Decidi colocar este post aqui, porque na realidade não diz especificamente respeito à fragatas da classe Vasco da Gama, sendo muito mais genérico.
Por isso, para não desvirtuar o outro tópico...
Deixem-me ser chato ...
Portugal tem capacidade para operar à vontade 5 fragatas, ou até mesmo 6. Este é o mesmo país, que nos anos 90, tinha 4 João Belo, 3 Vasco da Gama, 10 Corvetas e uns quantos Cacine
Quando em 1991 as Vasco da Gama foram incorporadas, o numero de alunos no ensino superior era de 187.000, 20% da população em idade escolar
(menos se considerarmos os anos anteriores, já que o pessoal da fragata tem que ser formado e treinado)
Os navios a serem adquiridos vão encontrar uma população no ensino superior que atingirá os 450.000 (mais de 50% da população em idade escolar)
Isto é um bom sinal, mas ao mesmo tempo significa que as aspirações dos jovens são mais elevadas e que para os contratar, vai ser necessário dispender muito, muito, muito mais dinheiro...
Logo aqui, temos um custo adicional dificil de comportar...
Para complicar as coisas, uma Playstation hoje, tem mais capacidade total de processamento de dados que todos os navios da marinha portuguesa juntos, em 1990
São mundos diferentes e 40 anos (1990 - 2030) alteram de forma dramática um país.
Os quesitos em termos de pessoal com formação superior não têm nem de perto nem de longe comparação, como não têm comparação com os requisitos em termos de pessoal com formação média.
É quase como comparar a formação de marinheiros na Sagres, a aprender técnicas de navegação à vela com os simuladores que em ambiente virtual, são utilizados pelos americanos para formar pessoal para os seus navios.
Há mais de 20 anos atrás, os americanos gastaram rios de tinta para mostrar que os novos navios para o século XXI implicavam necessidades de formação para os quais a US Navy não estava preparada.
A somar a um estratosférico aumento nos custos com pessoal, para os convencer a ir para a tropa e para os convencer a ficar na tropa, há o disparatado aumento nos custos dos navios, mas mais que isso, um desconcertante aumento nos custos de manutenção da miriade de equipamentos que os navios têm que ter a bordo. Ao fim de um ano, os custos para manter um navio de guerra operacional podem ir de 10 a 15% do seu valor de aquisição (isto pode baixar se os navios forem pouco utilizados, mas aumenta em marinhas com alto grau de prontidão).
Off Topic ---
Isto faz-me lembrar a década de 1950, em que os generais portugueses diziam orgulhosamente que a nação tinha toda a capacidade para preparar até 10 divisões para os padrões NATO, considerando a população portuguesa e o que o país tinha feito durante a I guerra mundial.
Os portugueses olhavam apenas para o número de divisões, mas no entender dos americanos não se tinham apercebido das exigências tecnológicas, que em 1950 eram já completamente diferentes das de 1945 (para não falar das de 1939)
Portugal afirma que tem capacidade para preparar 11 divisões. Dez de infantaria e uma blindada até 1954. Os oficiais aceitam os padrões NATO mas querem manter a capacidade para manter as seculares tradições da infantaria portuguesa (ou seja, meter o bedelho e meter dinheiro ao bolso).
Quando os equipamentos americanos começam a chegar, a falta de pessoal com treino e os custos começam a mostrar-se incomportáveis.
Portugal vai baixando as expectativas, mas passado o prazo previsto pelos americanos, Portugal não conseguiu formar nem uma única divisão. De 10 na teoria passámos para zero na prática.
Os comentários que aqui faço, estão relacionados com a realidade dos equipamentos em conjugação com um olhar para a história das forças armadas portuguesas. O país é o mesmo e a mentalidade, pelo menos nesta questão de gostar de aparecer bem nas estatísticas, também.
A única forma de sair deste beco-sem-saida, desta tradição de não aceitar a realidade e fingir que somos uma grande potência - como a Grécia (que me atrevo a dizer que em caso de guerra tinha que afundar as fragatas Kortenaer nas praias das ilhas gregas para elas terem alguma capacidade militar) - é colocar os pés no chão.
Há uma estrutura, gerida por pessoas que estão a olhar para a carreira, para a reforma, para o número de caminhos disponíveis para promoções e aumento de salários não quer alterações, não quer revoluções, não quer mudar nada, absolutamente nada.
O resultado está à vista...
Navios canibalizados, verbas desviadas de aqui para ali, tentativas de dourar a pílula e um imobilismo que é infelizmente uma característica destas instituições há muitas, muitas décadas.
Ou mudamos, para uma força militar pequena mas bem equipada, ou os pequenos escandalos vão apodrecendo a estrutura e dentro de alguns anos, vamos ter deputados no parlamento a dizer que se a marinha não serve para nada, é melhor acabar com ela e colocar a GNR a controlar a ZEE.
Espero estar enganado.