A questão da utilização da GNR como força combatente, não tem nada de especial. Num país como o nosso, com uma dimensão reduzida nenhuma força pode ser deixada de fora.
O que no entanto eu acho, é que uma força da GNR, que é mais numerosa que o Exército, deve ser aproveitada como força de defesa territorial.
Uma parte do actual exército (ou da sua organização), continua ainda a existir, com base nessa ideia de forças de primeira linha e forças de segunda linha, que parecem copiadas dos planos de defesa dos anos 50, em que tínhamos divisões nacionais e depois tínhamos uma (queríamos pelo menos duas mas nunca as conseguimos montar) divisão pesada, que em caso de guerra tinha que atravessar a Espanha para lutar contra os russos na França ou na Alemanha.
Hoje, as coisas caminham para uma situação idêntica.
Já não há russos para lutar, mas há as missões de paz ou de imposição de paz, que precisam de forças mais sofisticadas.
Ao contrário, no caso da defesa territorial o problema é outro.
E evidente (aliás sempre foi) que não temos capacidade para enfrentar um inimigo muito mais poderoso nas planícies do Alentejo e com a actual rede de estradas, com alguma facilidade poderíamos ser invadidos em algumas horas.
A Guarda Republicana, é uma força que pode estar equipada com os meios adequados para resistir, não como uma força blindada sofisticada, mas como uma força de infantaria que está espalhada pelo país e que pode ter uma função muito importante a desempenhar.
Muita gente tem a ideia do GNR gordo e anafado (que em alguns casos corresponde à verdade) mas cada vez mais a GNR será constituída também por ex-militares do exército que depois dos 8 anos na tropa solicitam pedem a transferência para a GNR.
Está-se assim a criar uma força que pode perfeitamente com os seus 24.000 homens, organizar no mínimo mais duas brigadas de defesa territorial com capacidade militar.
Claro que não se vai equipar essa GNR com tanques Leopard ou com artilharia anti-aérea. Essa força teria que funcionar à base de unidades leves (com a necessária capacidade anti-tanque).
Aliás, forças ligeiramente melhor armadas que aquelas que vimos no Iraque ou em Timor.
Ao confiar à GNR mais capacidades para a defesa territorial, poderemos ter um exército mais pequeno e sem a desculpa da necessidade de muitos efectivos para a defesa do território, que quer se queira quer não se queira, continua a ser a função primeira de uma força armada de uma nação independente.
Logo, na minha visão, o exército passaria a ser uma espécie de grande força móvel, que pode ser colocada fora do país num curto espaço de tempo, e que funcionaria em coordenação com a GNR nas questões de defesa do território.
Para isto, naturalmente, é necessário que algumas das funções da GNR passem para as policias civis (PSP e policias municipais).
O resultado, é um exército com no máximo 16.000 militares.
Um exército com 15.000 militares pode conter 3 brigadas de 3.000 (total de 9.000) homens e efectuar as necessárias rotações de pessoal.
Com este dispositivo, com base na força de 9.000 homens teríamos capacidade para colocar no terreno uma força operacional de no mínimo 1.000 homens.
Se temos uma força com alguma capacidade operacional totalizando 9.000 homens, e mais 5.000 para serviços adicionais de apoio (e dentro dos 9.000 eu já estou a contar com pessoal de logística e apoio sanitário etc.) então concluímos que se existem aproximadamente 22.000 a 24.000 militares no exército, é capaz de ser difícil encontrar ocupação para 7.000 a 8.000 deles.
Se a isto juntarmos os dados recentes sobre a existência de 10.000 militares a mais nas Forças Armadas, podemos concluir que contas é que foram feitas para chegar a este tipo de conclusão.
Não há nada como verificar os resultados efectivos.
Quando os analisamos ficamos estarrecidos, porque não há explicação suficientemente elaborada que consiga explicar que uma força de 24.000 homens, tenha problemas de efectivos, porque tem 300 ou 400 militares no estrangeiro, como eu já vi um senhor oficial do exército explicar.
É no entanto verdade que podem existir problemas não só com o numero de militares, mas também com os meios logísticos de apoio que servem para os apoiar, mas mesmo assim, não acredito que um exército que há 30 anos tinha capacidade para lutar em três frentes e de suportar linhas de abastecimento com dezenas de milhares de quilómetros não consiga ter capacidade para manter uma força no estrangeiro com 1.000 militares combatentes, permanentemente.
Cumprimentos