No Público de hoje:
"Enquanto o país discutia fervorosamente os custos do altar do Papa, acontecia, longe da atenção dos portugueses, uma das mais desconcertantes gafes dos últimos anos: o ministro dos Negócios Estrangeiros anunciou que Portugal iria enviar para a Ucrânia tanques Leopard, e logo a seguir recuou. (...)
A guerra na Ucrânia é o assunto mais importante do mundo neste momento, certo?
No entanto, nem acerca do assunto mais importante do mundo a ministra da Defesa e o ministro dos Negócios Estrangeiros, embrulhado nas obras do hospital militar, conseguem falar a uma só voz.
Os tanques Leopard e os custos do altar do Papa têm este padrão a uni-los:
1) incompetência e/ou desleixo dos envolvidos, seguido de
2) descoordenação entre entidades (no caso do altar, salta à vista o amor cristão que une José Sá Fernandes a Carlos Moedas), e acabando em
3) mentira ou, pelo menos, numa manipulação criativa da verdade. (...)
Mas se os tanques e o altar seguem o mesmo padrão, porque é que um encheu as televisões e o outro não?
Pela mesma razão que nos indignamos mais depressa com os 500 mil euros de indemnização a Alexandra Reis do que com os 3,2 mil milhões que enfiámos na TAP.
Também os 80 milhões que a Jornada Mundial da Juventude vai custar ao Estado (entre Governo e câmaras) aborrecem apenas os leitores de Richard Dawkins, enquanto o palco dos cinco milhões aborrece toda a gente.
Precisamos que o abstracto se torne palpável para que a indignação floresça.
Teve sorte Gomes Cravinho: mostrou-se tão inoperacional como um Leopard lusitano quando toda a gente estava de olhos postos no altar."