Carnegie Mellon está a desenvolver veículo militar com sistema de voo autónomoSe daqui a uns tempos olhar para o céu e vir carros a voar, não estranhe! Não se trata ainda de uma realidade vulgar, mas este conceito, cada vez menos futurista, foi adoptado pelo governo norte-americano que, com a ajuda do Instituto de Robótica da Carnegie Mellon University (CMU) e outras cinco entidades, quer conceber o "veículo TX - Transformer Program", um equipamento militar, que dispõe de um sistema de voo autónomo e que pode ser "pilotado" por leigos em aviação.
"Tecnicamente, o "carro voador" é um veículo aéreo que pode transitar por ruas e estradas", disse ao
Ciência Hoje Marcel Bergerman, um dos engenheiros envolvidos no projecto, acrescentando que a "ideia do governo norte-americano é que este possa ser operado por soldados sem treino como pilotos", pelo que "deve ter inteligência suficiente para voar de forma segura e eficiente". Segundo as previsões da Agência de Projectos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA) dos Estados Unidos, este novo equipamento poderá vir a ter a capacidade para transportar quatro pessoas e meia tonelada de carga num percurso de 250 milhas marítimas, por terra e ar. Além disso, a sua grande mobilidade vai permitir-lhe fazer movimentos menos previsíveis e adequar-se a um conjunto alargado de missões, como observação, vigilância, reposição, fornecimento ou evacuação médica.
CMU vai desenvolver "inteligência" do veículoA viabilidade de um veículo militar adquirir capacidade aérea (VTOL – vertical-take-off-and-landing) ainda está a ser estudada pela equipa de investigadores responsável pelo projecto. Enquanto as empresas norte-americanas AAI e Lockheed Martin foram contratadas para projectar e construí-lo, a CMU vai desenvolver a sua "inteligência", referiu Marcel Bergerman.
Esta passa por sistemas de percepção e planeamento de voo que vão permitir a este carro obter informações a seu respeito e daquilo que o rodeia; projectar trajectórias seguras, como o desvio de obstáculos (edifícios, torres, terreno, outros aviões e helicópteros, etc.); avaliar áreas de aterragem e automatizar a descolagem e o processo inverso.
O investigador contou ainda que a CMU, em parceria com a empresa Honeywell, está a desenvolver um "interface humano-máquina" próprio para o veículo TX. "Este interface leva em conta o facto de que os soldados a bordo podem fornecer informações de alto nível - por exemplo, "não pouse ali porque o terreno não parece firme" -, o que representa um desafio do ponto de vista da "conversação" entre os soldados e o veículo", explicou.
Para a concepção dos sistemas de percepção e planeamento deste "carro voador", a Carnegie Mellon vai partir da sua base de projectos bem sucedidos na área de veículos robóticos aéreos, em que se incluem “laser scanners” de alta precisão para mapeamento tridimensional do mundo e determinação de zonas seguras para pouso e algoritmos de planeamento óptimo de voo, que evitam automaticamente colisões.
Projecto pronto no final do anoEste projecto está ainda numa fase inicial em que as várias partes estão a realizar estudos de viabilidade e protótipos dos vários elementos do "veículo TX". Quanto à CMU, já foi construído um simulador de voo que pode ser testado com com vários sistemas de percepção (principalmente laser scanners) e de planeamento.
"Até ao final do ano, teremos um projecto pronto do que serão os módulos de inteligência e de interface humano-máquina ideais" para este equipamento, adiantou o investigador brasileiro da CMU, acrescentando que, a partir daí, vai proceder-se à fase de construção e de teste do protótipo, que deverá incorporar um número limitado de elementos do projecto final.
Caso estes testes sejam bem-sucedidos, o governo dos EUA irá financiar "a construção do veículo de campo, o último passo antes do lançamento do TX como um produto real a ser usado pelas forças armadas americanas", afirmou ainda o engenheiro, para quem é "um prazer e um desafio enorme" participar num trabalho desta envergadura.
Na sua opinião, este é apenas um primeiro passo para que, no futuro, este tipo de veículos faça parte do quotidiano de toda a gente. "Carros voadores já existem e podem ser comprados hoje", realçou. Acrescentou também que esta realidade tem de ser bem programada, pois, para além dos desafios técnicos que se podem antever, há a questão da gestão do espaço aéreo , ou seja, "a criação de 'ruas' e 'estradas' aéreas" e a coordenação de "milhões e milhões de veículos" a voar sobre as cidades.
Porém, o especialista não baixa as expectativas e mantém-se optimista, afirmando ao
Ciência Hoje: "Eu tenho confiança na genialidade humana e creio que estas questões serão resolvidas de forma apropriada".
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