Já agora e a título de curiosidade, já que tanta gente parece tão desinformada sobre o assunto, a referencia que o Cruz Silva faz ao marechal Spinola em termos de estratégia, terá a ver com a visão que foi delineada por ele ainda durante o governo de Marcelo Caetano.
Tentando resumir ao máximo (e correndo o risco de más interpretações), o que Spinola defendia em 1972 - 1973 era a completa revisão da politica ultramarina, que passaria pela propria transformação de Portugal, de um Estado Unitário, para uma República Federal, que seria constituido por regiões de autonomia alargada.
Desta forma alteravam-se as proprias relações de poder entre os vários estados dentro da federação.
Se a ideia de Spinola teria pernas para andar, dentro da realidade da década de 1970, com a pressão da União Soviética, não há como saber.
Costuma-se dizer que todos os regimes autoritários, quando se tentam modernizar ficam essencialmente mais fracos.
A primavera marcelista teria sido segundo muitos prova acabada disto.
No entanto, o país, não estava já a responder adequadamente ao que eram as necessidades de uma guerra que se estava a eternizar.
Por outro lado, só mais de uma década depois do inicio da guerra, é que as forças armadas portuguesas começavam a ter meios e armas capazes de responder ao conflito africano [1].
Não sabemos qual seria a reação dos países europeus a esta realidade e os países nórdicos dificilmente deixariam de nos criticar fortemente. Mas a transformação do estado provavelmente passaria por uma abertura e eleições livres, o que também poderia alterar a aceitação de Portugal em termos internacionais.
Marcelo Caetano, recebeu o livro para ler poucos dias antes de começar a ser distribuido, e quando tentou evitar a sua divulgação era demasiado tarde.
[1 - ]Só para dar uma ideia, as Chaimites eram vistas como uma ameaça ao PAIGC, porque davam uma capacidade grande às tropas para se libertarem de rios e estradas.
Coisas simples como os Aviocar, permitiam desembarcar um pelotão em Angola, cortando as longas linhas de abastecimento das forças do MPLA e da FNLA. Na Zambia, a PIDE tinha com sucesso desarticulado parte dos apoios ao MPLA, nomeadamente financiando movimentos contrarios ao governo do país.
Depois da guerra do Yom Kippur, Portugal conseguia finalmente obter mísseis anti-aéreos americanos, que poderiam evitar a perda do controlo dos ares na Guiné, caso a Guiné Konakry permitisse a utilização dos MiG-17 sobre a Guiné portuguesa.