sob D. Sancho I, brasão do seu filho Fernando, conde da Flandres
 
27 de Julho de 1214.
Uma das batalhas decisivas da Idade Média nos campos de Bouvines (norte de França) significou o fim dos domínios ingleses no Continente nos dois séculos seguintes, estabelecendo a França como principal potência na Europa por mais de 100 anos. No meio da mêlée, um português...que os portugueses não recordam. Fernando, ou Ferrand, de Portugal, conde da Flandres. Trata-se de um infante de Portugal, filho de D. Sancho I, casado em 1211 com Jeanne de Constantinople, condessa da Flandres e do Hainault (filha e herdeira de Balduíno IX da Flandres), com o beneplácito do rei de França, Filipe II Augusto de França. Vassalo do Rei de França, mas aliado do Imperador alemão Otto IV na aliança que pretendia derrubar o rei francês, o conde Fernando combateu numa das batalhas principais da Idade Média.
 
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fconnetables.free.fr%2Fbatailles%2Fmoyen-age%2FBouvines%2520-%25201214.html&hash=bc8d6e721f61b40ba97798ad3f7eea5b)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi168.photobucket.com%2Falbums%2Fu199%2Flaulobaptista%2FSelosfilhosdeSanchoI.jpg&hash=ffc2c21813db811f922cadb66773baff)
Selos com efígie do infante Fernando de Portugal, conde da Flandres

Entre 1202 e 1206, Filipe II Augusto de França, monarca responsável pela grande unificação do Reino francês, reconquistou territórios consideráveis à Coroa de Inglaterra no continente (Normandia, Bretanha, Anjou, Maine, Tourraine, entre outros). Afim de reconquistar esses importantes territórios franceses, o Rei de Inglaterra João sem Terra (sucessor de Ricardo Coração de Leão) organizou em 1214 uma poderosa aliança Anglo-Flamenga-Alemã com um conjunto de grandes nobres, entre os quais Otto da Alemanha e Fernando de Portugal, conde da Flandres, de modo a reaver os territórios recém-recuperados pela Coroa de França. Para tal, o rei inglês planeou uma ambiciosa campanha em duas frentes sobre a França.

Em Janeiro, os condes Fernando da Flandres e Renaud de Boulogne montam cerco à cidade marítima de Calais mas são forçados a retirar pelo infante Luís, filho de Filipe II, que castiga em represália as vilas flamengas de Cassel, Bailleul e Steenvoorde. Fernando e Renaud contra-atacam com um assalto a Saint-Omer e no condado de Guines.
O conde português Fernando prossegue o avanço na região de Artois, mas não consegue tomar Lens. Decide então cercar Bruxelas e obtém assim o apoio do duque Henrique I de Brabant, ex-partidário e genro de Filipe II, prosseguindo a marcha contra França integrado nas hostes de Otto IV da Alemanha.

Enquanto isso, João Sem Terra desembarcou em Fevereiro na Rochelle, principal porto da costa Sudoeste, com as tropas inglesas e, juntamente com os barões franceses aliados procurou enfrentar as hostes comandadas pelo filho do rei de França Filipe, o futuro Luís VIII. Porém, a aproximação iminente do infante de França provoca o abandono dos barões franceses. Privado assim da maior parte da sua força militar, o Rei de Inglaterra reembarca à pressa, deixando o contingente inglês à sua sorte em Roche-aux-Moines (próximo de Angers). Postos igualmente em fuga, foram facilmente dominados pelas hostes francesas na batalha de 2 de Julho de 1214.

A dupla ofensiva foi assim confrontada com sucesso pelos defensores franceses no Sul, enquanto o próprio rei Filipe II, acompanhado pelos Duques da Borgonha e de Champagne, conduziu o grosso das tropas ao Norte de Paris ao encontro de Otto IV prestes a invadir o reino.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.tiosam.net%2Fenciclopedia%2Fimagem2.asp%3Fpic%3Dthumb%2F1%2F1c%2FPhilippe_II_Auguste.jpg%2F180px-Philippe_II_Auguste.jpg&hash=d4273da02ea48437c3d4ac096e1307dd)
Iluminura de Filipe II Augusto, Rei de França

No dia 12 de Julho de 1214, os aliados reunidos sob a liderança de Otto IV conferenciam na cidade de Nivelle. Entre outros grandes senhores feudais, encontram-se o duque Thibault I de Lorraine, o duque Alberto de Saxe, Filipe de Courtenay, marquês de Namur, Hugues de Boves, entre outros, estabelecendo um acordo de partilha prévio dos domínios de Filipe Augusto.
 
As forças reunidas dos aliados dirigem-se em seguida para Valenciennes. À sua chegada contam-se cerca de 60.000 homens: 10 000 cavaleiros e cerca de 50.000 infantes.
O exército do Rei de França é ligeiramente menos numeroso, sendo estimado entre 20 a 30.000 homens.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2F1%2F1b%2FPhilippe_II%2527s_victory_at_Bouvines.jpg&hash=00d3dd6174430df6fa8394a1719c5030)
Paris, Mestre iluminador da Cité des Dames (c. 1400-1410) (Biblioteca Nacional de França)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2Ff%2Ff4%2FBataille_de_Bouvines_.jpg&hash=048273e34395edf508ee673976fce6b5)
Iluminura das Grandes Chroniques de France France, Paris, séc. XIV (Biblioteca Nacional de França)

Assumindo posições de combate nos campos vizinhos de Bouvines, ambos os campos dividem-se em 3 corpos principais: tropas francesas com Filipe Augusto liderando o corpo central francês, enquanto Otto IV ocupa posição idêntica nas hostes da aliança imperial, colocando-se a ala direita sob o comando do português Fernando, conde da Flandres.

É justamente a ala esquerda sob o conde Fernando de Portugal que sofre o ímpeto das cargas inciais da cavalaria francesa, cedendo perante a força superior. As linhas de infantaria flamenga são destroçadas e o conde é feito prisioneiro. Porém, durante breves momentos, a posição do rei de França é ameaçada por alguns flamengos dispersos por entre o turbilhão da ofensiva.  

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fxenophongroup.com%2Fmontjoie%2Fbovmap3.gif&hash=e6518ba39a5df7b6d3f3badabf73d65d)
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(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fhis.nicolas.free.fr%2FImages%2FCartes%2FFrancePhilippeAuguste_WEB.gif&hash=333a8da61940d85d4df366ebe4aee15a)

Após uma tarde de combate intenso, a cavalaria francesa derrota em toda a linha os aliados. Fernando da Flandres, Salisbury de Inglaterra e outros nobres são prisioneiros de grande valia. A vitória francesa é total. A vitória de Filipe II Augusto consagrou definitivamente o Reino de França como o mais poderoso estado europeu no Ocidente medieval, enfraquecendo o Império Romano-Germânico, consolidando o poder político do rei de França e as suas conquistas, provocando a queda de Otto IV no Império Romano-Germânico e, em Inglaterra, o culminar da revolta dos barões resultando na imposição da Magna Carta em 1215 a João sem Terra. Após Bouvines, João Sem Terra regressou a Inglaterra, onde morreu em 1216.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.francebalade.com%2Fhisto%2Fbouvines1.jpg&hash=04e566ea8aa4ff7bb711ee9f1f3c9bef) (https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2F2%2F25%2FPrisonniers_Bouvines.jpg&hash=0c928d8d990b98cb9c9ca83f18fc5541)
Filipe Augusto de França transportando os prisioneiros Fernando de Portugal e Renaud de Boulogne e a chegada a Paris
Grandes Chroniques de France, Paris, séc, XIV (Biblioteca Nacional de França)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2Fd%2Fdf%2FFerrand_Bouvines.jpg&hash=2185efe3e46d134c911a1774e856459f)
Iluminuras da chegada do conde cativo a Paris Grandes Chroniques de France, séc. XIV (Biblioteca Municipal de Castres)

"Ferrand" da Flandres (como ficou conhecido em territórios francófonos), é transportado a Paris e apresentado como troféu aos habitantes. A capital francesa celebra o retumbante êxito francês durante uma semana. A prisão de Fernando de Portugal no castelo do Louvre estendeu-se por 12 anos, durante os quais o trono de França foi assumido por Luís VIII. Só após a morte deste, a sua viúva Branca de Castela e seu filho e sucessor Luís IX autoriza em Janeiro de 1227 a libertação do conde português, após pagamento de metade do resgate inicial.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.histoire-fr.com%2Fimages%2Fvestiges_musee_louvre1.gif&hash=f333fce36a4736b99620e5754e95eed8)
Fosso e arranque das muralhas do antigo castelo do Louvre (contíguas às fundações do actual palácio-museu), onde o conde Fernando permeneceu prisioneiro 12 anos após a batalha

Fernando de Portugal morre a 27 de Julho de 1233 sem descendência. A sua filha única, Maria, prometida a Robert de Artois, irmão do rei de França Luís IX, morre em 1236 com apenas 8 ou 9 anos.

Hoje em dia, a memória da batalha de Bouvines está discretamente inscrita num obelisco na vila do mesmo nome. A lenda local sugere que terá sido no lugar da actual igreja, onde originalmente se encontrava uma capela, que Filipe II de França colocou a sua coroa no altar enquanto dirigia o discurso às suas tropas antes da batalha.
 
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fhome.eckerd.edu%2F%7Eoberhot%2Fim-bouv-field1.jpg&hash=ef610c865506882a288fbf347bdd9675)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fhome.eckerd.edu%2F%7Eoberhot%2Fim-bouv-field2.jpg&hash=7ea8c423547431ea832abe11c33940b0)
Campo de batalha de Bouvines na actualidade

Estuda-se actualmente a classificação do local da batalha como património nacional, por ocasião da celebração oficial do oitavo centenário (http://http).

O conde foi sepultado na Abadia de Notre-Dame de Marquette da Ordem de Cister, perto de Lille, fundada por sua mulher Jeanne de Constantinople e onde a mesma se lhe juntou após a sua morte. Infelizmente, foi destruído na época da Revolução Francesa.

Apenas as fundações subsistem...
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fclaude.quettier.free.fr%2Fabess%2Fphotos%2FMarquet3.jpg&hash=53e401add4bfa0e8419740f5c66cf93a)

Porém, a evocação longínqua da grande batalha, e em particular do conde "rebelde" Fernando, sobrevive nos "cabeçudos" de Wattrelos exibidos no Carnaval local.
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fjeanluc.lobbedez.free.fr%2Fgeants%2Fgeants.jpg&hash=f0fb4c7e60be95bdf232d0876a4b09b3)

Para saber mais:

DUBY, Georges, Le Dimanche de Bouvines, Paris: Gallimard, 1973

Histoire Militaire de la France (tome 1, "des origines à 1715"), Paris: Presses Universitaires de France, 1992

LAVISSE, Ernest, La Bataille de Bouvines, reed., Éditions Numerus, 2006
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: HSMW em Dezembro 11, 2012, 12:16:03 pm
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fsphotos-g.ak.fbcdn.net%2Fhphotos-ak-ash4%2F385121_535112543167944_1680487264_n.jpg&hash=7cff006b9a18831d877856a67325affc)

FAZ 37 anos que morreu Heroicamente o Ten. Cor. Magiolo Gouveia ! Um herói Português e Timorense ... fuzilado pela FRETILIN de Xanana Gusmão ! Eis em baixo a carta que o Bispo de Dili enviou à sua viúva que vivia em Évora,que relata as últimas horas da sua vida ! UM TESTEMUNHO OBRIGATÓRIO de ler ! Eram desta Tempera os Portugueses de antanho ...


Exma. Senhora D. Maria Natália Gouveia

Há muito que me pesam no coração a dolorosa ansiedade e a cruel angústia de V. Ex.cia e de todos quantos têm estado sem notícias deles. Por S.Excia Rev.ma o Pro-Núncio Apostólico em Jacarta sei, agora, que V.Ex.cia vive mergulhada em grande aflição e tristeza por absoluta falta de notícias e que pediu à Santa Sé informações sobre a situação de seu estremoso marido. É mais uma falta da minha parte. Mas, como compreenderá, nem sempre é possível escrever em pleno fragor da guerra. A vida começa, agora tanto quanto é possível, a normalizar-se na cidade de Dili e nalgumas Vilas da Província e, por isso, apresso-me a escrever-lhe esta carta, através da mesma Nunciatura em Jakarta que, espero, a fará chegar às mãos de V.Ex.cia.

Durante o período de guerra, como V.Ex.cia sabe, tenho acompanhado, mais ou menos de perto, directa ou indirectamente, a sorte dos nossos queridos prisioneiros e, por isso, também, a de S.Ex.mo Marido e meu caríssimo amigo tenente-coronel Maggiolo de Gouveia. Particularmente assisti-lhe com assiduidade quando ele baixou no Hospital, sem gravidade, mas onde se manteve até ao dia 7 de Dezembro de 75. Nessa data, a FRETILIN levou para Aileu todos os doentes-presos, como aliás todos os seus prisioneiros, detidos em Dili, que andaria à volta de uns 800. Foi, então, que perdemos o contacto com os presos. Todos nós sentíamos a sensação de nos encontrarmos num túnel de curva fechada e vivíamos horas densas de angústia, situações de terror e como que de contínuo suspensos sobre o abismo da morte. Deus, e só Deus, era a nossa esperança: ao coração d`ELE fazíamos e continuamos a fazer insistente violência.

Só agora, e já lá vão sete meses de guerra - começa a raiar esquivamente a aurora de possíveis dias de paz: começa a haver tranquilidade e confiança e a vida está a voltar à normalidade. E, também, só agora, estão chegando notícias daqui e dali, do interior da Província, do que por lá se passou. Estão aparecendo em Dili alguns prisioneiros levados pela Fretilin, mas são muito poucos, os suficientes, porém, para por eles se saber os que não voltarão porque foram mortos pelas hordas comunistas. E entre estes que não voltarão, porque seguiram rumo à Casa do Pai do Céu, está o nosso querido tenente-coronel Maggiolo de Gouveia: fez ele parte dos mais de mil prisioneiros executados pela Fretilin no altar do ódio a Deus, à Família e à Pátria. É deveras doloroso esta minha missão de lhe vir anunciar que Seu estremoso marido não pertence já ao número dos vivos «neste vale de lágrimas», deu a sua vida pela fé e pela Pátria, morreu como um autêntico cristão, como um Homem inteiriço, como um militar de têmpera desses militares de antanho que são orgulho e exemplo da vossa gloriosa história. É natural, minha senhora, que o seu coração de esposa sangre de dor e que a sua alma mergulhe na tristeza mais atroz; mas quando um homem morre como o seu marido morreu, herói da fé e da Pátria, é mais motivo para dar graças a Deus e honrar-se em tal morte do que para lamentações e lutos. A certeza que lhe advém da fé, de que um dia encontrá-lo-à na Casa do Pai e o exemplo que ele deu, de testemunho da sua fé e das virtudes humanas, cristãs e militares, afirmadas sempre e, sobretudo, à hora da sua morte e com o sangue, serão o melhor e mais suave linitivo para a sua dor e deverão ser para V.Ex.cia e para seus filhos motivo de santo orgulho, de nobre estímulo na vida e, até, de cantar ao Senhor o «Magnificat».
A execução devia ter sido entre 9 a 15 de Dezembro de 75. Neste momento, ainda não me é possível averiguar a data exacta. Sei apenas algumas circunstâncias que tentarei passar ao papel, somente, para lhas comunicar.

Como atrás disse, todos os presos haviam sido levados de Dili para Aileu, em condições as mais desumanas. Em dia que ainda não consegui precisar, mandaram reunir todos os presos, como era rotina, e foi feita a chamada de cerca de 50 a 60 homens, incluindo o nome de Maggiolo de Gouveia, que sucessivamente iam alinhando no terraço. A este grupo, escoltado pela milícia armada, como era hábito, foi dada ordem de marcha em direcção à estrada de Aileu-Mausisse. Chegados aqui, e percorridos uns metros de estrada, soou a voz de «alto» e o grupo parou e viu-se próximo de uma grande vala, previamente aberta ao lado da estrada. É-lhes, então dito que todos vão, ali ser fuzilados. Há um momento de consternação e de estremecimento colectivo. As milícias põem a arma à cara: e é então, que o tenente-coronel Maggiolo levanta a voz e diz: Senhores, deixem-nos rezar. E todo o grupo, de joelhos em terra, reza o terço a N.Senhora, dirigido pelo tenente-coronel Maggiolo. Terminado este e estando todos de joelhos, encoraja e anima os seus companheiros «condenados à morte» e termina dizendo: Irmãos, breve vamos comparecer na presença do nosso Deus e Pai: façamos o nosso acto de contrição, o nosso acto de anor. E, em silêncio entrecortado de lágrimas, os corações daqueles homens sobem a Deus para pedir... lembrar... e dizer... aquilo de que, naquela hora derradeira, Deus é o Único testemunha. Depois, o tenente-coronel põe-se de pé, sendo seguido neste gesto pelos seus companheiros, e dirige-se aos soldados-algozes nestes termos: irmãos, nós estamos já preparados para comparecer no Tribunal de Deus, lá vos esperamos também a vós. O meu único crime foi o de não renegar a minha fé e o de amar Timor. Morro por Timor. Morro pela minha Pátria e pela minha fé católica. Podeis disparar. Evidentemente, os soldados timorenses ficam como que petrificados, não se movem, nem se atrevem a pôr a arma à cara. É um estrangeiro que rompe o silêncio destes primeiros instantes e quebra a indecisão daqueles soldados nativos: põe a arma à cara e dispara contra o tenente-coronel Maggiolo. E, logo a seguir, todos os soldados fazem o mesmo, abatendo com rajadas sucessivas todos os presos. (Esta narrativa - quero que o saiba, minha senhora, - ouvi-a da boca de um dos presos de Alieu, o Administrador do Concelho de Mabusse, Lúcio da Encarnação, que a ouviu por sua vez dos próprios soldados-algozes e que, ao fim, foi salvo pelas milícias de Ainaro).Assim morrem os heróis. Assim morreu o tenente-coronel Alberto Maggiolo de Gouveia. E, quem assim morre, é orgulho para os pais, para a esposa, para os filhos e para a Pátria. Morreu como herói da fé e da Pátria: e, desta forma, não é a morte que coroa a vida, é a glória eterna em Deus que sublima tal morte. E mais vale morrer com glória do que viver com desonra - eram desta têmpera os portugueses de antanho - foi a ideia-força na vida deste Homem, deste Cristão e deste oficial do Exército Português, de Maggiolo de Gouveia. Se, como piedosamente cremos, ele continua a viver no Céu, junto de Deus, também viverá no coração dos timorenses enquanto a memória dos homens não se desvanecer.
Desculpe, minha senhora, fui muito extenso e não disse tudo nem..., é quem tudo conhece. Mas pensei que seria esta a melhor forma de ir mitigar a sua grande dor, de pedir-lhe que tenha coragem na vida para vencer até ao fim, onde o encontrará, e de exortá-la à confiança em Deus que é o melhor dos pais e que, assim, a começa a preparar para «esse encontro» na meta final da vida.

Aqui vão, Senhora D. Maria Natália, para V.Ex.cia, para Seus filhos e para toda a demais família, as minhas profundas condolências e a expressão da minha comunhão de orações de sufrágio, com os meus sentimentos de religiosa estima e muita consideração.


De Vossa Excelência servo inútil em Cristo

José Joaquim Ribeiro - Bispo de Dili
Título: Capitão Antônio da Cunha Aragão
Enviado por: Portavioes em Dezembro 14, 2013, 05:56:35 pm
Bom dia a todos

Por mero acaso estava a ler os acontecimentos sobre O NRP Afonso de Albuquerque que foi um navio da Marinha Portuguesa, destruído, em combate, durante a Invasão de Goa em 18 de Dezembro 1961.

Estamos quase a perfazer 52 anos sobre este acontecimento histórico e gostaria de saber se alguém tem informação sobre o que aconteceu ao Capitão-de-mar-e-Guerra António da Cunha Aragão que ficou gravemente ferido durante o combate.
Aqui fica o pouco que consegui encontrar sobre este herói esquecido:

http://ultramar.terraweb.biz/EstadoIndi ... Aragao.jpg (http://ultramar.terraweb.biz/EstadoIndiaPortuguesa/cond_CTIEI/6_F470-19611218_Aragao.jpg)

Cumprimentos pré natalícios a todos
Portavioes
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Janeiro 15, 2014, 12:26:00 am
De certeza que não é desconhecido para os caros foristas, mas aqui vai este grande artigo do jornal SOL   :wink:



Alpoim Calvão: Centurião, aventureiro, tenor lírico


O rosto ameaçador na capa de O Jornal prometia um par de galhetas ao socialista Sottomayor Cardia. Foi em fotografia que, em 1975, vi pela primeira vez Guilherme Almor de Alpoim Calvão. Muitos anos depois, vi-o ao vivo no Hotel Atlântico, no Monte Estoril. Apesar de já ter 60 anos, produzia um tremendo impacto. Parecia um velho leão poderoso, ainda impossível de derrubar. De chapéu e sobretudo pretos, alto, maciço, lembrava a estátua de Maigret, em Liège. Aliás, em jovem, possante e estatuesco que era, podia ter servido de modelo para a glorificação do corpo masculino. Ao lado dele, Sean Connery pareceria frágil, quebradiço. A propósito, o comando João Almeida Bruno, que atingiu o absoluto topo do mundo castrense, com a Torre e Espada com palma, como guerreiro, e o generalato de quatro estrelas, como militar, considerou Alpoim Calvão “o 007 português”. Vejo-o antes como um misto de James Bond, oficial de Marinha e agente secreto, e de Indiana Jones, o académico aventureiro que caça tesouros. Só que estes dois são ficções e Alpoim Calvão é real. Tão real que, nos anos 70, numa discussão de trânsito, em Lisboa, em vez de dar um ‘calorzinho’ ao furibundo interlocutor, tirou-o do carro com as graníticas mãos, elevou-lhe os pés do chão e sentou-o no tejadilho. Para o homem comum, que nunca deu um murro e só apanhou com tiros vindos da televisão, Calvão é uma figura impossível, não pode existir. E com razão. De facto, ele é bigger than life.


O centurião, o DFE 8 e as Operações Nebulosas


Fuzileiro especial, submarinista e mergulhador de combate, além de piloto de avionetas, Calvão, na água, sente-se “um peixinho”, e é precisamente na Guiné, uma terra de águas, que faz a guerra. Combate cinco anos num clima miasmático com o calor do inferno. "Grande" é o seu nome de guerra. Bate-se na selva asfixiante, nos esteiros, no tarrafe, no lodo das bolanhas. As suas mais famosas operações são a Tridente, na Guiné Portuguesa, e a Mar Verde, na Guiné-Conakry. Na primeira, como primeiro-tenente, ajuda a empurrar o PAIGC para fora das ilhas de Como, Caiar e Catunco. São 70 dias, preenchidos a tiros, que servem de aquecimento para o seu mítico Destacamento de Fuzileiros Especiais 8 (DFE 8). Por sua vez, a Mar Verde, que concebe e comanda, é a última grande operação anfíbia portuguesa, 555 anos depois da que abre o Império em Ceuta, em 1415.

Nos seus anos de Guiné, Calvão revela-se um chefe guerreiro perfeito. Tem peito e tem cabeça. E tem sorte. Distingue-se nos assaltos, golpes de mão e patrulhas nos rios. É um dos senhores da floresta e o rei dos rios. Também se destaca como cérebro operacional. Estuda a Guiné e estuda a guerra, não só para a fazer bem, mas para a aprofundar, para criar guerra, o que o leva, por exemplo, a uma reengenharia das Informações. Calvão encara as operações como uma forma de matemática, planeia-as com precisão fria e não recua nas escolhas drásticas. Vê a guerra, não ao modo de Nietzsche, que a quer sem pensos nem ambulâncias, mas como um "moralista" estóico, como Tucídides. As suas duas comissões dão-lhe cinco anos de ideal em acção e de adrenalina. São anos em cheio. Assim, depois da estreia na Tridente e do DFE 8, onde manda para a sucata um monte de guerrilheiros, recebe a chefia do COP 3, a que dá uma maior letalidade, e acaba como chefe das Operações Especiais. Aqui, numa das Operações Nebulosas, com sangrenta abordagem corpo a corpo, há tal bronca que "o acto de pirataria" chega à ONU.

Calvão é um líder nato. A força de carácter, o carisma, a inteligência culta, o físico e a sua coragem de português antigo tudo vencem, dominam, contagiam. Nos combates, essas tempestades de bocados de aço, "Grande" mantém-se de pé, sereno, atrás de um qualquer tronco, para ver melhor o que se passa. Tenta encontrar uma ordem favorável aos seus na mortal confusão de tiros e berros. A sua serenidade também se manifesta antes da acção, na iminência dela, quando quase sempre há ainda mais tensão do que na acção em si. Por exemplo, antes de desembarques de alto risco aproveita para ler o tio Patinhas. Fatalmente, os subordinados endeusam-no e os pares entremeiam a muita admiração com alguma inveja. Quanto às chefias, respeita Reboredo Seara – tio do ex-presidente da Câmara de Sintra – e respeita mais ainda Spínola.

O elevado ritmo de operações, com a respectiva conta a crescer no carniceiro, como dizem os militares yanquees, exige folgas para "refrescamento". Entre duas operações, nas horas moles da guerra, Calvão bebe uma cerveja no Zé da Amura, dá uma vista de olhos ao ChatNoire e sorri no Altocrim, o entrepernas de Bissau, onde os soldados, depois da triste rotina das sarapitolas no mato, têm as sonhadas alegrias. Mas sobretudo descontrai da mais antiga e trágica actividade humana – homens que se matam, legalmente, em quantidade – dando uso ao “instrumento subjectivo que está dentro de nós e que liberta a alma”. Na Associação Comercial de Bissau, canta Puccini e Verdi, o seu Verdi que “vem da Terra, entra pelos calcanhares e toma conta de nós”. Depois da selva, a civilização. A besta e o homem. A mais fascinante unidade de contrários. Um bom retrato de Calvão, e do eterno masculino.

Feitas as comissões, regressa à metrópole. Fica no Comando Naval e no comando da Polícia Marítima. Já não está na Frente, onde fez História e se tornou mito, mas continua nela. Não há contradição, uma vez que está na Frente da Retaguarda. É o período da Dragão Marinho, quando monta uma rede de informadores em África e na Europa, e do caso Bretagne, em que esvazia caixas com material para o MPLA, de um navio dinamarquês, e torna a enchê-las com areia e os afamados tridentes masculinos das Caldas. É também o tempo da operação Esperanza II, na qual o navio de um armador de Marselha, atulhado de armamento destinado à FRELIMO, acaba os seus dias no fundo do alto mar. Além do DFE 8, das Operações Nebulosas ou da Mar Verde, estes feitos fortalecem o seu estatuto já ímpar nas Forças Armadas Portuguesas. De mito passa a lenda. Não só na tropa mas também no tribunal público dos portugueses e de africanos lusófonos mais velhos e de outros ainda, nomeadamente sul-africanos. Um exemplo destes últimos tive-o num bar de Nelspruit, no Transvaal, em 1986, quando se travava pelo Cuito Cuanavale, em Angola, a maior batalha da história da África Negra. Um dos dois boers, entusiasmado, diz-me:

– Calvau is a warrior’s warrior – o outro loiro abana sins com a cabeça.

Confirmei ali, perto da fronteira moçambicana, o apelo irresistível que o grande homem de armas exerce sobre outros homens. Calvão é um ícone da cultura viril da violência, elogiado com abandono, sem travões retóricos, por quem o conhece. “Uma figura de outra galáxia!”, diz o vice-almirante José Carvalheira. “Um Titã!”, “O maior português vivo!”, exclamam outros. A sua vida, um evangelho de masculinidade ao serviço da grande ideia de Portugal, é icónica mesmo para os mais orgulhosos machos alfa, para os que não precisam de heróis ou para os que perderam a capacidade de admirar outros e até para os seus inimigos.

É da ordem da sabedoria encontrar no efémero o eterno. Pertencendo à mais alta aristocracia da coragem, além de ter sangue e porte fidalgos, Calvão dá corpo ao símbolo arquetípico do guerreiro. Ele é a imagem do centurião que atravessa os milénios, com armas diferentes mas sempre o mesmo homem de guerra que defende o que sabe ser a única certeza: as raízes, os seus. Centurião e homem de honra porque, como diz Hemingway, “every great killer must have a sense of honor”, seja ele soldado ou matador de toiros; e também homem de dever, esse exigente imperativo categórico Kantiano. Aliás, a sua biografia, bem escrita por Rui Hortelão a partir de informação recolhida por Luís Sanches de Baena e Abel Melo e Sousa, tem por título precisamente Alpoim Calvão – Honra e Dever. Porém, mesmo nos nobres de espírito ou “no coração bom, existem abismos”, lembra Santo Agostinho.

O aventureiro e o altar de viagem de Vasco da Gama


Fechada a Guerra de África 1961-1974, e tirando a independência do Brasil, assiste-se ao maior abalo geográfico da nossa História. O Portugal gigantesco e pobre, feito de Pátria e Império, mirra, passa a pequeno rectângulo. O fuzileiro do Fim abomina o 25 de Abril. Faz da data um fetiche negativo. É contra o “25barraA”, não pela democracia que traz, mas pela solução que se quer dar à Questão Colonial. Neste tempo de revolução cruzada com descolonização, que obriga ao refazer da identidade nacional, Calvão tem “uns probleminhas” e mete licença ilimitada na Marinha. “Saneei-me a mim próprio”, dirá desse período de saneamentos selvagens.

Sem guerra, onde se vive muito mal mas muito mais se vive, Calvão não cai na fatalidade de ficar a ver a vida a passar. O homem de acção não pára – a adrenalina vicia, mais ainda se ao serviço de altos valores. Durante o temporal social e político do gonçalvismo, movimenta-se pelo Norte do país e por Espanha como chefe operacional do MDLP (o movimento de acção anti-comunista liderado por Spínola). As mentes mais imaginativas vêem nele um novo Paiva Couceiro. Com Calvão, prenunciando o 25 de Novembro da dupla Neves/Eanes, deixa-se de andar às curvas e passa-se a andar a direito contra a tentativa totalitária. Luta agora à bomba contra o que defendera na adolescência: o "socialismo científico", a ideologia que, além de uma construção explicativa do mundo, oferece a 2superioridade moral" como bónus. E a morte em massa nunca antes vista na Terra.

Mas Calvão não combate o comunismo só pelo Norte de Portugal, também o faz no Norte de Angola. Em 1975, a convite da CIA, de Holden Roberto e do comando Gilberto Santos e Castro, vai à bela, alegre e brutal terra da palanca negra. Pedem-lhe uma solução para dar cabo do MPLA que, entrincheirado em Luanda, é apoiado por russos e cubanos. É um excelente problema para Calvão. Estuda-o com o usual rigor. Depois, com o seu sentido da jugular, dá a solução:

– Corta-se a água a Luanda. De seguida, espalha-se o mujimbo de que pusemos minas à entrada do porto. A comida deixa de vir de barco e os draga-minas russos levam meses a chegar. Com sede e sem comida, ficam a apanhar bonés.

Para surpresa de todos, Holden Roberto, atrás dos óculos à tonton macoute, recusa o plano:

– Não! É cruel. Muito cruel.

O encartado sanguinário da FNLA surpreende Calvão e mais ainda Santos e Castro. A explicação para a inesperada doçura de Roberto radicava noutras missas, em missas cantadas no Kremlin e na Casa Branca.

Entretanto, já sem guerra, Calvão anda pelo vasto mundo, dando novo impulso à linhagem dos grandes aventureiros portugueses. Vai até ao Brasil, país que não só descobrimos como, com o apoio forçado de africanos, criámos. É um país à sua dimensão, ido que foi o Império, do qual já está meio refeito. Aí faz dinheiro no medonho mundo do garimpo, onde dorme com um olho aberto e uma pistola na mão. Tem como sócio Fernando Prado, oficial da Marinha Brasileira. Também com Prado, na senda dos trabalhos de Hércules dos sertanejos (e bandeirantes) portugueses que fizeram o Brasil, ergue uma imensa fazenda no infinito sertão. Na fazenda Caiçara, onde abre uma Avenida Portugal com 25 quilómetros, cria gado, produz soja e café. Para aumentar a fazenda de 100 para 140 mil hectares, negoceia com o magnata luso-galego Manuel Bullosa. O negócio começa bem mas quase acaba mal. Bullosa tenta uma finta financeira e, com os bolsos já preparados para recebê-la, é Calvão quem acaba por fintá-lo.

Mete-se também em negócios de armamento. Começa nos Explosivos da Trafaria e continua na Companhia de Pólvora e Munições de Barcarena, de que virá a ser dono parcial. Negoceia armas pelo mundo. Na Somália, num perde-paga com o Ministro da Defesa, ganha dez camelos e um bico d’obra: o que fazer com tantas bossas?! Mas do que mais gosta é de mexer-se, em modo de aventura, em “flibusteirices”, pelo planeta. O lado Indiana Jones consegue-lhe o altar da segunda viagem de Vasco da Gama à Índia, que oferece ao Museu da Marinha (cuja direcção ainda não teve tempo para juntar o nome do dador à peça exposta). No longínquo Oriente, negoceia objectos de alto valor. Um deles, que fica no Palácio Centeno, do antigo presidente do seu Sporting João Rocha, é um par de cães de Fo em cerâmica chinesa, feito no reinado Wanli da dinastia Ming. Por sua vez, na Ilha de Moçambique, recupera o fantástico faqueiro de mais de duzentas peças do rei Luís Filipe de França usado pelo governador da Ilha onde Camões “invernou”.

Outros negócios, entre tantos, concretiza-os na Guiné-Bissau. Em Bolama, é dono de uma fábrica de descasque de caju. Tem como braço direito José Saiegh, luso-guineense e antigo comando que esteve na Mar Verde. Emprega 300 pessoas. A nota invulgar, mas não para Calvão, que leva tudo a sério, é que, para escoar o caju com turcos, se preparou estudando o Corão. Por seu lado, em Bissau, onde tem uma vivenda virada para a mata, um dos seus campos de glória, faz negócios de arte africana. Tal como Chaves – onde nasceu no premonitório número 8, para mais da Rua do Sol – ou como Moçambique – onde desde criança o fascina ver o sol nascer do mar –, a Guiné é das zonas do planeta onde melhor se sente e melhor julga perceber os indecifráveis desígnios da existência e do universo. Neste jovem país amado, além da fábrica que faz dele o maior empregador privado, fundou a Liga dos Combatentes das Forças Armadas Especiais Portuguesas na Guiné-Bissau.

Extraordinária ironia. Antes da independência, Calvão era o inimigo público n.º 1 do PAIGC; agora, com a fábrica e a Liga, é o maior amigo dos guineenses. Por sua vez, os antigos guerrilheiros, incluindo o falecido Nino Vieira, “formidável combatente”, sentem uma curiosidade de admiradores pelo “homem que invadiu Conakry”. Se o questionam pela aparente contradição, dá uma resposta bem mais valiosa do que a pergunta. Com singelo humor, diz:

– Eu não mudei. Continuo a seguir a ideia-chave do anterior regime, a ideia de "Por uma Guiné melhor"!


O tenor lírico e o ‘Canto a la Espada Toledana’


Na primavera de 2001, levei Calvão ao Palácio Ceia, na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa, onde tinha o meu gabinete de professor universitário. Fixou-se nos azulejos do Palácio. Depois, falou-me deles com acribia de académico mas sem ostentação erudita. Além do gosto pela azulejaria, é um apaixonado pela pintura, sendo em Miguel Ângelo e Nuno Gonçalves que os seus olhos caem e lá ficam. O tecto da Capela Sistina, um “fortíssimo sinal que pesou” na sua “opção por Deus”, e o grandiosamente misterioso tríptico com a representação “pré-gâmica dos Lusíadas”, são os seus favoritos absolutos. Por seu turno, no que toca a porcelana da China, é um especialista, o que leva investigadores em História de Arte a consultá-lo. O seu gosto pelas coisas belas e do espírito ultrapassa a mera fruição – com a ópera torna-se mesmo um artista que canta árias de "Furtiva Lagrima", de Manon, ou do "Canto a la Espada Toledana". Antes de 1961, chega a cantar no São Carlos. Embora a voz não lhe chegue para ser spinto, consegue por essa altura o “dó, dito de peito, e mesmo o dó sustenido” e namora a ideia de se profissionalizar como tenor lírico. Mas explode o seminal ano de 61, o que leva ao rubro a sua "ânsia de combater". Primeiro, a guerra; depois, a arte. A ordem natural das coisas.

O seu domínio da palavra não se cinge à que canta, também abrange a declamação e a simples fala. Além de ser uma óbvia figura camoniana, domina o sotaque do Poeta, podendo dizer, como Manuel Alegre, "Camões decassilaba-se em mim". Também desenrola versos de Pessoa, Torga, Bandeira e Vinícius. Fora de portas lusófonas, aprecia Edmond Rostand, Leopardi, algum Shakespeare e o Victor Hugo de "Mon Père ce héros au sourire si doux, avait un cheval qu’il aimait entre tous!/.../Donne lui tout de même à boire!". Quanto ao falar, é exímio tanto em situação formal como na palheta. Fala com limpidez de raciocínio, sedução e com o talento de transmitir sabedoria sem dar lições. Um rastreio à sua fala – e escrita, a Contos de Guerra, por exemplo –, faz ressaltar dois traços estilísticos. Um é o humor servido por diminutivos, como dizer que tem “as carótidas entupidinhas” ou que a bela Gabriela de Amado, Sónia Braga, com quem se cruzou em Ouro Preto, é afinal “um coirinho”. O outro traço de estilo é o lustro que dá a vocabulário fora de moda como “na singradura da vida” ou “Ah, a fragilidade grácil dos comandos!”, retumbante e elegantíssima mentira que, numa habitual picardia, nos atirou a José Saiegh e a mim.

Além da coriácea formação militar, da delicada costela artística, do jeito para os negócios e do gosto pelas "flibusteirices", outra faceta deste homem que, como ninguém, vive a vida em plenitude, é a de pater familias. Apoiado por Maria Alda, a esposa de sempre, é um verdadeiro pai, e de dimensão bíblica, quando, por exemplo, faz ponto de honra em transportar ao colo um filho vítima de axonia. Calvão é fora de qualquer dúvida um homem superior, por vezes quase irreal na sua superioridade e nos seus mistérios. Superior mas não perfeito, se a vingança for defeito. Dificilmente perdoa e, quando se vinga, revela sem constrangimentos o seu lado sombrio, solta o seu cão negro. Como quando vai ao Bairro Alto à procura de um patife branco que tinha humilhado um deficiente preto e, num acto de alta pedagogia antiga, acaba por dar-lhe a conhecer alguns dos cumes da dor. Há também quem diga que, tecnicamente, não era bom no futebol. Não tinha o chamado toque de bola, o que compensava com a imortal técnica mista do encontrão e rasteira.

A Providência deu a Calvão qualidades que, em conjunto, formam uma singularidade grandiosa. Nesta grandeza, dois aspectos dão que pensar: os olhos e o nome. Diz-se que aqueles que têm a íris de várias cores, têm também talentos vários.

É o que sucede com ele. Tem esse tipo de íris e, como um homem da Renascença, é excelente em diferentes actividades. No que tange ao nome, diziam os romanos que nome é destino, nomen est omen. Um nome como Guilherme Almor de Alpoim Calvão, tão propenso a fetichismos onomásticos, só poderia antecipar um destino de total excepção. Aliás, ao contrário da maioria dos homens, que cumprem apenas um destino, Calvão percorreu vários. A sua vida é uma heteronímia, real, concreta, não a da brincadeira séria de Pessoa. Contudo, mesmo aqui não deixa de ser camoniano porque, como muito bem viu David Mourão-Ferreira, há vários Camões séculos antes de ter havido os vários Pessoas.

Calvão pode ser medido com Bigeard e não perde, porque é mais vasto, tem mais substância de lenda do que o pára-quedista francês. Se se recuar no tempo, é comparável aos grandes capitães do Império, aos grandes navegadores. E, se, para Manuel Alegre, em Jornada de África, Spínola é "o novo condestável", Calvão bem pode ser, no Fechamento, a reencarnação – sabe-se lá! – de um dos grandes da Expansão. Talvez de Albuquerque, que, a par do pai, foi o seu herói na adolescência. Seja como for, se estivermos com Hegel, Calvão é um herói autêntico porque é aquele que se opõe ao homem actual, que o ultrapassa, que é portador de um momento do espírito, o que, no seu caso, é o da grandeza de Quinhentos no século XX. A substância desse tempo camoniano dos heróis mantém-se no fuzileiro do Fim do Império. Contudo, porque "o mundo é feito de mudança", essa substância tomou "nova qualidade", não a do tempo cinzento de anti-heróis de Pessoa, mas a do solar tempo lusófono do messiânico Padre António Vieira.

O Cocoana Guilherme, o Tejo e o Mar


Sábado, Novembro, 2013. Durante o almoço mensal do Bando dos Cinco, num restaurante do Cais do Sodré, donde tantos marinheiros, soldados e aventureiros partiram para a Expansão, Calvão é o centro. Emagrecido pela doença (“Agora sou umas peles penduradas num cabide”, diz em auto-irrisão) e com o corpo a atraiçoá-lo, mantém, no entanto, a mente privilegiada. Nos aperitivos, a conversa salta dos achaques da idade para a teologia, com Calvão a deter-se em Hans Küng, e para uma gravura de Rubens que o velho fuzileiro lendário tenciona ir buscar a Marselha. Com a chegada do prato de substância, assessorado por Vale Pradinhos, surgem os pratos fortes da conversa: a crise, os países lusófonos, o patriotismo. Portugal é o arreigamento, o "mais antigo e constante Amor, que nunca vacilou", de Calvão. Portugal é a palavra da sua vida. Emparelha-a com Império. E, já há décadas, com Lusofonia. Sem qualquer relação neurótica com as ex-colónias. A sua condição saudosa de português não é nem passadista nem arca com complexos de culpa.

Terminado o longo almoço, as despedidas. João Almeida Bruno, José Carvalheira, o professor de medicina Ângelo Lucas e eu próprio damos o nosso abraço ao Guilherme. Agora o Cocoana, o Velho para os moçambicanos, de sobretudo preto e elegante bengala, caminha, atraindo o olhar dos que passam, fazendo-os esquecer o Duque da Terceira feito estátua. O homem que, com Chenier de Giordano, pode afirmar "Con la mia voce, ho cantato la Patria"; o homem que, se não ganhou – nem perdeu – a Guerra da Guiné, ganhou a guerra dos mitos e das lendas; o homem que, se falhou nalguma coisa, foi no século; esse homem, um Grande de Portugal que quer as cinzas enterradas na água, lá onde o “suave e brando Tejo” morre, segue o seu caminho de cara ao sol que agoniza no Mar Português.

http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Inter ... t_id=96904 (http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=96904)
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Cabeça de Martelo em Janeiro 29, 2014, 01:51:19 pm
JACINTO CORREIA FUZILADO EM MAFRA HÁ 206 ANOS

 :arrow: http://www.ericeiraonline.pt/index.php/ ... a-206-anos (http://www.ericeiraonline.pt/index.php/destaques/item/93-jacinto-correia-fuzilado-em-mafra-ha-206-anos)
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: jonas922 em Fevereiro 02, 2014, 06:23:30 pm
e na primeira guera mundial n há mais nenhum?
e pilotos?
na guerra civil espanhola  há algum heroi ou herois?
e na ww2 há algum heroi ou herois?
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 26, 2014, 04:52:57 pm
:arrow: http://sicnoticias.sapo.pt/especiais/40 ... ueiro-maia (http://sicnoticias.sapo.pt/especiais/40anos25abril/2014-03-26-o-homem-que-recusou-disparar-sobre-salgueiro-maia)
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: HSMW em Julho 14, 2014, 09:31:21 pm
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fplanet-portugal.com%2Fwp-content%2Fuploads%2F2020%2F05%2Fpadr%25C3%25A3o-lado-oeste-1024x592.jpg&hash=046ee1002013b05605fd541eebd7a3b2)
(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/98/Padr%C3%A3o_Descobrimentos_labels_%28eastern_side%29.jpg)
Figuras do Padrão dos Descobrimentos.
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Agosto 23, 2015, 06:10:35 pm
Kaúlza de Arriaga


(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fobservador.pt%2Fwp-content%2Fuploads%2F2014%2F11%2F152781476_1280x640_acf_cropped.jpg&hash=380faff3c91bb51146301d620e156e8f)


Descendente de família açoriana, tendo completado o curso superior de Matemática e Engenharia. Formar-se-ia com distinção, mais tarde, nos cursos de Estado-Maior de Altos Comandos, no Instituto de Altos Estudos Militares.

Depois de concluir os seus estudos em Matemática e Engenharia, foi para o Exército Português, como voluntário a 1 de Novembro de 1935, tendo acabado o curso de Engenharia Militar e Civil da Academia Militar, em 1939. Em 1949, terminou o curso do Estado-Maior e dos Altos Comandos do Instituto de Estudos Militares.

Sob ordens de Salazar e Marcello Caetano, foi comandante das Forças Terrestres em Moçambique (1969-1970) e foi Comandante em Chefe das Forças Armadas em Moçambique (1970/1973) durante a Guerra do Ultramar. Foi membro do Conselho da Ordem Militar de Cristo (1966/1974).

Como militar, esforçou-se na reforma dos sistemas de recrutamento e de treino, preocupou-se com a modernização dos transportes aéreos militares e incentivou o Corpo de forças Pára-quedistas e a sua integração na Força Aérea. Ficou conhecido principalmente pelas campanhas militares que comandou em Moçambique, durante a Guerra do Ultramar, sobretudo na grandiosa Operação Nó Górdio (1970), que resultou num enorme sucesso militar que chegou a ser publicamente admitido pela FRELIMO que como consequência dessa operação moveu o seu esforço de guerra para a zona de Tete.

Colaborador fiel de Oliveira Salazar e de Marcelo Caetano, chegando a ser decisivo no fracasso do golpe de Estado de 1961, Kaúlza teve várias funções de carácter civil e militar, como a de Chefe de Gabinete do Ministério da Defesa, Subsecretário de Estado da Aeronáutica, professor do Instituto de Altos Estudos Militares, presidente da Junta de Energia Nuclear, presidente executivo da empresa de petróleos Angol SA, de comandante das forças terrestres em Moçambique e de Comandante em Chefe em Moçambique.

Depois do 25 de Abril de 1974 foi passado compulsivamente à situação de reserva sendo depois preso no dia 28 Setembro. Sem culpa formada, após 16 meses de detenção foi libertado em Janeiro de 1976. Em 1977 criou o Movimento para a Independência e Reconstrução Nacional (MIRN), um partido de direita, do qual foi presidente até à sua extinção a seguir às eleições legislativas de 1980.

A partir de 10 de Junho de 1994, o general Kaúlza de Arriaga integra a Comissão de Honra dos Encontros Nacionais de Combatentes, junto ao Monumento Nacional alusivo frente ao Forte do Bom Sucesso. Em 21 de Janeiro de 2004, desde há alguns anos afectado pela doença de Alzheimer, dá entrada nos Cuidados Intensivos do HMP-Estrela, onde passaria os seus últimos dias até falecer, às 19h30m de 2 de Fevereiro de 2004; às 13:00 de 4 de Fevereiro foi sepultado no cemitério dos Prazeres em Lisboa.

Condecorações

Oficial da Ordem Militar de Avis de Portugal (10 de Novembro de 1950)
Espanha Cruz de 2.ª Classe com Distintivo Branco da Ordem do Mérito Militar de Espanha (20 de Junho de 1953)
Brasil Grande-Oficial da Ordem do Mérito Militar do Brasil (21 de Janeiro de 1956)
Estados Unidos Comendador da Legião do Mérito dos Estados Unidos da América (17 de Novembro de 1958), atribuída pelo Presidente Dwight D. Eisenhower
Portugal Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo de Portugal (5 de Março de 1959)
França Grande-Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra de França (3 de Novembro de 1960)
Portugal Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (3 de Janeiro de 1961)
Portugal Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal (19 de Dezembro de 1962)

Livros publicados

Energia Atómica - 1949
Portugal Novo, Grande e Rico - 1962.
Portuguese National Defence During the Last 40 Years and in the Future - 1966
A Defesa Nacional Portuguesa nos Últimos 40 anos e no Futuro (duas edições) - 1966
O Problema Ultramarino Português - 1967
Algumas Questões Nucleares em Portugal - 1969
Message on Taking Over Ccommand of Ground Forces in Mozambique on 15 July 1969 - 1969
Guerras Coloniais e Descolonização : Entrevista - 1970
A Solução Portuguesa - 1971
A Luta em Moçambique : 1970-1973 (duas edições) - 1973.
The Portuguese Answer - 1973
Coragem, Tenacidade e Fé (duas edições) - 1972
A Conjuntura Nacional e a Minha Posição perante o Momento Político Português (duas edições) - 1976
Pontos Programáticos de um Novo Presidente da República - 1976
No caminho das Soluções do Futuro (três edições) - 1977
A Proposta-MIRN : Comunicação ao País em 28 de Junho de 1977 - 1977
África - A Vitória Traída (co-autor) - 1977
Guerra e Política : Em Nome da Verdade, os Anos Decisivos (duas edições) - 1987
Estratégia Global - 1988
As Tropas Pára-Quedistas Portuguesas 1956-1993 (pref. Kaúlza de Arriaga) - 1992.
Sínteses (duas edições) - 1992
Maastricht : Pior ainda que o "25 de Abril"!? - 1992


Wikipédia
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Dezembro 13, 2015, 06:27:22 pm
José Manuel Bettencourt Rodrigues

(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/5/5b/José_Manuel_Bettencourt_Rodrigues.jpg)

José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues OA • ComA • GOA (Funchal, 5 de Junho de 1918 — Lisboa, 28 de Abril de 2011), mais conhecido por Bettencourt Rodrigues ou Bethencourt Rodrigues, foi um oficial general do Exército Português que, entre outras funções, foi Ministro do Exército (1968-1970), comandante da Zona Militar Leste de Angola (1971-1973), terminando a sua carreira como Governador-Geral da Guiné (1973-1974), cargo para que foi nomeado em Setembro de 1973, substituindo no cargo o general António de Spínola. Foi o último dos governadores daquela província ultramarina de Portugal, numa altura em que a situação militar das forças no terreno exigiam a chefia de uma qualidade de que já dera sobejas provas dominando a guerrilha no Leste de Angola. Por despacho da Junta de Salvação Nacional, passou à situação de reserva em 14 de Maio de 1974.

Nascido na Madeira, foi muito jovem para Lisboa, onde fez o curso secundário no Liceu de Pedro Nunes. Concluído o ensino secundário, frequentou os estudos preparatórios militares na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ingressando de seguida no Curso de Infantaria da Escola do Exército, que terminou em 1939, como primeiro classificado do seu curso.

Em 1951 concluiu o curso de Estado-Maior com a classificação de Distinto. Em 1953, frequentou o curso de Comando e Estado-Maior do Exército Norte-Americano, no Command and General Staff College, em Fort Leavenworth, Kansas. A 28 de Dezembro de 1953 foi feito Oficial da Ordem Militar de Avis, a 30 de Julho de 1957 foi elevado a Comendador da mesma Ordem e a 6 de Julho de 1966 a Grande-Oficial da mesma ordem.[2] Em 1968, após a frequência do curso de Altos Comandos do Instituto de Altos Estudos Militares (IAEM), no qual teve a classificação de Muito Apto, foi promovido a brigadeiro e em 1972 a general.

Ao longo da sua carreira, foi comandante do Regimento de Artilharia n.º 1, professor e director dos Cursos de Estado-Maior, chefe do Estado-Maior do Quartel-General da Região Militar de Angola, comandante da Zona Militar Leste de Angola e comandante-chefe e governador da Guiné Portuguesa. Exerceu também as funções de adido militar e aeronáutico junto da Embaixada de Portugal em Londres.

Entre 1968 e 1970 foi Ministro do Exército do governo presidido por Marcelo Caetano. Em 21 de Setembro de 1973 tomou posse como governador da Guiné Portuguesa e comandante-chefe do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), em substituição do general António de Spínola, que cessara funções a 6 de Agosto. Ocupava estes cargos aquando da Revolução de 25 de Abril de 1974, à qual não aderiu[4] . Em consequência, foi preso no 26 de Abril de 1974, no Forte da Amura, em Bissau, pelos seus subordinados que faziam parte do Movimento das Forças Armadas. Regressado a Lisboa, passou à situação de reserva em 14 de Maio de 1974, por despacho da Junta de Salvação Nacional.

Ao longo da sua carreira foi condecorado com a Medalha de Ouro de Valor Militar, com palma, com a Medalha de Ouro de Serviços Distintos, com palma e com a grã-cruz da Medalha de Mérito Militar.

Em co-autoria com os generais Joaquim da Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga e Silvino Silvério Marques publicou o livro de depoimentos África, Vitória Traída.


Wikipédia
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: HSMW em Agosto 22, 2016, 05:54:01 pm
:G-beer2:
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Janeiro 28, 2023, 03:27:09 pm
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Março 20, 2023, 03:00:33 pm
António Tenreiro

António Tenreiro (Coimbra, 1485 – 1560 ou 1565?) foi um explorador português, militar no Estado Português da Índia e Cavaleiro da Ordem de Cristo e agente do rei D. João III . Ficou conhecido pelas sua viagens através do Próximo Oriente desde Ormuz a Portugal , da qual deu conta apenas na sua obra Itinerário publicado em 1560. Foi o primeiro português a relatar na primeira pessoa uma viagem de exploração numa obra impressa.

Em conjunto com Frei Pantaleão de Aveiro, António de Andrade, Pêro da Covilhã, Brito Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto, é um dos membros da galeria de exploradores portugueses que empreendeu viagens por via terrestre.

Biografia

Pensa-se que será irmão do jurista Gaspar Tenreiro, corregedor da comarca de Coimbra na época, sendo, de acordo com Diogo de Couto, "homem nobre", tendo Barbosa Machado considerado-o "filho de pais ilustres".

Tudo o que de resto se sabe de António Tenreiro é o que nos conta ele mesmo no seu Itinerário: começou como soldado no Estado da Índia, daí viajando para Ormuz. Antes disso, foi membro da delegação da embaixada de Baltasar Pessoa em nome do governador D. Duarte de Meneses ao Xá Ismail I da Pérsia em 1523-1524. Pensa-se que agia como espião do governador, para o que terá aprendido persa, árabe e turco.

As viagens do Itinerário

A viagens descritas na obra de Tenreiro podem ser agrupadas em três partes principais:

A embaixada (1523-24)

Locais visitados por Tenreiro e rota provável na parte onde acompanhou a embaixada que foi ao encontro da corte do xá Ismail I da Pérsia
No primeiro capítulo, Tenreiro descreve a ilha de Ormuz, donde parte, e os locais que a embaixada dirigida por Baltazar Pessoa atravessou antes de chegar a Tabriz, capital da nação persa. Pelo meio do caminho, vai descrevendo os locais sob o ponto de vista da arquitectura, costumes, número de habitantes e alguns pormenores curiosos. Ao mesmo tempo, relembra factos históricos como quando visita Lara, suposta cidade natal do cã turco-mongol Tamerlão, cita-o comparando-o a Aníbal. Durante a sua jornada, faz uso de caravançarais para pernoitar, sendo talvez o primeiro português a empregar este termo. Atinge Tabriz, capital do império safávida, onde a embaixada vai prestar o devido tributo (a que Tenreiro chama páreas) devidas pelo rei de Ormuz ao soberano persa. No entanto, o xá Ismail (a que ele chama "sufi" na sua obra) morre durante a presença da embaixada em Tabriz.

A peregrinação (1524-25)

Gorados os objectivos da embaixada, devido à morte do xá Ismail, e devido ao desinteresse do herdeiro Tamaspe I pelas conversações, Tenreiro sente-se livre de deveres para encetar uma peregrinação tendo em vista atingir Jerusalém: para tal fim, ele acompanha cristões arménios: vai estar no monte Ararate, mas no meio do percurso acaba por ser detido em Caraemite (actualmente Diarbaquir, na Turquia) pelos turcos sob acusação de ser um agente do xá persa, sendo feito prisioneiro e deportado para o Cairo. Aí, graças à intervenção de um judeu exilado de origem castelhana, físico do paxá do Cairo, alcança a sua libertação. Aproveita depois para descer o Rio Nilo antes de chegar a Alexandria com intenção de regressar a Portugal viajando pelo Mediterrâneo. Chega a Chipre, mas devido ao contacto com venezianos que abasteciam as caravanas com destino ao Oriente, decide acompanhá-las para empreender o regresso a Ormuz através da Mesopotâmia, sem nunca ter conseguido concretizar o seu objectivo de visitar Jerusalém.

A mensagem para o rei (1528-29)

Após cinco anos do regresso a Ormuz, em 1528, recebe do capitão da cidade D. Cristóvão de Mendonça uma carta do Governador da Índia D. Duarte de Meneses que deveria ser entregue em Portugal ao rei D. João III. Daí, mais precisamente a 1 de Outubro, inicia a sua viagem de Ormuz para Portugal por terra, provavelmente para evitar ser capturado por indivíduos que seriam alvo de denúncia na missiva que transportava, se tivesse seguido viagem de regresso a Portugal de barco pela Carreia da Índia.

Deste modo, esteve em Chipre, Itália e Espanha, atingindo Lisboa a 22 de Maio de 1529 após quase nove meses de viagem, sendo finalmente recebido em audiência privada pelo rei.

Ao chegar a Lisboa, sobreviveu a uma tentativa de assassinato, de acordo com Diogo de Couto: no Rossio, ele foi ferido sofrendo 18 golpes. Conseguiu sobreviver, mas sofreu dessas feridas até à sua morte. O Rei atribuí-lhe, como préstimo dos seus serviços, uma tença de 30 000 réis, retirando-se do activo, regressando a Coimbra.

Uma investigação ordenada pelo rei ao atendado não surtiu qualquer efeito, não tendo sido encontrado qualquer implicada na conjura. Pensa-se hoje em dia que o provável autor da carta seria o filho de um militar português em Ormuz, denunciando casos de corrupção de militares portugueses envolvidos na vigia da costa de Malabar, dificuldades que o governador Nuno da Cunha teria com o sultão de Mombaça e a ameaça de uma enorme frota turca que estaria em fase de plano tendo em vista atacar as possessões portuguesas na Índia.

Após o regresso

Ele conta toda as suas jornadas apenas 30 anos depois, em 1560, no seu famoso "Itinerário de António Tenreiro, que da Índia veio por terra a este Reyno de Portugal, em que se contêm a viagem e jornada, que fez no dito caminho, e outras muitas terras, e Cidades, onde esteve antes de fazer esta jornada, e os trabalhos que em esta peregrinação passou o anno de 1529".

O seu estilo de escrita é considerado como imparcial para com os islâmicos, tendo-se descrito a si próprio como uma pessoa curiosa e interessada na exploração, mas também um homem de fé, quando decide empreender, por vontade individual, uma peregrinação a Jerusalém.

Em Coimbra ele residiu na Rua da Moeda, onde casou com Isabel de Brito, de que não teve descendência, e que terá morrido em 1586, de que se diz que era "molher que foi de Antonio Tenreiro o que fez o Itenerario da India", e que era "de cem anos ou mais".


Locais visitados

Durante a sua longa estadia em terras do Oriente na sua viagem de regresso a Portugal por terra, ele percorreu diferentes cidades, vilas, montanhas e rios que continuam importantes nos dias de hoje. Permanecendo a maior parte do seu tempo em Ormuz, visitou Alepo (na Síria), Baçorá (Iraque), Tripoli (Líbano), Xiraz (Irão), Ispaã (atualmente no Irão), Cum (Ghom , actual Irão), Balbeque (Líbano), Damasco hoje capital da Síria), Ramala (Palestina), Gaza (Palestina), Cairo (Egito), Najafe (Iraque), Hama (Síria), Alexandria (Egito), Tabriz (Irão), Şanlıurfa (a antiga cidade dos cruzados Edessa, agora na Turquia), Lara (actualmente Lar, província de Fars, Irão) , Alazaria (Palestina). Estas foram os principais cidades visitadas. Para além disso, terá visitado o mar Cáspio, o rio Nilo, o Ararate, e terá prestado homenagem nos túmulos das personagens bíblicas São Lázaro em Alazaria e Aarão, irmão de Moisés, no Monte Hor, actualmente Jordânia, para além do túmulo do califa Ali, em Najafe.

Origens e Genealogia

Os Tenreiro eram um família com origem galega, com posses em Portugal, mas que como terá apoiado o Rei de Castela na Crise de 1383-85, ter-se-iam exilado em Castela, regressando mais tarde a Portugal, radicando-se em Viseu. Seu pai seria João Lourenço Tenreiro e seus avós Pedro Lourenço Tenreiro e Catarina Rodrigues Cardoso.

Menções noutras fontes

Ele é mencionado nas Décadas da Ásia de João de Barros, assim como pelos historiadores Francisco de Andrade e Fernão Lopes de Castanheda em 1552.

É mencionado por Cristóvão Alão de Morais na sua Pedatura Lusitana, que diz "foi o 1.° Português que da índia empreendeu caminho por terra a este Reino, em tempo del-Rei D. João 3.°

Manuel Pinheiro Chagas e Francisco de São Luis Saraiva fazem menção a Tenreiro no volume 4 da edição de 1840 da sua obra Os Portuguezes em Africa, Asia, America e Oceania, ou Historia chronologica dos descobrimentos, navegações, viagens e conquistas dos Portuguezes nos paizes ultramarinos desde o principio da monarchia até ao seculo actual.

 :arrow: https://pt.wikipedia.org/wiki/António_Tenreiro
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Março 25, 2023, 04:17:06 pm
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Luso em Abril 13, 2023, 09:21:27 pm
D. Sebastião sobreviveu Alcácer-Quibir | A PROVA (c/Rainer Daehnhardt)

Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Maio 07, 2023, 02:40:57 pm
Cipriano Jardim, o desprezado inventor português

(https://images4.imagebam.com/32/ca/27/MEKOUXP_o.jpg)


Conheça a fascinante história de alguém que poderia ter o seu lugar nos manuais de história, mas Cipriano Jardim é desconhecido por todos… Ao longo da história do nosso país, muitos portugueses realizaram feitos que os tornaram populares, no seu tempo ou posteriormente. Há nomes ilustres em várias áreas. Tratam-se de pessoas que realizaram conquistas que as distinguiram entre os demais.

No entanto, houve muitas mais que nada fizeram. Entre umas e outras, encontram-se pessoas que até se distinguiram por algo, mas acabaram por ser remetidas para um papel secundário que levou ao seu esquecimento.

Já ouviu falar de Cipriano Jardim? Seguramente que não. Conheça a sua fascinante história…

Cipriano Jardim poderia estar nos manuais de história, ser recordado como alguém importante, um pioneiro da aviação militar e civil, como inventor do balão dirigível. No entanto, foi traído pelo seu tempo. Ele nasceu num país pequeno. O Portugal da sua época apresentava uma mentalidade tacanha, que manteve por muitos anos…

Mandaram Cipriano Leite Pereira Jardim ir a França, de modo a inteirar-se de como fazer um parque para a aeroestação no nosso país. Ele não se limitou a cumprir o seu papel. Fez mais do que lhe pediram. Ora, mostrar muito trabalho nem sempre é bom. Os seus superiores não gostaram muito da atitude Cipriano.

Cipriano Jardim tinha 46 anos. Ele estudou o problema da direção de balões. Mais tarde, regressou de Paris com um dirigível que mais ninguém conseguira fazer. Ele teve muito azar, porque se estivesse num país mais poderoso e visionário, Cipriano Jardim teria assegurado um lugar de destaque na história, como um pioneiro na área da aviação.

Cipriano Jardim nasceu em Coimbra no dia 24 de setembro de 1841. Ele foi o primeiro filho de Manuel Santos Pereira Jardim e de Guilhermina Amália Leite Ribeiro Freire. O seu pai lutou pelos liberais na guerra civil, antes de se vir a tornar num professor catedrático.

Cipriano Jardim tinha 19 anos quando se alistou no exército como voluntário. Nessa altura, ele já tinha feito o liceu. Por aqui tinha aprendido diferentes saberes, nomeadamente filosofia, história natural, oratória, inglês, francês, latinidade, geografia, história e cronologia.

Mostrou o seu valor no curso superior de artilharia na Escola do Exército. Teve bons resultados proporcionados pelo curso preparatório de artilharia, estado maior e engenharia militar e civil que frequentara antes, na Escola Politécnica de Lisboa.

Nesta escola, Cipriano Jardim tirou o bacharelato na Faculdade de Matemática de Coimbra. Ele não seguiu o seu pai. Optou pela Filosofia (o seu pai era professor da Faculdade de Filosofia). No entanto, Cipriano Jardim seguiu o seu pai na veia política, uma vez que aderiu ao Partido Regenerador.

No ano de 1872, Cipriano Jardim casou-se com Felismina Albertina Penalva de Figueiredo. Esta mulher era dez anos mais nova do que ele e o casamento de ambos realizou-se no dia seguinte a Cipriano ser nomeado adjunto da fábrica de armas.

Este casamento deu frutos. O casal teve dois filhos, Miquelina, que nasceu em 1778, e Luís, cujo nascimento acontece no ano seguinte, em 1879.

Neste ano, 1879, Cipriano esteve para enfrentar Camilo Castelo Branco num duelo. O escritor de obras tão emblemáticas como Amor de Perdição (1862) ou A Queda dum Anjo (1865) não gostou do texto de Cipriano Jardim “História e Sentimentalismo”. O capitão tinha publicado esse texto no “Trinta”. O escritor desafiou Cipriano Jardim para um duelo. No entanto, tudo acabou pacificamente, após algumas conversações.

Pouco tempo depois, Cipriano Jardim tornou-se jornalista. Ele também se fez dramaturgo, tendo escrito algumas peças. Entre elas, destaca-se o drama “Camões”. Esta obra foi escrita para assinalar o tricentenário da morte do poeta. A peça de teatro foi levada à cena no D. Maria II e ganhou o prémio de teatro em 1881.

Cipriano Jardim foi um homem inovador. No ano de 1884, ele lançou o jornal infantil “As Crianças”, em cujo editorial deu a seguinte explicação: “A criança, dado o estado embrionário do seu espírito, não recebe, não pode receber a educação da mesma forma que o adulto, isto é, a ideia concisa, nua de artifícios atraentes, despedida de rendilhados que lhe cintilem, expurgado de todas as substâncias inertes. Não é sob esta forma dogmática que as ideias se lhes hão de fixar no cérebro.”

Cipriano Jardim foi repetidor e substituto das cadeiras de matemática e ciências naturais no Real Colégio Militar. Mais tarde, é eleito deputado, em 1881, algo que também veio a suceder até 1887. Em 1889, herdará o lugar na Câmara dos Pares do Reino.

Seis anos mais tarde, em 1896, era Cipriano já um major, quando ficou destinado a algo diferente. Em setembro desse ano, o Ministério da Guerra enviou Cipriano Jardim para França. O propósito dessa viagem era Cipriano Jardim adquirir um parque de aeroestação.

No entanto, ele resolveu estudar o assunto de forma aprofundada e aproveitou a oportunidade de expor as conclusões aos congéneres franceses. Cipriano Jardim apresentou a sua invenção, materializada por Henri Lachambre.

Este homem era um fabricante francês de balões. A fábrica de Henri situava-se no subúrbio parisiense de Vaugirard. Ele chegou a participar em diversos voos em balão. A apresentação da sua invenção aconteceu no dia 28 de dezembro, que era uma data especial, dia do 16º aniversário da atribuição do título de visconde Monte São a seu pai, título esse que Cipriano herdara uns meses antes.

Cipriano Jardim tinha a consciência de que necessitava da aprovação pelos seus pares. Por isso, apresentou uma memória à Academia Real das Ciências de Lisboa. Meses mais tarde, Cipriano Jardim deu uma conferência na Sorbonne, encontrando-se perante uma assistência numerosa, fruto dos 2000 convites que tinham sido enviados a toda a comunidade científica e imprensa francesas.

Quando Cipriano Jardim regressou a Portugal, fez uma demonstração no Teatro de S. Carlos. Esse momento aconteceu no dia 23 de abril de 1888. Portanto, aconteceu 10 anos antes de o brasileiro Santos Dumont ter apresentado ao mundo o seu dirigível.

Na sua época, Cipriano Jardim apresentou um balão revolucionário, graças ao hidrogénio e a um motor de propulsão. O português tinha conhecido as experiências do pioneiro francês Charles Renard. No entanto, apurou-lhe a forma e sobretudo o sistema.

Segundo a revista “Ocidente”, até à data “não se conhecia meio de fazer subir um balão na atmosfera que não fosse o de lançar fora da barquinha uma porção de lastro” e de libertar gás para a descida. A revista refere ainda que se tratou de “uma viagem no balão Jardim será feita nas condições de uma viagem em caminho de ferro.”

O português, fornecendo ao aeronauta a capacidade de manobra, inventara o modo de evitar o “terrível choque com o solo” que constituía a aterragem. Cipriano acabou por ‘dar o ouro’ ao estrangeiro. O português triunfara num país que gastava “milhões de francos em estudos e experiências” sem, no entanto, conseguir obter “a última palavra sobre o assunto”.

O governo francês veio a agraciar Cipriano com a Legião de Honra. Contudo, em Portugal, Cipriano seria promovido de posto, mas ficou no esquecimento até ao momento da sua morte. Ele morreu no dia 27 de outubro de 1913, já como general reformado.

 :arrow: https://ncultura.pt/cipriano-jardim-o-desprezado-inventor-portugues/
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Maio 20, 2023, 06:27:27 pm
Título: Re: Os heróis esquecidos da nossa história
Enviado por: Lusitano89 em Março 21, 2024, 10:40:03 am
Nos anais da História, muitos são os combatentes que o registo da memória trouxe até nós. Contudo, da Reconquista Cristã à Guerra do Ultramar e até aos nossos dias, há muitos outros que a História esqueceu, mas que, pelo seu contributo nos esforços de guerra e pelos seus valorosos actos, é importante não deixarmos esquecer.


(https://iili.io/JXtP5qg.jpg)