Óbviamente! Independentemente da conclusão do inquérito, 40 anos de uso ainda por mais intensivo, é um abuso.
Há que falar das coisas sem pruridos, porque já chega de conversas "mansas" e politicamente correctas.
Porque tudo isto já extravasou há muito os limites e as forças armadas são tratadas por este regime como algo que apenas acarreta despesa. Aproveitando-se igualmente da ignorância e pouca sensibilidade da opinião pública para as matérias relacionadas com a Defesa (ao contrário da de outros países europeus com cidadãos mais informados e esclarecidos nestas matérias) para indo gradualmente desinvestindo e desviando as verbas para as suas clientelas políticas.
Naturalmente toda esta situação perniciosa tem contado com o silêncio de muitas chefias militares que pagos com excelentes salários e regalias para não levantarem ondas excessivas e irem aguentando o "barco" até ao limite (já ultrapassado). Apenas estando "autorizados" pelo poder político a discursarem em determinadas efemérides alertando "levemente" os governos para o facto, como estes já não soubessem que as FA's estão numa situação de colapso iminente e de indigência declarada.
Um caso paradigmático e triste (entre dezenas) é o da hipotética modernização e também da substituição prevista dos C-130.
O governo anterior (isto não tem nada a ver com partidos) através do ministro Aguiar Branco (talvez o pior e mais incompetente ministro da defesa desde o gonçalvismo), que alertado para a obsolescência dos C-130 que já estavam com o upgrade ao cockpit com um atraso de uma década. Decidiu fazer uma espécie de proposta "cínica" à força aérea como condição para possibilitar essa modernização. A força aérea tinha de concretizar uma missão quase impossível, que era conseguir vender os helicópteros Puma (completamente em fim de vida útil) e com o dinheiro da receita da eventual venda fariam o upgrade do cockpit. Como a segurança de uma aeronave fosse uma espécie de capricho e não uma necessidade. Enquanto isso o Estado continuava a pagar PPPs, Swaps e a encher os bolsos das suas clientelas que comem à mesa do orçamento.
Óbviamente que ninguém quis comprar essa sucata (Pumas) e o ministro ganhou mais uns tempos para não se preocupar com o assunto. Tendo as chefias aceitarado esse "desafio" com uma calma olimpica. Depois o ministro resolveu atribuir uma verba que mal dava para modernizar adequadamente duas aeronaves, quanto mais seis e o pseudo concurso acabou por ser suspenso e empurrou-se mais uma vez com a barriga para a frente o problema.
Mas o mais incrível e absurdo é que agora devia-se estar a tratar da substituição pelo C-130J-30, pelo KC-390 ou mesmo pelo A400M (a aeronave mais indicada para a FAP, independentemente do preço, se é para durar 40 anos, este factor tem pouca preponderância), estamos ainda a falar em modernizar esta aeronave C-130H já caduca.
O actual governo com um ministro da defesa inenarrável (mas mais digno que o anterior) com a típica "chico-espertice" que prolifera neste governo, teve uma ideia "genial". Que foi solicitar a Bruxelas fundos comunitários para financiar a tão desejada modernização dos instrumentos de vôo dos C-130. Eu imagino as gargalhadas dos técnicos da UE a apreciarem o dossier e a sua perplexidade com tão estranho pedido. Bom, isto não é sério quando estamos a falar de um investimento pequeno em termos relativos.
Enquanto isso, uma das principais e úteis aeronaves das nossas FA's estão obsoletas. Não sabendo até ao momento se a causa do trágico acidente do Montijo está relacionada com a fadiga do material, pois a aeronave contava com quase 4 décadas de utilização, embora possa ser argumentado que tinha o processo de manutenção escrupulosamente cumprido. Mas 40 anos são 40 anos e esses ninguém lhes tira.
Contudo, não consigo deixar de pensar nas vitimas deste acidente que morreram ao serviço de Portugal num acto de enorme estoicismo e coragem ao tentar salvar um camarada.
As minhas sinceras condolências aos seus familiares e amigos. E que estes malogrados militares e verdadeiros heróis nacionais descansem em paz.