Arsenal do Alfeite precisa de 70 milhões MANUEL CARLOS FREIRE
TIAGO MELO (foto)
A recuperação do Arsenal do Alfeite (AA), objecto de um estudo encomendado há meses pelo Ministério da Defesa e já concluído, exigirá investimentos da ordem dos 70 milhões de euros, afirmaram ao DN fontes conhecedoras do dossier.
O documento, adiantaram, está actualmente a ser analisado pelo Ministério das Finanças, departamento governamental a quem cabe a palavra decisiva sobre os montantes a aplicar, pelo Estado, naquele estabelecimento fabril das Forças Armadas dedicado à construção naval.
Fonte oficial da Armada admitiu ao DN que o futuro do AA - cujo relatório do grupo de trabalho, encarregue de estudar os modelos de gestão e as propostas de modernização, foi entregue ao ministro Nuno Severiano Teixeira em finais de Julho - vai ser abordado hoje pelo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) na cerimónia de abertura do ano operacional do ramo, mas escusou-se a avançar pormenores, remetendo para o que o almirante Melo Gomes tem afirmado sobre o assunto: o Arsenal deve continuar a servir a Marinha e deve manter-se no Alfeite, junto à base naval de Lisboa (na margem sul do Tejo).
Mas, de acordo as fontes acima referidas, o modelo de gestão do 'novo' AA deve ser semelhante ao adoptado para as OGMA, empresa aeronáutica durante anos ligada à Força Aérea (e liderada por generais deste ramo) que passou a ser dirigida por civis e como uma empresa a competir no respectivo mercado.
Novos equipamentos, tecnologicamente avançados, recuperação financeira, remodelação das infra-estruturas - deixando de haver reparações ao largo, por incapacidade em receber navios nas docas - e adequação dos quadros de pessoal são áreas que justificam o investimento, estimado pelas fontes ouvidas pelo DN, de cerca de 70 milhões de euros.
Nas intervenções públicas sobre a matéria, o ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, tem garantido que o AA continuará a laborar e não será transferido para Viana do Castelo - cujos estaleiros estão a construir novas lanchas para a Armada. A empresarialização da sua liderança também tem sido apontada pelo governante, embora as soluções finais dependam da análise feita ao referido estudo do grupo de trabalho - mas sobre o qual o Executivo ainda não deu a conhecer quaisquer pormenores.
Manter a empresa sob controlo do Estado ou privatizá-la, no todo ou parcialmente, são duas hipóteses em cima da mesa. No comunicado que publicou em Julho, aquando da recepção do relatório sobre o futuro do AA, o gabinete de Severiano Teixeira considerou-o "fundamental para a Marinha portuguesa e para o país". O texto dizia ainda que, "seja qual for o modelo de gestão escolhido, a privatização do Arsenal do Alfeite não é um dos objectivos do Ministério da Defesa Nacional".
Sector estratégico
A actividade do AA tem-se centrado na reparação naval dos meios da Armada, a maior parte dos quais tem mais de 30 anos de serviço. Os orçamentos limitados do ramo acabaram por se reflectir nas transferências de verbas para o Arsenal.
A construção dos novos meios navais militares (navios de patrulha oceânicos e lanchas de fiscalização costeira) foi entregue pelo então ministro da Defesa Paulo Portas aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo com o objectivo expresso de recuperar financeiramente a empresa e, por arrastamento, uma indústria estratégica - desde logo pelas ligações históricas do país ao mar.
A conferência desta semana sobre os Assuntos do Mar, onde o Executivo juntou pela primeira vez à mesma mesa todos os ministros da UE com essa tutela, apontou precisamente a construção naval como uma das áreas-chave nesse domínio. |
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