"Parece que há por aí cristãos com casos de consciência por causa do Ultramar, preocupados com a salvação das suas almas, pondo as mãos em atitudes devotas ou espetando o dedo a proferir sentenças de moral...
Que bom é ser moralista...
Que bom, no romance da sua casa, antes ou depois do jantar dizer como as coisas devem correr para tudo ficar no melhor dos mundos...
Que bom, poder resolver os problemas de consciência com algumas sentenças ambíguas, praticanto gestos inconsequentes, ou fazendo prédicas e orações...
Mas os governantes também têm problemas de consciência.
Se amanhã, por fraqueza ou por errada visão de quem governa, suceder em África que milhares de famílias percam os seus lares, as mulheres a sua honra, as pessoas as suas vidas, a desolação, a ruína e a morte se espalharem onde hoje reina a paz e floresce o progresso, será aos devotos pacifistas que as vitímas e a Nação inteira pedirão responsabilidades e clamarão justiça!
(...)
Sobre os ombros de quem governa pesa a responsabilidade do Ultramar Português.
Defendê-lo contra os perturbadores da sua paz importa sacrificíos.
É verdade.
Resta saber, se renunciar a essa defesa não importará sacrificíos e prejuízos bem mais graves e bem maiores, para cada um dos Portugueses e para a Nação!
Eu por mim não aconselharei a renúncia.
E convencido de que vale a pena lutar, continuarei ao lado dos meus concidadãos e ao serviço da minha Pátria, com a mesma energia e firmeza que desde o primeiro tenho posto no honroso mandato que me foi conferido e no qual sempre fui acompanhado pelo confiante apoio do povo português"
Marcello Caetano