Encouraçado Aquidabã

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Encouraçado Aquidabã
« em: Julho 11, 2008, 04:01:20 am »
Encouraçado Aquidabã

O encouraçado Aquidabã ficou famoso na história naval brasileira como um dos mais terríveis acidentes navais da Marinha do Brasil em tempos de paz, e seus mortos são reverenciados até hoje.

Histórico:

Em abril de 1880 o então Ministro da Marinha Imperial Almirante José Rodrigues de Lima Duarte apresentava relatório a Assembléia Legislativa sobre a urgência de se modernizar a Marinha Imperial com a adoção de modernos navios encouraçados. Para tanto foram encomendados dois navios a Inglaterra, eram eles o Riachuelo e o Aquidabã.

O encouraçado Aquidabã foi construído na Inglaterra pelo estaleiro Samuda & Brothers, tendo tido sua quilha batida em maio de 1883, sendo lançado ao mar em 17 de janeiro de 1885 e incorporado a Armada Imperial Brasileira em 29 de janeiro de 1886, seu primeiro comandante foi o Capitão de Mar e Guerra Custódio José de Melo, mais tarde Ministro da Marinha e líder na Revolta da Armada, logo que chegou ao Brasil o navio foi subordinado a 1ª Divisão de Guerra.

O Aquidabã era basicamente idêntico ao Riachuelo, apenas diferindo por possuir uma única chaminé e ter seu armamento secundário ligeiramente inferior, tinha como dimensões comprimento de 93.33 metros, boca de 17.16 metros e calado de 5.60 metros deslocando 5.029 toneladas, com uma potência de 4.500 hps podendo desenvolver uma velocidade máxima de 16 nós, seu armamento principal era constituído por 4 canhões de 225 mm montados em duas torres complementados por 4 canhões de 140 mm, 11 metralhadoras de 25 mm, 5 metralhadoras de 11 mm e 5 tubos lança torpedos.

Seu nome é em homenagem ao riacho, afluente do rio Paraguai, às margens do qual foi travada em 1º de março de 1870 a batalha que pôs fim à Guerra do Paraguai. A história do Aquidabã confunde-se com a própria história da republica em seus primeiros anos, pois durante seus quase 21 anos de serviço a Marinha ele participou de inúmeros acontecimentos históricos brasileiros, aonde se destacam; o movimento que derrubou o então presidente Marechal Deodoro em 1891 e a Revolta da Armada em 1893, sendo a nau capitânia da esquadra revoltosa, sob o comando do então Capitão de Fragata (futuro Ministro da Marinha) Alexandrino Faria de Alencar.

O Golpe de Estado de 1891

O cenário político logo após a proclamação da republica em 1889 era muito conturbado e a "democracia" logo sofreria seu primeiro golpe, sentindo a jovem republica a sua primeira ditadura. Na manhã de 3 de novembro de 1891 iniciava-se o golpe de estado, liderado pelo presidente da republica o marechal Deodoro da Fonseca, com o fechamento das duas casas do Congresso.

Nesse período o Aquidabã estava docado em reparos, juntamente com outro navio o Riachuelo. Vários oficiais da marinha conspiravam para derrubar o governo ditatorial que se instituía, liderados pelo Almirante Custodio José de Mello, que agregava ao seu redor um grande numero de oficiais subalternos espalhados nas diversas unidades navais que estavam no Rio de Janeiro, esses oficiais conseguiam adesões ao movimento abordo de seus próprios navios. O Almirante Custódio estava preocupado com o atraso da eclosão do contra golpe, mas um dos principais motivos para essa demora era o fato dos dois mais poderosos navios da marinha estarem docados, eram eles os encouraçados Aquidabã e o Riachuelo.

Custódio de Mello já traçara um plano de contingência para ser usado, o movimento partiria do cruzador Primeiro de Março, que estaria fundeado entre a Ilha das Cobras e o Arsenal de Marinha, de onde partiriam os oficiais, a maioria de baixa patente, para assumirem o comando das outras unidades navais. Parte da guarnição do Primeiro de Março assumiria o Riachuelo, já comprometido com o movimento, seguindo então para o Aquidabã, que acabara de sair do dique, caso esse resistisse seria afundado, caso aderisse ao movimento, como era esperado, seria então rebocado, já que se encontrava ainda sem propulsão, para a Ponta da Armação em Niterói a fim de proteger as instalações lá existentes, o que acabou por acontecer.

A partir desse momento Deodoro não mais ignorou o movimento, que vinha sendo executado as claras mas sem que o Marechal desse a devida importância, pois acreditava ter total apoio do exercito e julgava que fosse apenas um movimento isolado, ordenou então a prisão dos principais lideres do contra golpe, a grande maioria da marinha, o que desagradou a maior parte dos altos oficiais ainda não comprometidos com o movimento, acabando por fortalece-lo.

O Marechal Deodoro designou então o Capitão de Mar e Guerra Eliezer Tavares para assumir o comando do Aquidabã, no dia 22 de novembro, logo ordenando os preparativos para combate, mas esse ainda estava sem propulsão e dependia de um rebocador para movimentar-se. O novo comandante declarou sua intenção de resistir ao movimento e de afundar o Riachuelo caso houvesse resistência do mesmo, porem a guarnição se recusou a entrar em combate, diante disso o comandante Tavares recebeu ordens de encalhar o Aquidabã na Enseada São Cristóvão inutilizando-o, para tanto foi enviado um rebocador que foi recebido a tiros de fuzil, sendo a operação cancelada e o comandante Tavares desembarcando, assumindo o comando o capitão tenente Veríssimo de Matos, ficando assim o Aquidabã novamente comprometido com o contra golpe. Um rebocador da esquadra revoltosa rebocou o Aquidabã para fora do alcance das baterias da Ilha das Cobras, levando-o em direção a Ilha das Enxadas. Toda a força rebelada foi reunida lá, preparando-se planos para os combates que viriam, mas não foi necessário, pois a 23 de novembro de 1891 Deodoro renunciava, sendo substituído pelo Marechal Floriano Peixoto, era o fim do movimento, o contra golpe fora vitorioso.

A Participação do Aquidabã na Revolta da Armada

Apesar da vitória em 1891 a situação política não ficou menos conturbada, pois Floriano fazia um governo autoritário e enérgico, as vezes até chegando a ser inconstitucional o aumento dos ressentimento e da pressão política acabaram por resultar na Revolta da Armada em 1893 aonde o encouraçado Aquidabã teve uma atuação determinante como a nau capitânia da esquadra rebelde.

Em 19 de janeiro de 1892 rebelaram-se os detentos da Fortaleza de Santa Cruz, dominando o forte, esses dominaram também a Fortaleza da Lage e o forte do Pico. Dessa vez o encouraçado Aquidabã atuou ao lado do governo na repressão aos revoltosos, juntamente com os encouraçados Riachuelo, Solimões e Bahia, o cruzador Parnaíba e as canhoneiras Orion e Cananéia, mas essa lealdade incondicional da marinha ao governo de Floriano não duraria muito. As pressões e a desorganização política do governo continuavam.

Em meados de 1893 a Revolta da Armada estava sendo politicamente articulada entre o Almirante Custodio de Mello e diversos lideres civis, nessa ocasião o Aquidabã estava novamente docado, mas seu comandante o então Capitão de Fragata Alexandrino Faria de Alencar já estava comprometido com o movimento que se articulava, sabendo que a conspiração estava em andamento o presidente Floriano Peixoto mandou retirar os hélices do Aquidabã imobilizando-o, porem outro ato de sabotagem atrasaria mais ainda a prontificação do encouraçado, em 3 de agosto pretendia-se colocar o Aquidabã de volta ao mar, mas a chave da sala das bombas da doca havia sumido, sem ela não se poderia encher o dique no qual ele se encontrava, e a operação teve que ser adiada.

A eclosão do movimento, a essa altura, estava na dependência do fim dos reparos no Aquidabã, que era o navio mais poderoso comprometido com o movimento, pois o Riachuelo encontrava-se na Europa sendo modernizado, estando o final dos trabalhos previsto para o dia 5 de setembro. Quando terminaram os reparos o Aquidabã foi novamente colocado na água, descobriu-se então outra sabotagem, uma peça essencial da bomba centrifuga do condensador da praça de máquinas fora roubada, condenando o encouraçado a ficar sem propulsão própria até que se conseguisse improvisar uma substituta, pois não havia sobressalente. A revolta não podia mais esperar e iniciou-se, mesmo com o Aquidabã imobilizado, no dia 6 de setembro de 1893 com o Almirante Custodio José de Mello, a frente do movimento, em seu passadiço lançando um manifesto a nação exigindo a renuncia do presidente Floriano Peixoto.

Quando do início da Revolta estavam ancorados na Bahia do Guanabara vários navios de guerra estrangeiros como "observadores internacionais", eram eles um cruzador francês o Arethuse, três navios britânicos, um cruzador o Sirius e duas canhoneiras a Beagle e Racer, dois cruzadores italianos o Giovanni Bauzan e o Dogali e a corveta portuguesa Mindelo, mais tarde se juntaram a essa força internacional os cruzadores alemães Arkona e Alexandrina, os cruzadores americanos Charleston, New York, San Francisco, Detroit e Newark, o cruzador holandês De Huyter, mais um cruzador italiano o Etna, juntamente com as canhoneiras Andrea Provana e Sebastiano Veniaro, outro cruzador francês o Magon , outro britânico o Barracouta, a fragata austríaca Zrimgyi e outra corveta portuguesa a Afonso Albuquerque, num total de 22 belonaves de 7 países diferentes que visavam proteger os interesses de seus governos durante a crise e manter a integridade dos seus mercantes, esses navios permaneceram no Brasil até o inicio do mês de fevereiro de 1894 quando a febre amarela os forçou a irem embora aos poucos, restando praticamente só os navios americanos, alemães e portugueses.

Os primeiros dias da revolta foram ocupados pelos reparos nas maquinas do encouraçado Aquidabã, o armamento dos cruzadores auxiliares e o abastecimento dos navios.

No dia 24 de setembro um barqueiro aproximou-se do portaló do Aquidabã trazendo um "presente" inusitado para o Almirante Custodio, um grande livro, a tripulação desconfiou do tamanho e peso do livro e do fato desse presente aparentemente sem motivo e o abriram com cuidado vendo que na verdade se tratava de uma bomba, método terrorista que era uma inovação para a época. No dia 27 o Aquidabã seria vitima de outra tentativa de ataque, o cruzador inglês Sirius apreendeu uma lancha suspeita, chamada Joana, ostentando a bandeira britânica tripulada por um americano, um canadense, um norueguês, um belga, um irlandês e dois brasileiros, todos mercenários contratados pelo governo do Marechal Floriano Peixoto, que lavavam uma mina para ser presa ao casco do Aquidabã.

No dia 30 o Aquidabã saiu acompanhado dos navios Javarí e Trajano e juntos descarregaram seus canhões contra as fortalezas da barra entre as 14:00hs e 16:00hs, sem muito resultado, apenas provocando uma grande correria da população assustada com os tiros.

Em 16 de outubro apresentou-se a bordo do Aquidabã um senhor de nome Bailé, auxiliar do diretor da Cia. Docas do Rio de Janeiro, dizendo querer aderir a Revolta, desconfiados da atitude dele a tripulação o prendeu, tendo confessado mais tarde que tinha ordens de se infiltrar no movimento para em momento oportuno sabotar o Aquidabã, a idéia seria colocar uma mina no casco do navio.

A principal ação do Aquidabã durante o mês de novembro foi o apoio de fogo dado a incursão de um destacamento de aspirantes na Ponta da Amarração, que visava pegar munição e alguns canhões para a frota rebelada, o que conseguiram a muito custo, e que teria sido impossível sem o apoio de fogo do Aquidabã e dos cruzadores Trajano e Júpiter.

Com a Revolução Federalista e a instalação do Governo Provisório do Desterro, na Província do Rio Grande do Sul, Custodio, seguindo sugestão do Almirante Saldanha da Gama, decidiu deslocar-se para o sul, levando o Aquidabã e o cruzador auxiliar Esperança , partindo na madrugada do dia 1º de dezembro de 1893. O encouraçado Aquidabã seguiu lentamente de saída e na altura da Ilha de Villegagnon efetuou alguns disparos sobre a fortaleza com o intuito de chamar a atenção para si, se tornando alvo e protegendo a passagem do Esperança , porém esse não saiu ileso, tendo sido atingido cinco vezes e ficando bastante avariado fundeou fora do alcance da artilharia das fortalezas, o Aquidabã também foi atingido, mas quase nada sofreu, rebocando então o Esperança para Rio Grande, aonde foram feitos reparos de emergência para que esse pudesse prosseguir com seus próprios meios. Chegaram ao seu destino no dia 5 de dezembro.

Com Custodio no Rio Grande do Sul o Almirante Saldanha da Gama esperava ter apoio dos tropas federalistas para poder realizar seu plano estratégico de desembarcar no Rio de Janeiro através de Niterói ainda no mês de janeiro, para tanto pediu entre 1500 e 2000 homens que seriam trazidos por uma força tarefa sob o comando do Capitão de Fragata Alexandrino de Alencar, tendo como capitânia o Aquidabã. Porem no dia 12 de janeiro o Aquidabã chega sozinho ao Rio de Janeiro com tripulação reduzida e maquinas debilitadas, com ordens de dar cobertura para a retirada da esquadra de Saldanha rumo ao sul para juntar-se ao resto da força, Alexandrino disse a Saldanha que não haveria desembarque e o avanço das tropas seria feito por terra.

Em fevereiro Custodio chegou ao Rio de Janeiro com o cruzador Republica, logo após o fracasso da tentativa de desembarcar na Ponta da Amarração, pretendendo seguir, juntamente com o encouraçado Aquidabã, para Salvador a fim de atacar a esquadra legalista que estava sendo preparada naquele porto e retornar a tempo de cobrir a retirada da esquadra de Saldanha da Baia do Guanabara. No dia 21 de fevereiro o Aquidabã e o Republica saíram da barra sob fogo cerrado das fortalezas, sendo severamente avariados, seguindo ambos para o sul ao invés do norte, ficando o Aquidabã fundeado junto a Ilha dos Porcos e Custodio seguindo para Paranaguá com o Republica a fim de providenciar os reparos necessários pretendendo retornar ao Rio de Janeiro em 3 ou 4 dias. Alexandrino de Alencar esperou por seis dias, retornando então com o Aquidabã para prestar auxilio a Saldanha, porem na madrugada de 1º de março o cruzador auxiliar Íris sinalizou trazendo uma mensagem do Almirante Custodio ordenando que rumasse urgente para Paranaguá, pois a esquadra legalista já se fizera ao mar.

Em Paranaguá o Aquidabã recebeu suprimentos e tripulantes para substituir os seus doentes acometidos de Beribéri para depois seguir ao Rio de Janeiro, porem Alexandrino decidiu seguir para Santa Catarina para poder reparar o Aquidabã que necessitava de urgentes reparos em suas máquinas.

O Último Combate

No dia 16 de abril de 1884 o encouraçado Aquidabã combateria pela ultima vez, sendo o único navio revoltoso, pois Saldanha da Gama se rendera no Rio de Janeiro e Custodio já entregara seus navios a Argentina.

O Aquidabã foi designado para defender o Desterro enquanto o restante da esquadra seguiria para o desembarque, que depois fracassou, no Rio Grande. Já com as maquinas em péssimo estado, sem conseguir desenvolver mais do que 4 nós horários, e seu armamento parcialmente operacional, 3 dos canhões estavam inutilizados e o restante descalibrado, não havendo meios para os reparos necessários, além da falta de carvão e óleo lubrificante (azeite, como era chamado na época) , mesmo assim Alexandrino preparou sua defesa.

Tentou-se fundir pequenas minas em uma oficina no Desterro, mas sem sucesso, então foram colocadas bóias de sinalização no Canal de Santa Catarina simulando a existência de uma linha de defesa de minas, por fim o Aquidabã foi fundeado em um lugar conhecido por Caieira, aonde a vegetação alta confundia-se com a silueta do encouraçado, ali ficando aguardando o desenrolar dos acontecimentos em Rio Grande.

No dia 11 Alexandrino recebeu noticias sobre o fracasso do desembarque em Rio Grande, porém não sabia ainda se a esquadra de Custodio viria ao seu encontro ou se seguiria para a Argentina, aparentemente nunca recebeu a mensagem de Custodio enviada abordo da canhoneira britânica Beagle, decidiu então aguardar.

A esquadra legalista vinha em direção ao sul esperando encontrar toda a força naval de Custodio, pararam em Porto Belo aonde o transporte de guerra Itaipú foi enviado ao Desterro em missão de reconhecimento, avistando apenas o Aquidabã , e também sendo avistado por ele, entre as ilhas da Rapa e do Arvoredo, Alexandrino sabia então que brevemente seria atacado.

O Almirante Jerônimo Gonçalves, comandante da esquadra legalista, decidiu não arriscar seus cruzadores auxiliares no estreito Canal de Santa Catarina, enviando então as torpedeiras para o ataque final ao Aquidabã.

A ação ofensiva ficou a cargo da torpedeira Gustavo Sampaio, acompanhada pelas também torpedeiras Pedro Afonso, Silvado e Pedro Ivo. Os 4 navios investiram o canal em baixa velocidade encontrando logo as bóias que simulavam minas, contornando-as, não encontrando o Aquidabã guinaram para boreste, apesar dos avisos do pratico que estava a bordo da Gustavo Sampaio receoso do baixo calado disponível no local. Pouco após a meia noite localizaram a proa do Aquidabã a cerca de 200 metros de distância apontada em sua direção, inicialmente Alexandrino achou ser o transporte portuário Itapemirim, que viria trazendo o Presidente Machado juntamente com tropas de reforço para as fortalezas, quando percebeu o engano iniciou fogo cerrado com todo o armamento, porém com a pequena distância dos alvos apenas as metralhadoras eram eficientes, apercebendo-se disso o capitão tenente Altino Flávio, comandante da Gustavo Sampaio deu ordens para navegarem a toda a velocidade e manterem-se a menos de 200 metros de distância do encouraçado, nesse momento a torpedeira Pedro Ivo teve que abandonar a operação devido a problemas de baixa pressão em suas caldeiras, as outras seguiram para lançarem seus torpedos, a primeira a Gustavo Sampaio lançou seu primeiro torpedo antes da ordem de fogo, perdendo-o, seguida pela Pedro Afonso que disparou 2 torpedos, mas também não acertaram, a terceira a Silvado teve o alvo encoberto perdendo a oportunidade de lançar seus torpedos. Vendo falhar os torpedos anteriores a Gustavo Sampaio deu a volta pela popa do Aquidabã seguindo paralelamente a seu bombordo, mantendo sempre a mesma distância de cerca de 200 metros, efetuando então o disparo de seu segundo e ultimo torpedo que teve impacto direto na proa do encouraçado, retirando-se então as 3 torpedeiras em alta velocidade até chegarem ao falso campo minado, quando reduziram a marcha, mas já fora do alcance dos canhões do Aquidabã.

O impacto do torpedo foi bastante forte e os compartimentos de vante logo ficaram alagados, apesar das portas estanques estarem bem fechadas, embora avariado o Aquidabã tentou seguir para mar aberto a fim de continuar dando combate ao inimigo, mas a proa ficava cada vez mais pesada e o comandante Alexandrino notou que o naufrágio era inevitável, optando então por permitir que o navio afundasse em águas bastante rasas.

Após o encalhe do Aquidabã chegou o Presidente Machado abordo do Itapemirim, e junto com o comandante Alexandrino decidiram que não havia nada mais a fazer pelo valente encouraçado, sendo sua tripulação passada para o Itapemirim e deixados em terra, os oficiais seguiram até oi cruzador alemão Arkona, abordo de um pequeno rebocador, pedindo asilo político, que foi negado, regressaram então ao navio afundado aonde Alexandrino queria permanecer, mesmo que sozinho, mas os outros oficiais finalmente o convenceram a desembarcar, mais tarde a tripulação do Aquidabã ainda combateu, na cavalaria, ao lado das tropas federalistas.

Por volta das cinco horas da manhã do dia 16 o capitão tenente Altino Flávio fazia seu relatório ao Almirante Gonçalves, não garantindo ter atingido o Aquidabã, apesar de tudo indicar que o torpedo acertara o alvo. Para poder repetir o ataque as torpedeiras precisavam ser rearmadas, para tanto o Almirante Gonçalves ordenou o fundeio em Ganchos, mantendo o cerco ao Aquidabã que permanecia no mesmo lugar.

No dia 17 Gonçalves recebeu, através do cruzador alemão Arkona, a noticia de que o Aquidabã estava abandonado, enviou então o Tiradentes, que confirmou o acerto do torpedo e a veracidade de Aquidabã estar abandonado.

O Resgate do Aquidabã

No mesmo dia 17 o Aquidabã foi ocupado e logo o Almirante Gonçalves pediu uma vistoria para averiguar a possibilidade de salvar o navio, chegando-se a conclusão que o encouraçado poderia ser recuperado e retornar ao Rio de Janeiro por seus próprios meios, o que foi decidido fazer, mais por orgulho do que por razões econômicas. no dia seguinte foram levados para bordo bombas de esgoto, madeira, cimento e todas as ferramentas necessárias, além de diversos operários, a idéia inicial era colocar um tampo parafusado no rombo, o que logo se perceber inexeqüível, pois não aguentaria os golpes de mar durante a viagem ao Rio de Janeiro, optou-se então por reforçar os compartimentos alagados, conseguindo-se esgota-los em quatro dias, mas ainda haviam 200 toneladas de água abordo no local do rombo provocado pelo torpedo.

O cruzador auxiliar Niteroy tentou passar uma camisa no Aquidabã a fim de faze-lo flutuar novamente, já que esse estava parcialmente enterrado na lama, mas sem êxito. Tentou-se outra camisa, novamente sem êxito.

Ao chegar ao Rio de Janeiro o Aquidabã foi docado no ARMJ para reparar o dano no casco, sendo depois levado para a Alemanha para ser modernizado, ao todo a operação de resgate e a modernização do encouraçado custaram tanto quanto a aquisição de um navio novo, e mais moderno.

Após a Revolta da Armada

O Aquidabã seguiu para o Rio de Janeiro com o nome de 16 de abril , mas no dia 5 de maio de 1894 teve seu nome alterado para 24 de maio, nome que ostentou por pouco tempo, logo voltando a se chamar novamente Aquidabã.

Em novembro de 1894 o Aquidabã segue para a Alemanha aonde foi docado e praticamente reconstruído, tendo sofrido radicais reformas no casco, artilharia e tubos de torpedos, seu raio de ação foi aumentado e dois novos mastros militares substituíram os antigos.

O Aquidabã foi docado pela ultima vez em 1903 no Dique Santa Cruz, aonde a principal ação foi a retirada de seus dois mastros, colocados na reconstrução na Alemanha, substituindo-os por um único mastro de sinalização.

O Acidente: O Fim do Aquidabã

Mas em 21 de janeiro de 1906 terminaria a gloriosa carreira desse encouraçado. O Aquidabã encontrava-se fundeado na Enseada Jacuacanga, na Baia da Ilha Grande, Estado do Rio de Janeiro, juntamente com os cruzadores Tamandaré e Barroso, sendo este ultimo a capitânia do então Ministro Almirante Júlio César de Noronha. Esses navios levavam uma comitiva ministerial que realizava estudos visando a construção de uma base naval naquela baia, destinada a reparos e construções de navios de guerra, o tão sonhado Porto Militar.

Por volta das 22:45hs houve uma grande explosão, devido a combustão espontânea de cordite em um paiol de munições destinado a torre de ré de canhões de 225 mm, explosão essa que partiu o navio ao meio fazendo-o afundar em poucos minutos.

Faleceram 113 homens entre tripulação e membros da comitiva ministerial, sendo 15 oficiais, entre os quais o comandante do navio Capitão de Fragata Artur da Serra Pinto, o imediato capitão tenente Henrique de Noronha, primo do Ministro da Marinha e os Contra Almirantes João Cândido Brasil, Rodrigo José da Rocha e Francisco Calheiros da Graça, pertencentes a comitiva ministerial, além de16 guardas-marinha, incluindo o filho do Ministro da Marinha , 81 praças e um fotografo civil. Salvaram-se 96 homens entre oficiais e praças.

Três dias depois, no dia 24, o rebocador Coluna foi enviado com uma equipe de mergulhadores e técnicos comandados pelo Capitão de Corveta (engenheiro naval) João Manuel de San Juan para averiguar as causas do acidente e recuperar os corpos das vitimas, além de algum material do navio, porem poucos corpos puderam ser resgatados. Após o acidente o projeto de construção do porto militar foi abandonado.

Em 1913 foi erguido um monumento em homenagem aos mortos desse trágico naufrágio na ponta do Leste, município de Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro, onde a Marinha os reverencia anualmente.

Dados Técnicos:

Estaleiro: Samuda Brothers, 1885, Inglaterra
Batimento de Quilha: maio de 1883
Lançamento: 17 de janeiro de 1885
Incorporação: 14 de agosto de 1885
Deslocamento: 5.029 ton.
Dimensões: 85.40 m de comprimento, 15.86 m de boca e 5.49 m de calado.
Blindagem: de 178 à 280 mm nas laterais do casco; 254mm nas torretas principais e 254mm na superestrutura.
Propulsão: mista; vela, com três mastros armado em Barca e 2 máquinas combinadas de três cilindros a vapor, gerando 4.500 hp.
Velocidade: máxima de 14.5 nós.
Raio de Ação: 6.000 milhas à 10 nós.
Armamento: 4 canhões de retrocarga Whitworth de 9 pol., em duas torres duplas, dispostas em diagonal, uma a BE e outra a BB; 4 canhões de 6 pol.; 2 canhões de tiro rápido; 15 metralhadoras Nordenfelt e 5 portinholas para lança-torpedos.
Tripulação: 303 homens
Baixa: 21 de janeiro de 1906

Imagens:




Encouraçado Aquidabã




Monumento do Náufrago do Aquidabã

Fonte:

http://www.naval.com.br/NGB/A/A090/A090.htm
http://www.revistanaval.kit.net/aquidaba.htm
http://www.geocities.com/Pentagon/Base/6284/
http://www.historiadomar.com.br
http://www.friweb.com.br/takobell/conte ... viagem=124
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AyalaBotto

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« Responder #1 em: Julho 11, 2008, 08:36:13 am »
bom dia,

qual a diferença entre um "encouraçado" e um "couraçado"?
É apenas uma questão linguística que será resolvida pelo Acordo Ortográfico, ou existem de facto diferenças entre navios destas classes?


obrigado
cumprimentos
Ayala Botto

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« Responder #2 em: Julho 11, 2008, 09:25:33 am »
eu acho que apenas uma questão linguistica, no Brasil dizem "encouraçado" e nós dizemos "couraçado"
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas