Atentado desfaz estratégia ocidental para a região Por vezes, o crime compensa, e
os maiores beneficiários da morte de Benazir Bhutto
serão os islamitas que desejavam o seu desaparecimento. Os partidos radicais, agrupados na coligação Muttahida Majlis-e-Amal (MMA) têm o campo aberto para um bom resultado nas legislativas, dia 8 de Janeiro. Os perdedores são todos os outros: do Presidente Pervez Musharraf ao partido de Benazir, mas também Nawaz Sharif e, de forma indirecta, os Estados Unidos.
A morte de Benazir Bhutto torna o Paquistão muito mais instável. A rede terrorista ligada à Al-Qaeda mostra notável eficácia, a ponto de impedir uma solução política para a crise em que o país se continua a afundar. Além disso, a líder do Partido do Povo Paquistanês (PPP) foi assassinada em Rawalpindi, no centro do poder militar nacional.
O Ocidente tem fortes razões para preocupação. A estratégia ocidental passava pela contenção dos grupos fundamentalistas e pela estabilização de um sistema democrático. A aliança entre Benazir e o Presidente Musharraf, concebida antes do regresso de Benazir do exílio, em Outubro, foi apoiada pelos EUA e era o pilar central dessa estratégia.
O acordo de partilha de poder tinha diversas vantagens: fornecia um mínimo de estabilidade e facilitava a transição da ditadura militar para a democracia: Musharraf teria de largar a farda e organizar eleições livres. Nos últimos meses, houve comportamentos contraditórios, foi decretado o estado de emergência durante oito semanas, mas alcançar a meta parecia possível.
Benazir era alvo prioritário para a Al-Qaeda e os talibãs e as autoridades paquistanesas não a protegeram.
Todos os analistas afirmam que as forças de segurança, sobretudo os poderosos serviços de informação (ISI), estão infiltrados por radicais.
Musharraf tem agora nas mãos um país ainda mais perigoso. O seu partido, Liga Muçulmana do Paquistão, Quaid-e-Azam (PML-Q) surge nas sondagens com 23% de intenções de voto. No que respeita à distribuição do poder, o Presidente parece ter a faca e o queijo na mão, estando à beira de vencer as legislativas.
No entanto, depois deste assassinato, qualquer vitória sua será manchada por uma sombra de ilegitimidade. Musharraf abandonou a chefia do exército (Estado dentro do Estado), que entregou a um fiel adjunto, Ashfaq Kayani,
mas a paciência dos militares é uma incógnita adicional na equação.
O partido do Presidente, PML-Q, está no poder, mas falta-lhe a máquina política dos partidos de oposição. Muitos dos seus dirigentes viam com maus olhos a aliança entre Musharraf e Benazir, que lhes retiraria muito do actual acesso ao poder.
Num único golpe, o partido de Benazir foi decapitado e tem duas saídas possíveis: boicotar as eleições (o que a sua líder nunca quis) ou seguir com a estratégia inicial e apoiar Musharraf, se conseguir vencer a votação. Em 2002, o PPP obteve 25% dos votos, mas havia indícios recentes de erosão eleitoral, mesmo com esta chefia carismática. Sem liderança, as suas hipóteses são escassas.
A Liga Muçulmana, facção de Nawaz Sharif (PML-N) também fica em posição complicada. Em 2002, teve apenas 11 %, embora essas eleições fossem manipuladas contra a sua formação. Há sondagens que dão ao PML-N mais do que ao partido de Musharraf, rondando um quarto do eleitorado. Mas a rivalidade com o Presidente impede qualquer hipótese de acesso ao poder. Por isso, o partido ponderou não comparecer nas urnas, recuando após a recusa de Benazir Bhutto em apoiar um boicote.
Se os partidos democráticos ficarem fora do Governo e o Presidente for incapaz de estabelecer a sua legitimidade,
os únicos vencedores serão os islamitas.
Fortes nas regiões tribais e nas zonas de maioria Pastune ou Baluche, os partidos do MMA (por exemplo, a Jamiat Ulema-e-Islam, JUI-F, do maulana Fazlur Rehman) têm laços tribais e políticos com os talibãs afegãos.
Para além do MMA, os maiores beneficiários deste assassinato político são os extremistas ligados ao terrorismo islâmico. Foi nestes meios ultra-radicais que nasceu e cresceu a Al-Qaeda, com a cumplicidade dos serviços de informação paquistaneses, os secretos vencedores.DN-------------------------------------------------------------------------------------
Continuo a achar que este artigo diz quase tudo sobre o que se passou no Paquistão, e o que se vai passar, mesmo, quando depois se vem dizer que foi a Al-Qaeda a perpetrar o atentado.
O poder vai cair nas mãos nos radicais... e vão ... ter acesso as bombas "antónias"!
Nos últimos anos tem-se perdido tempo na busca das ditas de destruição "maçia" no Iraque, como não encontraram viraram-se para o Irão.
E entretanto "dormiram na sopa", e...
Vamos ter um 2008 muito animado...
Espero estar enganado! porque a ter razão... vai correr sangue, e muito...