Quando os argumentos começam a falhar, e o pânico instaura-se, vem sempre aquela última tentativa desesperada do 8 ou 80 como "ou compramos ST, ou não compramos nada".
No mundo real, e fora de birras, em vez de irmos adquirir um meio específico apenas para um tipo de missão internacional, adquiríamos meios (neste caso de combate) que sirvam para virtualmente qualquer missão internacional que surja. Mas o conceito de versatilidade deve ser muito complicado de perceber, e então é preferível ter meios para TOs específicos, porque somos ricos.
Na minha opinião faz sentido quem defende F35, continuar a defender uma evolução para os 346 e P8. Bem como os Black Hawk e bem armados. Se é para ter dinheiro e evolução tecnológica seja, agora vamos poupar nos ST para helis e Pilatus e depois torra-se tudo no F35? Mas já se aceita o P3? Para mim é algo confuso até porque aos custos de uma frota de F35, aquisição e uso é caro e segundo consta a disponibilidade não é a melhor.
Já reparaste que a conversa vai sempre ter ao F-35?
Mas eu explico o raciocínio. Forças Armadas fazem-se de equilíbrios. Poupa-se onde dá para poupar, e investe-se forte onde tem que ser. Ora, para um país NATO, e que tenha interesse em garantir minimamente a sua própria soberania, faz mais sentido investir forte num bom caça e num bom MPA (idealmente os melhores disponíveis no mercado), do que investir forte num meio que não tem valor estratégico, e será comprado apenas para uma missão.
Não podemos, de maneira alguma, tentar ter o mesmo nível de investimento em todos os sectores das FA, querendo o melhor do mundo em todas as unidades. Não podemos atirar para cima da mesma "então se tens dinheiro para comprar F-35, também tens que ter dinheiro para comprar X, Y e Z".
Vai haver casos, em que podes adquirir um meio mais barato para determinada unidade, para permitir ter margem financeira para ter um meio melhor noutra. E aqui há que definir prioridades, onde é que se justifica ter um meio mais caro "topo de gama" e onde se pode ter algo mais barato e/ou em segunda-mão.
Vai haver casos em que se aceita ter uma solução mais barata, e noutros casos em que não se aceita. No caso do F-35, sem ser a modernização de parte da frota de F-16 para V, não existe outra solução "barata" (daí que a tese mais defendida, passa por modernizar os PA I para V a curto prazo, e substituir os restantes em 2035 por F-35). Daí que se aceita também a compra dos P-3 alemães para permitir estender a vida dos nossos até mais perto de 2040, o que em teoria abriria espaço para outros programas até lá. Também se aceita os UH-60 como hélis de evacuação em segunda-mão, porque um helicóptero equivalente novo, seria extremamente caro.
No que toca a aeronaves de treino, e visto que ISR e CAS pode ser feito com outros meios que serão/podem ser adquiridos paralelamente, devia ser feito um concurso, em que ganhasse a melhor aeronave na relação preço-qualidade, sem ter o critério COIN à mistura, que só complica e torna o programa estupidamente caro.
Com isto terias a opção de aeronaves de treino avançado a hélice ou a jacto. A jacto são melhores, mas num país que não arranja 300 milhões que seja para modernizar os F-16, não faz sentido gastar 400/500 milhões numa aeronave de treino topo de gama, reduzindo-se as opções a turboprop, e que cumprem a missão suficientemente bem.
Pelo que se tem visto no mercado internacional, o PC-21 é a melhor opção, e não tem um custo exagerado. Com esta escolha, além de se poupar dinheiro face a um treinador a jacto ou a um treinador que faça COIN, pode-se investir um pouco mais em unidades extra, e substitui-se também os TB-30, permitindo à FAP simplificar a logística.
Entretanto, é preciso relembrar que o custo dos ST virados para COIN, não se limita ao custo da compra da aeronave. Implica:
-centenas ou milhares de horas de voo para ter pilotos formados e certificados para a missão de combate em causa, específicos a esta aeronave
-obriga a formação de pessoal de terra extra para que a esquadra seja capaz de enviar para FND para sustentar as aeronaves destacadas, sem perder capacidade de manter as aeronaves em território nacional
-implica investimento em armamento específico para a aeronave, armamento esse que terá que ser adquirido em quantidade suficiente para as missões e ainda para ministrar treino aos pilotos que as vão executar
-implica que se arranjem pilotos dedicados a COIN nos ST, não se sabendo onde vão arranjar esses pilotos, e a ver vamos se não são retirados das esquadras de F-16*
*mas se calhar é mesmo esse o objectivo. Compram o Super Tucas - absorvem parte dos pilotos de F-16 - deixa de ser necessário "tantos" F-16 - vendem parte dos F-16 - os Super Tucas como aeronaves de ataque ao solo tomam o lugar dos F-16 da 301.
Oxalá tal nunca aconteça.