Assim é que é, despedem centenas de trabalhadores mas compram Vista Alegre. A TAP decidiu estrear este mês louça da Vista Alegre na classe executiva, o que obrigará a novos procedimentos dos tripulantes de cabine na prestação de serviços. Sindicato SNPVAC ironiza e critica decisão da direção comercial da transportadoraÉmais uma acha para a fogueira da polémica em que tem estado envolvida a TAP. A companhia decidiu estrear, no início de novembro, louça nova, porcelana da Vista Alegre, na classe executiva nos voos de longo curso, nos aviões A330 ou A321LR, uma opção que obriga os tripulantes de cabine a terem um serviço mais próximo dos clientes.
A decisão, comunicada aos trabalhadores no fim de semana, provocou uma reação violenta no sindicato da tripulação de cabine, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que há algum tempo protesta pela falta de informação e envolvimento no processo de reestruturação da TAP.
"Parece que foi encontrada a solução para a reestruturação da empresa: a nova louça da classe executiva pesa menos 15%, o que potencia poupanças de milhões e menos emissões de CO2 (com tantos aviões no chão temos emitido certamente muito menos)", ironiza o sindicato comentando a decisão da direção comercial. "Queríamos era saber quanto custou ou custará a nova louça?", questiona o sindicato representante dos tripulantes.
A TAP justifica a decisão tomada neste momento, considerando-a economicamente mais vantajosa também dado o seu menor peso. "A substituição de loiça a bordo, é um processo corrente, correto, adequado, economicamente equilibrado e vantajoso e que se salda num serviço melhor aos nossos clientes", afirma fonte oficial da companhia.
A transportadora explica ainda o porquê da substituição da loiça com a sua normal deterioração em trânsito. "A loiça de bordo tem enorme rotação e, por degradação ou por se partir, está em constante produção e substituição, pelo que a adoção de nova loiça não significa novos custos". Ou seja, a loiça precisa de ser substituída regularmente.
O sindicato lembra que já tinha reunido com a Direção Geral de Saúde e que esta concordou que "a adoção da redução do serviço era mitigadora do contágio, em linha com as recomendações da EASA".
"De que serve resguardar os tripulantes no embarque se depois durante o serviço o contacto não é reduzido ao mínimo essencial?", pergunta o sindicato. Embora não concorde com a decisão, que diz ser imposta unilateralmente, o sindicato diz que os trabalhadores vão cumpri-la. Até porque não querem arranjar argumentos para processos disciplinares.
O sindicato sublinha que não compreende por que decidiu a TAP recuar em relação às medidas de proteção da tripulação, cujo contacto com os passageiros tinha sido reduzido ao mínimo, promovendo agora um contacto mais próximo quando os números disparam.
O SNPVAC esclarece ainda que já pediu que embarcassem mais máscaras, mas isso foi recusado com o argumento de que era caro.
A grande preocupação dos tripulantes de cabine é a reestruturação da TAP, que tem de estar concluída até 10 de dezembro, e sobre a qual nada têm sabido. A TAP já rescindiu contrato com 500 tripulantes de cabine, e o SNPVAC admite que irão sair mais 500 até março de 2021. "O SNPVAC não se deixará silenciar à espera de uma notícia sobre o plano de reestruturação", avisa o sindicato.
"Aliás, esta história vem de longe, pois foi nos maiores anos de crescimento da empresa (2017, 2018 e 2019) que os tripulantes viram os seus direitos mais espezinhados", critica.
"Temos assistido a muitas desconsiderações pelo atual diretor da aérea comercial que já foi vice-presidente do sindicato", SNPVAC. O sindicato refere-se a Nuno Veiga da Fonseca, que é quem assina o comunicado sobre a nova louça da Vista Alegra e o regresso em novembro de serviços mais próximos dos passageiros.
"Não pode haver dinheiro para serviços e louças e depois não existir para mais nada. Não nos parece ajustado que no momento em que se pensa numa reestruturação exista uma empresa a duas velocidades. Sendo uma a da operação e outra a do marketing. Têm de se entender e ser coerentes!", apela o SNPVAC. Abílio Martins é o diretor responsável pela área comercial e de marketing.
Em carta aos tripulantes, a TAP explica que se associou à Vista Alegre para "criar uma linha de louça leve e funcional, reduzindo assim custos e emissões de CO2, e promovendo o melhor de Portugal".
O objetivo tinha sido lançar a nova linha na comemoração do 75º aniversário da TAP, a 14 de março, mas a pandemia obrigou a adiar o seu lançamento. A companhia reconhece que não é o melhor momento, mas defende que a "promoção da sustentabilidade e do que é português nunca foi tão atual nem nunca fez tanto sentido".
A decisão, explica a TAP, em resposta ao Expresso, foi tomada há mais de um ano. "Mais uma vez a TAP se associou à Vista Alegre, num processo de decisão que teve inicio há mais de um ano e desde então não se comprou mais loiça de substituição da antiga". A loiça existente, adianta a companhia, vai garantir o serviço do médio curso.
"O processo de provisionamento de loiça de bordo é um processo logístico que implica meses de preparação, nomeadamente para garantir que todas as outstations e empresas fornecedoras de catering em todo o mundo estão dotadas do mesmo tipo de loiça para garantir o padrão nos voos de regresso", adianta ainda a TAP.
A companhia diz ainda que a "renovada parceria com para o fornecimento de loiça da executiva, é de longo prazo e tem como objetivo promover a portugalidade e a economia portuguesa".
https://amp.expresso.pt/economia/2020-11-02-TAP.-Estreia-de-louca-da-Vista-Alegre-na-classe-executiva-deixa-tripulantes-perplexosAbraços