Postei um texto no orkut a muito tempo atrás que tratava desse assunto. Li um livro e o autor tinha esse mesmo raciocínio, e eu o adotei. Vou postá-lo aqui, talvez sirva para algo.
O nazismo como um movimento de direita.
A narrativa fundamental em que se baseia a história da Alemanha Nazista é o conflito entre as forças incluídas nos cabeçalhos de ''esquerda política'' e ''direita política''. Alguns vão discordar do ressuscitamento de uma distinção esquerda-direita, que muitos pós-modernistas preferem relegar à lata do lixo da história. Em uma era em que duas das mais radicais ideológicas do século XX - o fascismo e o comunismo - dissolveram-se na ignomínia, a distinção pode não parecer mais útil. Estamos todos agora no centro, parece ser o argumento, e quaisquer que sejam as diferenças por nós admitidas, não podem ser compreendidas de uma forma proveitosa em termos de ''esquerda'' e ''direita''. Com toda certeza, alguns críticos da distinção esquerda-direita estão ativamente comprometidos com as políticas de direita. Para eles, a desvalorização da distinção entre esquerda e direita é um meio de neutralizar o desafio reformador da esquerda.
Os tempos no final do século XX não parecem propícios para essa iniciativa conservadora. A desilusão pós-moderna com o progresso moderno, para não mencionar o golpe desferido contra a esquerda pelo aparente eclipse do marxismo, ajudou a embaçar a imagem da esquerda ''progressista''. Mas esses termos, ''esquerda'' e ''direita'', conservam sua utilidade, não apenas como instrumentos descritivos e analíticos para os historiadores, mas também na política cotidiana. A preocupação com a preservação do meio ambiente, por exemplo, pode ser partilhada hoje por esquerda e direita, mas ainda há diferenças cruciais entre as soluções da esquerda e direita, para esses outros problemas. Qual é a natureza dessas diferenças? A diferença essencial entre esquerda e direita está na atitude em relação à igualdade humana como um ideal social. Quanto mais uma pessoa julga que a igualdade absoluta entre todas as pessoas é uma condição desejável, mais para a esquerda estará situada no espectro ideológico. Quanto mais uma pessoa considera que a desigualdade é inevitável ou até desejável, mais para direita estará situada. Nos pontos mais extremados desse espectro estão as pessoas ou movimentos capazes de qualquer coisa para alcançarem seu ideal utópico: na esquerda, a utopia igualitária, em que os fracos e os fortes partilham igualmente os benefícios de sua sociedade; na direita, o desigualitarismo e antiutopia, em que os fortes recebem os benefícios que lhes são devidos em virtude de sua superioridade natural, enquanto os fracos, por mais insidiosamente que sejam definidos, são dispensáveis, privados e excluídos.
Embora os movimentos de esquerda, historicamente, tenham defendido a emancipação do governo opressivo como meio de alcançar maior igualdade, enquanto os movimentos de direita pregam as formas hierárquicas tradicionais de autoridade, a distinção entre esquerda e direita não é equivalente à distinção entre liberdade e autoridade. De fato, a extrema esquerda favorece os meios autoritários como o caminho ideal para se criar uma sociedade igualitária. Os regimes comunistas do século XX têm demonstrado que objetivos igualitários e meios autoritários não se excluem mutuamente. Por outro lado, alguns movimentos libertários, propondo uma liberdade individual total, pertencem à direita do espectro, porque seu supremo objetivo é a sociedade em que a desigualdade é encarada como inevitável e aceita de forma calorosa.
Parte da confusão esquerda-direita é hoje decorrente do fato de que os ''conservadores'' se opõem ao ''governo grande'' (e os ''liberais'' de nossos dias são defendidos como defensores do governo grande). A defesa da liberdade individual pelos conservadores parece situá-los junto aos defensores da emancipação na esquerda, mas os objetivos são diferentes; e, em última análise, são os objetivos que se tornam decisivos para a localização no contínuo esquerda-direita. O objetivo dos conservadores nas sociedades liberais de hoje é restringir o poder do governo para promover uma igualdade maior, através dos programas de assistência social e outros meios. Ao procurarem limitar os poderes sociais (não militares) do governo e e defender o sistema, os atuais conservadores são na verdade liberais antiquados, mais próximos dos liberais do século XIX do que dos conservadores desse mesmo período na Europa continental, que defendiam o estado monárquico forte. É a essa última tradição conservadora que o nazismo e o fascismo são relacionados.
Nas sociedades liberais, como os EUA e a Europa Ocidental, hoje em dia, a maioria das pessoas, inclusive muitas que se intitulam conservadoras, situam-se em algum ponto próximo do centro espectro político. São a favor da liberdade e da igualdade social. Infelizmente, em algum momento, é claro, esses dois valores devem conflitar. Aqueles que optam pela igualdade se descobrem mais para a esquerda do que aqueles que optam pela liberdade à custa da igualdade. As distinções entre esquerda e direita, como não podia deixar de ser, são de modelos do tipo ideal, úteis para a análise. Não correspondem necessariamente, em todos os detalhes, a uma realidade contraditória, em que as pessoas podem defender uma posição de esquerda em uma questão e ter uma opinião de direita em outro problema.
Obviamente, a distinção esquerda-direita é também muito diferente da distinção entre moderado e extremista. Há moderados e extremistas nos dois lados da divisória. Os extremistas são sempre autoritários, intolerantes e coletivistas, em geral propensos a fraude e violência. Essas características não são monopólios da esquerda ou da direita, mas sim marcas registradas dos dois extremos. Os extremistas não podem permitir o desvio de ou a oposição do seu ideal desejado, quer seja igualitário ou desigualitário, que a liberdade individual acarretaria. E desejam impor seu ideal a todos os outros. Se não procurassem fazer isso, não seriam considerados extremistas.
O século XX foi um século de extremos. O comunismo na esquerda e o fascismo na direita partilham muitas características. Na teoria do totalitarismo, que readquiriu uma vida nova na década de 90, são tratados como essencialmente iguais. Os ideais procurados, no entanto, são fundamentalmente opostos. Os comunistas, em última análise, queriam criar uma utopia igualitária que abrangesse o mundo inteiro, os fascistas procuravam uma utopia baseada na igualdade natural e desejável entre pessoas, nações e raças. Os comunistas tendiam a atrair as pessoas que tinham alguma coisa a ganhar de uma igualdade maior(daí seu apelo para os trabalhadores carentes de bens), enquanto o fascismo tendia a atrair as pessoas que tinham alguma coisa a perder com a implementação rigorosa do princípio igualitário (daí seu apelo desproporcional para as classes médias, inclusive trabalhadores donos de propriedades). Em suas políticas sociais, o comunismo vitimiva os ricos, os bem-sucedidos e as classes mais altas, de uma forma desproporcional, o fascismo vitimava os pobres, os ''desajustados'' e os que eram considerados raças ''inferiores'', de uma forma desproporcional. Os defensores de cada sistema encaravam os adeptos do outro sistema como seus piores inimigos, lutando contra eles com unhas e dentes.