A visão estratégica da Força Aérea Brasileira

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A visão estratégica da Força Aérea Brasileira
« em: Dezembro 28, 2020, 06:46:26 pm »
A visão estratégica da Força Aérea Brasileira


Por João Paulo Moralez

Pouquíssimas nações no planeta, principalmente dentre aquelas chamadas dos países emergentes, possuem a pujança de uma indústria aeronáutica muito desenvolvida e relativamente independente em relação a outros países, com capacidade de projetar, desenvolver, produzir aviões de pequeno e grande porte e integrar sistemas, além de suportar a sua operação, manutenção e modernização ao longo de todo o seu ciclo de vida.

Basta analisar que, dos 39 tipos de aeronaves em operação na Força Aérea Brasileira (FAB), 20 são de fabricação nacional ou tem participação direta da Base Industrial de Defesa (BID).

Em qualquer análise geopolítica regional, esse em si já é um argumento de elevado poder dissuasório.

Durante o Seminário de Defesa Nacional, organizado no Campus de Brasília da Escola Superior de Guerra, em 23 de novembro passado, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, comentou sobre a Concepção Estratégica Força Aérea 100 (DCA 11-45), que apresenta as diretrizes de alto nível que nortearão os rumos da FAB até o ano de 2041, quando celebrará os seus 100 anos de existência. Além disso, falou sobre os eixos estratégicos que direcionarão os elementos que compõe o Plano Estratégico da Aeronáutica, o PEMAER (2018-2027), que em conjunto com a Concepção Estratégica, orienta de forma integrada as ações a serem desenvolvidas pela FAB, definidas por uma metodologia científica que avalia os impactos diretos na sua operacionalidade.

Hoje, 18 projetos estratégicos estão em andamento ou em desenvolvimento, sendo divididos em três grandes áreas: Os Meios de Força Aérea, Infraestrutura Aeroespacial e Tecnologia Aeroespacial.

Os meios de Força Aérea

Ao todo são oito projetos.

O ARP-REC visa o desenvolvimento de um Sistema de Aeronave de Remotamente Pilotada voltada para o reconhecimento, capaz de voar a grandes altitudes, controlado via satélite, operando em rede e com elevado alcance operacional.


Um dos objetivos é o de desenvolver novas capacidades entre as empresas da BID para vetores com essas características, em um programa que pode envolver a parceria com outro país.

O E-99M, por sua vez, consiste na modernização das cinco plataformas de Alerta Aéreo Antecipado e Controle (AEW&C) em operação na FAB. O primeiro foi entregue no dia 28 de novembro de 2020 e recebeu uma série de atualizações que melhoraram o processamento das informações, ampliaram a capacidade de detecção de alvos menores e modernizou a suíte de contramedidas eletrônicas. O segundo foi recebido em 17 de dezembro de 2020.

Já em relação ao programa do KC-390, a FAB recebeu em 19 de dezembro de 2020 o quarto exemplar de um total de 28 aeronaves. O avião de transporte tático que substituirá a frota de Lockheed Martin C/KC-130 Hercules em operação no Brasil deve ter as entregas concluídas em cinco anos, com a previsão de três exemplares em 2021, três em 2022, quatro em 2023, três em 2024, quatro em 2025, quatro em 2026 e três em 2027. Em termos econômicos, o novo transporte tático da Embraer tem mercado projetado em 300 exemplares em 70 operadores pelos próximos 20 anos, gerando receitas de US$ 21 bilhões.


A perspectiva é que esse volume gere em torno de R$ 2,4 bilhões em impostos, tendo o programa do mais complexo e maior avião já desenvolvido e produzido em todo o Hemisfério Sul criado 1.430 vagas de empregos diretos e 7.150 indiretos na fase de desenvolvimento, além de 1.060 empregos diretos e 5.300 indiretos na produção em série da aeronave.

A FAB também comemora os progressos do programa F-X2. Sendo um dos projetos que mais gerou transferência de tecnologia ao longo de toda a sua existência, a expectativa é que a entrada em serviço do caça reduza os custos logísticos, os custos operacionais e exija menor quantidade de pessoal de solo para manutenção e operação diária da aeronave, que terá maior disponibilidade na linha de voo. A FAB prevê novas encomendas do Gripen E/F, ampliando a frota inicial que será de 28 Gripen E e oito Gripen F, substituindo os remanescentes F-5EM/FM e AMX A-1AM/BM.

Para 2021 está prevista a chegada de quatro exemplares do Gripen E, seguido por sete em 2022, seis em 2023, oito em 2024, nove em 2025 e dois em 2026.


O programa impactou na geração de quatro mil empregos diretos e 27 mil indiretos. A FAB também adquiriu dois simuladores de voo e suporte logístico para os cinco primeiros anos de operação.

Atrelado ao Gripen está a compra do míssil ar-ar BVR de nova geração, de radar ativo, MBDA Meteor. A escolha se deu pelos requisitos impostos de um armamento com grande capacidade de engajar e destruir alvos de elevada manobrabilidade e velocidade, grande alcance e operação plena mesmo em ambientes saturados por contramedidas eletrônicas. O Meteor colocará a FAB num patamar dissuasório muito elevado em termos regionais.


Ainda em relação ao F-X2, o Brasil possui em desenvolvimento o programa do Míssil de Cruzeiro de Longo Alcance (MICLA-BR), baseado no míssil tático de cruzeiro AV-TM 300 da Avibras para o Astros 2020, que deverão estar operacionais até 2022 no Exército.

Ainda não foi divulgado um cronograma para essa nova arma que ampliará ainda mais a capacidade dissuasória do Brasil, entretanto o sistema é previsto para ter 300km de alcance, dispor de navegação e controle por coordenadas referenciadas, com sistema inercial/GPS e um backup de navegação por correlação de imagem. O míssil pode receber sensor de proximidade infravermelho ou radar de abertura sintética com câmera na faixa do visível/IR ou sensor magnético.

Em termos aeroespaciais, o Lessonia-1 constitui num subprograma do PESE (Programa Estratégico de Sistemas Espaciais) do Ministério da Defesa, que visa o lançamento de uma constelação de satélites de sensoriamento remoto por radar, de alta resolução e órbita baixa, capaz de coletar informações detalhadas de áreas e objetos de interesse militar dentro e fora do território nacional; fazer inteligência; monitoramento da Amazônia; controle ambiental; controle de agricultura; controle de fronteiras; controle de tráfego marítimo; aplicações em hidrologia, oceanografia, cartografia e estudos urbanos e outros. O orçamento previsto é de R$ 578 milhões ao longo de cinco anos.


O projeto está em fase de concepção e o seu lançamento é previsto para ocorrer em 2026.

Já o Veículo lançador de Microssatélites é destinado ao lançamento de cargas úteis de até 150kg em órbitas equatoriais ou de reentrada. Desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), em conjunto com o DLR-MORABA alemão, é constituído por um foguete de três estágios. Os dois primeiros são compostos pelo motor S50 de fibra de carbono, com 12 toneladas de propelente. O último estágio é o motor S44, do VLS-1 brasileiro. O orçamento estimado é de R$ 143 milhões.
 

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Re: A visão estratégica da Força Aérea Brasileira
« Responder #1 em: Dezembro 28, 2020, 06:49:27 pm »
Infraestrutura Aeroespacial

Ao todo, nesta categoria, são sete projetos.

Relacionado ao KC-390 e ao programa do F-X2, foram feitos investimentos para adequar, ampliar e modernizar a capacidade e infraestrutura da Ala 2 em Anápolis, hoje uma das principais bases da FAB que conta com um esquadrão de reconhecimento; um de AEW&C e sensoriamento remoto; um de transporte com o KC-390; um de caça (se preparando para receber em breve mais uma segunda unidade de caça); e um grupo de defesa antiaérea.


Novos prédios, pátios de aeronave, iluminação, torre de controle, paiol, segurança interna, hangares, hangaretes de linha de voo dentre outras melhorias estão sendo realizadas.

Já em 18 de agosto de 2020 a FAB inaugurou em Corumbá (MS) o chamado Radar de Defesa Aérea, que apesar do nome tem aplicação dual, ou seja, para o segmento militar e civil.

Desenvolvido no Brasil, o radar tem as funções de vigilância e controle de interceptação, aproximação de precisão e de direção de tiro, ampliando a cobertura radar do território nacional, melhorando a vigilância da fronteira seca e, principalmente, permitindo a detecção de aviões provenientes da Bolívia e do Paraguai em voos ilícitos a baixa altura.


O ATN-BR, por sua vez, representa a modernização da FAB nas redes de comunicação operacional baseados em IP, dados e voz, impactando em eficiência, agilidade e aumentando a segurança para o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB).

A FAB também está criando, em Guaratinguetá, um Centro de Controle de Aproximação (APP) unificando São Paulo e Rio de Janeiro, que gerenciam a maior concentração do tráfego aéreo nacional. Além de proporcionar a inauguração de uma estrutura moderna e mais adequada, o local vai gerar ganho de eficiência em termos de recursos materiais e humanos.

Para o ADS-B Continental, a FAB está implantando o sistema atendendo todo o espaço aéreo continental para operações em rota e nas Áreas Terminais (TMA) que englobam grandes aeroportos. O ADS-B vai complementar a vigilância por radares existente no país, propiciando a cobertura e identificação de aeronaves a uma distância e altitude que os sistemas convencionais de radares podem não abranger, bem como transmitindo informações entre a aeronave e o órgão de controle com uma frequência de atualização muito maior.

Em termos operacionais, a FAB pretende ampliar a Centro de Provas Brigadeiro Velloso, localizado numa área de 22 mil km2 na Serra do Cachimbo, no estado do Pará.

O Centro já é utilizado para o treinamento e emprego de material bélico da FAB, mas o programa denominado Estande Operacional visa ampliar essas capacidades incluindo a instalação de sensores para melhorar o realismo do adestramento das tripulações, com uso de sistemas eletromagnéticos.

Desde 2019, o Brasil está trabalhando para explorar, de forma comercial, o Centro de Lançamento de Alcântara, que fica estrategicamente localizado próximo a linha do Equador, no estado do Maranhão. Além da boa meteorologia em grande parte do ano, com uma pista de pousos e decolagens de 2,6km de extensão, os foguetes são lançados em direção ao mar com possibilidade de abertura de mais de 100º de azimute, requerendo até 30% menos combustível em cada operação.

Os passos para a sua utilização comercial incluíram o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, assinado entre o Brasil e os EUA, que tratou do uso comercial do futuro Centro Espacial de Alcântara (CEA) com governo ou empresas privadas e buscar a maior convergência possível de interesses entre os países. Vale lembrar que, em 2017, esse mercado faturou US$ 3 bilhões nos EUA. Hoje, esse segmento é estimado em US$ 340 bilhões em termos mundiais. Até 2045, deve crescer para US$ 2,7 trilhões. Para os próximos dois anos são esperados em torno de 600 lançamentos em todo o mundo.


No CEA serão oferecidos serviços de suporte logístico, integração e testes finais de carga útil; lançamento de objetos espaciais; previsão meteorológica; coleta de dados via telemetria; rastreio; sistema de comando e controle e demais tecnologias em atendimento à exploração espacial. Hoje o local conta com uma base de lançamento, mas pode receber outras cinco havendo demanda.

O projeto prevê a melhoria na infraestrutura aeroportuária, viária, portuária e de acomodação e hospedagem.

Tecnologia Aeroespacial

Nesta categoria estão os três últimos dos 18 projetos estratégicos da FAB.

Em termos espaciais, o PROPHIPER consiste nos constantes avanços, estudos e desenvolvimentos da FAB no campo de um demonstrador tecnológico de uma aeronave com propulsão hipersônica.

O protótipo da aeronave não-tripulada e hipersônica 14-X, em referência ao 14-bis de Alberto Santos-Dumont, possui um motor scramjet que é integrado à fuselagem. O Brasil é um dos poucos países que hoje percorrem os caminhos para dominar, no futuro, essa tecnologia que é considerada importante na colocação de satélites em órbita ou em voos suborbitais. O objetivo é que a aeronave atinja 12 mil km/h e 40km de altitude.

A FAB também tem sob a sua responsabilidade outros dois programas que terão uso conjunto nas Forças Armadas Brasileiras. O primeiro deles é o IFF Modo 4, incluindo o transponder a ser embarcado na aeronave. O sistema é fundamental nas operações em ambientes com elevada densidade de tráfego aéreo, aumentando a consciência situacional e evitando o fratricídio. Os trabalhos são coordenados pelo IAE, que se tornou a primeira instituição pública brasileira a desenvolver um equipamento aviônico.

Já o Link-BR2 é o datalink de desenvolvimento nacional e que será, no futuro, integrado em todas as plataformas aéreas, terrestres e navais, permitindo o compartilhamento de informações de radares, troca de mensagens, vídeos além de outras aplicações táticas, como o conhecimento do posicionamento e localização de cada força amiga disposta num mesmo ambiente operacional.