Governo indiano está preocupado com avanço dos talibãs
O governo indiano está preocupado com o avanço dos talibãs em território paquistanês, mas não pode fazer muito para alterar a situação, lamentou a analista indiana Radha Kumar.
Directora do Nelson Mandela Centre for Peace and Conflict Resolution da Universidade Jamia Millia, em Nova Deli, Radha Kumar esteve em Portugal para participar nas Conferências do Estoril, que terminaram sábado.
A propósito dos combates entre o exército paquistanês e os talibãs no vale do Swat, na Fronteira Noroeste, e do facto de os rebeldes já terem chegado a 100 quilómetros de Islamabad, a investigadora comentou que «o governo indiano já se preocupa há muito, muito tempo».
«Sentimo-nos como Cassandras (profetisa da mitologia grega) totalmente frustrados. Observamos a situação desde 1996/97 (início do regime talibã no Afeganistão) e dizemos que este é o perigo e tem crescido e o nosso poder para fazer alguma coisa é tão limitado» , lamentou.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) anunciou hoje que pelo menos 360 mil habitantes fugiram nos últimos 10 dias daqueles combates no vale de Swat, capturado há dois anos por talibãs ligados à Al-Qaeda.
Em meados de Fevereiro, Islamabad assinou um acordo de paz, segundo o qual aceitava um cessar-fogo em troca da instauração, em Swat e em outros seis distritos, de tribunais islâmicos.
Mas os rebeldes não só não depuseram as armas como aproveitaram o cessar-fogo para ganhar terreno, capturando Dir Inferior e Buner, a uma centena de quilómetros de Islamabad.
Radha Kumar referiu que a Associação para a Cooperação Regional no Sul da Ásia (SAARC na sigla em inglês), criada em 1985 pelo Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka e a que o Afeganistão aderiu em 2007, se limita aos assuntos económicos e comerciais.
Na mesma altura em que aderiu ao SAARC, o «Afeganistão concordou com uma iniciativa regional do sul da Ásia contra o terrorismo, mas é um acordo no papel, ainda não temos cooperação», explicou.
«Agora temos de ver se conseguimos pôr substância nesse acordo. Se conseguíssemos cooperação regional contra o terrorismo estaríamos a construir os alicerces para a SAARC se tornar uma séria organização de paz, assim como de comércio» , disse ainda a analista indiana que coordena o programa sobre Paz e Conflitos do Delhi Policy Group.
«Mas isso só acontecerá se os Estados Unidos e a Europa pressionarem o Paquistão para permitir que isso aconteça» , salientou Radha Kumar.
Lusa