Caro JNSA, eu não gosto de fulanizar as questões, mas de qualquer forma, uma vez que você apresenta razões pessoais, permita-me tecer alguns comentarios relativamente ao que disse, que espero não sejam mal interpretados, porque são apenas a minha opinião, que decorre da minha interpretação do que você escreveu:
O que é confrangedor é saber que existem pessoas capazes de defender este tipo de ideologias e de ditadores num país Europeu no Século XXI. E é igualmente triste pensar que não são uma minoria assim tão pequena no seio da população portuguesa.
Eu entendo a sua posição, mas deixe-me dizer que considero que é a posição tradicional, defendida por um sector da sociedade portuguesa, que se considera dono da verdade, e nega ao “povo” o direito de se expressar.
Para uma parte dessa sociedade, normalmente com inspiração nas ideias da revolução francesa, (inspiração teórica, claro) que são defendidas por parte das elites portuguesas, que normalmente se consideram a elite esclarecida - a mesma elite que em 1910 tomou o poder - o país deveria ser governado pelas cabeças pensantes, negando ao povo (a maioria da população) o direito de decidir (É por isso que a seguir a 1910 a República retirou o direito de voto aos analfabetos).
O que o JNSA nos parece explicar, é de alguma forma a posição dessa corrente que se sente acima dos restantes, porque eventualmente terá ou achará que tem um nível cultural que lhe permite olhar de cima para baixo para os pobres terraqueos, estúpidos por natureza e com uma total falta de capacidade para pensar, falta de capacidade essa que justifica o facto de se lhe negar o direito à cidadania.
Demonstra irritação, afirmando a sua indignação por haver pessoas que pensam de maneira diferente, porque acha que, tendo estudado os clássicos, conseguiria explicar facilmente quais as razões pelas quais o “povão” está errado.
E evidentemente que, uma vez que acha que o “Povão” é estúpido, prefere nem sequer entrar em dialogo, porque não lhe reconhece capacidade para entender os seus argumentos.
A sua seguinte afirmação, é para mim prova do que digo:
Todo este tipo de características de personalidade deveria ter desaparecido numa sociedade avançada e bem formada. Infelizmente, nos últimos tempos, pessoas assim parecem ser tudo menos uma minoria
Ou seja:
A população esclarecida (a tal elite que julga que é elite), considera que aquela gente nem devia existir.
O povo deveria ser uma massa de pessoas bem formadas e avançadas, de forma a que os membros do povo pudessem atingir a condição de cidadãos (Evidentemente estou-me a referir à tradição clássica greco-romana que distingue cidadão de homem, e que em grande medida está na base do pensamento maçonico do século XIX, em que o homem culto é um cidadão, quando o que não tem cultura, não tem direito à cidadania).
Não se importando com as razões históricas, politicas e sociais que explicam os comportamentos, limita-se a afirmar que não está de acordo com os argumentos apresentados e pronto, está o caso arrumado.
E pessoas assim não mudam de opinião em fóruns de internet (...)O problema é que sei de antemão a futilidade de tentar contra-argumentar
Aqui, acho que o seu raciocinio tem um erro:
Num fórum como este, são muito mais as pessoas que não falam que as que falam.
O facto de você não conseguir convencer o autor de uma opinião com a qual discorda, não quer dizer que não convença as outras pessoas que também leram.
Se a sua argumentação for boa, outros ficarão convencidos, ou pelo menos ficarão na dúvida.
Mas na maioria dos casos, as pessoas não o vão dizer.
A única coisa que posso dizer, é que não dizer nada, implica aceitar o que outrém disse. E nesse caso, as pessoas que vêm as argumentações, não vão ver nenhuma contra-argumentação, e isso é para mim o pior.
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Garanto-lhe que tal argumento, do ponto de vista jurídico, não colhe. São inerentes ou imanentes aos direitos as suas restrições e limitações. Tal como lhes é inerente uma graduação de intensidade, do núcleo indisponível (ou quase) até à periferia.
Esta é uma das mais deliciosas afirmações já proferidas neste fórum (daquelas que eu li).
Trata-se de produzir uma afirmação que, tendo explicação e razão de ser, é imperceptível para parte das pessoas, e eventualmente impossível de entender para outras.
A elite, apresenta assim perante o “povão” as razões que lhe assistem, para justificar o seu direito a ascender desde a condição de homem à condição de Cidadão.
Fica assim justificada indirectamente a validade e bondade dos seus pontos de vista, não pela qualidade ou bondade da argumentação (que é inexistente) mas sim pela qualidade semântica das frases, extremamente bem construídas, segundo as regras aceites e previamente estabelecidas, ou seja, uma espécie de código, que permite à elite entender-se, entender a realidade (a sua) e mais uma vez justificar a justeza das suas posições, sem ter que apresentar um único argumento.
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Permita-me, meu caro JNSA, de aqui debaixo da minha condição de setubalense arrogante e “ingnorante”, dizer-lhe que, a liberdade é e tem que ser um valor absoluto e irrestrito.
Irrestrito, porque é um principio fundador em que se estabelecem as bases da civilização.
O ser Humano é por natureza livre, e colocar barreiras à liberdade é contrário à natureza.
Eu não digo evidentemente, que a Liberdade não tenha regras balizadoras, o que afirmo é que não pode ter barreiras estanques, ou proibições.
A frase que nos coloca, poderia ter sido perfeitamente escrita por Salazar.
Bastaria ver a argumentação desenvolvida pelo próprio Salazar, para justificar a existência da censura prévia.
A censura é necessária para evitar o boato, argumentava o ditador, porque o boato era uma deturpação do direito à liberdade.
Caro JNSA, considerando o que nos escreveu acima naquela deliciosa frase, até eu poderia concluir que você é um aprumado defensor do antigo regime.
O mundo não é branco nem preto, é cinzento, e se não podemos endeusar ditadores ou revolucionários também não temos o direito de, por nos considerarmos donos da verdade, achar que os outros “pobres coitados” não têm razão porque não passam de homens, que nunca poderão ascender à condição de cidadãos.
Cumprimentos