Guerra contra o terrorismo

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« Responder #180 em: Abril 26, 2009, 11:29:19 pm »
Os atentados em Bombaim, Lições a retirar do novo modus operandi jihadista - Parte I
José Vale Faria





Quando falamos de países onde frequente e intensamente a incidência do terrorismo acontece, nomeadamente o terrorismo, directa ou indirectamente, ligado à Al-Qaeda, podemos citar o Iraque, o Afeganistão e o Paquistão. Contudo, há muito tempo que a Índia está entre eles, mas o que acontece lá tem que atingir a mesma dimensão, ou aproximada, do que aconteceu entre 26 e 29 de Novembro em Bombaim (actualmente Mumbai), para captar a atenção dos media e consequentemente, da opinião pública ocidental.

Este artigo, elaborado apenas com recurso a fontes abertas, pretende descrever os recentes ataques terroristas em Bombaim, elencar as vulnerabilidades detectadas no sistema de segurança da Índia, o novo modus operandi jihadista, as implicações regionais, assim como, as lições e ensinamentos a retirar deste trágico incidente táctico-policial.

1. Situação


Entre 26 e 29 de Novembro de 2008, um ataque terrorista em Bombaim, matou 166 pessoas e feriu 304, sendo referido como o "11 de Setembro da Índia". Apesar das várias medidas implementadas, este não foi o primeiro ataque terrorista significativo na Índia, em Julho de 2006, o ataque ao comboio suburbano de Bombaim provocou 209 mortes, havendo utilização de armas não convencionais e, no passado mês de Julho de 2008, foram desencadeados pelo menos cento e vinte incidentes terroristas neste país asiático e, em Agosto cerca de noventa.

Nestes períodos, o número de ataques, ultrapassaram mesmo os registados em qualquer um dos três países que são considerados os teatros de operações preferidos da actual actividade terrorista. Apesar de não ser a primeira vez que terroristas desembarcaram por mar em Bombaim, alguns aspectos deste ataque foram significativos, nomeadamente o seu audacioso e ambicioso objectivo, a complexidade da operação, e a diversidade dos alvos.

A prolongada natureza do episódio, que ultrapassou as sessenta horas, assim como o elevado número de mortes, produziu um evento trágico que focalizou a tenção do mundo comunicacional global. Considerando os anteriores ataques terroristas na Índia, não foi difícil situar a motivação deste ataque na contínua campanha terrorista islamista, havendo fortes indícios, desde o início que o grupo terrorista responsável pelo ataque seria o Lashkar e-Taiba (literalmente significa Exército do Bem, Exército dos Justos ou Exército dos Puros, conforme as traduções — também pronunciado e soletrado como Lashkar-i-Tayyaba, Lashkar-e-Tayyaba, Lashkar-e-Tayyiba, Lashkari-Taiba — daqui em diante LeT) um dos maiores, mais activo e mais letal dos grupos militantes no Sul da Ásia, com base no Paquistão.

O conflito indo-paquistanês está inscrito no código genético do subcontinente, constituindo a disputa pela região de Caxemira, o alfa e o ómega da questão. Trata-se de uma região maioritariamente muçulmana que é governada pela maioria indiana "hindu", cujo território é disputado pela Índia e pelo Paquistão, desde a independência de ambos, em 1947. Após a independência, cerca de 150 milhões de muçulmanos (14% da população) e a maioria hindu têm vivido em relativa harmonia. No entanto, desde 1989, a região Himalaias de Caxemira, dividida entre a Índia e o Paquistão desde a guerra de 1948, é confrontada com movimentos separatistas islâmicos.

Este conflito que já fez mais de 68.000 vítimas combina três dimensões: a territorial (entre a Índia e o Paquistão), a independência (em Jammu e Caxemira) e a religiosa (com os extremistas do Paquistão). O vizinho Punjab conhece perturbações provocadas há muito tempo pelos movimentos sikhs que pretendem criar um "Khalistan" independente. Embora a situação seja mais pacífica no nordeste da Índia, os movimentos maoistas separatistas e os muçulmanos ainda estão activos em sete estados, designados "Sete Irmãs", particularmente em Assam.

Hoje, a minoria muçulmana indiana sente-se discriminada. Na verdade, ela não está representada ao nível da sua dimensão, nas instâncias governamentais, legislativas e administrativas, particularmente no exército e na polícia. É verdade que os muçulmanos são vistos como cidadãos de segunda classe num país onde o conceito de castas permanece forte. No entanto, os islamistas radicais serão cerca de vinte mil, o que é um valor muito baixo em relação à dimensão desta comunidade.

Numa região onde o analfabetismo e a iliteracia imperam, muitas das madrassas paquistanesas continuam a ensinar um islão obscurantista, semelhante ao que os Taliban tentaram impor no Afeganistão e que é também, o projecto dos islamitas para Caxemira. Aliás, entre o Afeganistão e a Caxemira, são muitas as pontes e, não foi por acaso que o início da rebelião na Caxemira, em 1989, coincidiu com a retirada dos soviéticos do Afeganistão, abrindo uma janela de oportunidade para milhares de combatentes islamitas, muitos treinados já pela Al-Qaeda, os quais encontraram, não muito longe, um novo teatro de operações para a sua jihad.

O LeT definiu como objectivos, libertar Caxemira, "islamizar" todo o sul da Ásia e desmantelar a Índia. Com a aproximação estratégica em curso entre Nova Deli, Washington e Telavive, o recente acordo de cooperação nuclear indo-americano, bem como o facto de Israel ser o segundo maior parceiro militar da Índia, é considerado pelos extremistas como a materialização de uma tripla aliança "americana-sionista-hindu" contra o Islão. Neste contexto, os atentados de Bombaim pretendem dirigir uma mensagem particular à nova administração norte-americana, para se preparar para uma nova frente de batalha na Ásia. Numa simples análise pragmática, um ataque terrorista na Índia pode exacerbar os antagonismos existentes entre as comunidades hindus e muçulmanas e provocar represálias hindus, as quais geram divisões, rupturas e facilitam o recrutamento dos extremistas islâmicos.

A luta em Caxemira foi sempre considerada pelo LeT como parte da luta global, daí a selecção específica de cidadãos norte-americanos e britânicos como alvos de assassinato, e a inclusão do Centro Judaico Chabad, como um alvo principal – embora a maioria das fontes aleguem que os terroristas atingiram deliberadamente americanos e britânicos, outros, incluindo a Jane's, sugerem que os tiroteios no hotel foram tão indiscriminados como aqueles no terminal ferroviário de Chhatrapathi Shivaji. Neste contexto, grupos como o LeT que combatem a soberania indiana sobre Caxemira, têm um historial de ataques a alvos civis e militares, desfrutando ao longo dos anos de claro apoio das autoridades paquistanesas, situação que os atentados de 11 de Setembro de 2001 e o consequente envolvimento dos Estados Unidos numa cruzada anti-terrorista, vieram alterar, forçando o Paquistão a demarcar-se oficialmente dos aliados islamitas, ilegalizando várias organizações que usavam o seu território como base de treino e de operações.

Porquê Bombaim?


Bombaim é a capital do estado de Maharashtra, uma cidade cosmopolita e de matriz ocidental, com aproximadamente dezanove milhões de habitantes, capital financeira, comercial e de entretenimento da Índia. É a quinta maior cidade do mundo e constitui um símbolo da prosperidade da Índia moderna o que explica o ódio que inspirou os jovens terroristas a disparar sobre centenas de pessoas. Na perspectiva conservadora islamista, esta versão asiática de Nova Iorque é um dos principais bastiões da cultura e do espírito liberal a abater na região, procurando opor-se assim à rápida ocidentalização do país. Nesta perspectiva, os hotéis Taj Mahal Palace e Oberoi Trident proporcionavam locais ideais para "campos de martírio" e últimos redutos. Como símbolos emblemáticos, especialmente o histórico Taj, muito frequentados por cidadãos estrangeiros e as elites locais, constituíam excelentes alvos remuneradores devido ao efeito psicológico que um ataque proporciona, e a presença de estrangeiros garantia a cobertura mediática internacional.

Os sucessos dos ataques terroristas destinam-se não só a provocar o medo e a intranquilidade, mas são também uma fonte de inspiração para outras organizações terroristas e de atracção de novos recrutas, assim como, têm aumentado as tensões entre a Índia e o Paquistão, o que pode ter sido um dos objectivos estratégicos dos terroristas.

A perspectiva de outro confronto armado com a Índia ou a realização de acções directas contra supostos campos de treino terroristas no Paquistão provocaria raiva e reforçaria a linha dura no Paquistão. Por outro lado, isto retirará a pressão sobre os terroristas localizados no Paquistão, forçando um reposicionamento das forças paquistanesas a partir da fronteira, nas áreas tribais com a Índia. Noutra perspectiva, a selecção de objectivos americanos, britânicos, e judeus, para além dos indianos, sugere que o LeT pretendeu que o ataque atingisse uma multiplicidade de objectivos que ultrapassavam o objectivo primordial do grupo – a Caxemira e a Índia.

A mensagem para a Índia foi "o vosso governo não pode proteger-vos. Não existem lugares seguros", assim como, a publicidade internacional, inevitavelmente, poderá resultar em viagens para a Índia, canceladas ou adiadas, com os consequentes prejuízos para a economia do país.

Numa breve retrospectiva, recuámos até 1998, ano em que foi fundada por Osama bin Laden, a "Frente Islâmica Mundial para a jihad contra os judeus e os cruzados", sendo um dos fundadores o LeT.

No início de Junho de 2007, num vídeo, Abu Asim al-Ibrahim apresentando-se como o porta-voz de Abu Abdul Rehman Ansariano, o suposto líder da Al-Qaeda na Índia (Al-Qaeda fil Hind), declarou a "guerra santa" contra o poder de Nova Deli. Para ele, o Estado de Jammu e Caxemira constituem apenas uma base para uma extensão da jihad para esta região. No mesmo ano, Bin Laden e Zawahiri declararam a jihad contra Nova Deli, dizendo que a Índia foi um dos principais apoios para o Estado de Israel.

A Índia constitui há muitos anos uma área de risco, cujo poder e unidade pode ser desestabilizada a longo prazo. Três estados têm interesses na questão:

- O Paquistão, que pretende recuperar Jammu e Caxemira;

- O Bangladesh, com os olhos nas províncias de Tripura, Manipur (onde também estão presentes os separatistas que desejam uma ligação a Myanmar) e Assam;

- A China que ocupa a província de Aksai Chin, reivindicada por Nova Deli (leste de Jammu e Caxemira) veria com bons olhos a aproximação das províncias de Arunachal Pradesh e Sikkim (movimentos maoistas também estão presentes em Assam).


2. O Ataque – modus operandi inovador


Como referiu o procurador indiano, no início do julgamento do único terrorista preso, o ataque a Bombaim foi meticulosamente preparado e impiedosamente executado. Exigiu um planeamento rigoroso, um reconhecimento detalhado e uma profunda preparação, quer ao nível físico quer mental, condições que proporcionaram uma execução determinada e disciplinada dos terroristas, os quais actuaram com grande eficácia durante um período alargado de tempo, retirando vantagem do efeito surpresa que gerou enorme confusão e uma incapacidade esmagadora das autoridades.

O próprio modus operandi do ataque – um desembarque anfíbio – poderia colocá-lo, em termos de inovação, num patamar idêntico ao dos Tigres Tamil, conhecidos como alguns dos pioneiros e, talvez os maiores utilizadores, de bombistas suicidas.

Os terroristas podem inovar o seu modus operandi, através da introdução de mudanças nos métodos e procedimentos utilizados na selecção dos objectivos, contra os quais dirigem os seus ataques ou seleccionar o cenário em que vão ser perpetrados, entre outras formas de aumentar, se for esse o objectivo pretendido, o impacto dos mesmos, tanto a nível nacional como internacional. Neste sentido, os atentados em Bombaim, não foram tanto uma inovação nos métodos e procedimentos do comando terrorista – utilizaram explosivos, armas de fogo e granadas de mão, acompanhados da tomada de reféns, que infelizmente, constituem o histórico do terrorismo na Índia – contudo, podem ser considerados inovadores.

A natureza inovadora do que aconteceu entre 26 e 29 de Novembro em Bombaim, reside essencialmente na invulgar combinação destas modalidades e procedimentos numa área urbana e, ao longo de um período de tempo, superior ao habitual num único incidente terrorista, contra uma notável variedade de alvos pré-seleccionados, conjugado com o envolvimento de um número significativo de terroristas, empenhados numa série de ataques em série, devidamente coordenados, com a finalidade de aumentar a magnitude e intensidade dos mesmos e cujas consequências fossem devastadoras.

Nuno Rogeiro referiu que os jovens atacantes, treinados em guerrilha urbana e operações especiais, inauguraram uma nova forma de terror –"não mais o terror anónimo, feito de suicídios e bombas maciças, mas a guerra de rua, a tomada de espaços, a agitação. A escolha dos estrangeiros, dos símbolos de conforto, afluência, cultura e consumismo ocidentais, a busca de uma mensagem de intranquilidade, face ao mundo "desenvolvido", mostraram muito mais do que um problema doméstico".

Bruce Riedel, um proeminente think tank de Washington e especialista em terrorismo, disse que o ataque a Bombaim foi um evento seminal na história do terrorismo internacional e particularmente, na história da jihad global.

Olivier Guitta, referiu no Middle East Time que os terroristas andaram em locais públicos de cara descoberta, dispararam indiscriminadamente com metralhadoras, lançaram granadas e fizeram reféns, durante cerca de 60 horas, sendo tudo documentado, em directo, pelas televisões de todo o mundo. Comparado com o clássico carro bomba ou ataque suicida, esta táctica tem a vantagem de os terroristas permanecerem no topo da agenda e dos noticiários, durante muito mais tempo. Também tem um valor psicológico muito superior sobre a população: destrói o sentimento de segurança e transmite a sensação de que os terroristas podem atacar em qualquer lugar. Além disso, ao atacarem estrangeiros, os terroristas pretenderam criar pânico na comunidade ocidental e projectar uma imagem negativa da Índia e, ao abalar a confiança, mutilam a economia indiana e desviam o investimento estrangeiro.

O que é mais preocupante neste novo modus operandi, é que dez terroristas foram capazes de provocar tantos danos, matar tanta gente e manter refém uma megalópole durante sessenta horas. Imagine-se o que seria se o efectivo do comando terrorista fosse de cinquenta, cem ou mais operacionais. O facto de a operação ter sido tão bem sucedida, do ponto de vista dos terroristas, poderá dar ideias para outros fazerem o mesmo na Europa, África ou mesmo nos Estados Unidos. Neste sentido, Peter Clarke, o antigo chefe da unidade anti-terrorista da Scotland Yard, alertou que existe um risco real de poder ocorrer, um ataque ao estilo de Bombaim, na Grã-Bretanha.


2. a. Planeamento e Reconhecimento


A concepção, planificação e execução de uma série de atentados, como os de Bombaim, não está ao alcance de qualquer grupo terrorista, muito menos ainda de células locais independentes. A complexidade da operação exigiu uma preparação cuidadosa, revelando um excelente planeamento e coordenação, desde o local de infiltração e desembarque, incluindo os itinerários através da cidade – percorridos em período nocturno –, até ao objectivo final. Testemunhas no hotel Taj indicaram que os terroristas sabiam deslocar-se através de portas ocultas e corredores do hotel. De acordo com outro relatório, os terroristas tinham um esquema detalhado da planta do hotel. Corroborando estas notícias, as autoridades indianas indicaram que em Fevereiro de 2008, detiveram Faheem Ahmed Ansari, no estado de Uttar Pradesh – norte da Índia, que possuía desenhos de vários locais de Bombaim, alguns dos quais foram objectivos no ataque de Novembro de 2008. Este detido disse que iniciou o seu reconhecimento no final de 2007, pelo que o planeamento para o ataque propriamente dito, terá sido iniciado em meados desse ano, o que é coerente com a fita do tempo de outras operações terroristas de grande escala.

Esta informação era consistente, porque existem fortes indícios que dois operacionais ocuparam o quarto 630 do hotel Taj Mahal, quatro dias antes da chegada do comando terrorista, funcionado como comité de recepção para o comando que provavelmente vinha com mochilas carregadas de armas, munições e explosivos. Oito activistas fizeram-se passar por estudantes malaios, alugaram uma casa no bairro de Colaba, vários meses antes do início da operação, para executarem o reconhecimento dos itinerários e dos objectivos.

2. b. Formação e treino


O inquérito revelou que os terroristas envolvidos no ataque a Bombaim foram submetidos a um rigoroso, disciplinado e árduo cronograma de treino. O treino constituiu um componente muito importante do projecto de conspiração e foi vital para a execução bem sucedida do ataque a Bombaim, sendo os dez elementos que integraram o comando terrorista escolhidos a dedo.

O treino do comando terrorista foi realizado em módulos, ministrados de forma gradual, em Muridke, Manshera, Muzaffarabad, Azizabad e Paanch Teni – locais situados no Paquistão e na região de Caxemira administrada pelo Paquistão. Segundo Alain Rodier, os terroristas receberam treino militar, individual e colectivo, pelo menos durante seis meses, em dois campos de formação no Punjab (Mansera e Shawai perto de Muzzarafabad).

O único sobrevivente terrorista, revelou que quem treinou o comando terrorista foi Abdul Rahman, um ex-militar, popularmente conhecido por Chacha. "O treino esteve dividido em sete fases, com os formandos a evoluírem para a fase seguinte só após concluírem, com sucesso, o módulo de formação em que se encontravam: a primeira fase foi de intenso trabalho físico, durante um período de três meses, que incluía corridas de dez a quinze quilómetros de distância. Os três meses seguintes destinaram-se a treino marítimo, como nadar e mergulhar, em zonas de alto mar. O resto destinou-se ao treino com armas e munições".

Na execução do ataque, os elementos do comando terrorista fizeram uma demonstração cabal da formação obtida. Dispararam em rajadas curtas e precisas, de seguida recarregavam calmamente as armas, assim como, deixaram vários cadáveres armadilhados com granadas, continuando a carnificina conforme o planeado. Além disso, resistiram de forma disciplinada, organizada e estruturada, ao longo dos confrontos com as forças de segurança indianas.

Foram doutrinados nos princípios da jihad e da recitação do Alcorão. Os formadores foram Abu Fahadullah, Abu Mufti Saeed, Abu Abdurrehman, Abu Maavia, Abu Anis, Abu Bashir, Abu Hanjla Pathan, Abu Saria, Abu Saif-ur-Rehman, Abu Imran, Zaki-ur-Rehman, Hakim Saheb, Hafiz Saeed, Kaahfa, Abu Hamza, entre outros, sendo cada um especialista em áreas específicas, para aumentar o nível da instrução e a eficácia operacional.


2. c. Desembarque por mar


Os atacantes de Bombaim chegaram por mar, navegando ao longo de 582 milhas náuticas num navio cargueiro paquistanês desde Karachi. Em 22 ou 23 de Novembro de 2008, desviaram um arrastão de pesca indiano, o M. V. Kuber, tendo assassinado a sua tripulação, excepto o capitão, o qual viria a ser decapitado, por Azam Kasab, já próximo do destino.

Cerca das 16 horas, do dia 26 de Novembro, o Kuber estava a cerca de quatro ou cinco milhas náuticas da costa de Bombaim e, após contactos através de telefone satélite, com a célula dirigente no Paquistão, os atacantes embarcaram em dois pequenos botes insufláveis, desembarcando entre as 20H30 e as 21 horas locais, em dois pontos diferentes na doca de Sassoon – a maior de Bombaim, situada em Badhwar Park – Colaba, zona sul da cidade.

A infiltração marítima permitiu aos terroristas evitar os postos de controlo (checkpoints) indianos na fronteira ou nos aeroportos, assim como, ao navegarem numa embarcação indiana, não despertaram a suspeita da guarda costeira indiana.

2. d. Quem eram os terroristas


Ainda sabemos muito pouco sobre os próprios terroristas. Os dez atacantes, todos com cerca de vinte anos, eram todos paquistaneses, falavam urdu, hindu e alguns, inglês e podem ter sido assistidos localmente, possivelmente por indianos, que contribuíram para o reconhecimento e com fornecimentos preposicionados. O único sobrevivente é um jovem paquistanês, Azam Amir Kasab (também designado Ajmal Amir Kasav ou Azam Ameer Qasab, de acordo com a transcrição das fontes) de 21 anos, natural da localidade de Faridkot (distrito de Okara) no Punjab – Paquistão, o qual estava ligado à pequena criminalidade antes de ser recrutado para a causa jihadista. Azam Kasab afirmou que havia sido prometida uma recompensa à sua família de 1.250 dólares – cerca de 985 euros – se morresse em combate pelo Islão.

Azam Kasab revelou a identidade dos outros nove terroristas que o acompanharam a Bombaim, com idades compreendidas entre vinte e vinte e oito anos. Tratava-se de, Soheb de 20 anos, Chota Abdul Rahman de 21, Umar 22, Abu Ali 23, Fahadullah 24, Ismail Khan 25, Bada Abdul Rahman 25, Abu Akasha 26 e Umair 28.

O responsável policial pela investigação dos ataques a Bombaim, Rakesh Maria, revelou numa conferência de imprensa as imagens e a identificação dos atacantes. Amir era procedente da localidade paquistanesa de Faridkot (distrito de Okara), atacou a estação ferroviária de Chhatrapati Shivaji, juntamente com Ismail Khan, que era originário do distrito de Dera, no noroeste paquistanês. Khan seria o chefe do comando terrorista. Entre os terroristas que assaltaram o luxuoso hotel Taj encontrava-se Hafiz Arshad, aliás Bada Abdul Rehman, originário da cidade de Multán; Shoaib, aliás Soheb, da localidade de Sialkot; Javed, também chamado Abú Alí, e Kasab ambos do distrito de Okara. Os responsáveis pelo ataque ao centro judeu de Nariman foram Nasir, também conhecido como Abú Umar, e Babar Imran, aliás Abú Akasha, ambos procedentes de Multán. Também era de Multán um dos terroristas que atacou o hotel Oberoi Trident, Abdul Rehman, aliás chhota (pequeno), e Fahadulá, também conhecido como Abú Fahad, do distrito de Okara.

O terrorista sobrevivente sabia pouco sobre os seus companheiros, referindo que os membros do comando foram isolados uns dos outros, durante a maior parte da preparação para a missão. Segundo outro relatório não confirmado, alguns dos terroristas tinham chegado a Bombaim, em missão de reconhecimento algum tempo antes do ataque, sob o disfarce de estudantes. Alguns referem que pelo menos alguns membros do comando terrorista podem ter estado no local, cerca de dois meses antes do ataque, fazendo reconhecimentos e aprovisionando munições. Contudo, fontes de um jornal indiano indicam que os dez elementos chegaram de barco na noite dos atentados.

O terrorista sobrevivente, nos interrogatórios, aparentemente foi capaz de identificar rapidamente um dos principais líderes do LeT, o que revela uma violação de segurança se o grupo pretendia camuflar o seu envolvimento nesta acção terrorista.

O LeT foi fundado por Hafiz Muhammad Sayed e Zafar Iqbal, em 1989, na província de Kunar – Afeganistão, tendo o seu núcleo central "aquartelado" em Muridke, nas imediações de Lahore no Paquistão. Actualmente é liderado por Hafiz Muhammad Sayed e coadjuvado por Zaki-Ur-Rehman Lakhvi (chefe das operações contra a Índia), sendo ambos acusados de participar no ataque a Bombaim, especialmente porque Lakhvi é um especialista em guerrilha urbana, tendo enviado muitosjihadistas para combater na Chechénia, Bósnia, Iraque, Sudeste Asiático e mais recentemente, para o Afeganistão.

O chefe directo da operação teria sido Muzammil Yusuf, o comandante operacional do LeT na região de Caxemira.

Haji Mohammed Ashraf é o responsável pelos recursos financeiros, sendo o cidadão saudita Mahmoud Mohammed Bahaziq, o grande financiador do grupo.

Lakhvi veio a ser detido durante uma operação policial, num acampamento nos arredores de Muzaffarabad, capital da região da Caxemira controlada pelo Paquistão. Posteriormente a Polícia de Bombaim identificou mais dois formadores do comando terrorista: Abu Hamza e um homem conhecido apenas como Khafa. Abu Hamza ministrou a formação marítima, de explosivos e armamento. Khafa ajudou os terroristas a familiarizarem-se com os seus objectivos nos últimos três meses da formação, em Azizabad, no Paquistão. Contudo, a principal figura em toda a preparação para o ataque terrorista foi Lakhvi, o qual esteve presente durante toda a formação e viajou com o comando terrorista pela costa paquistanesa antes de rumarem para Bombaim.

Cocaína e LSD para matarem durante mais de 50 horas.


Os elementos do comando terrorista tomaram esteróides, cocaína e LSD (acrónimo de Lysergsäurediethylamid, palavra alemã para a dietilamida do ácido lisérgico, que é uma das mais potentes substâncias alucinógenas conhecidas) para se manterem alerta, despertos e aguentarem o mais possível (refira-se que as drogas são consideradas quase de uso geral entre alguns trabalhadores indianos, como os camionistas, pessoal afecto à segurança, etc.).

Fontes policiais informaram que foram encontrados nos diferentes cenários do ataque, toda uma parafernália relacionada com este consumo, incluindo seringas, e no sangue dos corpos analisados existiam vestígios delas. Desta forma conseguiram estar mais de cinquenta horas sem comer, sem dormir e sem parar de matar, apesar de muitos deles terem sido feridos.


2. e. Génese e ideologia do Lashkar-e-Taiba


Segundo Raja Karthikeya, o LeT surgiu em meados dos anos 1990 como o braço militante do Markaz Dawatul Irshad, uma organização islamista fundada no final dos anos 1980 por Hafiz Mohammed Saeed, um professor de teologia no Punjab Engineering College. O grupo cresceu em importância após o serviço de informações do Paquistão (Inter Services Intelligence, daqui em diante ISI) ter decidido no início de 1990, deixar de apoiar os grupos que lutavam por uma Caxemira independente (como a frente de Libertação de Jammu e Caxemira), para patrocinar os grupos que defendiam a anexação de Caxemira pelo Paquistão.

Inicialmente, os seus membros eram predominantemente paquistaneses, da província de Punjab, não pertencendo à etnia dominante em Caxemira. Esta realidade colocou-o em contradição, em termos estritamente ideológicos, com o dogma de Maulana Mawdudi, o fundador do Jamat-e-Islami e do islamismo político no Paquistão. Os recrutas do LeT são na sua maioria, da classe média e baixa e uma esmagadora maioria tem formação universitária. Contudo a maioria dos jovens não aderem ao Lashkar para seguirem uma carreira no terrorismo. Esta é motivada em partes iguais, por convicções religiosas, um desejo de aventura e um objectivo. A maioria dos recrutas sai, após dois anos de luta do outro lado da fronteira, para regressar ao Paquistão e prosseguir outras carreiras.

Em 1994, os grupos pró-Paquistão que combatiam em Caxemira, organizaram-se no Conselho Unido para a Jihad, e durante anos consideravam o LeT uma anomalia. Quando este aderiu ao Conselho em 2003, o grupo foi constante e persistentemente, infiltrando e diluindo a agenda do Conselho que evolui da luta pela independência para a ligação ao Paquistão. Acredita-se que esta evolução tenha causado a divisão entre os partidos políticos de Caxemira que advogavam a secessão da Índia e o movimento militante paralelo. Do ponto de vista ideológico, o LeT é único no Paquistão, tendo a sua génese no grupo Jamaat-Ahl-e-Hadith e não do Deobandi, como a maioria dos grupos militantes no país, e pratica a ideologia salafista jihadista.

Estes movimentos estabelecem ligações operacionais e logísticas, uns com os outros, sob o "guarda-chuva" da Al-Qaeda.

Antes do ataque a Bombaim, o Lashkar-e-Taiba não era muito conhecido no Ocidente. No entanto, o grupo tem surgido no "radar do ocidente" ao longo da última década. Desde logo, quando em 1998 a administração Bill Clinton, lançou mísseis de cruzeiro contra o Afeganistão, controlado pelos Taliban, como retaliação pelos ataques contra as embaixadas norte-americanas na África Oriental (Quénia e Tanzânia), que atingiram campos de treino do LeT. Em 2003, o FBI indiciou onze membros do LeT de treinarem para a jihad em campos de paintball, na Virgínia, Estados Unidos. Em 2004, a Austrália após a detenção de um membro do grupo – de origem francesa –, pelo planeamento do ataque a vários alvos no país, proibiu rapidamente o grupo.

O britânico Rashid Rauf, principal acusado da conspiração para fazer explodir aviões transatlânticos em pleno voo, em 2006, poderá ter sido um dos recrutas do LeT, o qual viria a ser eliminado num ataque norte-americano, com mísseis Hellfire lançados de aviões não tripulados, no norte do Waziristão (região montanhosa localizada nas Áreas Tribais do noroeste do Paquistão e que faz fronteira com o Afeganistão), em 22 de Novembro de 2008.


2. e. Elevado poder de fogo


Os terroristas estavam fortemente armados. Cada um transportava uma arma automática AK-56 (a versão chinesa da metralhadora russa Kalashnikov AK-47) com oito carregadores (cada um com trinta munições).

Os terroristas também utilizaram metralhadoras de origem alemã Heckler & Koch MP5, mas estas poderão ter sido retiradas a elementos das forças de segurança indianos, mortos ou feridos. Os atacantes estavam armados, individualmente, com pistolas de calibre 9 mm, com dois carregadores com sete munições e, entre oito a dez granadas de mão "ARGES", de fabrico paquistanês, similares às utilizadas noutros ataques, como em Bombaim a 12 de Março de 1993 e no ataque ao Parlamento Indiano, em Nova Deli, em 13 de Dezembro de 2001.

Também tinham engenhos com explosivos improvisados. Cada um era composto por cerca de oito quilos de RDX (Research Department X ou ciclotrimetilenotrinitramina - explosivo de elevada potência) e rolamentos para provocar estilhaços, um cronómetro digital, e uma bateria de 9 volts. Cinco destes engenhos foram localizados, dois foram deixados para trás nos táxis utilizados pelos atacantes, e três outros foram deixados noutros locais ao longo do percurso, para detonarem mais tarde, gerando maior confusão.

Os dois dispositivos deixados nos táxis explodiram, os outros falharam ou foram inactivados por elementos das unidades de inactivação de engenhos explosivos indianos. Existem diferentes informações relativas ao apoio ter sido preposicionado. De acordo com um relato, comandos indianos descobriram uma mochila no hotel Taj contendo sete carregadores de AK-47, devidamente carregados, 400 munições sobressalentes, quatro granadas de mão, e vários documentos. Não é claro se a mochila tinha sido transportada por um dos atacantes eliminados.

2. f. Tácticas


O ataque foi sequencial e com elevada mobilidade. Várias equipas atacaram vários objectivos, simultaneamente, combinando assaltos armados, carjackings, fogo e movimento, utilização de engenhos explosivos improvisados pré-concebidos, assassinatos selectivos (polícias e determinados cidadãos estrangeiros), conseguindo montar barricadas e fazer reféns.

Embora esta manobra constitua uma ruptura com o modus operandi habitual dos ataques suicidas associados aos grupos jihadistas, esta não foi a primeira vez em que se utilizou esta modalidade de atentado, porquanto os assaltos armados, têm amplos precedentes nos anais do terrorismo, como o ataque ao Aeroporto de Lod – Israel, em 1972, em que três membros do Exército Vermelho Japonês abriram fogo e lançaram granadas de mão contra passageiros. As barricadas e situações com reféns foram comuns durante a década de 1970 e, mais recentemente, grupos chechenos executaram várias operações com tomada de reféns em várias cidades russas – Buddyonovsh (1995), Kizlyar (1996), Moscovo (Teatro Dubrovka, 2002) ou Beslan (escola, 2004) – contudo em Bombaim, a novidade, foi a combinação de tácticas.

Foi uma operação complicada e multifacetada. Ao constituírem equipas separadas que se deslocavam rapidamente de objectivo para objectivo, os terroristas conseguiram espalhar a confusão e criar a impressão de terem um efectivo considerável, para o que também terá contribuído inicialmente, os relatos dos órgãos de comunicação social que consistentemente, sobrestimaram aquilo que posteriormente se apurou acerca da dimensão do comando terrorista. Os múltiplos ataques em diferentes locais impediram as autoridades de desenvolver uma avaliação global da situação e as forças de segurança, tiveram dificuldades similares, porventura ainda mais complicadas, devido às informações menos correctas que evoluíram com a resposta ao ataque terrorista. A pequena dimensão de cada equipa de ataque terrorista – dois a quatro homens – limitava a sua capacidade em qualquer acção directa com as forças de segurança. Neste sentido, sempre que enfrentaram uma oposição mais forte, romperam o contacto e seguiram para outro alvo.

Numa breve retrospectiva da actuação do LeT nos seus primórdios, utilizava uma táctica simples e inovadora para espalhar o terror – realizava ataques suicidas a locais seguros, através de homens armados que irrompiam furtivamente com grande poder de fogo – "chuva de granadas e tiros". Pretendiam controlar temporariamente uma área, sem expectativa de regresso e com a certeza da morte, no provável combate que se seguiria com as forças de segurança, constituindo o assalto ao quartel da Força de Segurança de Fronteiras, em 1999, em Bandipora – Jammu e Caxemira, o primeiro exemplo deste tipo de ataque.


2. g. Quatro equipas de assalto


Os terroristas dividiram-se em quatro equipas de assalto, uma com quatro homens e as restantes com dois membros cada. Após o desembarque em Bombaim, os terroristas atacaram de imediato a esquadra da polícia de Colaba, possivelmente com o grupo ainda compacto – anulando o centro de comando e controlo local, o que dificultou a capacidade de resposta da polícia.

De seguida, uma equipa de dois homens tomou um táxi para o terminal de Chhatrapati Shivaji, principal estação ferroviária de Bombaim, onde abriram fogo sobre os passageiros.

Surpreendentemente, os dois foram capazes de vaguear pela estação e matar durante noventa minutos, indiscriminadamente, antes de chegarem mais reforços policiais que os forçaram a deixar a estação.

Embora os ataques a outros alvos fossem destinados a matar estrangeiros, o ataque à estação de comboios visava matar cidadãos comuns indianos. Matar com aparente impunidade pareceu destinar-se a incutir medo e pavor na mente das centenas de milhares de pessoas que utilizam a estação para o seu transporte diário. Os terroristas, em seguida, dirigiram-se para o Hospital Cama & Albless, onde continuaram o massacre. Escaparam de novo com um carro da polícia que haviam emboscado e roubado, seguindo em direcção do hotel Oberoi Trident, disparando ao longo do caminho. Forçados a voltar para trás, roubaram outro veículo, mas acabaram por ser interceptados pela polícia. No tiroteio subsequente, um terrorista foi morto e o segundo foi ferido e capturado. Esta equipa sozinha foi responsável por um terço das mortes.

A segunda equipa, dirigiu-se para Nariman House, um complexo residencial e comercial, com uma sinagoga e um centro educativo ultra-ortodoxo, gerido pelo movimento judaico Chabad Lubavich. Lançaram granadas para um posto de gasolina do outro lado da rua do complexo, abriram fogo sobre o edifício e, em seguida, entraram pelo hall aos tiros. Fizeram treze reféns, cinco dos quais foram posteriormente assassinados, preparando-se para o assalto da polícia. Esta equipa representou oito do total de mortes.

A terceira equipa de dois elementos seguiu do local de desembarque para o hotel Oberoi Trident, onde começou a matar pessoas indiscriminadamente. Num telefonema para a imprensa, alegaram que estavam sete terroristas no prédio e exigiram que a Índia ordenasse a libertação de todos os mujahedin presos em troca da libertação dos reféns. O cerco continuou aproximadamente durante dezassete horas, terminando com a eliminação dos terroristas. Neste espaço temporal os terroristas assassinaram 30 pessoas.

A quarta e maior equipa, dirigiu-se para o hotel Taj Mahal Palace. Quando passaram pelo Café Leopold, pulverizaram os utentes com fogo de armas automáticas, matando dez pessoas. Depois entraram no hotel, percorreram o rés-do-chão e a cave, continuando a matar ao longo do caminho, subindo posteriormente para os andares superiores, disparando e movimentando-se constantemente, a fim de confundir e atrasar as forças de segurança. O cerco ao Taj terminou 60 horas depois, quando comandos indianos eliminaram o último dos quatro terroristas.

A dispersão do comando terrorista em quatro equipas separadas, teve como intenção a redução do risco operacional, porquanto, logo que o ataque começou, o fracasso ou a eliminação de uma única equipa não colocaria as outras fora de acção, sendo a infiltração marítima até Bombaim, o único momento vulnerável no decorrer de toda a operação.

Este padrão particular da operação em que os atacantes penetraram profundamente no alvo e mataram o maior número possível de pessoas, era uma marca dos ataques do LeT, às forças indianas estacionadas em Caxemira.

2. h. Massacre ou cerco?


O propósito dos atacantes, tal como indicou o testemunho do único terrorista sobrevivente, era matar o maior número possível de pessoas. Contudo, há alguma incerteza que o massacre fosse apenas o único objectivo dos mentores da operação. Se compararmos o ataque a Bombaim em 2008, com o ataque ao comboio de 2006, em que sete bombas mataram 209 pessoas, ou o ataque de 1993 a Bombaim, no qual morreram 257 pessoas em 13 explosões por toda a cidade, parece que as bombas teriam sido mais eficazes se o único critério fosse contar cadáveres.

Ataques indiscriminados, como os atentados dos bombistas suicidas de Londres e Madrid, têm sido criticados, mesmo por alguns jihadistas que os consideram contrários ao código de guerra islâmico. Neste sentido, o ataque de 2008 parece ser mais selectivo, embora a grande maioria das vítimas de Bombaim fossem cidadãos comuns indianos, assassinados aleatoriamente. Esta pretensa selectividade foi sublinhada pelos terroristas na suposta busca de americanos e britânicos, pelo brutal assassinato no Centro Chabad, e pela decisão de matar alguns reféns.

A segurança pode ter sido outro factor. Com base nos padrões de anteriores ataques terroristas, as autoridades indianas focalizaram-se em ataques com carros-bomba em hotéis, assim como, ao nível da segurança ferroviária, preocupou-se em tentar evitar atentados à bomba contra os comboios e não com assaltantes armados fora das estações ferroviárias.

Um ataque armado também poderia ter sido mais atraente para os atacantes do que atentados suicidas, contudo quando abriram fogo, o seu destino foi traçado, mas o carácter prolongado da operação permitiu-lhes executar um massacre sustentado onde puderam ver a evolução dos resultados. Ainda que se considerassem mártires, nas suas próprias mentes, também poderiam ver-se mais como guerreiros do que meros detonadores de bombistas suicidas.

2. i. Objectivos


Os terroristas tinham um bom conhecimento do terreno e dos objectivos, os quais estavam situados num raio inferior a três quilómetros, constituindo alvos fáceis.

Em nenhum momento durante o ataque os terroristas tiveram de enfrentar guardas armados com capacidade de resposta. Na sua maioria, os terroristas atacaram alvos desprotegidos e, mesmo em locais onde poderiam esperar forças de segurança, o reconhecimento prévio informou-os que essas forças estariam com armamento ligeiro e seriam facilmente ultrapassadas ou eliminadas.

Os principais objectivos incluíam:

- A movimentadíssima estação central de comboios de Chhatrapathi Shivaji – um dos terminais com mais movimento do país e património mundial da UNESCO. O enorme edifício funde arquitectura britânica e indiana (abriu em 1888), e impressiona pela cúpula e torreões;

- O Hospital Cama & Albless;

- O Café Leopold que abriu em 1871 e era um local popular para turistas, estrangeiros e também entre os artistas;

- Nariman House, um edifício de cinco andares adquirido há cerca de dois anos por uma organização judaica ortodoxa, designada Chabad House (Centro Chabad Lubavich),

- Os hotéis Oberoi Trident e o Taj Mahal Palace, o último objectivo destinado à equipa de quatro elementos. Provavelmente um dos objectivos da operação – que felizmente não foi alcançado – seria a explosão do hotel. Os dois hotéis atingidos eram hotéis de elites: o Taj Mahal, construído em 1903, orgulha-se de ter hospedado "marajás, príncipes e vários reis", como se diz no seu sítio na internet. O hotel foi construído pelo fundador do Tata Group e "pai da indústria indiana", Jamsetji Nusserwanji Tata. O Taj Mahal e a sua arquitectura indo-islâmica constituem "um tributo vivo à natureza cosmopolita de Bombaim e ao seu espírito dinâmico".

Os outros alvos atacados ao longo do percurso, como o cinema Metro (abriu em 1938 com uma arquitectura art-déco, e apesar de já mostrar produções de Bollywood ainda exibe filmes ocidentais, sendo entretanto transformado num multiplex) foram alvos de oportunidade.

Pondo de lado os disparos realizados a partir de um veículo em movimento, a estação de caminho de ferro e os dois hotéis deram a oportunidade para se alcançar um elevado número de baixas. O café Leopold e os hotéis foram locais dramáticos para a realização do ataque –proporcionando o "valor emocional" procurado pelos terroristas.

O massacre no Centro Chabad tinha a sua própria lógica, de acordo com transcrições dos telefonemas entre os terroristas e os seus mentores durante o ataque, os terroristas foram instruídos para matar os judeus reféns, com o objectivo de "deteriorar as relações entre a Índia e Israel".

Jovens num café frequentado por turistas e artistas, hóspedes de uma obra-prima de arquitectura indo-islâmica, empresários em negócios num hotel de luxo, transeuntes numa estação de comboios que é património mundial da UNESCO, espectadores de um cinema art-déco que exibe filmes ocidentais e produções de Bollywood: foram estas as vítimas e os alvos de um ataque que quis atingir o dinheiro, o luxo e a presença ocidental em Bombaim.

2. j. Comunicações – Novas tecnologias ao serviço do terror


Os atacantes tinham por equipa, um sistema de posicionamento global (do acrónimo inglês Global Positioning System, vulgo GPS), individualmente tinham telefones móveis Nokia e um telefone via satélite para o comando, incluindo telemóveis de última geração Blackberries.

Um ataque cuidadosamente planeado, como o de Bombaim, teria exigido qualquer comunicação entre os terroristas e as suas sedes e, de acordo com um dossier difundido pelas autoridades indianas, durante o ataque os terroristas mantiveram contactos frequentes com os seus mentores, sedeados no Paquistão.

Nas transcrições dessas chamadas telefónicas, interceptadas pelas autoridades indianas e difundidas no início de Janeiro de 2009, os líderes no Paquistão instaram os atacantes a continuar, exortando-os a matar, recordando-lhes que o prestígio do Islão estava em jogo, e davam-lhes conselhos tácticos, em parte adquiridos a partir da assistência ao vivo, da cobertura do evento pela televisão. Apesar destas exortações para assassinarem reféns e não serem capturados vivos, alguns observadores acreditam – e existem relatórios em que os terroristas sobreviventes pensam – que os atacantes sentiram que de alguma forma poderiam sair vivos.

Os terroristas durante as operações, falaram uns com os outros para delinear a sua capacidade de manobra, assim como, falaram com a imprensa através de telefones móveis para fazer exigências, como a troca da libertação de reféns. Isto levou as autoridades indianas a pensar que estavam a lidar com uma situação típica de reféns, o que ainda confundiu a sua resposta táctica.

2. k. Cultura estratégica terrorista


O ataque a Bombaim demonstrou que as organizações jihadistas com base no Paquistão têm capacidade para planear e lançar operações terroristas ambiciosas, pelo menos em países vizinhos. Além da Índia, o ataque terrorista a Bombaim revelou uma cultura estratégica que reflectidamente identifica objectivos estratégicos e meios para alcançá-los, tendo analisado previamente as medidas contraterroristas, desenvolvendo procedimentos para as minimizar e tentar realizar um ataque com a "qualidade" do 11 de Setembro.

Durante cerca de sessenta horas, os terroristas mantiveram uma metrópole com quase dezanove milhões de habitantes num impasse, enquanto o mundo parecia observar. Este ataque dominou todos os noticiários durante aproximadamente setenta e duas horas, de uma forma ininterrupta - o que era sem dúvida, um dos objectivos pretendidos pela organização terrorista - o que exceptuando a cobertura dos atentados de 11 de Setembro, o mundo nunca assistiu a uma cobertura global desta envergadura.

O historiador Eric Hobsbawm diz que "o alcance da televisão criou acções politicamente mais eficazes, cujo objectivo não era atingir os decisores, mas sim alcançar um impacto mediático significativo" e neste sentido refere que "um dos sinais de barbárie é o facto de os terroristas terem descoberto que, desde que esteja ao alcance dos ecrãs de todo o mundo, o assassínio em massa de homens e mulheres insignificantes tem maior valor noticioso do que os mais celebrados ou simbólicos alvos para as suas bombas."

Com esta operação em Bombaim o LeT colocou em prática a sua retórica, ou seja colocou a disputa de Caxemira no centro da jihad internacional, assim como, emergiu como uma constelação independente na galáxia da jihad global, deixando de ser apenas mais uma filial da Al-Qaeda. Na verdade, com a redução das capacidades operacionais do núcleo central da Al-Qaeda, o ataque a Bombaim fez do LeT um actor global independente.

Jornal Defesa
« Última modificação: Abril 27, 2009, 06:01:28 pm por André »

 

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André

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« Responder #181 em: Abril 26, 2009, 11:40:27 pm »
Os atentados em Bombaim, Lições a retirar do novo modus operandi jihadista - Parte II
José Vale Faria


3. A Resposta da Índia


A resposta do governo indiano ao ataque a Bombaim destacou as principais vulnerabilidades nas estruturas de segurança, protecção e defesa que seguidamente se descrevem, num país com mais de mil milhões de pessoas, dezenas de etnias, castas devidamente ordenadas e religiões, dezoito línguas oficiais e mais de trinta estados e regiões, muitos deles palcos de conflitos armados.

3. a. Falhas no Sistema de Informações


Funcionários dos serviços de informações receberam avisos prévios das suas próprias fontes e dos Estados Unidos que referiam ser provável um grande ataque, mas a falta de especificidade e a incerteza acerca da ameaça parecem ter impedido respostas específicas.

Contudo, parece ter havido pouca coordenação entre os serviços centrais de segurança – a Unidade de Investigação e Análise (Resarch and Analises Wing, serviço de informações externo, daqui em diante RAW) a Unidade de Informações (Intelligence Bureau, serviço de informações interno, daqui em diante IB) – e a polícia local de Bombaim.

Embora a Unidade de Investigação e Análise tenha interceptado uma conversa sobre um possível ataque do LeT a Bombaim, por via marítima, não é claro se a polícia local ou a guarda costeira indiana, receberam esta informação. De qualquer forma, não tomaram quaisquer medidas de acordo com a provável ameaça, o que põe em evidência um problema universal – a rápida disseminação de informações, tácticas e estratégicas, relevantes para à cautela, se implementarem medidas preventivas de protecção, segurança e defesa.

Além do decrépito estado geral do policiamento, a Índia, tal como muitos outros países, demonstrou graves lacunas na gestão, partilha e difusão das informações, desde a unidade central de informações até às suas homólogas ao nível de estado.

3. b. Lacunas na vigilância do litoral


Os ataques revelaram a incapacidade da Índia em vigiar e controlar eficazmente a sua costa, uma condição que é comum a muitos Estados ribeirinhos, mesmo em países desenvolvidos. Embora a RAW possuísse informação (aparentemente obtida através de intercepções telefónicas) sobre um eventual ataque terrorista vindo por mar, as medidas que foram tomadas revelaram-se insuficientes para controlar e monitorizar o tráfego marítimo nas imediações de Bombaim.

Esta falha parece reflectir a escassez e a qualidade dos equipamentos de vigilância da costa e da guarda costeira: menos de cem embarcações para mais de oito mil quilómetros de costa e poucos meios aéreos operacionais. Embora o governo central tenha reservado recursos para a compra adicional de vinte e seis navios para patrulhar a costa, o Estado de Maharashtra recusou-os, alegando que lhe faltavam os recursos necessários para a sua manutenção.

3. c Medidas de defesa passiva inadequadas


Os detectores de metal colocados no terminal ferroviário de Chhatrapati Shivaji revelaram-se pouco fiáveis e, embora os elementos da Força de Protecção Ferroviária (Railway Protection Force) estivessem armados, o seu armamento era reduzido (uma arma por cada dois funcionários) e relativamente antiquado.[8]

O ataque ao terminal ferroviário também ressaltou as limitações desta força em acção directa com terroristas: Embora tivessem capacidade para enfrentar a criminalidade comum, revelaram uma completa falta de formação no confronto com um ataque terrorista bem orquestrado.

3. d. Execução incompleta dos protocolos de resposta


Embora a polícia local (incluindo a unidade antiterrorista) respondesse de forma relativamente rápida, foram cometidos alguns erros na resposta a este incidente táctico-policial que exigiu uma resposta imediata, desde logo por não ser implementado um posto de comando, para o comando e controlo das operações, assim como, o local do incidente táctico-policial não foi devidamente limitado e selado, através de um cordão de segurança.

Como os ataques foram em vários locais, concentrados num raio aproximado de três quilómetros, as forças de segurança demonstraram incapacidade em conseguir isolar a área, o que se verificou posteriormente ser um propósito do comando terrorista, com base em experiências anteriores, o que gerou muitas dificuldades na actuação policial e no comando e controlo das operações – lição que se retira da actuação do comando terrorista.


3. e. Problemas no tempo de resposta

O contingente local do exército chegou ao teatro de operações às 02:50 horas, cerca de cinco horas após os primeiros disparos. A primeira unidade especial (os Marine Commandos - fuzileiros da marinha indiana) chegou um pouco mais tarde, mas a unidade foi retirada para a retaguarda, sem entrar em acção com qualquer equipa terrorista.

Cerca das 08H50, chegou a elite da Guarda de Segurança Nacional, criada após o assassinato de Indira Gandhi e popularmente conhecidos por gatos negros (Black Cat Commandos), formados de acordo com o padrão do SAS britânico.

As primeiras operações de busca e salvamento foram montadas cerca de 30 minutos mais tarde, e foi apenas a partir deste momento que os terroristas foram verdadeiramente confrontados e empenhados. A lenta resposta desta unidade foi especialmente notada, porquanto foi criada e está vocacionada para intervir em situações de elevada perigosidade, sendo a primeira força de reacção rápida do país.

Daqui ressaltam dois problemas principais, de organização e logístico:

­ Em primeiro lugar, a unidade está sediada a sul de Nova Deli e não tem bases em qualquer outro lugar do país;

­Em segundo, a unidade não possui aeronaves próprias e não pode contar com acesso dedicado à Força Aérea Indiana em situações de emergência.

O único plano que estava disponível para o transporte de duzentos operacionais para Bombaim, era num avião de transporte russo Ilyushin IL-76, contudo estava em Chandigarh, duzentos e sessenta e cinco quilómetros a sul de Nova Deli. Foi ainda necessário acordar o piloto, reunir uma equipa de bordo e abastecer o avião, chegando a aeronave a Deli cerca das 02:00 horas (cinco horas após o início do ataque e com o massacre já consumado) e demorou cerca de três horas e meia para chegar a Bombaim – por comparação, um jacto comercial demora cerca de duas horas.

De acordo com vários peritos em contraterrorismo, qualquer força de intervenção ou reacção rápida num incidente terrorista, deve chegar ao teatro de operações, cerca de trinta ou sessenta minutos, após o início do incidente. Em Bombaim, passaram cerca de dez horas.

3. f. Insuficiente formação em contraterrorismo e inadequado equipamento para a polícia Local

Para gerir efectivamente um incidente terrorista, os elementos afectos à primeira intervenção têm necessidade de dispor de equipamentos adequados e formação para neutralizar ou, pelo menos, conter os terroristas. No entanto, os ataques em Bombaim, demonstraram como a polícia do Estado de Maharashtra estava insuficientemente preparada para controlar um incidente terrorista com esta magnitude.

Muitos elementos das forças de segurança permaneceram passivos, aparentemente porque tinham um poder de fogo inferior ao do comando terrorista. Os coletes à prova de bala disponíveis, não resistiram às rajadas de AK-47 ou AK-56 (dois lotes falharam testes em 2001 e 2004) e o comandante da unidade anti-terrorista de Maharashtra – Chefe Karkare, morreu junto ao hotel Taj, após três projécteis terem penetrado o colete anti-bala que usava, na zona do peito.

Muitos agentes apenas tinham como protecção, coletes de plástico adequados para restabelecimento e manutenção de ordem pública, mas não para acções terroristas. Os capacetes eram da época da Segunda Guerra Mundial e não foram concebidos para o combate moderno, assim como, a maioria das forças empenhadas nos incidentes estavam armadas com espingardas de repetição, idênticas às utilizadas pelo exército britânico nos anos 1950.

3. g. Limitações dos Bombeiros Municipais e dos Serviços de Emergência.


Os Bombeiros foram lentos na resposta. Não conseguiram coordenar as suas acções com a polícia local, nem com as forças paramilitares, assim possuem equipamentos inadequados. Estas limitações reforçaram a má qualidade dos serviços municipais da Índia, mesmo numa grande e movimentada metrópole, economicamente vibrante como Bombaim.

3. h. Plano imperfeito de libertação dos reféns


Em vários aspectos, os planos de resgate de reféns usados pela Guarda de Segurança Nacional para os hotéis Taj Mahal e o Oberoi Trident, tinham falhas graves.

O comando da unidade falhou, inicialmente, ao não montar um Posto de Comando Operacional para coordenar a missão, e posteriormente, com o empenhamento "às cegas" das forças de intervenção no assalto, sem terem um conhecimento prévio de qualquer esboço ou croquis básico, de qualquer um dos edifícios.

Os dois hotéis foram declarados "limpos" quando ainda estavam terroristas por neutralizar; assim como, a "limpeza", compartimento por compartimento, foi dificultada pela insuficiência de informações sobre o número de reféns detidos e o perfil dos terroristas envolvidos. A estas dificuldades, acrescenta-se ainda a impossibilidade de se executar um assalto de surpresa, a coberto da escuridão, pela falta de equipamento adequado, como óculos de visão nocturna e sistemas de imagem térmicos.

3. i. Deficiente comunicação estratégica e gestão da informação


Durante a crise, o governo central e as forças de segurança não conseguiram projectar uma imagem de segurança e controlo da situação, com as palavras “caos” e “paralisia” a serem usadas repetidamente para descrever os eventos. Esta gestão comunicacional foi tão ineficiente e sem precedentes, a qual motivou uma acção judicial contra o governo, considerando os seus promotores que o governo não cumpriu o seu dever constitucional de proteger os cidadãos e defender o seu direito à vida.

Mais grave ainda foi a violação de protocolos básicos na segurança da informação, ao serem fornecidas informações operacionais vitais aos terroristas. As principais críticas foram dirigidas a um ministro no primeiro dia da crise, o qual alertou os terroristas, após ter anunciado que duzentos comandos da Guarda Nacional seriam colocados no teatro de operações em duas horas, assim como, quando uma missão de salvamento de reféns poderia ser desencadeada, confirmou que nenhuma unidade operacional tinha sido mobilizada.

Após o ataque, o Governo indiano anunciou uma série de reformas destinadas a fazer face a estas lacunas e vulnerabilidades. Em 11 de Dezembro de 2008, o Ministro do Interior, P. Chidambaram, anunciou várias medidas para melhorar a segurança nacional, incluindo a criação de um Comando Costeiro para garantir a segurança dos 7483.4496 quilómetros de costa, a criação de 20 escolas de contraterrorismo e unidades regionais permanentes, a criação de uma agência nacional para investigar suspeitas de actividades terroristas, e o reforço da legislação antiterrorista.

Ainda nesta perspectiva, o Parlamento da Índia tomou medidas para tornar algumas destas reformas uma realidade. Em Dezembro a Câmara Baixa da Índia (Lok Sabha) aprovou nova legislação anti-terrorismo que seria aprovada no dia seguinte pela Câmara Alta (Rajya Sabha), a qual prevê novas competências para os serviços de segurança, incluindo a capacidade de deter suspeitos por seis meses sem acusação. Também prevê a criação de uma Agência Nacional de Investigação com competência para investigar o terrorismo, pesquisar, recolher e tratar a informação. Algumas destas disposições, tais como os longos períodos de detenção sem acusação, têm sido alvo de muitas críticas.

Na sequência da incursão de forças paramilitares paquistanesas em 1999, na região de Kargil-Dras, em Caxemira, o governo indiano prometeu promover reformas para evitar, ou tornar menos prováveis, situações análogas no futuro. Muitas destas mudanças foram propostas no Relatório da Comissão de Revisão Kargil, contudo, poucas dessas medidas foram implementadas.

Em 5 de Janeiro de 2009, a Índia insatisfeita com a resposta até à data, do Paquistão, difundiu um relatório de sessenta e nove páginas, detalhando os vínculos entre os atacantes de Bombaim e o Paquistão, o qual foi enviado ao Paquistão para facilitar a procura de indícios do envolvimento paquistanês.

A Índia ao montar esta ofensiva diplomática, esperava poder persuadir a comunidade internacional, principalmente os EUA, a agir de forma mais enérgica para influenciar o Paquistão a terminar com o LeT, a Jaish-e-Mohammad (daqui em diante JM), e outros grupos militantes que operam no interior e a partir do Paquistão. Esta estratégia viria a dar frutos, porquanto funcionários indianos afirmaram que os ataques "deviam ter tido o apoio de alguns departamentos oficiais, no Paquistão.

4. Implicações


Os atentados em Bombaim colocaram sérias implicações à Índia, Paquistão, Estados Unidos e, em certa medida, à comunidade internacional, apesar de muitas das implicações, para estes actores da cena política internacional, continuarem a ser as mesmas, independentemente do grau de autonomia com que o LeT executou estes ataques, contudo estas implicações podem mudar drasticamente ao ser assumido algum nível de patrocínio estatal.

4. a. Índia


O ataque tem uma série de implicações internas e externas para a Índia. No que diz respeito às relações da Índia com o Paquistão, o governo indiano está convencido de que o LeT é patrocinado por entidades do governo paquistanês, como atestam recentes declarações oficiais. As ligações entre o LeT e a Direcção dos Serviços de Informações do Paquistão são bem conhecidas, assim como, os diferentes campos e escritórios do LeT no Paquistão. Além disso, a Índia tem sido vítima de ataques por vários grupos militantes, apoiados e localizados no Paquistão ao longo de décadas. Com a possível excepção dos grupos militantes associados à Jamaat-Islami, o chamado Kashmir tanzeems foi criado, apoiado, assistido e treinado pelo ISI. Como tal, estes grupos não são estritamente, actores não estatais, mas sim extensões ou antenas do aparelho da intelligence estatal.

O Paquistão após alcançar o estatuto de potência nuclear, fomentou a prossecução de conflitos de baixa intensidade, confiante de que as armas nucleares minimizariam a probabilidade de uma reacção militar indiana.

Na sequência da nuclearização, o conflito infra estatal de baixa intensidade expandiu-se dramaticamente. Em 2001, uma análise do think tank norte-americano RAND, acerca da crise Kargil, considerou que a operação foi possível devido à protecção do guarda-chuva nuclear paquistanês, ao garantir que a resposta convencional da Índia seria condicionada. Do mesmo modo, os grupos que anteriormente estavam limitados ao teatro de operações de Caxemira, na sequência dos ensaios nucleares de 1998, expandiram-se para o hinterland da Índia. Desde então realizaram-se vários ataques notáveis:

­- Em 2000, o LeT atacou o Forte Vermelho;

­- A JM atacou o Parlamento Indiano em 2001;

­- O LeT atacou o metro de Bombaim em 2006, entre muitos outros ataques na Índia.

Além disso, em 2000, o LeT lançou a operação fidayeen em Caxemira e, desde então, disseminou-a em toda a Índia. Por estas razões, a Índia não tolerou (e provavelmente não irá tolerar) a prevalência da posição paquistanesa acerca deste ataque, considerando que tal como em anteriores ataques, estamos perante acções de actores não estatais que o estado não controla.

No futuro próximo, é provável que a Índia continue a ser um alvo dos grupos terroristas sedeados no Paquistão, devido, entre outras coisas, à sua incapacidade (e, de facto, da comunidade internacional) em "impor" ao Paquistão o desmantelamento da infra-estrutura terrorista e conter a expansão da participação de cidadãos indianos na violência islamista, com diferentes níveis de apoio, a partir do Paquistão e Bangladesh.

Este ataque destacou também a necessidade de se corrigir inúmeras deficiências na segurança interna da Índia. Existem várias áreas de muito provável e necessária atenção, desde logo, a variação considerável no tamanho, competência e capacidade das várias forças policiais estaduais. No entanto, a Índia tem pouca polícia para a sua população, considerando especialmente que combate várias insurreições activas, para além dos ataques terroristas, lançados a partir do interior e exterior do país. Ajai Sahni, um conhecido analista de terrorismo em Nova Deli, vem denunciando à muito, o baixo rácio de policia por habitante, cerca de 125 por 100 mil, situação subjacente ao tipo de organização e estrutura policial, na dependência e controlo dos Estados pelo que as forças policiais estaduais variam em capacidade e dimensão. Este valor é quase a metade do ratio recomendado pela ONU para policiamento em situação normal – tempo de paz, muito menos para um país com numerosos focos activos de subversão e terrorismo.

Reformas no sector da segurança após a Batalha de Bombaim


Após o ataque a Bombaim no final de Novembro de 2008, Alain Rodier perspectivou algumas reformas significativas para superar as deficiências e vulnerabilidade detectadas:

- Primeiro, o Secretariado do Conselho de Segurança Nacional (National Security Council Secretariat, daqui em diante NSCS), que é o organismo mais elevado de defesa na Índia, deve deixar de ser um refúgio para funcionários aposentados, ali colocados pelas amizades políticas. Devem ser substituídos por executivos e funcionários mais conscientes da evolução da situação actual.

- Reforçar a função do Conselho Consultivo de Segurança Nacional (National Security Advisory Board - daqui em diante NSAB) à semelhança de um think tank, com capacidade para fornecer estudos adequados para o NSCS e o Conselheiro de Segurança Nacional do Primeiro-Ministro (National Security Advisor, daqui em diante NSA). Orientar correctamente a investigação, para responder mais rapidamente e com eficácia às necessidades.

- Criar uma comissão centralizada de informações, responsável pelo acompanhamento permanente das ameaças, especialmente o terrorismo. Na verdade, a Comissão Conjunta de Informações (Joint Intelligence Committee - JIC) criada em 24 de Agosto de 1990 e presidida pelo Secretário do Primeiro-Ministro, reuniu apenas uma vez desde a sua criação.

- Estabelecer uma comissão politicamente independente, com a missão de investigar todos os ataques terroristas sofridos pela Índia desde 2007 (fora de Jammu e Caxemira), para detectar as falhas e vulnerabilidades que tornaram possíveis tais ataques. Será assistida por uma missão permanente do Intelligence Bureau (serviço de informações interno).

- Nomear para os mais altos cargos de responsabilidade dos serviços de informações, internos (IB) e externos (RAW), da polícia e das forças armadas, peritos experientes em terrorismo e contraterrorismo.

- Criar um centro nacional de contraterrorismo na dependência do Conselheiro Nacional de Segurança, que centralizaria todas as decisões operacionais necessárias para a gestão de crises deste tipo. À semelhança de um Estado-Maior Conjunto, teria a tarefa de consolidar e analisar as informações recolhidas pelos diversos serviços de informações e desta forma, evitar a dispersão dos esforços e recursos, na sequência da actuação de vários departamentos da polícia, da Unidade Central de Investigação (Central Bureau of Investigation - CBI, no âmbito do Ministério do Interior) e outras agências.

- Valorizar as competências da CBI. Poderia realizar diligências de investigação, sem a obtenção de autorização prévia dos governos estaduais, porque o IB é um serviço de informações que não tem poderes legais necessários para a realização de inquéritos, exames ou conduzir investigações.

- Os chefes do IB e RAW devem ter acesso directo ao Primeiro-Ministro. Se este tivesse sido informado da ausência e ineficiente reacção da Polícia de Bombaim, em face das informações que lhe foram fornecidas, poderia ter dado as ordens necessárias ao ministro do Estado de Maharashtra.

- O IB deve centralizar todas as ligações com os serviços de informações estrangeiros em matéria de terrorismo. Actualmente, esta tarefa é atribuída à RAW.

- Implementar uma base de dados sobre o terrorismo em que tanto o IB e o RAW tenham acesso. Aumentar a capacidade das acções encobertas da RAW no estrangeiro – única organização com autorização para efectuar tais operações.

- A Guarda de Segurança Nacional, cuja missão principal é a intervenção em situações de elevado risco – actos terroristas, tomada de reféns, sequestros, etc., deve especializar-se nestas intervenções, deixando o serviço de segurança pessoal a altas entidades para outro serviço ou unidade da polícia.

- Pelo menos um batalhão da NSG deve ser atribuído permanentemente, às cidades de Bombaim, Calcutá, Chennai e Bangalore. Contudo, esta dispersão não deverá ser realizada à custa da sua formação específica.

- Rever os procedimentos de emergência e a implantação de unidades da NSG, afectando os meios de transporte adequados, nomeadamente aéreos.

- Implementar na polícia de Bombaim, Calcutá, Chennai e Bangalore, capacidades especiais complementares às da Guarda Nacional de Segurança.

- Alargar a formação de pessoal especializado em negociação e resolução da tomada de reféns, em países amigos, a quadros da polícia e outras autoridades. Neste momento, esta formação é restrita aos funcionários do IB e do RAW.

- Utilizar a experiência dos executivos aposentados do IB e do RAW, partilhando a informação e a sua experiência aos mais jovens.

- Aumentar a capacidade antiterrorista dos postos de polícia localizados em áreas urbanas, mediante a atribuição de um especialista neste domínio.

- Revitalizar a pesquisa de informações pela polícia em locais públicos (estações de comboios, terminais rodo-ferroviários, rodovias, hotéis, aeroportos, etc.), privilegiando o contacto com as pessoas e os diferentes líderes locais. Deve ser ainda desenvolvido um clima de confiança entre as partes e que os responsáveis civis sejam sensibilizados para a ameaça terrorista.

- Erguer uma barreira na fronteira com o Bangladesh.

- Implementar um programa para identificação de imigrantes ilegais, nomeadamente os oriundos do Paquistão e do Bangladesh, com a finalidade de promover a sua expulsão.

- Reforçar as medidas de controlo nas fronteiras, fotocopiando passaportes, verificando os vistos de entrada e as datas de saída, e ainda intensificar a cooperação entre a Marinha e a Guarda Costeira para a monitorização e vigilância da orla costeira.

- Melhorar a segurança das instalações off-shore, das centrais nucleares e das instalações aeroportuárias que podem ser alvo de ataques terroristas.

- Proibir qualquer hotel de acolher cidadãos estrangeiros sem a documentação requerida, assim como, devem ser elaboradas folhas de registo de hóspedes enviadas diariamente para a polícia.

Estas propostas de reformas na Índia, no domínio da luta contra o terrorismo, vão exigir novos meios e sobretudo uma mudança de mentalidade nos responsáveis políticos e do aparelho de segurança. Na verdade, a luta não deve ser confinada à vizinha província do Paquistão e do Bangladesh, mas alargar-se a todo o território. As promoções no âmbito das forças de segurança e das forças armadas devem incidir sobre critérios de competência e não outros. No entanto, perante a situação que prevalece na Índia, estas medidas poderão vir a ter eficácia a longo prazo. Até lá, é provável que outras acções terroristas de grande escala possam ocorrer.

4. b. Paquistão


Para Bruce Riedel, o Paquistão é o país mais perigoso do mundo, onde se misturam vários factores que constituem uma mistura explosiva: terrorismo internacional, proliferação nuclear, ameaça de guerra nuclear, tráfico de droga e uma democracia incipiente. Podemos ainda acrescentar a preocupante deriva do Paquistão para Estado falhado que se vem acentuando.

Relativamente ao ataque a Bombaim, ainda é demasiado cedo para avaliar a completa conexão com o Paquistão, porquanto depende em boa medida, da evolução das respostas dos EUA, da Índia, do próprio Paquistão e das acções domésticas contra a miríade de grupos militantes, e a resposta da comunidade internacional. As consequências para o Paquistão, também serão consideravelmente diferentes, dependendo da extensão das ligações entre o ISI e o LeT, em geral, e a realização da operação em Bombaim em particular. A Índia alega que foi necessária a participação dos serviços secretos do Paquistão para a execução do ataque. O primeiro-ministro Singh disse, "existem provas suficientes para mostrar que, dada a sofisticação e precisão militar do ataque, ele deve ter tido apoio de alguns órgãos oficiais, no Paquistão".

Responsáveis indianos e norte-americanos acreditam que o actual governo civil do Paquistão não controla a estratégia dos militares (ou do ISI) relativamente aos grupos militantes que operam no interior e a partir do Paquistão. Perante tal cenário, a maioria dos analistas paquistaneses acredita que a melhor esperança para o Paquistão é civilizar lentamente, ou seja, incrementar e exercer progressivamente o controlo civil, sobre os militares e os serviços de informações, mas são poucos os optimistas em que tal possa, ou venha a ocorrer a curto prazo. Isto coloca um desafio aos Estados Unidos, à Índia, e à comunidade internacional, na forma de exercer, a curto prazo, uma pressão selectiva sobre os militares e os serviços de informações, sem desestabilizar o frágil governo do Paquistão.

Se o LeT opera com um certo grau de cumplicidade entre as forças militares e os serviços de informações, o ataque a Bombaim coloca uma série de implicações perturbadoras:

- Em primeiro lugar, sugere que atacar a Índia com o objectivo de a enfraquecer, continua a ser a ambição de, pelo menos, alguns elementos essenciais e com responsabilidade na estrutura de segurança paquistanesa;

- Em segundo lugar, teria sido um propósito para desvanecer as políticas do Governo na aproximação com a Índia e na luta contra os extremistas nas áreas tribais, assim como, os esforços dos Estados Unidos para intervir na doutrina e formação do Exército Paquistanês. Nesta perspectiva, o ataque pode ter sido planeado para gerar uma resposta militar indiana e aliviar as operações impopulares ao longo da fronteira com o Afeganistão.

Por último e mais importante para os Estados Unidos, será a persistência das ligações entre os serviços de informações paquistaneses e algumas entidades militares com grupos, como o LeT, sugerindo que não podem ser parceiros fiáveis e de segurança. Se o LeT realizou o ataque sem o aval dos militares ou dos serviços de informações paquistaneses, o grupo poderá ter aderido às fileiras de outros grupos militantes que outrora foram satélites do Paquistão, mas actualmente são, em certa medida, cada vez mais hostis. Por exemplo, após 2002, a Jaish-e-Mohammad dividiu-se em duas facções, uma favoreceu como alvos, o Paquistão e os seus aliados ocidentais e a outra, continuou a cooperar com o Estado paquistanês, pelo que poderá o Paquistão estar actualmente, a ser uma vítima dos grupos que criou.

Embora seja duvidoso que o LeT tenha voltado as costas aos seus antigos protectores, tal não é impossível, pois tem importantes fontes externas de financiamento e actualmente é menos dependente do ISI do que no passado – o grupo pode ter decidido que os benefícios em trabalhar com o ISI, cumprindo as suas orientações não justificava as restrições impostas nas suas operações. Por outro lado, o ataque a Bombaim, vai permitir expandir o recrutamento e a obtenção de fundos, assim como, a cooperação mais estreita entre o LeT e a Al-Qaeda no Afeganistão, poderá ter decidido que se atingisse a aliança de "cruzados, sionistas e hindus".

A julgar pelas declarações do presidente Zardari e o atraso na resposta à crise pelo governo paquistanês, se este for relutante em encerrar as actividades do LeT e a sua organização de fachada, a Jamaat ul-Dawa (JuD), o mais provável, é ser constrangido a fazê-lo pelo Exército ou pelos serviços de informações. Em 17 de Dezembro de 2008, o Presidente Zardari negou a credibilidade das provas que diziam que o único atacante sobrevivente, Ajmal Qasab, era paquistanês, apesar da admissão do próprio pai de Qasab. Em 07 de Janeiro de 2009, o Conselheiro Nacional de Segurança Mahmood Durrani, foi demitido porque indicou durante uma entrevista à CNN que os atacantes tinham raízes no Paquistão. O porta-voz do Primeiro-Ministro, Imran Gardaizi, explicou que foi demitido porque “deu entrevistas sobre questões de segurança nacional, sem consultar o primeiro-ministro”. Apesar dos desmentidos defendidos pelo governo, este tem empreendido uma série de medidas tardias contra o LeT, assim como foi extremamente relutante na proibição do JuD, mas prometeu fazê-lo após o Conselho de Segurança das Nações Unidas (com o apoio da China) ter proscrito o grupo e o considerar uma organização terrorista - Resolução 1267 do Conselho de Segurança da ONU.

Em 11 de Dezembro de 2008, o Paquistão colocou finalmente o líder do JuD, Hafiz Mohammad Saeed, sob prisão domiciliária e encerrou nove escritórios da organização em Lahore, Karachi, Hyderabad, Peshawar e Mansehra, ligado ao ataque a Bombaim, incluindo ainda Qudsia Jamia Masjid – o escritório principal do JuD em Lahore. Contudo não é claro se a polícia terá tomado qualquer medida para encerrar a sede do JuD em Muridke.

Saeed foi previamente colocado sob prisão domiciliária só para ser libertado. Algumas notícias alegaram falta de segurança para impor a sua prisão domiciliária e, um jornal referiu mesmo que se assemelharam a umas "férias forçadas".

Finalmente, em 13 de Dezembro de 2008, o Paquistão proibiu o JuD. No entanto, foram surgindo notícias sugerindo que o JuD se terá reorganizado novamente sob uma nova fachada. Esta resposta lenta do Paquistão permite várias explicações, as quais poderiam estar em jogo, em certa medida, porquanto parte da administração de segurança paquistanesa, provavelmente, ainda poderá visualizar a organização como um activo valioso, em certa medida e, por último, se o governo entender que estes grupos ameaçam o Paquistão e a região, como não controla o aparelho de segurança, tem uma capacidade limitada para suprimir estes grupos, sem tornar vulnerável, a sua própria manutenção no poder.

Estes são tempos perigosos", disse recentemente Muinuddin Haidar, um antigo ministro do Interior paquistanês. Não se referia apenas ao ataque à academia de Polícia, em Lahore, mas também, ao bombista suicida que matou setenta fiéis numa mesquita, perto da fronteira afegã e à emboscada à equipa nacional de críquete do Sri Lanka, no princípio do mês de Março que causou oito mortes. "É quase uma guerra."

Este tipo de operação, em comando organizado, é um novo patamar de terrorismo, representando uma escalada nas formas praticadas no Paquistão, nomeadamente o usual bombista ou missão suicida, o que justiça a afirmação que o Paquistão se está a tornar um país onde o pior, normalmente, acontece. Como exemplo deste paradigma, no passado dia 03 de Março do corrente ano, um autocarro onde seguia a selecção de críquete do Sri Lanka que se deslocou ao Paquistão no lugar da indiana, numa visita de solidariedade, foi emboscado na baixa de Lahore. Este foi o primeiro grande ataque a uma equipa desportiva internacional desde que militantes palestinianos mataram atletas israelitas nas Olimpíadas de 1972, em Munique.

O segundo ataque, com estas características, aconteceu na academia de polícia paquistanesa em Manawan, perto da cidade de Lahore (leste). O ataque começou às sete horas (menos quatro em Portugal) do dia 30 de Março de 2009 e envolveu, segundo a polícia paquistanesa, dez a doze terroristas. Os terroristas armados com espingardas automáticas, granadas e explosivos, uns encapuzados e outros vestidos de polícias, executaram um ataque de surpresa que fez lembrar o atentado contra a equipa de críquete do Sri Lanka, tendo como finalidade a carnificina, de acordo com o exército paquistanês.

4. c. Os Estados Unidos da América


O ataque a Bombaim veio demonstrar as insuficiências dos esforços dos EUA, na gestão dos seus interesses de segurança no Paquistão e na região. Como é conhecido, na fase inicial da então designada "guerra contra o terrorismo", os Estados Unidos concentraram os seus esforços na manutenção da cooperação do Paquistão na perseguição à Al-Qaeda.

Esta estratégia resultava da convicção dos Estados Unidos na derrota dos Taliban, pelo que até 2007, não pressionaram o Paquistão a cooperar nesta luta. Este renovado interesse, resultou em grande medida, do ressurgimento dos taliban em 2005, o qual foi facilitado e potenciado pelos santuários que os talibãs e outros grupos extremistas desfrutavam nas áreas tribais do Paquistão. Washington aplicou apenas uma pressão ligeira sobre o Paquistão para eliminar os grupos que operavam na região de Caxemira, onde se insere o LeT e, de acordo com um assessor bem colocado na Administração Bush, mesmo colocar o grupo na lista de organizações terroristas estrangeiras, foi um desafio porque a administração estava preocupada com a reacção do exército paquistanês.

Num esforço para garantir a cooperação do Paquistão no combate global contra o terrorismo, os Estados Unidos concentraram as suas energias e recursos nas Forças Armadas do Paquistão. Em contrapartida, garantiram o acesso ao solo paquistanês para o apoio e abastecimento logístico (o que ultimamente tem sido dificultado, devido a vários ataques realizados na região de Peshawar) bem como o acesso a bases navais e aéreas para a realização da Operação Liberdade Duradoura. O Paquistão também colocou um número significativo de forças militares e paramilitares, ao longo da fronteira com o Afeganistão, onde têm sido empenhadas em operações, com sucesso variado, contra militantes extremistas considerados uma ameaça para o Estado.

No essencial, as políticas dos EUA não têm garantido um amplo compromisso do Paquistão para eliminar os militantes baseados no Paquistão. Líderes taliban e chefes militares como, Jallaluddin Haqqani, Gulbuddin Hekmatyar, e Baitullah Meshud que reivindicou o ataque à academia de polícia paquistanesa em Manawan, entre outros, continuam a operar livremente a partir de solo paquistanês, com total impunidade, e muitos acreditam que os militares paquistaneses e o ISI, os apoiam activamente. Igualmente alarmante, têm sido os ataques do LeT a forças da OTAN nas regiões afegãs de Kunar e Nuristan, pelo menos desde 2007, para além das operações que decorrem contra a Índia, realizadas por uma série de grupos baseados no Paquistão.

4. d. A comunidade internacional


O LeT demonstrou com o ataque a Bombaim, que tem capacidade e vontade em internacionalizar os objectivos e assumir um papel mais importante no vasto panorama da jihad global. Como alguns dos outros grupos militantes no Paquistão, acredita-se que o LeT tenha consideráveis apoios na diáspora paquistanesa, levantando uma série de preocupações aos países com comunidades paquistanesas, como a nossa vizinha Espanha e a Grã-Bretanha. Mais do que nunca, a Índia e os seus aliados precisam de implementar ligações mais estreitas e sólidas em matéria de defesa e segurança, especialmente contra o terrorismo.

No futuro próximo e a manter-se o actual status quo, o Paquistão continuará a ser um destino de treino, para todos os indivíduos que se radicalizem e pretendam obter formação em campos de treino de grupos militantes, constituindo uma ameaça e um desafio permanente à comunidade internacional. O governo indiano, com sucesso, conseguiu que as Nações Unidas tomassem medidas contra o LeT e os seus principais dirigentes, apesar das Nações Unidas poderem ter pouco impacto sobre a capacidade de acção do grupo. Para tal, o voto da China foi necessário para garantir a aprovação, país que desde há muito tempo, tem sido um parceiro fiável do Paquistão, e cujo sentido de voto poderá ter algum impacto em Islamabad.


5. Conclusão


Pelo exposto, podemos afirmar que a Índia continuará a enfrentar uma grave ameaça jihadista, de grupos terroristas internos e externos sedeados no Paquistão. No entanto, a Índia não tem opções militares que produzam efeitos a nível estratégico, sem um risco significativo de uma resposta militar do Paquistão, assim como, as políticas da Índia e dos Estados Unidos parecem não ter capacidade para reduzir significativamente a ameaça no curto a médio prazo. A ameaça continuará latente e provavelmente aumentará, havendo inevitavelmente, inspiração e ensinamentos no ataque a Bombaim, como salientou Bruce Riedel.

Os santuários nas áreas tribais, situados ao longo da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, região designada por alguns especialistas como "Al-Qaedistão", continuam a funcionar como bases de retaguarda por excelência para os grupos terroristas (por exemplo Abu Zoubeida, um veterano da Al-Qaeda foi detido em Julho de 2006, num reduto do LeT em Faisalabad, Paquistão), pois permitem aos líderes terroristas recrutar, seleccionar e treinar os seus operacionais, assim como, facilitam as tarefas de planeamento e execução de operações complexas, como o ataque a Bombaim.

A nível estratégico, esta operação salientou a importância do combate às fontes transnacionais do terrorismo islamista na Índia, tarefa sempre extremamente difícil, e que implica a reavaliação dos pressupostos da política da comunidade internacional com o Paquistão. A focalização sobre o Paquistão, neste caso, não deve obscurecer a probabilidade de os atacantes terem recebido assistência local ou ainda que os recentes atentados terroristas na Índia, possam ter sido, total ou parcialmente, planeados e executados por cidadãos indianos, relevando um dos principais objectivos dos terroristas – a radicalização local – o que é e continuará a ser um grande desafio político e social para a Índia.

Os ‘cérebros’ do atentado terrorista a Bombaim demonstraram um sofisticado pensamento estratégico na escolha dos alvos e das tácticas, o qual parece ter sido concebido para atingir um conjunto de objectivos políticos. Revelaram uma notável capacidade de inovação e adaptação táctica, face às circunstâncias, – o que torna este grupo terrorista, particularmente perigoso e consequentemente, dificulta o planeamento e a adopção de medidas de segurança.

Uma das lições mais importantes a retirar desta operação terrorista é a importância do ataque com armas de fogo, do tipo guerrilha urbana. Enquanto o ‘mundo do contraterrorismo’ se concentrava quase exclusivamente em explosivos, este ataque demonstrou que um ataque com armas de fogo, apesar de não provocar um número de baixas tão elevado, como um atentado à bomba, é uma táctica eficaz e, capaz de provocar um caos prolongado num meio urbano.

A retórica jihadista tem afirmado e o ataque a Bombaim demonstrou, inequivocamente, que a sua determinação é maximizar o impacto psicológico dos atentados, pelo que podemos perspectivar que futuros ataques, visarão tanto alvos simbólicos ou emblemáticos, em locais de grande concentração de pessoas, com o objectivo de provocar um elevado número de vítimas e prejuízos económicos.

Desde os ataques contra alvos de elevado perfil – mas permeáveis em termos de segurança – que permitiam planear e executar ataques, relativamente simples e baratos, estes locais continuarão a ser alvos em ataques futuros, porque a sua protecção coloca desafios complexos, difíceis e particularmente sensíveis, até porque, muitos dos edifícios mais antigos e simbólicos da Índia, não foram projectados e construídos com preocupações de segurança, ou estão em locais demasiado expostos.

A falha do sistema de informações, o inadequado equipamento e treino antiterrorista da polícia local, o atraso na intervenção dos ‘gatos negros’, um plano de libertação de reféns imperfeito e com lacunas, a deficiente comunicação e gestão da informação, contribuíram para uma resposta pouco eficiente. Estas vulnerabilidades e deficiências sugerem a necessidade de uma melhor coordenação entre as várias forças e serviços de segurança, a nível nacional e local, assim como, o reforço da capacidade de resposta das unidades de primeira intervenção para incidentes táctico-policiais de elevado risco. A menos que a Índia possa melhorar a qualidade, o funcionamento e a coordenação do seu sistema de segurança interna, ela permanecerá muito vulnerável à penetração jihadista e a ataques terroristas.

A resiliência e a mutabilidade do LeT constituem verdadeiros motivos de preocupação. A maioria dos grupos terroristas não tem capacidade para sobreviver dez anos em operações, contudo, o LeT ao longo da sua existência, tem crescido em dimensão e capacidade, apesar das proibições dos EUA e do Paquistão, bem como da consequente pressão exercida sobre os grupos terroristas, após os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos EUA. Conseguiu adaptar-se às mudanças do ambiente político no Paquistão (passagem de democracia a ditadura e regresso à democracia), e tem-se vindo a transformar numa organização com extensas actividades filantrópicas, sem perder a sua capacidade de realizar actos terroristas fora do Paquistão.

Bombaim ilustrou a sua capacidade de planeamento e recolha de informações em ambiente hostil. Detalhes tácticos específicos do ataque, como por exemplo o rebentamento de um elevador, a fim de obterem cobertura dentro do eixo do elevador, indicam o nível de profissionalismo que atingiram. O próprio modus operandi do ataque (um desembarque anfíbio) coloca o LeT, em termos de inovação, num patamar idêntico ao dos Tigres Tamil.

Por último mas não menos importante, a ambição da liderança do LeT. Mesmo que a sua agenda tenha sido absorvida pela Al-Qaeda, aspiram alcançar o estatuto de “libertadores” e não aceitam actuar como segundos violinos numa orquestra maior, pelo que devemos estar atentos e preparados para mais ataques deste grupo. Esta ambição global do LeT é citada no londrino The Telegraph, o qual refere que fontes dos serviços de informações ocidentais afirmaram que o LeT tinha uma lista de trezentos e vinte objectivos em todo o mundo e apenas vinte se situam na Índia - dados recolhidos no correio electrónico de Zarar Shah, o responsável pelas comunicações do LeT, que se encontra preso no Paquistão.

Os atentados de Bombaim e a sua espectacular eficácia têm a marca da Al-Qaeda. Com a experiência dos ataques ao hotel Serena em Cabul – Afeganistão e ao hotel Marriott em Islamabad – Paquistão, a Al-Qaeda continua a marcar a agenda política internacional, matando cidadãos ocidentais – de preferência israelitas, americanos ou ingleses – e em locais de luxo e cheio de correspondentes, porque se eliminar cidadãos locais, ‘ninguém’ quer saber. O terrorista inteligente sabe o que nos aterroriza, mobiliza e emociona.

Um coronel, antigo comandante do SAS britânico, disse que o Reino Unido não tem a quantidade suficiente de forças antiterroristas em Londres, ou noutras cidades importantes, para enfrentar um ataque terrorista, simultaneamente em vários locais, de uma forma sequencial e com elevado dinamismo, como aconteceu em Bombaim. Recentemente, peritos em segurança referiram que ataques idênticos aos de Bombaim, constituem uma grande ameaça para os hotéis de luxo britânicos – os quais são muito vulneráveis –, pelo que deverão reforçar as suas medidas de segurança, à semelhança dos aeroportos.

Entretanto, algures, os terroristas vão experimentando e aferindo a nossa capacidade e qualidade de resposta, tendo conseguido, infelizmente, quase sempre surpreender-nos.

E em Portugal ??


Jornal Defesa

 

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André

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« Responder #182 em: Abril 27, 2009, 06:36:14 pm »
Operação contra o islamismo radical detém 100 pessoas na Turquia


Pelo menos 100 pessoas foram detidas hoje numa grande operação antiterrorista da polícia turca contra várias organizações radicais islâmicas em todo o país, segundo a imprensa turca.

Segundo a agência de notícias Anadolu, 52 pessoas foram detidas por relação com o grupo fundamentalista Vasat durante operações policiais simultâneas em 10 províncias diferentes.

Criado em 1996 no sudeste da Turquia, o objectivo do Vasat é a formação de um estado islâmico. A organização foi especialmente activa até 2000, quando ocorreu a sua última acção terrorista.

Noutras quatro províncias, foram detidos 35 supostos militantes e simpatizantes do grupo armado Hezbollah e de uma associação islâmica legal, IHYA-DER, que supostamente mantinha vínculos com a organização fundamentalista.

O Hezbollah turco não possui relação com a formação xiita libanesa do mesmo nome, já que se trata de uma organização sunita formada na maioria por curdos e presente no sudeste da Turquia.

Segundo diversas fontes, o Hezbollah foi utilizado pelo Estado turco durante o conflito com o grupo armado separatista Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) durante os anos 90.

O terceiro grupo que foi alvo das operações policiais foi o Estado Islâmico Federal da Anatólia (AFID). Treze dos seus supostos membros foram detidos na província de Konya.

A AFID surgiu na Alemanha em torno do clérigo muçulmano Cemalettin Kaplan, exilado durante a ditadura da Junta Militar da Turquia (1980-1983).

A sua fundação data do início dos anos de 1990, depois de o grupo regressar à Turquia, e os seus atentados do final desta década inspiraram-se nas acções da Al Qaeda.

Numa outra operação policial anti-terrorista, desta vez contra grupos separatistas e de extrema-esquerda, 40 pessoas foram detidas entre domingo e hoje em Istambul. Um dos supostos terroristas conseguiu enfrentar a polícia a partir do interior de um apartamento durante mais de seis horas, até ser finalmente abatido.

Um polícia e um morador da área morreram na sequência dos disparos. Seis agentes e um jornalista ficaram feridos.

Lusa

 

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André

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« Responder #183 em: Abril 27, 2009, 07:56:33 pm »
Combate ao Bioterrorismo. Prioridade nacional ??
Alexandre Reis Rodrigues
 

 
Este trabalho desenvolve algumas ideias sobre o enquadramento estratégico do bioterrorismo, tendo em vista ajudar a concluir até que ponto este assunto é prioridade nacional e em que termos.


O ambiente de segurança

A Europa em que Portugal está inserido não está exposta a qualquer ameaça credível de forças convencionais mas não está livre de quatro grandes tipos de riscos que, mesmo distantes, podem afectar a estabilidade de que necessita para ter progresso económico e social e para cuja solução pode ser necessário o envolvimento directo dos europeus. São os riscos da instabilidade e caos provenientes de áreas de insegurança crónica, onde persistem vulnerabilidades económicas, demográficas, ambientais e graves desigualdades sociais; são os riscos provenientes de zonas de conflito que continuam por resolver; são os riscos de estados falhados cujos governos não conseguem controlar a totalidade do território, proteger as minorias e manter a lei e a ordem e, finalmente, é o risco do terrorismo transnacional levado a cabo por actores não estatais.

A esta situação temos agora que acrescentar a tentativa aberta de algumas organizações terroristas, designadamente as ligadas ao Islão radical, de juntar, ao tradicional recurso a atentados e acções bombistas, o uso de armas de destruição maciça, aproveitando as forças da modernização e da globalização que querem combater mas que consideram úteis para lutar pelo seu sonho desesperado.

Estas novas circunstâncias obrigam-nos a repensar as noções tradicionais de segurança nacional e a ter presente as limitações das tentativas de soluções exclusivamente militares, em especial perante adversários que apostam nos métodos não convencionais de fazer a guerra e recorrem a um leque variado de ameaças encobertas que não fazem preceder de qualquer alerta e que ignoram deliberadamente os princípios éticos que nos são mais caros.

O bioterrorismo no contexto da ameaça das armas de destruição maciça


O termo "armas de destruição maciça" tem sido usado para designar globalmente quatro tipos de armas diferentes: nucleares, químicas, biológicas e radiológicas. O critério, no entanto, é controverso porque mesmo no aspecto que deveria ser o denominador comum de todas – o poderem causar destruição e morte em larga escala - existe grande disparidade nos respectivos efeitos. Na realidade, as nucleares são as únicas, até ao momento, que comprovadamente têm dimensão de destruição maciça (Hiroxima e Nagasáqui, 6 e 9 de Agosto de 1945).

As outras, embora potencialmente de destruição maciça, nunca foram utilizadas para esse efeito, quer de forma aberta ou encoberta. No entanto, ao contrário das primeiras, que só estão acessíveis ao nível de estados e sob regime de controlo rigoroso, as não nucleares encontram-se ao alcance de actores não estatais, sendo aqui que está o aspecto novo do problema. A seita japonesa Aum Shinrikyo já as tentou usar para esse efeito, em 1994 e 1995, com antrax e gás sarin, mas o propósito não foi atingido, não obstante o local escolhido (a rede de metropolitano) tenha sido um dos que mais facilmente proporciona uma rápida disseminação do agente.

As biológicas estão proibidas desde 10 de Abril de 1972, pela Biological Weapons Convention, que, no entanto, além de ainda não ter aplicação universal tem sido objecto de grosseiras violações, a ponto de a administração americana a considerar não verificável. Calcula-se que haja países que ainda as mantêm, outros que fazem investigação relacionada com a sua possível produção e outros que dispõem de infraestruturas onde podem ser produzidas.

O bioterrorismo, embora outro assunto, insere-se neste tema como sendo o uso ilegal de bactérias, vírus, fungos, toxinas, etc. contra a população de um país, as suas culturas ou gado, por organizações terroristas; para alguns especialistas, incluiu também uma dimensão para o material, podendo este ser degradado por agentes biológicos com capacidade de acelerar a sua corrosão ou degradação. Na verdade, tanto quanto sei não existe uma definição oficial, mesmo nos EUA, que são o país que mais atenção e recursos têm dedicado a este assunto.

A natureza da ameaça do Bioterrorismo


É uma ameaça que, ao contrário dos exércitos, não reconhece fronteiras; não é visível, não tem cheiro nem gosto e pode passar facilmente de pessoa para pessoa através do ar, da água ou dos alimentos vegetais e animais. É, por conseguinte, muito difícil de detectar oportunamente, residindo neste aspecto um dos seus maiores perigos. O seu impacto pode não ser imediato; podem passar-se semanas sem se ter consciência de que se sofreu um ataque.

O alarme pode desencadear-se apenas quando já há um número grande de doentes nos hospitais, altura em que os responsáveis irão longe. Em resumo, é uma forma de ameaça que serve bem os modos de actuação e os objectivos das organizações terroristas; presta-se para ser usada de forma encoberta e causar grande impacto, mais que não seja alarme e medo, sem deixar evidências da sua exacta proveniência. Na sua expressão mais grave, usando agentes facilmente dissemináveis e transmissíveis e que provoquem índices de mortalidade elevados, pode pôr em risco a segurança nacional, causar um grande impacto na saúde pública, provocar pânico e grave instabilidade social.

No entanto, é uma ameaça que enfrenta sérias dificuldades na área da produção. Para se conseguirem meios com efeitos de destruição em larga escala exige-se uma equipa técnica sofisticada em várias áreas especializadas e consideráveis meios materiais (recursos financeiros, infraestruturas, equipamentos, etc.). Todos estes meios e a logística que lhe estará associada vão expor os prevaricadores à vigilância dos serviços de segurança, criando riscos de detecção a que pode ser difícil escapar se as autoridades estiverem atentas e tiverem meios e condições de actuação adequadas. No entanto, esta é uma condição que não podemos esperar da parte de um estado falhado ou de um estado que deliberadamente apoie o terrorismo internacional.

Em qualquer caso, as dificuldades de produção atrás referidas e a complexidade do seu emprego, que é muito dependente de factores atmosféricos que o podem tornar de resultados imprevisíveis, fazem desta ameaça uma opção ainda não abertamente atractiva para as organizações terroristas. Naturalmente, como veremos adiante, esta situação é susceptível de evoluir a curto prazo.

Tudo será diferente e muito mais simples se, no entanto, o objectivo da sua utilização for sobretudo instalar o pânico e desordem social provocando baixas, mas sem visar a dimensão radical da destruição em massa, e explorando a possível falta de confiança da população na eficácia da capacidade de resposta das instituições nacionais. É talvez quanto baste, prevêem alguns especialistas, para causar uma perturbação mais grave da que as que possam resultar dos ataques terroristas que conhecemos e, eventualmente, tão ou mais séria do que a que possa ser causada pelos desastres naturais ou acidentes para os quais os governos regra geral se procuram preparar.

A avaliação da probabilidade da ameaça


Voltando ao princípio, sugiro que tentemos definir até que ponto o combate ao bioterrorismo é prioridade nacional e em que termos deve ser encarado? É certamente uma questão essencial cuja resposta é o que ditará o que o País deve fazer neste campo. É o ponto que, mais importante de que tudo o resto, interessaria tentarmos deixar esclarecido.

Vejamos como se encara a situação nalgumas áreas de referência para Portugal. Como veremos, quase todas tomam o assunto muito seriamente.

A NATO, por exemplo, tem desenvolvido diversas iniciativas desenhadas para ajudar os países, quer para se prepararem para este tipo de ameaças, a nível estratégico e operacional, quer para analisar os riscos e vulnerabilidades a que possam estar sujeitos, disponibilizando o apoio de grupos de aconselhamento (Advisory Support Teams). O tema começou a ter uma visibilidade crescente a partir de 2000, quando então se decidiu criar no quartel-general um órgão especificamente designado para lidar com o problema da proliferação (Weapons of Mass Destruction Center) e mais tarde, em 2004, se organizou um batalhão de protecção contra as ameaças NCBR (Multinational Chemical, Biological, Radiological, Nuclear Defence Batallion). Este batalhão, que participou nos Jogos Olímpicos de Atenas, mais tarde evoluiu para uma Combined Joint CBRN Defence Task Force para operar com a Força de Resposta da NATO. A rede de Centros de Excelência, que a NATO tem vindo a criar para o estudo dos temas de segurança mais prementes, inclui um a cobrir esta área, instalado na República Checa desde 2007.

A União Europeia tem um percurso semelhante; iniciou-se nestas actividades em Novembro de 2001, com um programa para coordenar e apoiar a preparação dos países membros em termos de saúde pública e de capacidade de resposta perante ataques biológicos e químicos. Subsequentemente, criou um Comité de Segurança na Saúde (Health Security Committee), como órgão de cooperação e coordenação informal na área de riscos para a saúde pública em casos de terrorismo ou uso deliberado de agentes biológicos ou outros.

Para os EUA, o bioterrorismo, aliás como o problema mais geral da proliferação de armamento de destruição maciça, tem claramente prioridade nacional. Embora nem sempre tenha sido assim, três situações no passado recente, desencadearam um alerta especial. A primeira ocorreu na sequência da Guerra do Golfo de 1991 quando os inspectores das Nações Unidas constataram que o Iraque, embora subscritor da Convenção de Armas Biológicas, estava empenhado em constituir capacidades nessa área sem que houvesse conhecimento da dimensão do seu programa; a segunda ocasião foi a do ataque com gás no metropolitano de Tóquio, que levou o Presidente Clinton, um ano depois, a declarar que o combate a esse tipo de capacidades passava a ser a mais elevada prioridade dos EUA; a terceira, veio com o 11 de Setembro, quando ao atentado se associou a possibilidade de utilização paralela destas armas e, logo a seguir, vieram os incidentes com correio contaminado por antrax que mataram 5 pessoas e causaram danos a 17. Desde então mais de 20 mil milhões de dólares foram gastos em investigação e desenvolvimento de meios de protecção para ataques biológicos. Só no Instituto Nacional de Saúde (National Institute of Health) o orçamento para investigação cresceu 3000 vezes por cento de 53 milhões de dólares em 2001 para 1,6 mil milhões em 2008; no Departamento da Defesa, no mesmo período, as verbas atribuídas duplicaram, atingindo mais de mil milhões de dólares em 2008. Os EUA tinham assumido que o bioterrorismo será uma realidade mais tarde ou mais cedo, pondo-se apenas a questão de se saber quando e aonde.

Entre os europeus, como se vem tornando habitual, há diferenças na percepção desta ameaça. Uns acham que os EUA dramatizam a situação e sobreavaliam as ameaças de forma algo paranóica; outros mostram sensibilidade e preocupação activa, mantendo programas de desenvolvimento de medidas de protecção e de sensibilização dos decisores políticos.

A evolução da situação


Como poderá a situação existente evoluir no futuro?

A maior parte dos especialistas mostra apreensão dado o desenvolvimento que a biotecnologia está a ter e a crescente sofisticação das capacidades de manipular formas de vida. Para Gregory Buford, um especialista que ensina na Universidade da Califórnia, o Século 21 será definitivamente o Século Biológico. Esta realidade, as crescentes facilidades de acesso à informação e o aumento do número de empresas e pessoas envolvidas em investigação estão a levantar dificuldades na manutenção de um controlo de segurança com rigor apropriado ao perigo de acesso por parte de organizações terroristas e intromissão para fins ilegais.

Só nos EUA há 1300 firmas ligadas ao sector, o que corresponde a aproximadamente 110000 pessoas envolvidas na utilização e desenvolvimento destas tecnologias. A China, com vários casos lamentáveis de insuficiente atenção à segurança, tem cerca de 200 laboratórios e 20000 pessoas a trabalhar no sector, sabe-se lá sob que condições.

Obviamente, o acesso cada vez mais alargado ao conhecimento tanto pode ser usado para o bem como para o mal. Bruce Ivins, um prestigiado cientista em biotecnologia que tinha responsabilidades de topo na área da investigação em agências estatais americanas, está hoje acusado de ser responsável pelos incidentes com antrax nos EUA em 2001, já atrás referidos.

É um facto que há agentes que é difícil de obter (o da varíola, por exemplo), outros que é difícil desenvolver de forma suficientemente virulenta ou que requerem grande quantidade de material; uns são fáceis de desenvolver mas difíceis de processar sob a forma de arma. No entanto, não obstante esta realidade a acessibilidade a agentes biológicos tem-se tornado mais fácil.

Há mais de 1500 bancos de germes onde se pode comprar agentes; há um caso registado de tentativa de ataque biológico em que o agente foi adquirido por esta via. Há o risco de roubo de agentes em laboratórios ou hospitais; ou da sua obtenção em rogue states ou através de cientistas descontentes.

Entre 1989 e 1992, saíram da Rússia 75000 cientistas e técnicos qualificados, desconhecendo-se o paradeiro de muitos deles; presume-se que vários possam estar a trabalhar para a Coreia do Norte e Irão.

Linhas de acção


Que linha geral de acção deverão os europeus adoptar, Portugal incluído, para encarar estas circunstâncias?

Já vimos atrás que a possibilidade de concretização desta ameaça tornou-se, de facto, crescente e que para ser preocupante nem sequer precisa de ter a dimensão de arma de destruição maciça. No entanto, possibilidades e probabilidades são coisas diferentes. A uma possibilidade crescente não tem necessariamente que corresponder uma probabilidade crescente. Obviamente, o facto de uma determinada ameaça poder ocorrer não é garantia de que se concretizará.

Como devemos reagir num contexto de incerteza e grande dificuldade de prever o futuro? Devemos desenvolver programas de protecção apenas porque existe a possibilidade da ameaça ou em função da sua probabilidade? Até que ponto nos devemos preparar para ameaças de baixa probabilidade, incertas ou ambíguas?

Por outras palavras, onde vamos encontrar o ponto de equilíbrio, num contexto de recursos reduzidos e no meio de muitas prioridades concorrentes? Que linha deveremos adoptar entre o erro crasso que seria ignorar estes riscos, apenas porque a sua probabilidade de ocorrência é desconhecida ou baixa, e a alternativa de devotar-lhes significativos recursos, que poderão pôr em causa a preparação para as ameaças mais “convencionais”, como é o caso, neste contexto, da continuação da utilização de explosivos.

Seguramente, estes continuarão a ser o instrumento que as organizações terroristas conhecem melhor para utilizar como arma, que dominam em todos os seus aspectos técnicos e que, como tal, com toda a probabilidade, continuarão a ser os preferidos.

Portugal não vai encontrar sozinho as respostas às perguntas atrás formuladas. Tem que as procurar num quadro de envolvimento activo em programas de cooperação entre estados mas não sem antes fazer um esforço sério e consistente de verificação das áreas onde possam existir vulnerabilidades, identificando-as e tomando todas as medidas possíveis para as tentar reduzir. Se não o fizer está a adicionar um elemento de risco à situação existente.

As medidas de protecção


Ao contrário do que se possa pensar de imediato, a procura de medidas de protecção não se deve limitar à procura de soluções técnicas, embora tenha que incluí-las. Parte importante das medidas de segurança que temos que implementar passa por participar na formação de um entendimento internacional comum, pela adopção de normas internacionais que previnam o abuso da biotecnologia, promovendo programas de sensibilização, como é o caso deste seminário, e não deixando de considerar a participação nos esforços internacionais de identificação das mais prováveis ameaças e do seu combate na origem, se essa questão se puser.

Nenhum estado conseguirá sozinho desenvolver pesquisa de informações que permitam algum aviso estratégico nem conseguirá reunir todos os meios de combate a uma situação extrema. É por isso indispensável que se desenvolvam padrões comuns de segurança das indústrias de biotecnologia colocando este assunto nas agendas políticas internacionais, tendo em conta que há muitos agentes que são de duplo uso e que é crucial evitar que estes materiais caiam em mãos erradas.

Temos que nos preocuparmos com todos os tipos possíveis de acidentes, quer os deliberadamente provocados para atentar contra a segurança do País ou os que possam envolver o roubo, perda ou uso indevido de agentes biológicos (biosecurity), quer os resultantes de acidentes involuntários ou desastres de exposição inadvertida dos trabalhadores ou ambiente a acidentes biológicos (biosafety).

O risco – é preciso reconhecer – não se encontra apenas em organizações terroristas ou nos países que as permitem; pode ser também interno e tende a crescer, como vimos atrás, em função do desenvolvimento das indústrias de biotecnologia. Não faltam exemplos de falhas de segurança de armazenamento e erros de manipulação levando à exposição de trabalhadores aos agentes com que trabalhavam, nomeadamente nos EUA, que são os que têm em vigor as normas mais rigorosas de segurança.

Dito isto e para concluir, há duas mensagens que gostaria de deixar.

Temos que ter consciência que quaisquer que sejam as ajudas e os mecanismos de cooperação que estejam disponíveis no âmbito das organizações internacionais em que estamos inseridos, a resposta inicial, que neste tipo de casos é a mais importante e decisiva, situa-se sempre no âmbito nacional.

Portugal pode ter a sorte de escapar a alguma vez ser considerado um alvo atractivo de um incidente biológico deliberado mas não escapará certamente a ser um campo de procura ilegal de agentes susceptíveis de serem usados como ameaça biológica se tornar-se notado por não investir cuidadosamente em medidas de segurança das instalações e pessoas que lidam com esses agentes e se não acompanhar e observar o estabelecimento dos padrões de segurança internacional que a situação exige.

 
Texto elaborado com base numa apresentação feita no seminário organizado pelo Instituto de Estudos Superiores Militares e Academia de Ciências de Lisboa, no passado dia 22 de Abril.

Jornal Defesa

 

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André

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« Responder #184 em: Maio 12, 2009, 11:16:18 pm »
Cinco condenados a prisão por planear ataque terrorista em Chicago


Cinco homens de ascendência haitiana foram declarados culpados por planear um ataque bombista contra a torre Sears, o mais conhecido arranha-céus de Chicago. O grupo extremista arrisca agora uma pena de 30 a 70 anos de prisão.

Um tribunal de Miami, na Florida, deu como provado que o grupo desenvolvera contactos com a Al-Qaeda para levar a cabo um atentado terrorista de grandes dimensões em Chicago, e outras acções contra alvos um pouco por todos os Estados Unidos.

Ao terceiro julgamento desde 2006, ano em que sete cidadãos de origem haitiana foram detidos, cinco homens enfrentam agora penas de prisão de até 70 anos, enquanto outros dois suspeitos são declarados inocentes.

O grupo, referido pelas autoridades norte-americanas como 'Liberty City Seven', estava ligado a uma seita religiosa que por sua vez mantinha contactos com grupos extremistas islâmicos que operam nos Estados Unidos.

A leitura da sentença está marcada para 26 de Julho.

SOL

 

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André

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« Responder #185 em: Maio 21, 2009, 11:27:38 am »
Novo golpe no terrorismo islâmico em Espanha


Treze homens foram detidos em Bilbau, no País Basco, sob suspeita de usarem o tráfico de droga e assaltos para financiar as acções terroristas da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico - o grupo que, em 2007, levou à anulação do rali Dakar.

As autoridades espanholas prenderam ontem, em Bilbau, uma dúzia de argelinos e um iraquiano suspeitos de financiarem a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, uma espécie de metamorfose de antigos movimentos jihadistas, como o Grupo Salafista para a Prédica e o Combate, GSPC, argelino.

Os detidos integravam um grupo de crime organizado que está ligado ao tráfico de droga, roubo, falsificação de cartões bancários, assaltos a vivendas... A operação, informam os media espanhóis, foi coordenada por um juiz da Audiência Nacional e é fruto de investigações realizadas nos últimos meses naquela cidade basca.

O ministro do Interior espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba, admitiu aos jornalistas que os detidos são membros de um grupo de crime organizado sobre os quais recai a "suspeita de contribuição" para o financiamento do terrorismo islâmicos internacional.

A Al-Qaeda no Magrebe Islâmico apareceu há dois anos, depois de os islamitas argelinos terem finalmente obtido autorização do número dois da Al-Qaeda, o médico egípcio Ayam al-Zawahiri, para mudarem de nome e serem aceites como filial magrebina do grupo.

Além daquilo que já faziam, atentados em solo argelino, os seus partidários passaram também a dedicar-se aos raptos e aos assassinatos de estrangeiros, conseguindo mesmo levar à anulação do rali Dakar no final de 2007. Turistas franceses tinham sido abatidos a tiro na Mauritânia e o Governo francês resolveu desaconselhar a realização da competição.

A confirmarem-se as suspeitas que estão na origem das detenções ontem feitas em Bilbau, Espanha aparece mais uma vez como centro de actividade jihadista, cinco anos depois dos atentados de 11 de Março em Madrid - que fizeram um total de 191 mortos. Também aqui houve uma conjugação entre o crime organizado e a simpatia pela Al-Qaeda. Alguns dos seus autores eram já suspeitos de ligações a outros atentados, como os de Casablanca em 2003.

Foi também a partir de território espanhol que muitos suicidas foram recrutados com o objectivo de cometer atentados no Iraque. No final do ano passado, a imprensa espanhola indicou que pelo menos uma centena de suicidas que se fizeram explodir em solo iraquiano desde a invasão americana saíram de Espanha. Um deles matou 28 pessoas em Nassíria. A célula terrorista actuava a partir da Catalunha e tinha o nome de 'Os Sem Vício do Ocidente'.

DN

 

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André

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« Responder #186 em: Maio 21, 2009, 07:10:50 pm »
Polícia norte-americana detém quatro suspeitos de terrorismo


Quatro homens foram detidos e acusados na quarta-feira de terem planeado ataques terroristas contra objectivos militares e uma sinagoga em Nova Iorque, anunciou o procurador da cidade em comunicado.

Os quatro homens, todos nascidos nos Estados Unidos, foram detidos "sob acusação de conspiração com vista a provocar explosões perto de uma sinagoga no bairro de Riverdale, no Bronx, em Nova Iorque e disparar sobre aviões militares estacionados na base da Guarda Nacional no Aeroporto de Stewart, em Newburgh, Nova Iorque, com mísseis terra-ar Stinger", precisa o comunicado.

Para obterem essas armas, os detidos, que residiam em Nova Iorque, estiveram em contacto com um informador do FBI (polícia federal), que forneceu ao grupo "um míssil inactivo e explosivos inertes", informaram as autoridades.

Os suspeitos estavam sob vigilância desde o ano passado. Trata-se de James Cromitie, ou Abdul Rahman; David Williams, conhecido também como Daoud ou simplesmente DL; Onta Williams, ou Hamza; e Laguerre Payen, ou Amin ou ainda Almondo.

O comunicado é assinado pelo procurador distrital de Nova Iorque, Lev Dassin, pelo chefe da polícia da cidade, Raymond Kelly e pelo responsável local do FBI.

Os membros do grupo devem comparecer esta quinta-feira no tribunal nova-iorquino de White Plains e arriscam-se a um pena que pode ir de 25 anos a prisão perpétua.

Em Junho de 2008, foi estabelecido um contacto entre um agente do FBI e Cromitie, que se lhe havia queixado da guerra empreendida pelos Estados Unidos no Afeganistão e manifestara "interesse em empreender qualquer coisa contra a América", refere a nota acusatória.

A partir de Outubro do ano passado, o contacto com os quatro prosseguiu com regularidade num imóvel de Nova Iorque onde o FBI havia instalado equipamento de videovigilância.

O grupo "manifestou o desejo" de visar alvos em Nova Iorque e Cromitie pediu ao informador do FBI que lhe fornecesse mísseis guiados terra-ar e explosivos, segundo o gabinete do procurador. As armas e explosivos fornecidos estavam desactivados.

Em Abril, o grupo escolheu uma sinagoga que queria atacar e começou a tirar fotografias a aviões militares.

"Como indica a acusação, os acusados queriam envolver-se em ataques terroristas", disse o procurador Lev Dassin.

O congressista republicano por Nova Iorque Peter King disse à CNN que o ataque teria implicado a explosão de viaturas estacionadas perto da sinagoga.

Segundo King, os quatro são muçulmanos, um deles de origem afegã e outros converteram-se ao Islão quando estavam na cadeia.

DN

 

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André

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« Responder #187 em: Junho 30, 2009, 06:44:15 pm »
EUA renunciam à expressão «guerra contra o terrorismo»


O governo de Barack Obama renunciou à expressão «guerra global contra o terrorismo», porque não descreve propriamente a natureza da ameaça terrorista, segundo a secretária de Segurança Interna, Janet Napolitano.

«Uma das razões pelas quais não utilizamos essa nomenclatura é que a palavra "guerra" refere-se a conflitos entre Estados, e o terrorismo não deriva necessariamente desse tipo de relação», disse Napolitano em entrevista ao jornal britânico Financial Times.

Segundo a funcionária norte-americana, a opinião mais comum na actual Administração é a de que «não deveríamos viver aterrorizados, mas deveríamos falar em termos de preparação e capacidade de resposta e rápida recuperação» contra eventuais ataques terroristas.

Em Março, a Casa Branca negou as informações sobre um memorando interno que proibiria o uso da expressão «guerra contra o terrorismo».

No entanto, o próprio Obama evitou cuidadosamente o uso dessa expressão, que muitos funcionários norte-americanos consideram legalmente problemática e politicamente contraproducente.

Napolitano, que chegou na segunda-feira a Londres, disse que pretende aprender com os seus interlocutores britânicos e de outros países maneiras de minimizar o risco de ataques e melhorar a capacidade de resposta pública a acções terroristas.

A secretária de Segurança Interna também qualificou de exageradas as recentes advertências do ex-vice-presidente americano Dick Cheney sobre o risco de fechar a base de Guantánamo.

Cheney afirmou que a medida aumentaria o risco de atentados terroristas contra os Estados Unidos.

Lusa

 

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« Responder #188 em: Agosto 24, 2009, 10:50:43 am »
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Ex-assessor de Bush diz que alerta contra o terror foi manipulado

De Olivier Knox (AFP) – há 3 dias

WASHINGTON — O ex-chefe do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos Tom Ridge acaba de lançar um livro, no qual acusa altos funcionários do governo do então presidente George W. Bush de o pressionarem para elevar o "alerta contra o terror", para beneficiar Bush nas eleições de 2004.

O então secretário da Defesa Donald Rumsfeld e o procurador geral John Ashcroft pediram que ele elevasse a escala de cores estabelecida para medir a gravidade de ameaças terroristas, mas Ridge se recusou, de acordo com informações sobre o livro divulgadas por sua editora, a Thomas Dunne Books.

"Depois deste episódio, eu sabia que deveria seguir meus planos de deixar o governo federal e ir para o setor privado", conta Ridge, cujo livro é intitulado "The Test of Our Times: America Under Siege ... And How We Can Be Safe Again" ("O teste de nossa época: os Estados Unidos sob cerco ... E como podemos nos tornar seguros de novo", numa tradução livre).

Alguns críticos de George W. Bush acusam seu governo de usar os alertas de terrorismo para desviar a atenção da impopular guerra no Iraque e minimizar os danos políticos causados por ela, mudando o foco do debate para a "guerra contra o terror", que tinha mais apelo entre os americanos.

Ridge, que já foi governador da Pensilvânia, foi o primeiro secretário do departamento de Segurança Nacional, criado pelo Congresso americano como resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro.

Ele afirma também que o conselheiro de Segurança Nacional de Bush na Casa Branca, Fran Townsend, ligou para seu departamento, pouco antes de um discurso que faria no dia 1º de agosto de 2004, para pedir a Ridge que incluísse na fala uma referência a "medidas defensivas (...) longe de casa" - remetendo claramente à guerra no Iraque.

Neste discurso, Ridge disse que o departamento havia elevado o nível de alerta para ameaças terroristas para a área financeira de Nova York, além do norte de Nova Jersey e a capital, Washington, elogiando a liderança exercida por Bush na luta contra o extremismo.

"Os relatórios que levaram a este alerta foram resultado de operações militares e de inteligência ofensivas no exterior, assim como de fortes laços com nossos aliados em todo o mundo, como o Paquistão", indicou Ridge na época.

"Estas operações e alianças nos deram uma visão interna do inimigo, para que pudéssemos então ter alvos mais claros em nossas medidas de defesa aqui e longe de casa", declarou.

Mais tarde, o próprio Ridge admitiu publicamente que a maior parte da informação na qual o novo alerta era baseado havia sido aferida três anos antes, o que deu nova força aos críticos que denunciavam uma manipulação política do alerta por parte do governo Bush.

No livro, Ridge também fala de sua frustração depois que a Casa Branca rejeitou sua sugestão de estabelecer escritórios do departamento de Segurança Nacional nas principais cidades americanas, como Nova York, Los Angeles, Chicago, Washington e - bem antes do furacão Katrina - Nova Orleans.

Além disso, ele afirma ter sido deliberadamente excluído durante as reuniões matinais com Bush, porque o FBI estava escondendo informações dele, e diz jamais ter sido convidado para as reuniões do Conselho de Segurança Nacional.


http://www.google.com/hostednews/afp/ar ... 2aet335Wig
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Lusitano89

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Re: Guerra contra o terrorismo
« Responder #189 em: Dezembro 26, 2009, 08:14:58 pm »
Londres e Nigéria abrem investigação a atentado em avião


A polícia britânica anunciou hoje que está a levar a cabo em Londres diligências relacionadas com o homem que na sexta-feira activou um engenho explosivo durante um voo entre Amesterdão e Detroit (EUA).

«Estamos em contacto com as autoridades norte-americanas e temos investigações em curso em Londres», informou um porta-voz da Scotland Yard, acrescentando que a polícia está a fazer buscas em residências.

Por seu turno, o aeroporto de Madrid-Barajas activou hoje mais apertados procedimentos de segurança nos voos com saída da capital espanhola para os Estados Unidos, após o incidente provocado por um nigeriano que activou um engenho explosivo artesanal num avião com destino a Detroit.

O avião conseguiu aterrar com normalidade no seu destino, mas alguns dos 278 passageiros sofreram igualmente queimaduras de pouca monta.

O autor da tentativa de atentado, Abdul Faruk Abdulmutallab, que afirma pertencer à organização terrorista Al-Qaeda, era estudante de engenharia no University College de Londres e já era conhecido pela polícia britânica, que segundo a BBC estava hoje a investigar um apartamento nas proximidades da universidade.

Também a Nigéria anunciou ter aberto uma investigação sobre o incidente e prometeu colaborar com as autoridades norte-americanas, refere um comunicado divulgado hoje pela sua ministra da Informação, Dora Akunyili.

«O vice-presidente da República Federal da Nigéria, Goodluck Ebele Jonathan, ordenou aos serviços de segurança nigerianos que investiguem o incidente», indica o comunicado, onde se esclarece que já estão em curso medidas para verificar «a identidade do suspeito e as suas motivações».

Por seu lado, a transportadora aérea KLM esclareceu hoje que não teve a seu cargo o controlo de passageiros do voo proveniente da Nigéria com destino a Amesterdão, em que viajou o autor do atentado.

Segundo um porta-voz da KLM, citado pela agência noticiosa ANP, a companhia operava neste caso como simples «transportadora» e o controlo de passageiros dependia da polícia holandesa.

Fonte da polícia citada pela agência indicou que o suspeito chegou a Amesterdão num voo da KLM proveniente de Lagos, na Nigéria, não tendo saído da zona de trânsito do aeroporto de Schipol nem passado pelo posto de controlo de passaportes.

Diário Digital
 

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Lancero

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Re: Guerra contra o terrorismo
« Responder #190 em: Dezembro 28, 2009, 02:16:03 pm »
Para os mais distraídos,

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NYT: U.S. quietly takes terror war to Yemen
Covert front against al-Qaida was opened a year ago, military officers say
By ERIC SCHMITT and ROBERT F. WORTH
The New York Times
updated 8:24 p.m. PT, Sun., Dec . 27, 2009
WASHINGTON - In the midst of two unfinished major wars, the United States has quietly opened a third, largely covert front against Al Qaeda in Yemen.

A year ago, the Central Intelligence Agency sent many field operatives with counterterrorism experience to the country, according a former top agency official. At the same time, some of the most secretive Special Operations commandos have begun training Yemeni security forces in counterterrorism tactics, senior military officers said.

The Pentagon is spending more than $70 million over the next 18 months, and using teams of Special Forces, to train and equip Yemeni military, Interior Ministry and coast guard forces, more than doubling previous military aid levels.

As American investigators sought to corroborate the claims of a 23-year-old Nigerian man that Qaeda leaders in Yemen had trained and equipped him to blow up a Detroit-bound Northwest Airlines jet on Christmas Day, the plot casts a spotlight on the Obama administration’s complicated relationship with Yemen.

Refuge for jihadists
The country has long been a refuge for jihadists, in part because Yemen’s government welcomed returning Islamist fighters who had fought in Afghanistan during the 1980s. The Yemen port of Aden was the site of the audacious bombing of the American destroyer Cole in October 2000 by Qaeda militants, which killed 17 sailors.

But Qaeda militants have made much more focused efforts to build a base in Yemen in recent years, drawing recruits from throughout the region and mounting more frequent attacks on foreign embassies and other targets. The White House is seeking to nurture enduring ties with the government of President Ali Abdullah Saleh and prod him to combat the local Qaeda affiliate, Al Qaeda in the Arabian Peninsula, even as his impoverished country grapples with seemingly intractable internal turmoil.

With fears also growing of a resurgent Islamist extremism in nearby Somalia and East Africa, administration officials and American lawmakers said Yemen could become Al Qaeda’s next operational and training hub, rivaling the lawless tribal areas of Pakistan where the organization’s top leaders operate.

“Yemen now becomes one of the centers of that fight,” said Senator Joseph I. Lieberman, independent of Connecticut and chairman of the Homeland Security and Governmental Affairs Committee, who visited the country in August. “We have a growing presence there, and we have to, of Special Operations, Green Berets, intelligence,” he said on “Fox News Sunday.”

Pivotal point
American and Yemeni officials said that a pivotal point in the relationship was reached in late summer after separate secret visits to Yemen by Gen. David H. Petraeus, the American regional commander, and John O. Brennan, President Obama’s counterterrorism adviser.

President Saleh agreed to expanded overt and covert assistance in response to growing pressure from the United States and Yemen’s neighbors, notably Saudi Arabia, from which many Qaeda operatives had fled to Yemen, as well as a rising threat against the country’s political inner circle, the officials said.


“Yemen’s security problems won’t just stay in Yemen,” said Christopher Boucek, who studies Yemen as an associate at the Carnegie Endowment for International Peace in Washington. “They’re regional problems and they affect Western interests.”

Al Qaeda’s profile in Yemen rose sharply a year ago, when a former Guantánamo Bay detainee from Saudi Arabia, Said Ali al-Shihri, fled to Yemen to join Al Qaeda and appeared in a video posted online. Several other former Guantánamo detainees have also joined the group.

Yemen’s remote areas are notoriously lawless, but the country’s chaos has worsened in the past two years, as the government struggles with an armed rebellion in the northwest and a rising secessionist movement in the south. Yemen is running out of oil, and the government’s dwindling finances have affected its ability to strike Al Qaeda.

Ties to plots against U.S.
Meanwhile, there have been increasing Yemeni ties to plots against the United States. A Muslim man charged in the June 1 killing of a soldier at a recruiting center in a mall in Little Rock, Ark., had traveled to Yemen, prompting a review by the F.B.I. of other domestic extremists who had visited the country.

A radical cleric in Yemen, Anwar al-Awlaki, has been linked to numerous terrorism suspects, including Nidal Malik Hasan, the American Army major who faces murder charges in the shooting deaths of 13 people at Fort Hood, Tex., in November.

In the latest issue of Sada al-Malahim, the Internet magazine of the Qaeda affiliate in Yemen, the group’s leader, Nasser al-Wuhayshi, praised the use of small bombs — not just big ones — to attack an enemy, in an eerie foreshadowing of Friday’s episode on the plane to Detroit.


Yemen escalated its campaign against Al Qaeda with major airstrikes on Dec. 17 and last Thursday that killed more than 60 militants.

American officials have been coy about the role of the United States in the strikes, saying that they have provided intelligence and “firepower” for the efforts.

Yemen’s foreign minister, Abu Bakr al-Qirbi, said Sunday that Yemeni military cooperation with the United States and Saudi Arabia had increased in recent months as fresh intelligence confirmed Al Qaeda’s greater assertiveness in the country.

“There was intelligence that they were targeting the British Embassy and a number of government institutions as well as private schools,” Mr. Qirbi said in a telephone interview. “The second reason is that they have become more vocal, trying to show that they can undertake terrorist activities in an open fashion. So the government had to respond to that.”

Intelligence from U.S.
The recent airstrikes were planned for two or three months, Mr. Qirbi said, but could not take place until there was fresh intelligence about the location of the Qaeda operatives who were the targets.

He called that intelligence — which included information provided by the United States — “the most important element” in the successful strike on the Qaeda members.

Mr. Qirbi added that although the United States provided Yemen with military hardware, the airstrikes were carried out by the Yemeni military alone.

Although the most important intelligence came from the United States and Saudi Arabia, other countries in the region have increased their financial assistance in recent months to help Yemen, said Mustafa Alani, a security analyst at the Gulf Research Center in Dubai. “There was a fear inside and outside Yemen that Al Qaeda was taking new ground, establishing training centers, making some parts of Yemen no-go areas,” Mr. Alani said. The United Arab Emirates and Kuwait in particular provided assistance, he said, because “they feel that sooner or later they will become targets too.”

In the past year, Al Qaeda has killed six intelligence officers in the provinces where it is based, part of an unmistakable campaign by the group to secure its sanctuary there, Mr. Alani said. The intelligence officers were trying to gather information on the group, and to disrupt its growing links with local tribes — a significant part of its strategy, Mr. Alani added.

The airstrikes of the past two weeks have been successful, but have come at a price, Yemeni officials said. “They have been hit hard, but they have not yet been disabled,” said one high-ranking Yemeni official, who spoke on condition of anonymity because of the diplomatic issues involved. “The problem is that the involvement of the United States creates sympathy for Al Qaeda. The cooperation is necessary — but there is no doubt that it has an effect for the common man. He sympathizes with Al Qaeda.”

As if to reaffirm that message, Al Qaeda’s Yemeni affiliate released a statement to Internet sites on Sunday that put strong emphasis on the American role in the recent raids, deriding the Yemeni government for claiming responsibility.

Eric Schmitt reported from Washington, and Robert F. Worth from Beirut, Lebanon.

This article, U.S. Quietly Takes Terror War to Yemen, a Qaeda Stronghold, first appeared in The New York Times.


Copyright © 2009 The New York Times
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

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Re: Guerra contra o terrorismo
« Responder #191 em: Dezembro 28, 2009, 06:20:03 pm »
Iémen prende 29 suspeitos da Al Qaeda em ataque surpresa


O Iémen prendeu 29 suspeitos da Al Qaeda após um ataque surpresa ao grupo que visava prevenir contra ataques a instalações de petróleo e interesses estrangeiros, inclusivamente a embaixada britânica, disse o chefe de segurança nacional, Ali Mohammad al Ansi.

A presença da Al Qaeda no Iémen tem crescido no último ano, e o governo de Washington já anunciou que o nigeriano Umar Farouk Abdulmatallab, 23 anos -que tentou explodir um avião norte-americano no dia do Natal - alegou ter tido ajuda de militantes do grupo no país árabe.

Ansi afirmou, em texto no site do Ministério da Defesa, que a Al Qaeda teria planeado ataques a instituições governamentais iemenitas e à Embaixada britânica em Sanaa.

«Até agora, 29 pessoas foram detidas e as autoridades ainda estão a investigar e perseguir o resto dos terroristas», disse.

Ansi não comentou a tentativa de explodir o avião norte-americano no Natal, episódio que voltou as atenções para o Iémen.

Abdulmatallab, acusado de tentar explodir um avião da Delta Airlines, supostamente tem ligações com o país.

Em interrogatório realizado pelos EUA, alegou que agentes secretos da rede Al Qaeda no Iémen lhe deram um dispositivo explosivo e o treinaram para o detonar.

O Iémen já realizou dois ataques-surpresa à Al Qaeda neste mês. Na semana passada, mais de 30 membros da rede foram mortos num ataque aéreo surpresa.

Entre os mortos estavam os dois principais líderes da Al Qaeda na Península Arábica e um norte-americano, ligado a um homem que matou 13 pessoas numa base militar dos EUA.

O ataque anterior, a 17 de Dezembro, matou cerca de 30 supostos militantes na Província oriental de Abyan e em Arhab, a nordeste de Sanaa, segundo o governo.

Os Estados Unidos e a Arábia Saudita, que faz fronteira com o Iémen, temem que a Al Qaeda use a instabilidade no país para realizar ataques na região, a maior exportadora de petróleo do mundo.

Diário Digital
 

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Re: Guerra contra o terrorismo
« Responder #192 em: Dezembro 29, 2009, 07:51:07 pm »
Terrorista transportava pó explosivo nas cuecas


Umar Farouk Abdulmutallab escondeu numa bolsa cozida à mão, no interior das cuecas, o pó explosivo com o qual tentou levar a cabo um atentado num voo da Northwest Airlines, subsidiária da Delta Airlines, que ligou Amesterdão, na Holanda, a Detroit, nos EUA.

O jovem nigeriano, de 23 anos, conseguiu ultrapassar as barreiras de segurança no aeroporto de Amesterdão e, no dia de Natal, entrou no voo 253 da Northwest Airlines, que transportava 289 pessoas a bordo. Vinte minutos antes da aterragem, Umar Farouk Abdulmutallab tentou detonar um pó explosivo, mas falhou a detonação e acabou por provocar um incêndio. O homem foi de imediato imobilizado e as chamas apagadas por outros passageiros. O nigeriano ficou com ferimentos profundos.

Umar Farouk Abdulmutallab disse ter adquirido no Iémen os explosivos e o treino para a sua utilização, junto da Al-Qaeda local. O nigeriano já se encontrava referenciado nas listas de potenciais terroristas, elaboradas pelos serviços de informação norte-americanos, e a própria Al-Qaeda da Península Arábica, que lamentou a “falha técnica” que impediu o atentado.

Fotos tiradas pelo FBI (Federal Bureau of Investigation), e divulgadas hoje pela ABC News, mostram que Umar Farouk Abdulmutallab ultrapassou as barreiras de segurança transportando 76 gramas de pó nas cuecas. As fotos mostram uma bolsa cosida manualmente, no interior das cuecas, na área situada por entre as pernas.

Alegados mentores estiveram em Guantánamo

Ainda de acordo com a ABC News, dois dos quatro membros da Al Qaeda suspeitos de terem sido os mentores desta tentativa de atentado estiveram detidos em Guantánamo. Segundo o DepartAmento de Defesa dos EUA, Muhamad Attik al-Harbi e Said Ali Shari foram enviados para a Arábia Saudita, em Novembro de 2007, para cumprirem um programa de reabilitação, através de terapia de arte, e foram depois libertados.

DN
 

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Re: Guerra contra o terrorismo
« Responder #193 em: Dezembro 29, 2009, 11:42:47 pm »
Os erros dos serviços secretos são "inaceitáveis" diz Obama




Barack Obama considerou hoje que que houve “erros” no sistema dos serviços de secretos e que estes quase custaram 300 vidas.

O Presidente dos Estados Unidos classificou como “inaceitáveis” as falhas na segurança que permitiram a Umar Faruk, um nigeriano, entrar num avião da Delta-Northwest Airlines no passado dia 25. Obama disse ainda que os Estados Unidos precisam "aprender com este episódio e emendar as falhas do sistema."

É a seguna vez que Obama, de férias no Hawai, fala sobre a tentativa de atentado do nigeriano.

O presidente dos Estados Unidos disse ainda que Umar nunca deveria ter entrado num avião depois de haver suspeitas sobre os seus comportamentos extremistas.

Ontem, Obama ordenou a revisão e o alargamento das medidas de segurança no país.

"Não descansaremos até acharmos todos os envolvidos no ataque. Esta é uma séria recordação dos riscos que corremos e daqueles que ameaçam a nossa casa", afirmou ontem, em declaração ao país.

"O ataque poderia ter matado quase 300 civis e tripulantes, civis inocentes que queriam celebrar as festas com seus familiares", salientou.

A organização terrorista Al-Qaeda reivindicou ontem a tentativa de atentado, alegadamente como vingança pelas agressões contra si levadas a cabo por Washington no Iémen.

De acordo com um comunicado publicado na Internet por uma divisão regional da rede, o passageiro terrorista, identificado como Umar Faruk al-Nigiri, estava na posse de um "artefacto tecnologicamente avançado", mas, devido a "falha técnica", o explosivo não detonou.

Na sua declaração, Obama não se referiu expressamente ao comunicado da organização terrorista, mas afirmou ter acompanhado a situação através do secretário de Justiça, Eric Holder, da secretária de Segurança Interna, Janet Napolitano, e dos seus próprios conselheiros de Segurança.

Obama ordenou ainda que fossem revistas e alargadas as medidas de segurança no país "para proteger todos os passageiros" e pediu propostas de reforço do sistema e que se determine a falha que permitiu que o terrorista transitasse em aeroportos e entrasse no avião com explosivos.

A polícia federal norte-americana recebeu ordens para colaborar na investigação e aceder aos aviões que deixam e chegam aos Estados Unidos.

"São passos imediatos para garantir que todos os aviões tenham segurança e aterrem em condições de segurança", afirmou Obama.

Umar Faruk Abdul Mutallab, de 23 anos, constava da lista norte-americana de suspeitos de actos terroristas, que tem cerca de 500 mil nomes, mas não no grupo dos que são monitorizados, facto a que o presidente norte-americano também aludiu na sua intervenção.

"É importante prevenir futuros ataques e rever a lista de suspeitos de terrorismo para que não entrem nos Estados Unidos", disse.

Obama salientou ainda a sua determinação no combate a grupos terroristas no estrangeiro. "Aqueles que matam os nossos cidadãos devem saber que não só fortaleceremos a segurança nacional, mas o combate aos terroristas no Afeganistão, na Somália e onde quer que estejam aqueles planeando contra a nossa segurança e a sociedade que valorizamos", afirmou.

A reivindicação do braço da rede terrorista na Península Arábica contraria a versão inicial dos investigadores de que o nigeriano Umar Faruk Abdul Mutallab agiu sozinho na tentativa de fazer explodir o voo 253 da Delta-Northwest Airlines, quando sobrevoava a cidade norte-americana de Detroit, no último dia 25.

O comunicado foi divulgado junto com uma foto de Abdul Mutallab, que é descrito pela Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) como "irmão nigeriano".

Afirma ainda que o terrorista destruiu o "grande mito" da inteligência americana, ao ultrapassar todas as barreiras de segurança. O nigeriano terá embarcado com visto norte-americano válido.

Ionline
 

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Re: Guerra contra o terrorismo
« Responder #194 em: Janeiro 05, 2010, 10:47:38 am »
Terrorista que matou agentes da CIA era agente duplo


O terrorista que matou sete agentes da CIA no Afeganistão, na semana passada, era um informador jordano que os conduziu para uma armadilha com a promessa de lhes entregar dados sobre a Al-Qaeda, revelou na segunda-feira o The Washington Post.

Segundo o diário, que atribui a revelação a fontes do governo norte-americano, o homem trabalhava no leste do Afeganistão há várias semanas e tinha fornecido informações secretas valiosas.

Identificado como Humam Khalil Abu-Mulai al-Balawi, o bombista suicida fez-se explodir na base Chapman da Agência Central de Inteligência (CIA), matando também um agente jordano encarregado de trabalhar com ele, disseram as fontes, segundo o jornal.

O homem, que entrou na base numa viatura com explosivos, não foi aparentemente sujeito a controlo, assinalou uma das fontes que pediu para não ser identificada, uma vez que o caso continua sob investigação.

«Era alguém que trabalhava connosco», acrescentou.

Por seu turno, o jornal The New York Times noticiou que o homem tinha sido levado para o Afeganistão para apoiar na detenção de destacados membros da Al-Quaeda.

O informador tinha sido detido na Jordânia e recrutado pelos serviços secretos jordanos na convicção de que poderia infiltrar-se na Al-Qaeda, acrescenta o diário, que atribuiu a informação a fontes ocidentais em Islamabad (Paquistão).

Segundo as fontes do diário de Nova Iorque, o homem não foi controlado à entrada da base porque o agente jordano que morreu na explosão o identificou como informador.

Diário Digital