“Mas a seu ver, se a guerra colonial nas 3 frentes estava ganha militarmente...”
Eu nunca disse isso.
Além disso, há diferenças entre o campo militar e o campo político.
É evidente que do ponto de vista militar a coisa estava melhor que do ponto de vista politico. Mesmo que Portugal controlasse a Guiné como controlava Angola, sería sempre dificil de provar, porque a opinião pública especialmente na Europa não queria acreditar nisso.
Uma das razões do 25 de Abril foi a guerra colonial e o lirismo do Estado Novo em acreditar na especificiade portuguesa em África.
Porque foi a guerra colonial que manteve o Estado Novo de pé, embora decrépito.
Quando a África foi dividida aos bocados, com fronteiras desenhadas a regua e esquadro, também os portugueses foram acusados de Liricos, porque por exemplo queriam o norte da Namibia e aceitavam deixar partes do norte de Angola, porque assim criavam uma Angola muito mais homogénea do ponto de vista étnico.
Não há lirismo nenhum Rui Elias, há apenas conhecimento das realidades locais.
Os países Africanos não estavam e continuam a não estar em condições de se governarem de forma eficiente e o regime tinha noção disso.
Tinha-a o regime e tinha-a muita gente da oposição ao regime, que percebia perfeitamente o que acontecería quando se os portugueses saíssem de África.
Sabia-o o Kaunda, quando por debaixo do pano pedia aos portugueses para não deixarem África, sabiam-no os lideres do Malawi, sabia-o o Mobutu, sabiam-no os Rodesianos, que sem Portugal, cairam alguns anos depois e sabiam-no os Sul Africanos.
Será que eles eram todos líricos ?
A África continua a ser um continente em vias de ainda mais sub-desenvolvimento e é por isso que países como o Zimbabwe, que outrora foram dos mais ricos de África, conseguem hoje ter grandes franjas da população a passar fome.
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Todas as ditaduras têm que arranjar um inimigo, para ver se se perpectuam o poder.
As ditaduras a sério sim, mas os regimes autocráticos paternalistas como o de Salazar (que são tradição em Portugal) têm outras armas.
Você não acha que seria de seguramente muito mais fácil inventar outros inimigos muito mais próximos?
Era mais fácil e era muito mais barato.
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Sem guerra, sem "turras", sem "comunistas", sem fantasmas nem papões, o Estado Novo tinha caido mais cedo.
Rui Elias: conhecendo a maneira de ser dos portugueses, sem nada disso, os portugueses acomodavam-se no seu cantinho e íam vivendo as suas vidinhas.
Nós somos um povo que se adapta e se acomoda.
Uma Ditadura Autocrática paternalista tem esta característica: Pode perpetuar-se.
E é a parte do paternalismo que eu considero a mais grave e aquela faceta que mais consequências negativas deixou na sociedade portuguesa.
O principal efeito negativo do regime, foi exactamente ter sido cretino, comezinho, provinciano, tacanho e culturalmente atrasado.
O resto, não passa de propaganda. Na Inglaterra ou na França, durante as greves e conflitos laborais entre 1945 e 1974, morreram mais pessoas que aquelas que morreram em Portugal na repressão da PIDE ou da GNR.
E que eu saiba, nem na França nem na Inglaterra governou nenhum Salazar.
É o PC e a esquerda que quer fazer dinheiro que demonizam o regime, para desculpar o desmando, o esbulho o roubo o desleixo e a incompetência que se instalaram em Portugal no verão quente e que deixaram feridas e consequências que ainda hoje pagamos caro.
Ocorre em 1974 a mesma coisa que em 1910.
Em 1910 quem deu o golpe, demonizou a monarquia de tal maneira, que parece que todos os problemas do país eram provocados pelo rei, de tal forma que o mandaram matar.
Logo a seguir ao golpe, os republicanos maçónicos atiram-se com uma voracidade criminosa à máquina do poder, sem nunca perguntar ao povo que regime queria.
Arruinam o país, e é o Estado Novo que recupera a situação criada pela balburdia incompetente da Maçonaria raivosa, unicamente interessada nas benesses, nos salários, em “Ficar Ministro” por uma questão de prestígio.
A bandalheira foi tal e o numero de governos foi tão grande, que deve ter calhado um ministério ou uma secretaria de estado a cada irmão, junto com o respectivo pagamento.
Repetiu-se em 1974 o mesmo tipo de cenas de 1910, com a agravante de em 1910 ainda não haver União Soviética.
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Porque não acredito que a presença portuguesa em África tivesse maior ou menor legitimidade que o MPLA, a FRELIMO ou a UNITA.
É uma opinião.
Mas considerando que a FNLA era um movimento familiar que desapareceu em três tempos porque aquilo era uma familia.
Que o MPLA era um movimento sem qualquer apoio popular e com apenas alguns intelectuais com o apoio da URSS e que o movimento etnicamente mais representativo, que era a UNITA, era um aliado táctico dos portugueses, explique-me qual destes movimentos tinha mais legitimidade que um governo que administrava o território havia 400 anos?
Com uma descolonização atempada, o Estado Novo não teria chegado a 1974, e portanto não teria havido simplesmente 25 de Abril, nem PREC, nem COPCON, nem 11 de Marços ou 25 de Novembros.
Mas isso é mais ou menos o que eu disse anteriormente.
Mas é uma afirmação que não desculpa e não justifica o assalto ao poder e ao dinheiro que se seguiu a 25 de Abril de 1974, pela mão daqueles que demonizaram o regime, para justificarem os seus actos de cobardia e traição.
Cumprimentos