"Georgia em risco de acabar enquanto Estado"
O presidente da Geórgia, Mikheïl Saakachvili, considera que existe a possibilidade real do fim do Estado em razão do conflito com a Rússia. O conflito por causa da Ossétia do Sul ameaça, também, as relações entre norte-americanos e russos, embora Moscovo se apresse a dizer que não quer malbaratar o bom relacionamento com Washington.
“A existência do Estado da Geórgia está ameaçada”, disse Mikheïl Saakachvili, numa comunicação ao país feita pela televisão. “Todos estes bombardeamentos têm por objectivo instalar o pânico”, acrescentou.
“A Georgia quer a paz, nada mais”, disse Saakachvili. Fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros georgianos são citadas nas agências internacionais como disponíveis para negociar com a Rússia um fim do conflito.
Mas, Moscovo, dizem igualmente as agências internacionais, não está disposta a sentar-se à mesa com Tiblisi, acusando os georgianos de faltar à verdade quando dizem que já retiraram todas as tropas do território independentista pró-russo da Ossétia do Sul.
O aviso dos Estados Unidos
Os apelos para o fim dos combates na Geórgia e as chamadas de atenção dirigidas à Rússia multiplicam-se, com a Casa Branca a avisar Moscovo de que o prosseguimento de "uma escalada desproporcionada e perigosa" terá consequências.
"Vincámos claramente aos russos que, se continuarem com esta escalada desproporcionada e perigosa, isso terá um impacto importante nas relações russo-americanas a longo prazo", disse o Conselheiro Nacional Adjunto para a Segurança, James F. Jeffrey, que acompanha o presidente George W. Bush em Pequim.
Bush falou por telefone com o homólogo francês Nicolas Sarkozy, que dirige actualmente também a União Europeia. Segundo a Casa Branca, os dois presidentes "estão de acordo, de uma forma geral", sobre este assunto "e mais precisamente sobre os três pontos seguintes: a necessidade de um cessar-fogo, a necessidade do fim das actividades militares e a necessidade de respeitar a integridade territorial georgiana".
Severa chamada de atenção da União Europeia
A severa chamada de atenção de Washington seguiu de perto uma outra da União Europeia, que preveniu Moscovo sábado à noite de que um prosseguimento das suas operações militares no território georgiano "afectaria" a respectiva relação.
A UE proclamou "com força o seu apoio à soberania e à integridade territorial da Georgia", enquanto o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, estimava que a soberania georgiana sobre a Ossetia do Sul tinha recebido "um golpe mortal".
O chefe da diplomacia francesa, Bernard Kouchner, apelou hoje ao "fim da matança" na Geórgia, por ocasião de uma reunião de crise, antes de partir para Tbilissi e Moscovo em missão de mediação.
"Vamos tentar parar esta matança, propondo o fim dos combates, a retirada das tropas de um lado e doutro até às linhas que foram estabelecidas pela comunidade internacional", declarou Kouchner à cadeia de televisão francesa TF1.
Apelos do Papa a António Guterres
A Polónia estimou que a UE deveria encarregar-se de uma missão de estabilização no Cáucaso do Sul e afirmou-se pronta para participar activamente numa missão como esta, segundo o chefe da diplomacia de Varsóvia, Radoslaw Sikorski.
Em Berlim, a chanceler Angela Merkel apelou a um "cessar-fogo imediatamente e incondicional" no Cáucaso, durante uma conversa telefónica com o presidente francês Nicolas Sarkozy, e insistiu igualmente na preservação da integridade territorial da Geórgia.
Também o secretário-geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer, lamentou "o uso desproporcionado da força na Geórgia", reiterando um apelo "imediato" ao cessar-fogo.
O papa Bento XVI também desejou "o fim imediato das operações militares" e convidou a comunidade internacional e os "países mais influentes" a fazer "todos os esforços" para chegar a "uma solução pacífica e durável".
O Alto-comissário para os Refugiados, António Guterres, apelou hoje às partes em conflito para permitirem às agências de ajuda humanitária o acesso aos refugiados civis.
Numerosos países como o Reino Unido, Alemanha, Itália e Polónia alertaram os seus nacionais para a situação na Ossétia do Sul e apelaram a quem se encontra no território para o abandonar.
JN