Carro de Combate em Portugal

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antoninho

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Carro de Combate em Portugal
« em: Maio 16, 2006, 12:01:42 am »
Carro de Combate em Portugal
há duvidas...mas não pode haver

introdução

O presente artigo tem por objectivo evidenciar alguns factos relativos à história
do Carro de Combatel (CC) em Portugal e enumerar algumas linhas de força que possam
contribuir para recolocar o CC -e consequentemente, o Grupo de Carros de Combate (GCC)
no nível superior de preocupação, presente e futura, que este sistema de armas
merece ocupar no Exército Português.
Na primeira parte faz-se a descrição sumária do recente e actual cenário internacional,
onde há a necessidade de adaptar o CC aos diferentes conflitos e aos novos ambientes
operacionais. Simultaneamente, descreve-se o esforço de investigação e desenvolvi-
mento, processado nos Estados Unidos da América, relativamente ao futuro CC americano.
Na segunda parte descreve-se, brevemente, a históriado CC em Portugal -a sua evolução
desde a primeira aquisição até à actualidade -, através da apresentação de dois quadros
e de uma tabela, de onde é possível retirar diversas interpretações.
A terceira e penúltima parte contempla algumas questões de elaboração fácil, mas de
respostas muito difíceis. Nessa equação; apenas foram consideradas as reflexões passíveis
de constituírem orientações para a solução do dilema actual em que se encontra o único
GCC em Portugal.
Finalmente, são apresentadas algumas conclusões.

Situação Internacional
O futuro CC americano

Desde a Queda do Muro de Berlim e até 11 de Setembro de 20013, a preocupação fundamental
dos Estados, com maior influência na cena internacional, foi a de confinar os conflitos
locais e impedir que estes descambassem numa guerra generalizada entre vários países.
A aplicação de forças militares, no âmbito da ONU, em teatros de operações diferenciados
e diversificados, sofreu desde 1989 um forte incremento, cumprindo tarefas em:

-resolução de crises;
-missões humanitárias;
-missões de interesse público (apoio em situações de
 catástrofes naturais).

Após o 11 de Setembro de 2001, o combate universal à ameaça do terrorismo passou a ser
denominador comum aos Estados e às Organizações Internacionais com responsabilidades em
matéria de defesa, segurança e bem-estar das populações, onde o uso da componente militar
está presentemente direccionada com prioridade de emprego para esse combate.
Portanto, as missões tradicionais de guerra convencional, sob a perspectiva de emprego de
contingentes enormes de unidades terrestres, sendo cada vez mais improváveis -na medida
em que as partes em conflito, num determinado território, são coagidas pelas potências
mundiais e/ou regionais a assinarem um cessar-fogo e aceitarem a presença de outras
forças armadas, frequentemente sob a égide das Nações Unidas, a fim de limitarem ao máximo
as situações passíveis de provocarem o recrudescimento da guerra -, tendem a ser
subalternizadas pelo emprego de forças expedicionárias para regiões distantes, com a maior
rapidez de projecção possível e de grande flexibilidade.
O facto de existirem elevados problemas logísticos ao nível de transporte, de reabasteci-
mento e de manutenção das unidades de CC, tal não deve significar a sua votação ao ostra-
cismo. Para além de operações de integridade territorial nacional, num cenário de conflito
de grande intensidade, ou ainda para manutenção de treino operacional das suas guarniçõess,
o CC -tal e qual como o conhecemos no Mundo, em geral, e em Portugal, em particular -,
continua a ser ainda empregue como o meio terrestre mais eficaz de dissuasão em qualquer
tipo de operação.
Contudo, tendo como referenciais os contextos estra-tégico e económico actuais e, simulta-
neamente, a necessidade de agilizar o seu emprego, os CC têm sido alvo de aplicação de
novas tecnologias com a finalidade de:

-diminuir-lhes o peso;
-aumentar-lhes a mobilidade;
-melhorar-lhes a protecção;
-maximizar-lhes a potência de fogo;
-incrementar-lhes as capacidades de comando,
 controlo, comunicações e informações.

Relativamente ao peso, o FCS (Future Combat System) americano, para emprego nas unidades
de CC em 2030, terá 40 toneladas, face às 70 toneladas do actual M1 Abrams, ou ainda às
55 toneladas do protótipo FMBT (Future Main Battle Tank). Mas como será possível atingir
aquela tonelagem (40 toneladas) e sem perder as características de acção de choque ineren-
tes a qualquer CC?

-Através da diminuição do volume da torre, obrigando a posicionar a guarnição -também esta
reduzida a 2-3elementos no interior do casco do CC;
-Pela utilização de compósitos 7 e ligas metálicas leves e resistentes nos trilhos
(lagartas), nas rodas de apoio, em componentes da suspensão, etc;
-Pelo emprego de suspensão hidropneumática activa, originando urna diminuição de peso até
1 tonelada se comparado com o CC equipado com barras de torção;
-Pela utilização de motores eléctricos, ou ainda de motores hibrido-eléctricos -estes
combinam o motor a diesel ou a turbina a gás com geradores de energia eléctrica, associados
a condensadores para armazenarem aquela energia e possibilitarem a sua utilização futura na
operação dos diversos equipamentos e dispositivos eléctricos.

Quanto à mobilidade, o FCS beneficiará:

-do factor peso, já descrito anteriormente;
-da silhueta reduzida, que facilitará o seu transporte e projecção de forças;
-da motorização, que permitirá maiores velocidades, agilidade e autonomia;
-da suspensão hidropneumática computorizada - através de sensores será possível fazer
 activar, por antecipação, o sistema de suspensão adequado às irregularidades específicas
 do terreno, melhorando o efeito de amortecimento e aumentando a durabilidade do próprio
 sistema de suspensão -que proporcionará menos cansaço à guarnição e mais rapidez de deslo-
 camento, mesmo em terrenos difíceis;
   -e da diminuída manutenção e reabastecimento de munições, de combustíveis e de sobresse-
lentes, que aligeirará e agilizará o apoio de serviços.
No que diz respeito à protecção, para além da silhueta mais reduzida, o FCS apresentará
reduções substanciais em vários factores de detecção, como por exemplo a assinatura térmica,
acústica, magnética e electromagnética, possibilidades de iludir mísseis anticarro pelo
recurso a um sistema FTG (False Target Generation) gerador de silhueta virtual falsa,
sistemas de detecção e de alerta diversos, tais como áreas contaminadas por armas de
destruição maciça, áreas , minadas, etc. A adopção de blindagem modular será também uma mais
valia que permitirá a adaptação do CC à missão.
Relativamente à potência de fogo, o tipo de armamento principal consistirá ainda na peça.
Simplesmente, em vez das actuais peças convencionais de 120/140 mm para munições de propul-
sor sólido, teremos peças electro-térmico-químicas de calibres 60/80 mm para munições de
propulsor líquido, permitindo atingir velocidades iniciais de 2500/3000 mts, muito semelhan-
tes aos valores obtidos nas referidas peças convencionais (mas estas últimas têm o dobro do
calibre). As munições também têm evoluído, quer em precisão, quer nos efeitos sobre os alvos.
Como armamento secundário, haverá a possibilidade de equipar o CC com laser, revolucionando
o apoio logístico ao nível do reabastecimento de munições. Este subsistema de tiro terá um
feixe-laser de baixa energia para verificar a posição do alvo e a distância a que se encontra.
Para a acção de fogo, disparar-se-á um outro feixe-Laser, mais curto, mas de grande energia
com capacidade de destruir o alvo. Quanto aos mísseis, assistir-se-á ao aumento da capacidade
de luta antiaérea -o vector aéreo é, e será, a principal ameaça para as unidades de CC -pela
adaptação de mísseis antiaéreos.
Finalmente, as novas tecnologias de comando, de controlo, de comunicações e de informações,
aplicadas no FCS, podem aumentar o seu grau de letalidade sobre os alvos a destruir e, simul-
taneamente, garantir a sua própria sobrevivência. Constituem alguns exemplos dessas novas
tecnologias, aplicadas em CC, o GPS (Global Positioning System), o campo de batalha digital,
ligação em rede digital (intranet operacional), equipamentos de comunicação de voz, de imagem
e de dados em tempo real (on line) e sem fios, etc.

Continua a ser ainda empregue como
o meio terrestre mais encaz de dissuasão
em qualquer tipo de operação

O Carro de Combate em Portugal

A introdução em Portugal do primeiro CC ocorreu no início da década de 40 do século XX
(1942/43) com a aquisição do CC inglês Valentine. Desde então e até à actualidade é possível
apresentar um quadro resumo com a seguinte informação:

designação cc               País            Ano de Ano                     Entrada Serviço
adq.por Portugal          Produtor          Produção                     Exército Português

 valentine                Inglaterra           1940                            1942/43
 centauro                 Inglaterra           1943                            1945/46

    M24                       usa              1944                              1952
    M47*                      usa              1951                              1952
    M4A3                      usa              1942                              1953
    M5A1                      usa              1942                              1956
    M48A5*                    usa              1975                              1977
    M60A3tts*                 usa              1978                              1992

Legenda: * -CC Principais

Quadro nº1 - CC adquiridos por Portugal (1942-1992)

Tendo como referencial os anos em que o Exército Português adquiriu um CC principal, referen-
ciado por * no Quadro N°1, ou de produção inglesa ou americana, também é pertinente efectuar
a seguinte comparação:

Quadro nº2 - CC principais ao serviço dos Exércitos de Inglaterra, dos Estados Unidos da
América e de Portugal e num determinado ano.

          CC principal ao          CC principal ao               CC principal ao
Ano      Serviço do Exército    Serviço do Exército           serviço do Exército
              Inglês                Americano                      Português
                                       
1942          Crusader                  #                         Valentine  
1945        Chalenger A30               #                          Centauro  
1952             #                     M47                           M47
1977             #                    M60A2                         M48A5
1992             #                     M1A2                       M60A3TTS

Legenda: #
Omitido

Considerando agora algumas características relativas aos CC principais ao serviço dos
Exércitos Inglês, Americano e Português, descritos anteriormente, é possível elaborar
uma tabela com o seguinte teor:


cc principais    valentine  crusader Centauro  chalanger  M47  M60A2  M48A5  M60A3TTS   M1A2
Alg. caracte-
risticas


calibre
da peça            75          57       57         75      90   152    105     105       120

peso
ton.              16,2         20      27,9        33      46    58   48,9     51,3     69,5

veloc.
max.kmh            24         43,2      64         51      48    48   48,2     48,3     67,2

pot.
motor cv          138          340      600       600     810    750   750     750      1500

Da análise dos quadros e tabela anteriormente apresentados, em conjugação com a situação
internacional, em geral, e com a situação de Portugal, em particular, obtêm-se as seguintes
informações:

-Portugal adquiriu o seu primeiro CC à Inglaterra, ainda durante a 2ª Grande Guerra (IIGG).
-Com a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte ( OTAN) em 04 de Abril de 1949-
Portugal foi um dos países fundadores -e pelos acordos bilaterais estabelecidos entre os
Estados Unidos da América e Portugal, relativos às facilidades concedidas àqueles na utiliza-
ção da Base das Lajes, os CC adquiridos desde 1952-ano correspondente à entrada ao serviço do
Exército Português do CC M47- até 1992 -ano correspondente à entrada ao serviço do Exército
Português do CC M60A3TTS -passaram a ser sempre de produção americana;
-Em 1952, tanto os Estados Unidos da América como Portugal tinham o CC M47; como meio
orgânico principal das unidades de CC;
-Com o esforço de guerra orientado para a manutenção do Império da Índia e de África entre
1961 e 1974, e não sendo o meio de combate mais indicado para fazer face à guerra de
guerrilha, Portugal manteve ao serviço durante duas décadas e meia o CC M47;
-Só em 1977, após a consolidação do Estado democrático em Portugal,
foi processada a entrada, ao serviço do Exército Português, de um novo CC, o M48A5;
-Desde esse ano e até 1992 foi-se criando assustadoramente um enorme fosso, aos níveis
técnico e tecnológico, entre os CC ao serviço nos Exércitos Português e Americano -em 1978
o CC M60A3 entrou ao serviço do Exército Americano, com sistema de estabilização de tiro nos
dois planos (horizontal e vertical), telémetro laser e computador de tiro (neste computador
são processados automaticamente vários dados balísticos, tais como a velocidade do vento,
a temperatura do ar, a altitude, etc);
-Após a Queda do Muro de Berlim ( 1989) e o consequente Tratado de Forças Convencionais na
Europa (Tratado CFE), só em 1992 Portugal adquiriu 80 (oitenta) CC M60A3JTJ: quando se
encontrava já ao serviço do Exército Americano o CC M1A2, tendo este, ainda na actualidade,
capacidades letais ímpares e dispondo, também, de elevados índices de sobrevivência, em
consequência da introdução de melhoramentos tecnológicos, particularmente aqueles que dizem
respeito às novas tecnologias do sistema de pontaria e de tiro, de comunicação e de
informações.
Entretanto, já decorreram dez anos desde que o CC M60A3TTS entrou ao serviço do Exército
Português e já se passaram vinte e quatro anos desde que foi iniciada a sua produção.
Simultaneamente, trata-se de um CC que saiu de produção e actualmente são fornecidos, apenas
por encomenda, os seus sobresselentes.
É urgente agir, sob pena de se gastar muito dinheiro em manter um tipo de CC que não se
adequa ao ambiente operacional actual nem futuro, ou seja, a relação custo/eficácia é
francamente desfavorável.
Através da Lei de Programação Militar existente, em conjugação com o Livro Branco da Defesa
Nacional de 2001 do Ministério da Defesa Nacional, poder-se-á afirmar, sem muita margem de
erro, que, nos próximos dez anos (até 2012), muito dificilmente existirão condições
para se proceder à aquisição de um novo CC. Também pela
actual directiva nº263/CEME/01, do General Chefe do  Estado-Maior do Exército, constata-se
que a prioridade está orientada para viaturas blindadas ligeiras, ou seja, na "guerra" entre
rodas versus lagartas, o sistema de viaturas blindadas rodas, em Portugal, vencerá a batalha,
pelo menos para os próximos anos. Portanto, se não houver outra atitude, o Exército Português
poderá manter nos próximos 25 anos o mesmo CC, no caso o M60A3TTS - essa situação só ocorreu
entre 1952 e 1977 quando tivemos o CC M47 ao serviço, mas por factos já explicados
anteriormente.

Algumas reflexões

De facto, até à data, não há país algum que tenha extinguido em absoluto as unidades de CC
dos respectivos Exércitos. No entanto, por existirem países a reduzir o número dessas
unidades -o que faz sentido porque têm-nas no plural e também porque, esses mesmos países,
optaram pelo aumento das capacidades letais dos seus CC e, simultaneamente, pela maior
garantia da própria sobrevivência destes, em detrimento da quantidade -, tal
não significa que em Portugal se reduza até à extinção o único GCC, uma vez que será
extremamente perigoso reduzir o singular porque só restará zero !
Além disso, o GCC é a única pequena unidade de escalão Grupo que tem permitido, a sucessivas
gerações de Oficiais de Cavalaria, trabalhar as acções e os procedimentos de comando e de
estado-maior, tendo por base a doutrina de referência.
Mas a montante desta particularidade cavaleira, há também o facto de apenas existir uma
Grande Unidade(GU) mecanizada nacional -a Brigada Mecanizada Independente.
Embora a sua categorização seja a de Forces of Lower Readiness (FLR), aquela Brigada
constitui ainda um subsistema do Sistema de Forças Nacional. Assim sendo, as subunidades
orgânicas da BMl, mesmo que sejam afectadas em efectivos na ordem de grandeza próxima de
1/3 dos seus quadros orgânicos aprovados, continuarão a subsistir.
Partindo agora do pressuposto de que o Grupo de Carros de Combate do Exército Português
continuará a existir -até porque há também razões de dissuasão estratégica militar, de
natureza defensiva, como a existência de um certo equilibrio regional entre Portugal e os
países
Vizinhos quanto ao número, ao tipo de CC e ao treino operacional das suas guarnições -,
equacionam-se de seguida algumas perguntas:
 -Qual deverá ser a missão do GCC de forma a satisfazer com os seus meios orgânicos as
  condições de emprego em conflitos de natureza diversa e de um novo ambiente operacional ?
 -Qual será o CC mais indicado e como obtê-lo?
Estas perguntas são necessárias e suficientes para se atingir plenamente o objectivo deste
artigo. No entanto, muitas outras poderão ser equacionadas.
De seguida, apresentam-se as respectivas respostas:
 -No actual contexto internacional de alianças e de tratados inter-Estados, a missão
tradicional, apenas para operações convencionais no território nacional, é arcaica.
Tem que se incluir na missão do Grupo de Carros de Combate -e em outras unidades deste
escalão -a possibilidade do seu empenhamento em missões no estrangeiro, sob a égide das
Organizações Internacionais de que Portugal faz parte. Para que isto seja possível é
necessário que os meios orgânicos principais do GCC possuam outras características.

E como será o GCC até 2030?
Terá o actual CC orgânico e na mesma ouantidade?
Poderá comprar-se para o M60A3TTS um upgrade?
Ou comprar-se-á um novo CC?
Uma vez oue os recursos financeiros não são ilimitados deverá atender-se sempre à relação
custo/eficácia

Uma solução para a obtenção de um CC de primeira linha passará necessariamente pela partilha
com outros países -principalmente europeus -na execução de um programa comum para que se
conceba e construa um CC à semelhança do FCS americano e também para 2030. Não
tendo o nosso País indústria de armamento deste tipo, aparticipação portuguesa poderá
fixar-se apenas pela assunção de um ou mais componentes estruturais do CC, através da
execução de alguns projectos desse programa, exigindo, naturalmente, recursos financeiros e
humanos -à base de equipas pluridisciplinares e interdisciplinares, envolvendo militares e
civis -necessários e suficientes para a sua concretização.
E como será o GCC até 2030? Terá o actual CC orgânico e na mesma quantidade? Poderá
comprar-se, para o M60A3TTS, um upgrade? Ou comprar-se-á um novo CC?
Uma vez que os recursos financeiros não são ilimitados, deverá atender-se sempre à relação
custo/eficácia.
Uma opção -talvez a mais equilibrada -será pela redução progressiva de três a dois Esquadrões
de CC M60A31TS até, no máximo, 2009, sendo também o ano limite para que se introduza em
Portugal o equivalente a um Esquadrão de Carros de Combate (ECC), mas com CC que possuam,
prioritariamente, novas tecnologias de comunicação e de informação, peças de calibre 12OMM
para munições de propulsor sólido e sistemas de pontaria e de tiro estabilizados em direcção
e elevação independentes.
Entre 2009 e 2015 deverá ter-se ao serviço apenas um ECC M60A3tTS e um ECC equipado com os
CC adquiridos recentemente. Simultaneamente e até 2015 deverão comprar-se os restantes CC da
familia deste último para as outras subunidades do GCC, terminando, portanto, nesse ano,
o CC M60A3TTS ao serviço do Exército Português.
Quando se estiver em 2030 poder-se-á receber então o equivalente a um Esquadrão de Carros
de Combate mas equipado com os CC de primeira geração, produzida em parceria com outros
países, substituindo os CC adquiridos em 2009.
Mais tarde, depois de testados, verificados e eventualmente corrigidas determinadas
deficiências ou omissões de fabrico do novo CC, ou ainda pela introdução de outros
melhoramentos, substituir-se-ão os outros CC restantes, nunca para além de 2035.

Conclusões

É possível identificar ainda alguns motivos relevantes e susceptíveis de sustentarem a
continuidade de unidades equipadas com carros de combate, desde que as suas características
permitam a adaptação aos diferentes conflitos previsíveis a médio e a longo prazo e,
consequentemente, aos novos ambientes operacionais.
A opção apresentada -ou outra a considerar -para solucionar o actual dilema do CC e,
simultaneamente, do GCC em Portugal, terá de ser detalhada sob a forma de um plano dinâmico
e a longo prazo, sempre com a condição de se saber e querer.
Só assim será possível garantir que o CC em Portugal esteja assegurado para as gerações
vindouras. Caso contrário, imperará a desmotivação dos quadros para servir no GCC, em
oposição àquela que se verifica -e continuará a verificar-se -nas unidades de reconhe-
cimento terrestre, em particular nos Esquadrões de Reconhecimento das Brigadas
Aerotransportada Independente e Ligeira de Intervenção, e ainda no Grupo de Aviação Ligeira
do Exército, uma vez que há razões substanciais e.legítimas para estas opções, como sejam
os factores de motivação relacionados com a natureza das suas próprias missões e dos meios
modernos de que a dispõem, ou ainda pela sua maior probabilidade de emprego em missões
internacionais como unidades constituídas.
 
Artigo do J.E. de março de 2003
do Major Cav Amado Rodrigues
 

*

papatango

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(sem assunto)
« Responder #1 em: Maio 16, 2006, 10:49:30 am »
Em primeiro lugar, obrigado por nos trazer esta opinião.
É um texto interessante que merece uns minutos para a leitura.

Faço apenas alguns reparos e anoto a minha opinião e também dúvidas e comentários sobre o texto:
==========================================
Citar
constata-se que a prioridade está orientada para viaturas blindadas ligeiras, ou seja, na "guerra" entre rodas versus lagartas, o sistema de viaturas blindadas rodas, em Portugal, vencerá a batalha, pelo menos para os próximos anos

Parece ser a opinião de uma corrente, e é uma opinião com muita força.

Citar
E como será o GCC até 2030? Terá o actual CC orgânico e na mesma quantidade? Poderá comprar-se, para o M60A3TTS, um upgrade? Ou comprar-se-á um novo CC?
Uma vez que os recursos financeiros não são ilimitados, deverá atender-se sempre à relação custo/eficácia.
Quando vi isto apanhei um susto, no entanto mais abaixo explica-se que não

Citar
Uma opção -talvez a mais equilibrada -será pela redução progressiva de três a dois Esquadrões de CC M60A3TTS até, no máximo, 2009, sendo também o ano limite para que se introduza em Portugal o equivalente a um Esquadrão de Carros de Combate (ECC), mas com CC que possuam, prioritariamente, novas tecnologias de comunicação e de informação, peças de calibre 12OMM para munições de propulsor sólido e sistemas de pontaria e de tiro estabilizados em direcção e elevação independentes.
Ler: Este opção/sugestão aponta para 15 a 20 carros de combate com peça de 120mm até 2009.

Citar
Entre 2009 e 2015 deverá ter-se ao serviço apenas um ECC M60A3TTS e um ECC equipado com os CC (que teriam sido) adquiridos recentemente. Simultaneamente e até 2015 deverão comprar-se os restantes CC da familia deste último para as outras subunidades do GCC, terminando, portanto, nesse ano, o CC M60A3TTS ao serviço do Exército Português
Eu confesso que sou um maníaco da normalização e uniformização de meios, e por isso tenho dificuldades em aceitar que se possa considerar a possibilidade de operar simultaneamente dois tipos de carros de combate, nomeadamente um esquadrão de um tipo e um esquadrão de outro tipo.
Num exército de quatro gatos pingados, manter mesmo que durante apenas alguns anos carros com características tão diferentes como Leopard-II e M-60, parece fazer tudo menos sentido.

Citar
A opção apresentada -ou outra a considerar -para solucionar o actual dilema do CC e, simultaneamente, do GCC em Portugal, terá de ser detalhada sob a forma de um plano dinâmico e a longo prazo, sempre com a condição de se saber e querer.
Só assim será possível garantir que o CC em Portugal esteja assegurado para as gerações vindouras.


É uma conclusão interessante, mas mais uma vez sou assaltado por uma impressão, tendo como ponto de partida as palavras do Major de Cavalaria A.Rodrigues:

O autor, considera a necessidade de garantir que a arma sobrevive, e que se “defendem” os esquacrões de carros de combate, mas não explica de uma forma razoavel as razões que devem justificar a sua existência.

Fico com a impressão de que o autor do texto, defende a manutenção dos carros de combate apenas para que não deixem de existir, e não porque existe uma doutrina e conceito de utilização por detrás.

As explicações dadas pelo Major, parecem ter mais como referência as experiências americanas, que as possíveis ou prováveis necessidades portuguesas.
É feita uma análise histórica, afirmando que foram recebidos carros de combate, mas não é referida a função que a arma tem.

É no entanto (e independentemente das minhas dúvidas) um texto interessante que permite discutir o tema.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

*

mcalberto

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« Responder #2 em: Maio 18, 2006, 09:14:21 am »
Não sendo minha intenção analisar e discutir a essência do artigo de opinião que está na base deste "post", alerto somente para o facto de me parecer, de acordo com informação que possuo, existir um erro histórico.

De facto remontam à década de 30 do século XX, os primeiros carros de combate no exército português.

Refiro-me aos Vickers Carden Loyd Mk VI, dos quais se terão adquirido 6 unidades e aos Vickers 6Ton. Mk A/B dos quais terão sido adquiridas 2 unidades, designadas por "Portugal" e "Républica" e atribuidos à época ao Regimento de Caçadores 5.

 Cumprimentos
 

*

Rui Elias

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« Responder #3 em: Maio 18, 2006, 09:40:31 am »
Julgo que o nosso Exército também chegou a ter os americanos Sherman, que foram uma das imagens de marca das tropas americanas na Europa na II Grande Guerra.

Confirma-se?
 

*

ricardonunes

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« Responder #4 em: Maio 18, 2006, 09:54:48 am »
Parace que sim, fica um excerto de um texto retirado do Site do Exercito.

Citar
PERÍODO APÓS A I GRANDE GUERRA MUNDIAL (1919 - 1968)

É o início da época da motorização e mecanização.

Carros de Combate M47 "Patton"

Em 1952, chegam a Portugal os primeiros Carros de Combate (CC) M47. Não eram os primeiros CC que o nosso país tinha; já existiam, o "Valentine", o "Centauro", o "Stuart" (M5 A1), o "Chaffee" (M24), e os "Sherman". Mas o M47 era o "grande" CC.

Em 1953, já o Grupo de Carros de Combate (GCC) do Regimento de Cavalaria 8, manobrava em Santa Margarida. A Escola Prática de Cavalaria, tinha destacado em Santa Margarida um GCC que se constituía em encargo operacional de uma Divisão (o GDCC).

Em 1954, nas instalações do RC 4, realiza-se o primeiro Juramento de Bandeira no Campo de Instrução Militar.

A 29 de Maio de 1964, o GCC do RC 8 e o GDCC, são reunidos sob a designação de Regimento de Carros de Combate, que em 1 de Junho desse ano passa a designar-se por RC 4.
Potius mori quam foedari
 

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Nuno Bento

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« Responder #5 em: Maio 18, 2006, 11:42:16 pm »
Citação de: "Rui Elias"
Julgo que o nosso Exército também chegou a ter os americanos Sherman, que foram uma das imagens de marca das tropas americanas na Europa na II Grande Guerra.

Confirma-se?


Na seire a Guerra de Africa publicada no DN é referido que um Capitão de cavalaria"consegui vencer a burocracia" e levou uns quantos tanques shermans iguais aos que parteciparam na tomada de frança para angola, isto passou se logo nas primeiras operações em 1961.
Infelizmente estou em Timor e não tenho aqui a coleção senão eu pubicava aqui as fotografias dos tanques
 

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papatango

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« Responder #6 em: Maio 19, 2006, 12:44:35 am »
Acho que não foram Sherman mas sim M5A1

Temos o prazer de ter entre os utilizadores registados do fórum, o responsável pelo envio desses carros para Angola:

Citar
http://www.forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?t=3240


Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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« Responder #7 em: Julho 04, 2006, 09:27:57 am »
Recuperando este tópico com uma pergunta off-topic.......... :roll:
O exército Português possuiu no seus arsenais alguma espingarda anti-carro tipo aBritish 0.55 inch Boys, a Mauser 13.2 mm Rifle Anti-Tank ou a Solothurn S-18/100 20 mm Suiça????
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Luso

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« Responder #8 em: Julho 04, 2006, 10:51:18 am »
Possuiu a Boys, recebida, creio eu em 1944, quando estava obsoleta para essa missão.
Aquele cavalheiro que foi recentemente preso tinha uma, mas aposto que estava neutralizada...
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Lancero

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« Responder #9 em: Julho 04, 2006, 11:26:23 am »
Esta?

"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

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« Responder #10 em: Julho 04, 2006, 11:52:52 am »
É essa.
A terrível "metralhadora antitanque" da imprensa...
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Bravo Two Zero

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« Responder #11 em: Julho 04, 2006, 11:55:47 am »
Citação de: "Lancero"
Esta?



É uma Boys .55 in....................
Mas, quem era o "cavalheiro" :?:
Devo ter perdido algum episódio................
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Lancero

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« Responder #12 em: Julho 04, 2006, 12:26:58 pm »
O cavalheiro estava, digamos, bem 'seguro'. O problema dele, ao que li, foi mostrar as fotos das armas na net.

"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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José Matos

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« Responder #13 em: Julho 04, 2006, 01:28:29 pm »
Olá a todos

O artigo do Amado Rodrigues é um bom artigo de análise (embora um pouco datado) e praticamente o único que se produziu sobre este tema até hoje no Jornal do Exército. É preciso, no entanto, ver que o artigo foi escrito em 2002 e nessa altura o autor foi cauteloso na evolução do CC no exército.

A redução que protagonizava na BMI era de 2 esquadrões com o M60 e 1 com o novo CC até 2009, o que significava a aquisição de 12 carros apenas para o novo esquadrão. Depois de 2009 a 2015 percebe-se que ideia era manter um esquadrão de M60 e outro do novo CC até o M60 ser completamente substituído. O autor defende que o cenário ideal seria manter os 3 esquadrões que actualmente existem no GCC da BMI e até 2015 tê-los com o novo CC.

Compreendo esta posição na altura, pois não havia na época grandes sinais na LPM da aquisição de um novo CC. Por isso, o autor é cauteloso nesta análise.

Como se pode ver pelas acontecimentos recentes o governo foi mais longe que as preocupações do autor e decidiu comprar CC para os 3 esquadrões da BMI. Portanto, vamos ter a substituição do M60 no GCC muito mais depressa que aquilo que é defendido no artigo.

Quantas às razões do CC no exército o autor é claro sobre isso:

 
Citar
Para além de operações de integridade territorial nacional, num cenário de conflito de grande intensidade, ou ainda para manutenção de treino operacional das suas guarniçõess, o CC -tal e qual como o conhecemos no Mundo, em geral, e em Portugal, em particular -, continua a ser ainda empregue como o meio terrestre mais eficaz de dissuasão em qualquer tipo de operação.


Um abraço

 

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Miguel

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« Responder #14 em: Julho 04, 2006, 01:36:13 pm »
Citação de: "Lancero"
O cavalheiro estava, digamos, bem 'seguro'. O problema dele, ao que li, foi mostrar as fotos das armas na net.



O gajo tinha isto tudo em casa :? ????

Queria desencadear uma guerra civil?

Isto cada vez mostra ainda mais que os grupos/movimentos de extrema direita são muitos perigosos.....