Super Tucano pode chegar em 2025 e reforçar aposta da Embraer em Portugal
Empresa brasileira defende que se o A29 Super Tucano for adotado pela Força Aérea trará um forte valor acrescentado para a economia e para o cluster da aviaçãoEmpresa brasileira defende que se o A29 Super Tucano for adotado pela Força Aérea trará um forte valor acrescentado para a economia e para o cluster da aviaçãoNuno Fox
Se Portugal adotar o A29 Super Tucano para a Força Aérea portuguesa pode ter um efeito multiplicador para economia, como aconteceu com KC-390N, defende Frederico Lemos, administrador do grupo brasileiro para a área internacional. Faz sentido a Embraer Defesa ter presença firme na Europa através de Portugal, considera o gestor
25 julho 2024
Anabela Campos
Jornalista
Vinte anos após ter entrado em Portugal, através da privatização da OGMA, a Embraer ganha balanço para um novo projeto com dimensão: a venda do A29 Super Tucano à Força Aérea portuguesa, negócio que pode abrir as portas da NATO à aeronave brasileira e reforçar a área da manutenção do grupo em Alverca. No início do mês foi dado mais um passo para que isso aconteça, com a resolução de Conselho de Ministros de 4 de julho, onde foi dada luz verde para que as negociações da Defesa com a Embraer começassem, dando seguimento a um memorando de entendimento assinado em abril de 2023 entre o então primeiro-ministro, António Costa, e o presidente do Brasil, Lula da Silva.
O entusiasmo é grande. “Estamos muito satisfeitos com a possibilidade da seleção do A29 Super Tucano para endereçar as necessidades da Força Aérea portuguesa, nomeadamente na formação e treino de pilotos. O A29 é uma aeronave com provas dadas, está em operações em 16 Forças Aéreas, com 216 aeronaves”, sublinha Frederico Lemos, administrador para o negócio internacional da Embraer Defesa & Segurança, em entrevista ao Expresso. Vivemos um momento na defesa mundial onde há uma grande necessidade de pilotos nas forças aéreas, salienta. “O A29 é uma ótima plataforma para o fazer, e com baixo custo de operação”, defende.
“A compra do Super Tucano permitiria aprofundar as competências da OGMA na manutenção”“Se o Estado português optar pelo A29 será o primeiro país da NATO a fazê-lo”, avança o gestor, defendendo que Portugal poderá percorrer um caminho semelhante ao que fez com o KC390, uma aeronave com mais de 600 mil horas de engenharia portuguesa, e que ajuda a alimentar um ecossistema aeronáutico que tem crescido no país. “A escolha do A29 traria um grande valor e potencial para a economia e engenharia portuguesas já que permitirá criar camadas de capacidade de interoperabilidade entre os sistemas NATO, que passariam a ser aqui desenvolvidas”, explica. “Portugal poderá ajudar o A29 a posicionar-se junto de outros países NATO. Queremos multiplicar o que foi feito com o KC390", assegura o gestor, engenheiro aeronáutico, e antigo quadro da OGMA.
O A29 é uma aeronave que já foi contratada pelos Estados Unidos (onde há uma linha de produção do Super Tucano, estando a outra no Brasil), mas apenas para operações em países terceiros, fora do espaço da NATO. A sua adoção dentro do espaço da aliança transatlântica desencadearia, segundo Frederico Lemos, um processo virtuoso, já que obrigaria ao desenvolvimento de novos sistemas e à adaptação da plataforma, com a colaboração de fornecedores portugueses.
A primeira aeronave poderia chegar a Portugal em 2025, estima Frederico Lemos. Quantos A29 poderá o país comprar é uma questão em aberto, cuja resposta dependerá das negociações da Embraer com o Ministério da Defesa português.
Dar força à manutençãoA compra do Super Tucano permitiria aprofundar as competências da OGMA na área da manutenção, avança o gestor. A Embraer, afirma, tem estado a investir nessa área no campus de Alverca, onde é já feita a manutenção de aeronaves militares e civis de vários países e várias companhias, sendo a manutenção uma parte relevante do negócio da OGMA, sublinha. E tem imenso potencial já que a Embraer estima que possa haver mais 500 aeronaves A29 a voar nos próximos 20 anos.
“A parte da manutenção é muito importante. No ciclo de vida das aeronaves há o momento da aquisição, o da operação e o do suporte. E as aeronaves militares têm vidas bem mais longas do que as comerciais. É normal ficarem em operação mais de 30 anos”, esclarece. “Já capacitamos a OGMA para fazer a manutenção do A29”, revela. Mais: o único centro de manutenção do A29 da Embraer fora do Brasil, se o projeto avançar, será na OGMA.
Portugal poderá ser o “centro de gravidade” para esta aeronave na Europa, África e Médio Oriente, considera. E a aliança entre Portugal e a Embraer pode dar mais um passo em frente, avança Frederico Lemos. “Faz sentido a Embraer Defesa ter uma presença mais firme aqui na região e por que não Portugal servir de plataforma para essa presença mais robusta, com engenharia e com pessoas? Esse é um caminho que nós queremos traçar o mais brevemente possível, e estabelecer essa entidade aqui em Portugal”, reforça.
NÚMEROS500 milhões de euros foi quanto a Embraer investiu em Portugal desde a privatização da OGMA, em 2004
10 milhões de euros é o que representa para Portugal em exportações cada KC390 vendido pela Embraer600 mil horas de engenharia portuguesa foram aplicadas no KC390. Uma adaptação do A29 para servir forças da NATO teria um impacto semelhante
https://expresso.pt/economia/empresas/2024-07-25-super-tucano-pode-chegar-em-2025-e-reforcar-aposta-da-embraer-em-portugal-0097e0f8