Acho que desconhecem um pouco a história espanhola antes do inicio da guerra civil.
A situação já em 1906, não estava famosa e tropas que deveriam embarcar para Marrocos , sublevaram-se e incendiaram diversas igrejas em Barcelona.
Nos anos 20, greves , principalmente em Barcelona, pistoleiros matavam os donos das empresas ou sindicalistas, dependia de quem estavam a soldo.
Gaia -> Não evidentemente nenhum probema sobre o entendimento da História espanhola, há isso sim muita hipocrisia e má intenção na análise que se faz dessa mesma história.
Você aliás confirma que os problemas do anti-clericalismo existiam muito antes da implantação da república espanhola em Abril de 1931.
Uma das maiores distorções a que assistimos, é à insistência de não interpretar as razões desse anti-clericalismo.
Elas estão directamente ligadas à participação activa das estruturas da igreja na defesa daquilo que uma parte da Espanha (que por conveniência chamo de Castela, porque é das elites castelhanas que falamos) considera ser a Nação Espanhola.
Ora, não existe nenhuma Nação Espanhola!
O que existe é uma visão distorcida do nacionalismo castelhano, que acredita que a Espanha foi feita à imagem do seu próprio país. sendo que todo ele deve ser espanhol e portanto castelhano por natureza. Isso explica que a cultura castelhana tivesse sido promovida como a verdadeira cultura espanhola pelo Franco já depois da guerra.
Porque se persegue a Igreja ?
O problema está relacionado com o que eu disse anteriormente. Para os espanhóis não castelhanos, a igreja católica era vista como um dos pilares do regime, um dos pilares dessa falsa Espanha que muitos cidadãos desse país, por não serem castelhanos, viam (e milhões ainda vêm) como estranha.
O problema é que as tensões entre as várias "espanhas" (que existem pelo menos desde que os Bourbon centralistas franceses tomaram o poder em 1700) coincidiram com um periodo de mudanças radicais em toda a Europa, em que movimentos extremistas tentavam tomar o poder, fossem os extremistas nazistas, fossem os extremistas comunistas.
A Espanha, com todas as suas contradições resultado das tensões entre nacionalidades, acabou por ser terreno fertil para uma guerra entre esquerda e direita. Esse terreno fértil resultou das questões nacionalistas, como na Alemanha resultou do descalabro económico, da hiperinflação e do desemprego.
No entanto o que mantenho foi que, para lá das guerras entre esquerdas e direitas, a motivação principal para os extremistas espanhóis não foi a questão religiosa, não foi qualquer questão entre direita e esquerda, foi acima de tudo o facto de essas tensões minarem e colocarem em causa a periclitante unidade da Espanha.
Ou seja: Colocam em causa a ideia que os castelhanos criaram da Espanha como estado unitário e conservador católico. A igreja católica, também precisa da Espanha Una Grande y Libre, para manter o seu poder. Os nazistas em Espanha, são o aliado natural de uma igreja, que se fundou e se fortaleceu sempre com o apoio do poder, da repressão e do terror. É a igreja que inventou a inquisição. Para os cardeais criminosos, o nazismo de Franco, representou nada mais nada menos que a volta da Santa Inquisição, que abençoava os Autos de Fé.
É por isso, que como abençoava a queima de judeus ou de infiéis nos Autos de Fé, a Igreja Católica espanhola abençoou o assassínio em massa dos que se opunham à Sagrada Espanha Imperial.
Quando logo no inicio de 1936 é divulgada a participação da Igreja Católica nos massacres contra camponeses, as tensões chegam ao rubro. A igreja que até ali era vista como um aliado do Status Quo, passou a ser vista como um participante activo nos massacres. A Igreja passou a estar ao lado dos rebeldes e passou a ser um simbolo dos golpistas, como simbolo da unidade espanhola, sob o signo do crucifixo.
É por por tudo isso que a guerra civil tem na sua origem mais profunda razões que se entendem à sombra do nacionalismo extremista dos castelhanos, o que leva a concluir, que tanto na Espanha quanto na Alemanha, a defesa do REICH, ou o Império, é a razão principal que faz mover toda a engrenagem.
É portanto o Nacionalismo Castelhano, ou Nazismo - se quisermos colocar as coisas em pratos limpos - que está na origem da guerra civil.
Logo, como Hitler, Franco foi um ditador nazista.
Os crimes, o terror, os campos de concentração, a violação de cadáveres, o assassinato de crianças, o bombardeamento de cidades para testar as teorias nazis sobre o terror como arma de guerra, são apenas realidades acessórias, que comprovam tudo o que afirmei acima.
No entanto, podemos todos dormir mais descansados, se acreditarmos que o Franco era apenas um conservador católico, que até nem mandava nada. Essa foi a imagem que os americanos criaram depois da visita de Eisenhower, para justificar perante a opinião pública, o apoio ao regime de Francisco Franco.
O nazismo espanhol foi desinfectado pelos americanos, e transformado num regime de direita autocrático. Quem quiser acreditar na desinfecção que acredite.
Eu, não.