Israel vs Hezbollah no Libano

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typhonman

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« Responder #510 em: Agosto 13, 2006, 11:44:25 pm »
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Shimon Peres ao EXPRESSO
Irão pode ter organizado o ataque do Hezbollah a Israel
(versão integral)
Henrique Cymerman, correspondente em Telavive
 
Um dia depois do governo iraniano dizer «não» à proposta negocial apresentada pelo «chefe» da diplomacia europeia, Javier Solana, o Hezbollah atacou Israel. A coincidência leva Shimon Peres a concluir que o Irão esteve envolvido no ataque ao seu país, para desviar a atenção da crise nuclear.
 
 

sexta-feira , 28 JUL 06
 
 
     
 
 
 
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Moshe Milner/REUTERS
«É POSSÍVEL que o ataque do Hezbollah contra Israel tenha sido organizado pelo Irão para desviar a atenção da comunidade internacional do tema nuclear. O Irão disse que não a Javier Solana a 11 de Julho e o Hezbollah agrediu Israel a 12 de Julho. Esta coincidência de datas deixa em aberto algumas perguntas», afirmou numa entrevista exclusiva o vice-primeiro-ministro israelita Shimon Peres.
E acrescentou: «É um quarteto de terror composto por dois Estados: o Irão e a Síria, por um país em processo de criação, o Hamas, e por um estado dentro de um Estado, o Hezbollah. Se eles atacarem Israel, temos que nos defender. Não temos que pedir permissão. Mas há dois Estados que constituem um perigo para a paz mundial. O Irão é uma ameaça, não apenas pelo terrorismo mas também pela sua ambição nuclear».
Para Peres, «não é que o Irão seja um país muito forte. O Irão aumentou a sua população nos últimos 15 anos, mas o que realmente aumentou foi a pobreza, cerca de 20% estão no desemprego, há muita criminalidade e gente que sofre. Além disso, o Irão não é um país assim tão homogéneo, apenas 54 por cento são persas».
O antigo líder trabalhista considerou ainda que o o Irão não atacou Israel, mas «o futuro da paz em todo o mundo. Esperamos que enquanto lutamos contra o Hamas e o Hezbollah, o mundo se ocupe do Irão».
Quanto à Síria, Shimon Peres afirmou que ela tem «um jogo duplo: diz pertencer ao eixo que luta contra o terror, quando albergam os líderes do Hamas em Damasco e transferem armas para o Hezbollah. Bombardeámos as estradas entre a Síria e o Líbano, porque descobrimos que a Síria transfere armas para o Líbano. A Síria também não é forte, a sua economia é muito pobre, o seu governo é ditatorial. O exército não é demasiado brilhante, os generais são idosos. O Irão e a Síria são membros da ONU. Há um capítulo na ONU que apela a todos os países para que não lutem uns contra os outros. O Irão nega abertamente a existência de Israel e a Síria também».
Quais são os objectivos da operação israelita no Líbano?
Não estamos a levar a cabo esta operação porque tínhamos certos objectivos. Começámos a operação porque fomos atacados. E uma vez que atacados, o objectivo é vencer, não perder. Esse é o primeiro objectivo. Queremos devolver a segurança a Israel.
O ministro de Defesa fala de uma faixa de segurança no Sul do Líbano, o que desperta certos fantasmas da invasão de 1982...
Não é nossa intenção criar uma faixa para ocupar e ali permanecer permanentemente. O que dizemos é que a fronteira entre Israel e o Líbano do lado libanês tem que ser controlada pelo exército libanês, não pelo Hezbollah. Não podemos permitir outra vez ao Hezbollah que se desloque ao longo da fronteira e fazer desta fronteira um cenário de emboscadas para que sequestrem soldados israelitas.
Haverá presença de soldados israelitas nesta faixa de segurança até que chegue a força internacional?
Não há necessidade. Haverá em certas ocasiões: se o Hezbollah voltar, defrontar-se-á com o fogo mas não haverá soldados de forma permanente. Estamos a falar de uma força internacional.
É possível criar uma força internacional? Quais seriam as características desta força?
As características são irrelevantes, a função é o que importa. Há duas questões no que se refere ao Líbano: uma é, quem será destacado para a fronteira no lugar do Hezbollah e, se o Hezbollah tentar voltar, quem o deterá. A segunda questão é o lançamento de foguetes e mísseis, se a força internacional é capaz de os controlar e deter. Se não pode, só para serem observadores não tem muito sentido. Ser observador é como informar sobre o estado do tempo: não se pode evitar nenhuma situação, limita-se a informar sobre o frio ou o calor. Por isso a questão é saber qual é a sua função, se haverá uma força que possa deter o Hezbollah, não apenas informar.
Um projéctil israelita matou 4 observadores da ONU, Kofi Annan disse que foi intencional...
Fiquei surpreendido que Kofi Annan fizesse tal declaração. Por que haveríamos de os matar? Não queremos ferir civis inocentes e naturalmente que não queremos pôr em perigo a vida de pessoas que trabalham para as Nações Unidas. Foi um acidente. Lamentavelmente, as guerras estão cheias de acidentes.
Israel é muito criticada em todo o mundo e especialmente na Europa pela morte de civis inocentes. Foram já mortos quase 400 civis libaneses durante estas duas semanas. Qual é a sua reacção a este respeito?
Não são todos os países, há muitos que compreendem e justificam as nossas acções, os do G8 por exemplo. Mas há quem diga que as nossas acções são desproporcionadas. Eu pergunto: lançar 2000 mísseis sobre cidades, povoações e kibutzim, é proporcionado? Tentar matar mulheres e crianças de forma indiscriminada? Aqueles que nos criticam conseguem impedi-lo? Podem defender-nos? Tentamos não matar civis inocentes, mas temos um problema, porque eles escondem as armas e mísseis em casas particulares. Não podemos permitir que o façam, para depois os lançarem sobre civis israelitas. Quanto a esse número de 400, parte são militantes de Hezbollah, não daria demasiado valor a esta informação. Geralmente, no Líbano os números são mas poéticos do que matemáticos.
Assegura que parte dos civis mortos são membros de Hezbollah?
Estou certo, porque fazemos todos os possíveis para não matar civis e bombardear apenas objectivos do Hezbollah. Nós não lutamos contra civis, os libaneses não são nossos inimigos, podemos conviver com eles em paz. E o Hezbollah é uma força estrangeira que não defende nenhum interesse libanês, são libaneses que lutam contra o Líbano. A tragédia libanesa é resultado da ambição iraniana, porque o Hezbollah trabalha para o Irão. Que ninguém se deixe confundir, é o Irão que os financia, os treina, lhes envia armas, lhes dá instruções? Onde se viu um exército dentro de um exército, terroristas com mísseis? Não fizemos nenhum prisioneiro, não ficámos com a terra, queremos viver em paz. Mas por causa do Irão, que quer estabelecer a sua hegemonia no Médio Oriente em vez de uma união árabe, não é possível viver em paz.
Israel recebe o apoio - pelo menos de forma discreta - de algum país árabe?
Porquê de forma discreta? Abertamente. A Arábia Saudita apoia-nos abertamente, os egípcios fazem-no abertamente, os jordanos também. Se eu fosse libanês, perguntaria para que quero eu o Hezbollah no meu país. Estão a destruir o Líbano. Quando alguém critica, toma a posição de juiz, tem que ter provas e uma lógica nas críticas.
As críticas provêm também de um dos seus colegas, o primeiro-ministro espanhol Jose Luis Zapatero, um socialista como o senhor. Como se sente ao ouvir as críticas sobre a morte de civis libaneses?
Israel não começou da noite para o dia a matar civis. E com todo o respeito pelo primeiro-ministro, o que é que ele sugere? Devemos permitir que o Hezbollah dispare de casas particulares? É uma questão de vida ou de morte. e também para os libaneses. Fomos nós que começámos? Pela primeira vez numa reunião do G8, os países mais industrializados do mundo por unanimidade declararam-se a favor de Israel, incluindo o presidente russo e o primeiro-ministro japonês. Eles dizem que têm que devolver os soldados que foram sequestrados na nossa terra, contra a lei internacional e que é preciso tirar o Hezbollah do Sul do Líbano e desarmá-lo.
Imaginava que poderia haver um milhão de pessoas nos abrigos em Israel, e cidades como Haifa, Safed, Tiberíades bombardeadas?
O Hezbollah acreditou que com um arsenal de 12 mil mísseis e rockets, no momento em que começassem a lançá-lo, Israel ia cair rendida. Mas Israel está mais unida do que nunca. O nosso país está à prova na luta contra o terrorismo. Não digo que é fácil mas não pretendemos perder. Israel foi criado há quase 60 anos. Nestes 60 anos, tivemos pelo menos cinco guerras. Alguém nos veio salvar? Não. Pedimos a alguém que lutasse em nosso lugar? Não. Tentámos ocupar? Não. Esta guerra não é diferente. No momento em que Hezbollah parar de disparar, não haverá mais perigo para ninguém, como não houve até agora.
Como explica que uma milícia de milhares de homens possa resistir perante um exército tão forte como o israelita?
Eles resistem, mas destroem o seu país. O Líbano é um país pacífico, eles invadiram-no, utilizam pretextos religiosos para fazer qualquer coisa. Acreditam que têm o direito de fazer qualquer coisa, até de matar. É a primeira vez que alguém destrói o Líbano a partir de dentro. Trata-se de uma organização liderada por fanáticos, que fazem uso da propaganda e recebem mísseis do Irão e da Síria. Disparam indiscriminadamente e o Governo libanês é fraco e não os consegue deter. É uma situação complicada.
A Síria declarou o estado de alerta máximo. Um mal-entendido poderia levar à abertura de uma terceira frente de guerra?
Não, porque não têm um exército para atacar, quem não tem exército não deseja atacar.
Com o Hezbollah muitos esqueceram-se dos palestinianos nos últimos tempos...
É isso mesmo. Retirámos de Gaza, o que querem agora? Se não tivessem sequestrado o soldado, muitos prisioneiros já teriam sido libertados das cadeias israelitas. Não sei o que querem obter lutando e lançando mísseis contra Israel. Creio que se estão a prejudicar a eles próprios.
Quem se lembra que ainda há poucas semanas o tema era a retirada de Israel da Cisjordânia e o referendo na Autoridade Palestina para reconhecer o Estado de Israel. O que se passou?
O Hamas começou a disparar outra vez. Começou a sequestrar soldados e tentou transformar isso numa estratégia de luta. Eles são a tragédia do povo palestiniano. A ambição iraniana transferiu-se para a tragédia palestiniana.
Há exactamente um ano que Israel se retirou de Gaza, e o senhor, juntamente com o primeiro-ministro Ariel Sharon, apoiou este plano. O que mudou?
O que mudou é que o Hamas ganhou as eleições. Porquê? Houve sempre um problema na administração palestiniana. Os países ricos ajudam os ricos nas zonas pobres. O que matou a Fatah não foi a ideologia, mas sim a corrupção, por isso perderam as eleições. E o Hamas começou a governar, um grupo de pessoas fanáticas que não querem a paz nem respeitam os acordos internacionais. Os palestinianos poderiam ter centenas senão milhares de prisioneiros já libertados. Quem o impediu? O Hamas. Estávamos de acordo com a criação de um Estado palestiniano ao lado de Israel. Quem o impediu? O Hamas. Não entendo as pessoas que os apoiam.
Será possível a criação de um Estado palestiniano ao lado de Israel?
Sim. Estou muito desiludido, mas sou um homem de paz. Estou decepcionado mas não desesperado. O Egipto lutou contra nós por quatro vezes antes de assinar a paz, a Jordânia participou em três guerras contra nós e qualquer um teria pensado que não havia nenhuma hipótese. Mas há e temos de manter a esperança, temos que lutar quando devemos, temos que fazer a paz quando podemos e aproveitar cada oportunidade.


apoiado a 100%
 

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ricardonunes

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« Responder #511 em: Agosto 14, 2006, 12:26:14 am »
Um texto interessante, que merece ser discutido.
Fica para amanhã, mas deixo a questão:
Alguma das partes, Israel ou Hezbollah, vai cumprir o cessar fogo?
Já faltam poucas horas para ver o resultado.
A minha opinião é que não vão cumprir, mas vamos ficar á espera para ver.
Potius mori quam foedari
 

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Azraael

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« Responder #512 em: Agosto 14, 2006, 01:53:53 am »
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Israel Seeks Hint of Victory


Israel’s move to greatly increase its ground forces in Lebanon a day before it is expected to accept a cease-fire has two goals: to damage Hezbollah as much as possible and to conclude the conflict with something that could be called a victory for an Israeli government under domestic pressure.

Having begun the war by proclaiming that the aim was the destruction and disarmament of Hezbollah, Prime Minister Ehud Olmert will be able to claim only that Hezbollah is badly hurt and, with the help of international troops, effectively restrained — even without the robust new international force or disarming of the militia that Israel initially demanded.

In this last army push, which many here regard as too late to make a big difference, Mr. Olmert wants to ensure that the Iranian-backed militia and its stockpiles are at least cleared out of southern Lebanon.

The hope is that inhabitants of the north will be able to return home or emerge from bomb shelters without the daily fear of rocket fire.

The Israeli cabinet is scheduled to meet Sunday to discuss a United Nations Security Council resolution calling for a cease-fire. But the Israeli Army will be pressing forward at least until Monday, if not beyond, trying to destroy Hezbollah rockets and assets. That is a task that Israel does not believe the Lebanese Army, even accompanied by an expanded United Nations force, will dare to do.

Mr. Olmert and his defense minister, Amir Peretz, have been wounded by the perception that they mishandled the war and were overly reluctant to commit sizable ground forces when there was enough time to accomplish the government’s stated goals. The life of the government is likely to have been shortened.

The debate in Israel has not been over the war’s legitimacy — that is widely accepted. The attacks on the government have been over its handling of the assault.

In a familiar pattern of backbiting — the best indication that the war has not gone well — the army leadership is complaining that the politicians did not let the military do its job, and the politicians are complaining that the army promised that the task could be accomplished in a week or two and largely with air power.

As usual in Israel, the army is more popular than the politicians, and it is bound to win the argument. But the army’s performance against Hezbollah will lead to considerable introspection and criticism about failures in strategic analysis, intelligence, training and preparedness, especially among the reserves.

There will also be sharp criticism of governmental preparedness, with the image of many thousands of poorer Israelis huddling for a month in decrepit bomb shelters with inadequate public services and supplies.

Mr. Olmert, who leads the centrist Kadima Party, is going to face a postwar onslaught from the right, in particular from Benjamin Netanyahu. Mr. Netanyahu, the Likud Party leader, favored a major military operation to destroy what he called “an Iranian army division” fighting in “a war conceived, organized, trained and equipped by Iran, with Iran’s goal of destroying Israel and its fantasy ideology of building a once-glorious Muslim empire in which we are merely the first pit stop.”

There is more of this talk to come, and from another rival on the right: Avigdor Lieberman, who is already very popular among the Russians who make up a large number of the Jewish Israelis living in the north, many of whom were too poor to seek shelter in southern towns.

Mr. Olmert’s plan to extend the policy of unilateralism by removing up to 70,000 Israeli settlers from the West Bank, behind the separation barrier, also appears moribund. The rocket wars have made the barrier look flimsy, and one year after Ariel Sharon and Mr. Olmert pulled 9,000 Israeli settlers out of Gaza unilaterally, many onetime supporters of the plan say that critics like Mr. Netanyahu appear to have been correct — that the disengagement provided little security or stability.

The plan to hand over more territory in the West Bank to a Hamas-led Palestinian Authority that could use more sophisticated rockets to hit Tel Aviv is now being dismissed as folly by many in the center, not just on the right — an unexpected gift to the settler movement.

“A year after the withdrawal of Gaza, there is a huge ‘I told you so’ hanging in the air, and it’s hard to argue with, when Qassams are still flying out of Gaza and nothing has moved forward,” said Tom Segev, an Israeli historian. “Like Oslo, Gaza disengagement was a good idea, but it was managed very badly. But instead of criticizing the management, we criticize the thing itself.”

Itamar Rabinovich, a former ambassador to Washington, said bluntly: “Two notions have died. First, unilateralism, and second, separation by the fence. Missiles dwarf the fence.”

Israelis also fear there has been damage done to their relationship with the United States, where some may complain that the Israelis were given time to clobber Hezbollah and did not get the job done.

Mr. Rabinovich is more sanguine. “Part of the reckoning will be our reputation as a strategic partner, when we tell the Americans, ‘Give us the tools and we’ll do the job,’ ” he said. “Part of our self-image is of military miracle workers, and we didn’t do that this time.”

Still, he said, Lebanon reinforces Israel’s view that the real danger in the region is Iran, Hezbollah’s patron, and that the threat of a nuclear-armed Iran is aimed at Egypt, Saudi Arabia and Jordan too.

For Mr. Segev, the Lebanese war seems like a side show to Israel’s main and persisting problem: the Palestinians. Israel still faces a crisis in Gaza, including the unknown fate of a soldier captured June 25, and unresolved disputes over the Hamas-led government.

“This war is a huge detour from the real problem, like an accident that shouldn’t have happened,” Mr. Segev said. “The Palestinian problem persists, and again the government looks to be bad managers.”



http://www.nytimes.com/2006/08/13/world/middleeast/13israel.html?pagewanted=print
 

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ricardonunes

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« Responder #513 em: Agosto 14, 2006, 03:45:02 pm »
Typhonman, não duvido dos interesses do Irão neste conflito, muito pelo contrario, mas acho esta análise dos acontecimentos mais equilibrada.

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Jogam-se várias partidas no xadrez do Médio Oriente: a crise no Líbano
04 | Agosto | 2006
Maria do Céu Pinto e Vicente Ferreira da Silva
     
Estudos Regionais - Médio Oriente

Não é difícil perceber que, na manta de retalhos que constitui o Médio Oriente, o Líbano seja também uma manta retalhada. É um Estado com uma frágil estrutura política, extremamente volúvel, fruto de ténues compromissos entre diversas facções e da presença de várias forças externas que, ao longo dos anos, procuraram determinar, quer por meios políticos, quer por meios religiosos, o futuro do Líbano para seu próprio proveito. A formação de milícias foi um desses meios e, dentro destas, a mais bem sucedida foi o Hezbollah.

A criação do Hezbollah é uma consequência da Revolução Iraniana, nomeadamente da política de Khomeini de fazer alastrar a Revolução ao resto do mundo árabe e islâmico. Como consequência dessa “exportação da Revolução”, Khomeini instigou a subversão e as actividades terroristas nos países vizinhos. O Hezbollah tornou-se num instrumento da política externa de Khomeini. Tornou-se conhecido pelos seus métodos violentos, em particular, pelos atentados suicidas com “mártires” que ofereciam a sua vida no combate contra os “infiéis”. Hussein Fadlallah, o mentor deste partido, aplicava os desígnios transnacionais e sangrentos do Xiismo de Khomeini. O patrocínio iraniano do Hezbollah explica as operações suicidas brutais em Beirute contra tropas francesas e americanas (1983 e 1984), na Arábia Saudita (1996), contra a Embaixada de Israel na Argentina (1992) e contra o Centro Judaico de Buenos Aires (1994).

O Hezbollah é caracterizado pela presença de uma influência predominante – a xiita – e é característica desta organização conseguir atrair os mais fervorosos militantes, aqueles que mostram uma maior predisposição para a violência e para o confronto armado. Tal até não é de estranhar, se nos recordarmos que, na sua génese, está uma reacção contra Israel. Este tipo de recrutamento e militância apenas encontra algum paralelo na al-Qaeda. Os serviços de informação norte-americanos acreditam que a capacidade de mobilização internacional do Hezbollah, equivalente ou mesmo superior à al-Qaeda, deve-se, em grande parte, à relação íntima do movimento com os serviços de informação iranianos.

Marginalizado durante anos, o Hezbollah cresceu e floresceu sob a presença síria no Líbano atingindo assim o seu actual tamanho e estatuto. Este facto serve para explicar os conflitos de lealdade que grassam no seu meio, pois apesar dos impulsos iniciais e do sucessivo apoio do Irão (financeiro e não só), foi devido à acção síria que o Hezbollah é hoje o que é. Para além destes dois vectores, a sua lealdade também oscila perante um terceiro vector: o próprio Líbano, a sua terra natal.

Como vários analistas apontam, exemplos de Michael Young (International Herald Tribune) e Augustus Richard Norton (Boston University), o Hezbollah foi a única organização que não entregou as armas na sequência da Resolução 1559 das Nações Unidas, o que não o favorece à luz do Direito Internacional. Mas nada disto importa para o Hezbollah, porque no dia em que entregarem as armas, abdicarão da possibilidade de continuarem a sua missão revolucionária e, com ela, a sua razão de ser. Ao Hezbollah não interessa ser um simples partido político no cenário fragmentado do Líbano. O movimento está integrado no panorama político libanês desde 1992, altura em que entrou no parlamento. Em 2005, o Hezbollah conquistou 14 lugares (em 128) no parlamento e detém actualmente 2 pastas no governo. Contudo, esta presença política serve só para lhe conferir um verniz de legitimidade. O que o Hezbollah quer é transformar o Líbano numa Republica Islâmica e governar todo o Estado Libanês. Afinal, eles já agem como se fossem um Estado dentro de um Estado.

Nos anos 80, devido às precárias condições do governo libanês, à incapacidade do seu exército e ao apoio do contingente sírio, apesar dos protestos israelitas, a protecção da fronteira sul foi entregue ao Hezbollah. Muitos analistas insurgem-se contra isto, mas, em verdade, tal era perfeitamente previsível pois, internamente, não há nenhuma força capaz de lhes fazer frente. Para além disso, foi aí, entre a população xiita, que o Hezbollah nasceu e que o seu principal inimigo reside. Sair dessa terra ou permitir que outros a controlem, é algo impensável para eles. Pura e simplesmente, não havia outra solução, porque a alternativa era a guerra civil no Líbano (cenário que no curto prazo convinha a Israel, mas que no longo prazo seria desastroso).

Ninguém duvida que hajam contactos entre o Hezbollah, o Hamas, a Síria e Irão, mas afirmar que a iniciativa do Hezbollah que despoletou esta crise – o rapto dos dois soldados israelitas – tenha sido executada sob direcção do Irão parece-nos ser exagerar. Concordamos com a posição de William Beeman (Brown University) que explica que não há nenhuma prova nesse sentido. Mesmo pode ser dito sobre um eventual papel da Síria. Quando muito, como diz Daniel Byman (ex-analista da CIA e professor em Georgetown), o Irão, e a Síria, poderão ter sido informados do que estaria para acontecer. Byman, considerado o maior especialista norte-americano sobre o Hezbollah, defendeu, em várias análises, que nem o Irão nem a Síria tem a capacidade de impedir o Hezbollah de fazer seja o que for. Esta asserção é perfeitamente lógica. Uma das lições que a história nos deu é que, mais cedo ou mais tarde, todas as organizações criam a sua própria agenda. E tal afirmação, não impede que o Irão e/ou a Síria tirem dividendos daqui. Ambos beneficiam. Mas, para já e até agora, indirectamente. Ora, em entrevista à al-Jazeera (22 de Julho), Hassan Nasrallah, Secretário-Geral do Hezbollah, declarou que nem o Irão, nem a Síria, e nem o próprio governo libanês, foram avisados ou consultados sobre o rapto dos soldados judeus.

Sendo assim, ao analisar os diversos cenários do Médio Oriente, o que é que provocou esta atitude por parte do Hezbollah? Uma simples escolha. Colocado perante uma encruzilhada, o Hezbollah foi coerente com os seus princípios e preferiu a via armada (sem, como muito bem refere Anat Kurz, do Jaffee Center for Stratégic Studies, abandonar a via política, pois o Hezbollah é hoje a maior força política do Líbano). Para além de ter, indubitavelmente, uma agenda própria – que pode muito bem incluir a transformação do Líbano numa República Islâmica, através de uma revolução, seguindo o exemplo do Irão, pois na possibilidade de uma vitória eleitoral tal resultado não seria aceite internacionalmente (situação vivida pelo Hamas) – também a retirada da Síria do Líbano é um factor a considerar, pois com esta, os fantasmas de um possível regresso ao passado começaram a assombrar o Hezbollah. E regredir ao tempo em que eram uma organização marginal, decididamente, não lhes interessa. Nem, como atrás referimos, lhes serve ser apenas uma “vulgar” instituição partidária.

O que é que é diferente nesta crise? Essencialmente, o facto de Israel estar envolvido em duas frentes, pois os raptos ocorreram em duas localizações geográficas diferentes e, consequentemente, combate o Hezbollah no norte e o Hamas no sul do seu território. Esta circunstância é a principal diferença dos acontecimentos vividos em 1982. Israel não está a combater a OLP no sul do Líbano. Está, em dois locais distintos, a combater os fundamentalistas do Hezbollah ao mesmo tempo que combate os militantes do Hamas. Isto não quer dizer que Israel não tenha capacidade para o fazer. Israel tem capacidade para isso e para muito mais.

O que está aqui em consideração é que esta crise não será resolvida rapidamente e que Israel poderá não conseguir atingir os seus principais objectivos. Para o reputado analista do Haaretz, Ze´ev Schiff, “o mais importante aspecto desta guerra” é que “o Hezbollah e o que a sua organização terrorista representam devem ser derrotados a qualquer preço. Esta é a única opção que Israel tem. Não podemos permitir-nos uma situação de paridade estratégica entre Israel e o Hezbollah. Se o Hezbollah não for derrotado nesta guerra, tal vai ser o fim da dissuasão israelita contra os seus inimigos.” Acontece, porém, como referiu Danny Yatom, General israelita e deputado do Partido Trabalhista, os objectivos iniciais da operação eram demasiado ambiciosos e o governo apercebeu-se que varrer o Hezbollah do mapa não é realista: “Esta campanha não vai ser ganha com um KO, mas aos pontos”, disse.

Martin Kramer (Washington Institute for Near East Policy) afirma que esta acção do Hezbollah deu a Israel a oportunidade esperada desde que retiraram do sul do Líbano e que Hassan Nasrallah se iludiu e subestimou as capacidades de liderança de Elmud Olmert e dos militares israelitas. Convém dizer que Israel tem uma certa legitimidade para o fazer e que não há dúvida que tem aqui a possibilidade de destruir severamente as estruturas e capacidades do Hezbollah, mas se não o conseguir fazer não terá a vitória que procura. Conseguirá quando muito aliviar a pressão e ganhar tempo, mas se não conseguir incapacitar seriamente o Hezbollah e/ou destruir a sua cadeia de comando, Israel está apenas a adiar o problema. E quanto ao argumento de entrar no Líbano para resgatar os soldados raptados? Se Israel não os recuperar, conseguirá suportar as críticas internas e externas se tiver necessidade de prolongar a guerra? Pode Israel dar-se ao luxo de perder a legitimidade e o apoio da comunidade internacional? Nasrallah acusa Israel de ter como objectivo nesta “agressão”, não o resgate dos seus soldados, mas eliminar o Hezbollah e diminuir a soberania ao Líbano, humilhando e controlando o país. Se os soldados israelitas não forem salvos, dificilmente Israel conseguirá contornar estas acusações.

Na entrevista que concedeu à al-Jazeera, Nasrallah afirma que sabe que está a combater a maior potência militar da região, possuidora de um exército que duma só vez derrotou um grupo de exércitos árabes: por isso, a simples resistência a um exército tão poderoso constitui já uma vitória. Diz mais, ao considerar que a sobrevivência da resistência é uma enorme vitória e que o Hezbollah está perante uma situação em que não irá perder. Seja como for, para Nasrallah, quer através da resistência quer pela sobrevivência, a vitória é do Hezbollah e será Israel quem vai perder mais do que ganhar.

O que é inegável é que o Hezbollah já conseguiu mais do que esperava ao atingir Israel até Nazaré È muito provável que estes ataques tenham conseguido abalar e surpreender a opinião pública israelita e internacional e até surpreendido as cúpulas militares. Para além disto, a operação israelita não tem tido a eficácia propalada. Ariel Shavit, do Haaretz, afirma que pelo menos dois terços da capacidade militar do Hezbollah estão intactos. As forças israelitas e os peritos norte-americanos foram surpreendidos pelo armamento e pelos meios de que dispõe o movimento. A capacidade do Hezbollah para usar armas avançadas, bem como a variedade do seu armamento fazem do Hezbollah mais um exército do que uma simples milícia. O movimento equipou-se e preparou-se para esta confrontação durante seis anos, isto é, desde a retirada israelita do sul do Líbano em 2000.

Uma vez que o Hezbollah não tem uma real capacidade para fazer frente ao poderio militar de Israel, o que está aqui em causa são factores psicológicos e anímicos. E estes começaram com a saída de Israel do sul do Líbano em 2000. É evidente que Israel estava a dar cumprimento ao acordado internacionalmente, mas para os árabes a retirada foi vista como uma vitória sobre Israel. E, inesperadamente, o Hezbollah não pára de surpreender e tem vindo a acumular pontos na contabilidade dos factores anímicos. A campanha de bombardeamentos aéreos israelitas ainda não foi capaz de destruir as rampas de lançamento do Hezbollah e a intensidade destes ataques às zonas civis está a jogar contra Israel. São inexplicáveis os bombardeamentos de um posto de observação das Nações Unidas (morreram 4 observadores da ONU) e de uma ambulância da Cruz Vermelha, devidamente identificada e foi apenas o veto norte-americano que impediu uma sanção contra Israel no Conselho de Segurança das Nações Unidas. No seguimento da falta de informações quanto às reais capacidades do Hezbollah, também as suas forças terrestres estão a encontrar uma forte resistência e a sofrer consideráveis perdas. E em Israel, a opinião pública começa a manifestar-se contra a campanha militar.

Assim terá realmente o Hezbollah subestimado Israel? Não estarão os analistas ocidentais errados quanto aos objectivos do Hezbollah? Consideremos a seguinte hipótese: vamos supor que o Hezbollah pretende ser o poder no Estado libanês e/ou instaurar a República Islâmica do Líbano, o que não é contrário ao seu objectivo de luta a Israel: como é que poderia atingir este objectivo sem precipitar uma guerra civil? Uma vez que, mesmo uma vitória eleitoral não o garantiria, só com uma ajuda “involuntária” de Israel tal seria possível. Sabendo antecipadamente que Israel reagiria ao rapto dos soldados e ao disparo dos rockets, com fortes incursões militares que destruiriam as infra-estruturas económicas e políticas do Líbano, não é de estranhar que seja o Hezbollah, se conseguir “sobreviver” à resposta israelita, a ocupar o vazio de poder que se instalará no Líbano após esta crise. Aliás, a única certeza que o professor Martin Kramer tem, como resultado final desta crise, é o completo estilhaçar das frágeis estruturas políticas do Líbano. Necessariamente, outras surgirão no seu lugar. Quais, sob que forma e a quem interessarão é o que fica em aberto.

Tem sido objecto de algumas considerações a utilização do mesmo “modus operandi” nos dois acontecimentos que originaram esta crise, com a diferença de o Hamas ter raptado apenas um soldado israelita enquanto que o Hezbollah raptou dois. Não nos parece que o mesmo resulte de alguma manobra concertada, mas sim de um simples meio para atingir um objectivo. Como muito bem nota Yoram Schweitzer, do Jaffee Center for Strategic Studies, ao Primeiro-Ministro palestiniano, Ismail Haniyya, interessa recuperar legitimidade e reduzir a pressão, doméstica e internacional, a que o Hamas tem sido sujeito. Já no caso de Nasrallah, o seu objectivo passaria pelo incremento da sua notoriedade pessoal e pelo liderar do processo de negociação com Israel. Não estamos inteiramente de acordo com esta afirmação. Embora hajam, no Hezbollah, precedentes históricos no desejo em libertar prisioneiros das cadeias israelitas, pode não ser essa a intenção aqui presente. O objectivo pode também ser a tomada do poder e a consequente transformação do Líbano numa República Islâmica. No entanto, concordamos com a observação de Schweitzer segundo a qual é crucial para Israel o quebrar a ligação entre as acções (raptos) do Hamas e do Hezbollah. É, de facto, a maneira mais eficaz de impedir o reclamar de ganhos tácticos por parte do Hamas e do Hezbollah.

No meio de todos os episódios estão a ocorrer nesta crise, o que é verdadeiramente estranho é a ausência de atentados terroristas em Israel, como muito bem refere Mark Gasiorowshi da Louisiana State University. Consciente dos danos psicológicos que os seus rockets estão a causar, estamos certos que, enquanto os puderem lançar, será por essa via que o Hezbollah mais actuará. Mas, isto não explica a ausência de actividade do Hamas.

Os EUA, infelizmente, demoram a reagir às situações. Como à actual administração americana serve qualquer argumento ou acção que lhes permita atingir, directa ou indirectamente, o Irão, é plausível que não se esforcem demasiado para já. Consistente com esta atitude é o prazo de uma semana que Olmert conseguiu junto de George W. Bush. Um cessar-fogo não será atingido nos próximos dias. Não há nenhuma conferência internacional que o consiga, sem o empenho norte-americano.

Quanto ao Irão, recordamos que foi o Hezbollah que lhe serviu como porta de entrada no Médio Oriente árabe e expandir a sua influência em zonas de tradição sunita, onde explorou a alienação da comunidade xiita libanesa e fez dos xiitas libaneses os mais ardentes combatentes da sua causa (o alastrar do fundamentalismo islâmico no Líbano tornou-se o maior sucesso da campanha iraniana de “exportação da Revolução” que noutros lados falhou redondamente) e parece estar a beneficiar com o desvio da atenção dos media para a crise do Líbano. O seu programa nuclear já não faz as manchetes da imprensa internacional. Mas, infelizmente para o Irão, tal não se verificou. Como muito bem assinalam, Trita Parsi e Gareth Porter do The National Iranian-American Council, o deflagrar e a escalada desta crise teve como efeitos: primeiro, o aumento da pressão em Washington quanto às medidas a tomar contra o Irão; segundo, a diminuição das suas hipóteses em conseguir influenciar os membros da coligação P5+1 para mais tempo de negociações com base na sua contraproposta.

Portanto, não concordamos com aqueles que afirmam que o regime iraniano deu “luz verde” ao rapto dos soldados. Tal posição não é consistente com a estratégia iraniana. Esta, apesar de provocadora, nunca deixou de manter aberta a opção de de-escalar o conflito se e quando necessário, de forma a evitar um confronto militar que sabe não poder ganhar. E, para além dos argumentos já apresentados, no caso de uma derrota do Hezbollah, o Irão também corre o risco de ficar isolado no Médio Oriente, pois perderá o seu principal bastião de influência externa. Ou seja, o Irão tem mais a perder do que a ganhar. Mas, paradoxalmente, esta situação também lhe permite equacionar um potencial benefício. Imaginemos que o Irão consegue demover o Hezbollah dos seus objectivos e pô-los a negociar com Israel, não directamente, mas através do governo libanês. Emergirá como um pacificador, o que lhes dará um forte trunfo nas negociações com a comunidade internacional.

Este argumento de pacificador, e de um eventual retorno ao Líbano, também pode ser invocado pela Síria. Afinal – dirão os sírios – a única coisa que apareceu no Líbano após a sua saída, foi a instabilidade e a desordem. Mas, apesar de estas considerações serem reais, não nos parece que se venham a verificar. Assim, estamos de acordo com a análise de Aiman Mansour, do Jaffee Center for Strategic Studies, que menciona que só uma escalada de violência entre o Hezbollah e a coligação cristã-druza-sunita libanesa fará com que a Síria intervenha no “país dos cedros”. Apesar das suas ambições, sonhos e convicções históricas sobre o Líbano, Bashar al-Asad sabe que o seu próprio regime não está livre de ameaças. O regime alauita é uma minoria vista como herética pela maioria sunita do seu país. Não nos parece que Asad esteja disposto a sacrificar o poder. A sua primeira preocupação é, sem dúvida nenhuma, manter o status quo e lidar com eventuais oposições internas. Com base no cenário interno sírio, parece-nos que também o regime sírio não orquestrou, não foi informado da acção do Hezbollah, nem terá nada a ver com esta. Damasco tem mais a perder do que a ganhar.

No entanto, quer o Irão, quer a Síria teriam muito a ganhar com a vitória do Hezbollah. Nesse cenário, a possibilidade de ambos os regimes sentirem excesso de confiança, em si e nas suas capacidades, é mais do que uma mera hipótese. Nessas circunstâncias, equacionar um conflito que envolva uma participação directa do Irão, da Síria e dos EUA não seria de desprezar. Poderia ser a Síria a dar o primeiro passo, pelas razões acima referidas e também por razões geográficas. O Irão só actuaria depois de alcançar os objectivos dos seu programa nuclear, isto é, ter armas atómicas, e fá-lo-ia, em dois sentidos: Líbano e Iraque. E assim, os EUA não teriam alternativa, pois a situação no Iraque tende já a tornar-se insustentável. Com isso, as chefias militares norte-americanas chegariam à conclusão que seria melhor resolver o mal pela raiz e atacar a Síria e o Irão. No fim, prevaleceria a aliança EUA-Israel, mas não sem pesadas baixas (principalmente civis), não sem destruir inúmeros acordos de cooperação entre ocidentais e árabes e não sem ter redesenhado, a todos os níveis, o mapa político do Médio Oriente.

Reacção, até certo ponto, não esperada pelo Hezbollah foi aquela adoptada pelos sauditas e egípcios – tradicionais aliados dos EUA na região – que condenaram as acções do Hezbollah. O próprio Nasrallah afirma que esperava uma posição de neutralidade. De qualquer maneira, sabe-se que nem sempre é pacífico ou fácil o entendimento entre sunitas e xiitas. O que deve ser necessariamente impedido é a formação de uma aliança entre o Hezbollah e a al-Qaeda, ou seja, entre fundamentalistas sunitas e xiitas. Ninguém, para além dos próprios, ganha com isso. E, como uma sombra tenebrosa que emerge, a al-Qaeda divulgou um vídeo, onde o seu n.º 2, Ayman al-Zawahiri, num comunicado inédito apela à união entre sunitas e xiitas e à guerra santa contra Israel e contra os ocidentais até que o Islão seja a religião dominante, da Espanha ao Iraque.

Convém, por fim, assinalar o seguinte. Numa coisa os Estados árabes, sem excepção, estão a ganhar: no aumento do preço do barril de petróleo. Outro dado inultrapassável é que no final desta guerra, independentemente do vencedor militar, os ressentimentos contra israelitas e ocidentais terão aumentado. No plano moral, o Hezbollah terá vencido o confronto: a guerra contra o terrorismo tem assim motivos para durar.

Maria do Céu Pinto, Docente no Departamento de Ciência Política e Administração Pública da Universidade do Minho.

Vicente Ferreira da Silva, Doutorando em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade do Minho.
Potius mori quam foedari
 

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Azraael

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« Responder #514 em: Agosto 14, 2006, 04:42:01 pm »
CNN & New Yorker - Bush Planned Lebanon War Months Before

http://www.youtube.com/watch?v=_5eBrfrWoTk

O titulo e' um bocado enganador, mas nao deixa de ser interessante.
 

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Pantera

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« Responder #515 em: Agosto 14, 2006, 04:55:10 pm »
Citação de: "Azraael"
CNN & New Yorker - Bush Planned Lebanon War Months Before

http://www.youtube.com/watch?v=_5eBrfrWoTk

O titulo e' um bocado enganador, mas nao deixa de ser interessante.


mais uma teoria da conspiração,"made by Communists"
de certa forma até acredito que Israel usou o rapto dos dois soldados como pretexto para invadir o libano,no entanto penso que depois de tantas décadas de terror,têm o direito a retaliar contra estes assassinos islamicos,o problema é mesmo que morre tanto inocente pelo meio :?

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RedWarrior

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« Responder #516 em: Agosto 14, 2006, 07:26:21 pm »


 Os soldados foram capturados no lado libanês, logo não era muito difícil fazer o pretexto.
A primeira vítima de todas as guerras é a verdade
 

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ricardonunes

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« Responder #517 em: Agosto 14, 2006, 08:19:22 pm »
Desconhecia esse facto, o que a ser verdade deixam de ser soldados raptados para serem soldados capturados.
Mas com o tempo tudo se ficará a saber, espero.
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Azraael

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« Responder #518 em: Agosto 14, 2006, 08:34:20 pm »
Tal como eu tinha previsto alguns posts acima...

Citar
Hezbollah reclama vitória na guerra com Israel

O líder do Hezbollah reclamou hoje uma “vitória estratégica e histórica” da resistência libanesa na guerra contra Israel e afirmou que este “não é o momento certo” para discutir o desarmamento do movimento.

“Celebramos hoje uma vitória estratégica e histórica, sem exageros, para o Líbano, todo o Líbano, para a resistência e toda a nação islâmica”, afirmou o xeque Hassan Nasrallah, numa gravação transmitida pela televisão do Hezbollah, menos de 12 horas após a entrada em vigor do cessar-fogo imposto pela ONU.

Para o dirigente radical xiita, Israel mostrou-se “confuso, fraco, cobarde e derrotado”, em contraste com as forças do Hezbollah, que “operaram milagres” durante as cinco semanas de conflito.

Segundo Nasrallah, “a devastação maciça e a destruição” infligida pela aviação israelita no Líbano mostram “o fracasso e a impotência” das forças inimigas.

Nasrallah afirmou que os bombardeamentos destruíram “15 mil residências no Sul do país, no vale de Bekaa [Leste] e nos subúrbios de Beirute”, mas prometeu que o movimento vai ajudar na reconstrução destas áreas, maioritariamente xiitas, e pagar o equivalente a um ano de renda e o custo do mobiliário a cada uma das famílias afectadas.

Durante a intervenção, celebrada com disparos nas ruas de Beirute, o líder do Hezbollah afirmou que “este não é o momento certo, a nível moral e psicológico”, para discutir o desarmamento do movimento, sob o risco de favorecer os interesses israelitas.

Para Nasrallah, esta questão deverá ser negociada no âmbito do Governo libanês, sustentando que “seria imoral, incorrecto e apropriado” discutir esses assuntos publicamente, sublinhou.

Contudo, o xeque deu novamente a entender que o movimento não está disposto a renunciar, a breve prazo, à sua componente militar, ao afirmar que as forças que a ONU vai enviar para o país e o Exército libanês “são incapazes de proteger o Líbano” das ameaças externas.



http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1267255&idCanal=18
 

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ricardonunes

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« Responder #519 em: Agosto 14, 2006, 08:50:50 pm »
Julgo que não é preciso ser um futurologista para prever isso.
E será que não é verdade?
Não terá sido o Hezbollah a sair "vencedor", tendo em consideração as afirmações/declarações de Israel no inicio das operações?
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Azraael

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« Responder #520 em: Agosto 14, 2006, 08:58:21 pm »
Citação de: "ricardonunes"
Não terá sido o Hezbollah a sair "vencedor", tendo em consideração as afirmações/declarações de Israel no inicio das operações?
Tendo os dirigente israelitas sido ingenuos ao ponto de aceitarem o cessar fogo, sem duvida que sim... o erro foi israelita, o hezbollah apenas ta a tirar proveito do mesmo.
 

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papatango

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« Responder #521 em: Agosto 14, 2006, 11:10:47 pm »
A origem do mapa acima é este site:

http://www.whatreallyhappened.com/

Pode-se ver as notícias que tem, para se poder verificar da isenção do site, como fonte.

Tanto quanto se sabe, o rapto dos dois soldados israelitas pelas SS ocorreu depois de estes terem disparado foguetes de artilharia... oops, digo, foguetes de carnaval cheios de paz e amor, sobre Israel.

Esta campanha foi aliás mal preparada, e os próprios israelitas afirmam isso, pelo que dizer que está tudo planeado há muito tempo, é pura e simplesmente patético.

Sabendo-se como são os neocons, nunca o exército de Israel teria esperado tanto tempo para atacar.

Em que é que um ataque ao Líbano poderia ajudar os EUA?
Para treinar as bombas rebenta-mouro-bunker?
Para dizer aos iranianos que america tem bombas capazes de perfurar bunkers?

Mas o mundo todo não sabe isso?

= = =

Quanto a considerar a possibilidade de agir contra o Hezbollah, é perfeitamente natural que tenha havido planos e estudos no sentido de estudar a melhor forma de acabar com o Hezbollah, e que israelitas e americanos tenham trocado planos.

Todos os países têm planos de contingência para várias ocorrências, mas os planos de contingência de Israel parece que não eram lá muito bons e acima de tudo parecem ultrapassados, considerando os meios que o Hezbollah revelou ter.

É preciso muita imaginação e ter uma crença firme nas teorias da conspiração.

No entanto, volto a dizer, não é anormal nem estranho que eles tenham estabelecido contactos e trocado ideias sobre como agir.

Da mesma maneira que Israel tem planos para agir se houver um golpe de estado na Jordania ou no Egipto, sendo que os americanos trocam impressões com os israelitas sobre as melhores opçoes a tomar se houver problema.

Israel é o principal aliado dos EUA na região, e é com israel que os EUA se aconselham e são os israelitas quem mais garantias dá aos americanos.

Toda a gente tem planos para tudo (independentemente de os planos serem bons ou não) mas por existirem planos, não quer dizer que o poder politico pretenda coloca-los em prática.

Cumprimentos

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É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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RedWarrior

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« Responder #522 em: Agosto 14, 2006, 11:27:04 pm »
Isto acabou por ter sido tudo uma trapalhada...os israelitas perderam militares, civis, ficaram mal vistos na opinião pública pelos civis mortos em bombardeamentos e quais os frutos?? Não conseguiram recuperar os soldados ( o irónico é que vão ter que negociar a sua libertação ) e não conseguiram eliminar o Hezbollah ( bem pelo contrário, reforçaram o seu apoio ).
 Péssima jogada, faz lembrar alguém que está num cruzamento e tem que decidir se avança ou fica parado antes que o carro que segue noutra direccção passe, neste caso a administração israelita ficou no meio do cruzamento e agora vão chover críticas tanto do lado dos que decidiram avançar como do lado dos que decidiram ficar parados ( a metáfora não foi muito feliz, mas percebe-se ).
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Azraael

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« Responder #523 em: Agosto 14, 2006, 11:36:17 pm »
Citação de: "RedWarrior"
Isto acabou por ter sido tudo uma trapalhada...os israelitas perderam militares, civis, ficaram mal vistos na opinião pública pelos civis mortos em bombardeamentos e quais os frutos??
O erro foi terem parado... ao fazerem-no inutilizaram todo e qualquer esforco realizado ate essa altura.

Citação de: "RedWarrior"
INão conseguiram recuperar os soldados ( o irónico é que vão ter que negociar a sua libertação )
Espero que sejam suficientemente inteligentes para nao o fazerem, senao da proxima vez que o Hezbollah quiser libertar mais alguns dos seus, rapta mais meia duzia de soldados israelitas...

Citação de: "RedWarrior"
e não conseguiram eliminar o Hezbollah ( bem pelo contrário, reforçaram o seu apoio ).
Pelo menos conseguiram eliminar muitos dos elementos e meios dos mesmos... mas Israel ao "render-se" estupidamente, contribuiu sem qualquer duvida para lhes aumentar o apoio popular.
 

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ricardonunes

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« Responder #524 em: Agosto 15, 2006, 11:11:06 am »
papatango, como já tinha dito desconhecia essa noticia, mais fui pesquisar e verifiquei que quem a noticiou pela primeira vez foi a Forbes.
http://www.forbes.com/technology/feeds/ ... 73051.html

Mais um link que noticia o mesmo.

http://www.worldpress.org/2432.cfm

Se é verdade ou não, não sei, mas acho que nunca vamos ficar a saber a veracidade dos factos, não é conveniente.
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