Caro Rui Elias,
Em primeiro lugar, não sou defensor da invasão do Iraque e muito menos do arrastamento da ocupação, só que você exagera bastante nas expressões e nas comparações quando dá a sua opinião. Por exemplo, avança logo com a hipótese de, na tal sondagem, os iraquianos se terem pronunciado sob coacção americana, mas não lhe passa pela cabeça que, se calhar, em Faluja, muitos civis sejam postos em perigo pelos resistentes quando estes se abrigam em zonas urbanas e mesquitas?
Em segundo lugar, distingo perfeitamente os vários tipos de oposição armada que se opõe legitimamente à coligação (e que você mencionou e bem) seja através de emboscadas, seja através de bombas na estrada, dos grupos de terroristas que já mataram civis em massa (em Najaf o ano passado, em Kerbala durante as festas religiosas, nos atentados contra as sedes dos partidos curdos, contra a ONU e a Cruz Vermelha). Não me vai dizer que quem manda carros-bomba contra esquadras em zonas lotadas de civis também é um resistente, pois não?
Em terceiro lugar, a opção de reabilitar o antigo exército de Saddam e os oficiais do antigo regime é muito válida e só peca por tardia, porque a transição de poder também passa por aí.
Em quarto lugar, não penso que o povo iraquiano seja estúpido e ignorante, mas penso que a grande maioria, não querendo obviamente ser ocupado e administrado pelos EUA, prefere que tropas estrangeiras permaneçam um pouco mais no Iraque, e que a resistência e os grupos terroristas não comprometam a reconstrução do país.
Em quinto lugar, não vejo as tropas da coligação, especialmente as dos EUA que são as maiores protagonistas (pelo seu nº no terreno), como ocupante repressor e opressor. É óbvio que o exército americano não sabem fazer a paz como sabe fazer a guerra; não serve como força policial ou de manutenção da paz; actua infelizmente com força desproporcionada; o pós-guerra foi incrivelmente mal delineado pelos americanos; a conquista do apoio popular e a guerra pelos corações e mentes dos iraquianos é algo que teima em escapar aos americanos. Pode ser que a pressão dos aliados e da ONU ajude a inverter isto.
Uma última referência ao triste episódio de humilhação e tortura física e psicológica infligida por meia-dúzia de guardas prisionais americanos aos detidos iraquianos: espero que sejam punidos em tribunal marcial; as imagens que correm o mundo vão fazer um mal terrível aos esforços para estabilizar o Iraque; não é por causa disto que agora todos os soldados americanos são torturadores e brutos (embora seja essa a mensagem que o mundo árabe fixe).
Se calhar, o Rui e eu até temos opiniões convergentes em muitos assuntos, contudo, o seu discurso é sempre de um tom tal que eu vejo-me forçado a intervir como advogado do diabo (neste caso das tropas da coligação liderada pelos EUA). Você parece que delira com o agravamento da situação e depois lá vem com a repetida verborreia anti-americana. Ó homem, eu só quero que aquilo no Iraque se resolva rapidamente, que os líderes norte-americanos aprendam algumas lições para o futuro e que, em Novembro, John Kerry ganhe as eleições.
Cumprimentos.