« Responder #103 em: Janeiro 18, 2008, 03:16:28 pm »
ONU muito preocupada com possíveis actos terroristas na África Ocidental A ONU está "seriamente preocupada" com possíveis ligações entre as organizações de traficantes e alegados rebeldes ou grupos terroristas que operam na zona do Sahel oeste-africano, sublinhando a necessidade de a questão ser analisada de forma "cautelosa".
A partir de Dakar, e numa entrevista telefónica à Agência Lusa, Antonio Mazzitelli, director do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (ONUDC), com sede na capital senegalesa, lembrou que a questão está a ser alvo de análise cuidadosa há cerca de três anos.
"Estamos, de facto, muito preocupados, com as possíveis ligações entre as organizações de traficantes e alegados rebeldes ou grupos terroristas que operam no território do Sahel", sublinhou Mazzitelli, admitindo a possibilidade de a África Ocidental ser já "apetecível" para os grupos terroristas.
A região do Sahel inclui o Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger, Nigéria, Chade, Sudão e Eritreia.
No entanto, Antonio Mazzitelli fez questão de salientar que, para as Nações Unidas, "não há ainda uma definição sobre o que é o terrorismo", mas sim sobre "actos terroristas", admitindo, porém, que as "fragilidades" da grande maioria dos Estados da África Ocidental possam abrir-lhe as portas.
"Não podemos ser inclusivos em relação aos criminosos e às redes de criminosos. A ONU tem dito que a África Ocidental tem sido exposta a uma onda de expansão do crime organizado transnacional", realçou.
"A droga é a mais evidente e provavelmente a mais lucrativa actividade, mas existem outras evidências que têm subido. Por exemplo, a emigração clandestina, é organizada e criminosa", recordou Mazzitelli.
Antonio Mazzitelli recordou também a "invenção" de um método fraudulento de obter dinheiro, através de cartas e de mensagens por correio electrónico na Internet, que "nasceu" nalguns países da África Ocidental.
"Isso provém das redes da África Ocidental. Foram elas que inventaram e continuam a implementar as fraudes na Internet, a contrafacção, o tráfico de armas e a exploração dos recursos naturais", explicou.
"E pode haver redes terroristas. Porque não? Se estes criminosos acham apetecível a África Ocidental, também os terroristas em fuga a podem achar apetecível", frisou Mazzitelli.
No seu entender, porém, antes de serem terroristas, essas pessoas são, antes de mais, "criminosos".
"Matam. E mataram quatro pessoas na Mauritânia. Provavelmente mataram para roubar, por dinheiro. Não podem ser um objectivo político por matarem quatro turistas. São, em primeiro lugar criminosos", sustentou.
Por essa razão, na África Ocidental, acrescentou, poderá falar-se da existência de "crime organizado transnacional que poderá recorrer a tácticas terroristas".
Mas questionou se as acções dos movimentos rebeldes que lutam pela secessão nos deltas da Nigéria e do Níger, e mesmo no assassínio de quatro turistas franceses na Mauritânia, são fruto do terrorismo ou se não passam de "actos terroristas".
A questão do terrorismo na África Ocidental, até aqui pouco ou nada referenciada publicamente, talvez inédito na região, surgiu na sequência do assassínio, a 24 de Dezembro último, de quatro turistas franceses por um grupo de cidadãos mauritanos.
Dois dos membros desse grupo foram posteriormente detidos em Bissau, numa operação em que participaram também os serviços secretos franceses, e, segundo as autoridades policiais guineenses, além de terem confessado os crimes, afirmaram pertencer a um grupo terrorista com ligações à Al Qaeda.
No fim-de-semana, os dois mauritanos foram extraditados para a Mauritânia, onde ainda aguardam julgamento.
Quinta-feira, um terceiro elemento do grupo, em fuga, foi entretanto detido.
Lusa