Mergulhadores-Sapadores

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Cabeça de Martelo

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Mergulhadores-Sapadores
« em: Agosto 18, 2007, 05:26:49 pm »
Já aqui li algumas opiniões sobre os nossos MS, venho com a criação deste tópico colocar no mesmo sitio toda uma série de textos/reportagens acerca desta unidade/especialidade tão pouco falada.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #1 em: Agosto 18, 2007, 05:33:25 pm »
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Mergulhadores da Armada

100 Anos de História

Decorrem este ano as comemorações do primeiro centenário da existência dos Mergulhadores da Armada. Foi, com efeito, no dia 28 de Dezembro de 1899, que Sua Alteza Real o Rei D. Carlos I aprovou o Regulamento para a Escola e Serviço de Torpedos que contemplava onze classes de pessoal. A oitava classe referia-se a "Natação e Mergulhador". Embora, já desde o século XVI existissem relatos de actividades militares com nadadores subaquáticos portugueses (ver Revista da Armada – Fevereiro 99), é apenas a partir desta data que os Mergulhadores surgem enquanto classe da Armada.

COMEMORAÇÕES DOS 100 ANOS DOS MERGULHADORES DA ARMADA

No dia 25 de Setembro de 2000, realizou-se, no Cais de Honra da Base Naval de Lisboa, a cerimónia comemorativa dos 100 anos dos Mergulhadores da Armada, presidida pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, que na ocasião condecorou os Mergulhadores da Armada com a Medalha de Ouro de Serviços Distintos.

Foi efectuada uma demonstração de algumas das capacidades operacionais dos mergulhadores: inactivação de um "volume suspeito" de conter um engenho explosivo; recolha e projecção em território hostil por helicóptero de mergulhadores equipados com equipamento de mergulho de circuito fechado, no contexto de uma operação Covert de reconhecimento e sabotagem; projecção de uma equipa de mergulhadores a partir de lancha rápida, com o objectivo de efectuar reconhecimento de praia e destruição de obstáculos tendo em vista o desembarque de uma força anfíbia.

Esteve, também, patente no Cais de Honra da Base Naval de Lisboa uma exposição de material actualmente utilizado pelos Mergulhadores.
 


 Medalha de Ouro de Serviços Distintos atribuída à Escola de Mergulhadores.
 Assinalando o evento, foi descerrada pelo Almirante CEMA uma placa alusiva no edifício do Serviço de Mergulho a que se seguiu o almoço.

Ainda no âmbito destas comemorações realizou-se, no dia 30 de Setembro, um encontro dos Mergulhadores da Armada e famílias, que contou com a presença do Segundo Comandante Naval, Contra-Almirante Silva da Fonseca, em representação do Comandante Naval.O encontro decorreu na Herdade das Argamassas em Campo Maior, gentilmente cedida pelo Comendador Rui Nabeiro para o efeito.
 
Porquê Campo Maior?

Os últimos 100 anos dos mergulhadores foram passados junto ao mar, com umas incursões pelos rios, barragens, lagoas e albufeiras.

Quando pensámos em realizar esta festa sentimo-nos "molhados", razão pela qual optámos por celebrar o evento numa região de "sequeiro" e desta forma homenagear todo o interior do país, pela forma calorosa como recebe os mergulhadores nas suas missões.

Assim, descobrimos a região do Alto-Alentejo para a realização da comemoração.

Os mergulhadores responderam positivamente a esta comemoração que contou com a presença de 248 pessoas entre mergulhadores do activo, reserva, reforma, civis e cerca de 60 senhoras e crianças com o seguinte programa : Missa em homenagem aos mergulhadores já desaparecidos, celebrada pelo Capelão Costa, aperitivos e almoço que decorreu com música ao vivo executada por dois conjuntos, durante a tarde realizou-se um torneio de tiro aos pratos, uma garraiada e visita ao museu do café, seguiu-se o jantar com o respectivo acompanhamento musical, show de sevilhanas e para terminar um trio de cavaquinhos "made in" Mergulhadores da Armada.

Foi uma ocasião para o encontro e reencontro de várias gerações de mergulhadores, em ambiente de sã confraternização e salutar espírito de corpo.

Durante o mês de Outubro esteve patente ao público no museu do café em Campo Maior uma exposição de material de mergulho que obteve assinalável êxito junto da comunidade local, nomeadamente as escolas, normalmente arredada deste tipo de actividades.

A afluência à exposição ultrapassou as nossas melhores expectativas cifrando-se o número de visitantes acima das 1500 pessoas.
 
HISTORIAL

Ao longo deste último século, várias foram as transformações ocorridas no seio desta especialidade a nível orgânico; como mais relevantes, salientam-se:

 
 · em 1913, a promulgação das "Disposições relativas ao Serviço dos Mergulhadores da Armada", primeiro regulamento digno desse nome;

 · em 1949, a criação na Direcção do Serviço de Submersíveis de uma "Secção de Mergulhadores e Salvação" destinada à instrução de mergulhadores militares e civis;

 · em 1959, a criação de diferentes categorias de mergulhadores: Sapadores, normais e Vigias;

 · em 1964, a criação das unidades de Mergulhadores-Sapadores;

 · em 1966, a criação da Secção nº1 de Mergulhadores-Sapadores, atribuída ao ex-Comando de Defesa Marítima da Guiné;

 · em 1973, a criação dos Destacamentos de Mergulhadores-Sapadores nºs 1 e 2, e da Escola de Mergulhadores;

 · em 1994, a extinção do Centro de Instrução de Minas e Contramedidas com a consequente transferência de responsabilidades da instrução na área da inactivação de engenhos explosivos para a Escola de Mergulhadores.

Num contexto especificamente técnico, pode dizer-se, em termos genéricos, que a história dos Mergulhadores da Armada acompanhou a evolução científica e tecnológica na área do mergulho; assim, podemos distinguir quatro períodos:

1. Mergulho com escafandro clássico – equipamento semi-autónomo, vulgo "cabeçudo". Neste equipamento o ar é fornecido ao mergulhador a partir da superfície.

2. Mergulho com equipamento autónomo. O mergulhador transporta consigo a reserva de ar numa garrafa metálica.

3. Mergulho com equipamento de circuito fechado utilizando oxigénio puro. Este é um tipo de equipamento especialmente concebido para uso militar; o seu funcionamento em circuito fechado evita a libertação de bolhas para a superfície, permitindo assim uma maior discrição, ideal para ataques de sabotagem a navios ou instalações portuárias.

4. Mergulho com equipamento de circuito semi-fechado utilizando misturas gasosas de azoto e oxigénio diferentes do ar atmosférico. Este tipo de equipamento destina-se essencialmente ao mergulho profundo e à guerra de minas.

Salienta-se, como factor marcante neste historial, na passagem da segunda para a terceira fase, o advento do conflito militar nas ex-colónias ultramarinas, nomeadamente na Guiné, que levou ao alargamento do emprego dos mergulhadores a um âmbito especificamente militar.

Refira-se, ainda, que todos os tipos de equipamentos de mergulho acima descritos são actualmente utilizados pelos Mergulhadores da Armada, se bem que em modelos mais modernos.
 
MISSÕES E TAREFAS

A actividade dos Mergulhadores pode situar-se em dois contextos: tempo de paz e tempo de crise ou conflito.

Em Tempo de Paz:

· Execução de vistorias e trabalhos subaquáticos nas obras vivas de navios de guerra e em infraestruturas portuárias.

· Coordenação e execução de operações de salvamento marítimo, designadamente a recuperação de navios ou objectos no fundo do mar.

· Remoção ou destruição de obstáculos naturais ou artificiais que constituam perigos para a navegação.

· Colaboração com organismos civis em diversas situações:

· Protecção Civil;

· Combate a actividades ilícitas, nomeadamente tráfico de estupefacientes.;

· Estudos científicos: hidrografia e oceanografia;

· Fiscalização de actividades económicas de exploração marítima;

· Arqueologia subaquática;

· Colaboração com o Hospital da Marinha na realização de tratamentos em câmara hiperbárica para diversas patologias: doença de descompressão, intoxicação por gases tóxicos, gangrenas, etc. Este serviço é único em Portugal.

· Inactivação de engenhos explosivos na área de responsabilidade da Marinha, nomeadamente no mar e na orla costeira.

· Participação em operações de salvamento de submarinos.

· Formação de mergulhadores militares e civis profissionais (única escola no país).

Em Tempo de Crise ou Conflito:

· Inactivação de engenhos explosivos nas obras vivas de navios de guerra e mercantes;

· Reconhecimento e limpeza dos locais de desembarque de forças anfíbias;

· Realização de acções de sabotagem em unidades inimigas situadas no mar, orla marítima, acessos fluviais e instalações portuárias;

· Participação na limpeza de portos e canais de acesso, designadamente destruição e/ou remoção de minas e destroços;

· Reparação / recuperação de navios acidentados ou danificados em combate.
 
Assiste-se actualmente ao início de uma nova fase com o reequipamento dos Mergulhadores da Armada, no âmbito do mergulho militar e da salvação marítima, sendo de destacar a futura capacidade de intervenção até aos 90 metros de profundidade.
 
Os cenários previsíveis do futuro apontam para um acréscimo da actividade dos mergulhadores:

· Previsivelmente a guerra de minas será centrada na costa, desde as águas pouco profundas até aos 90 metros, desempenhando os mergulhadores um papel fundamental, em virtude de constituírem actualmente a única capacidade neste campo na nossa Armada;
 

Recolha de equipa de mergulhadores por um submarino após missão de reconhecimento em território hostil.
 
A evolução tecnológica de equipamentos e ferramentas adaptados ao mergulho de salvação marítima e trabalhos subaquáticos permite prever a realização com sucesso de reparações nas unidades navais que até à data só seriam possíveis de efectuar a seco, com os inerentes acréscimos de custo, tempo e ocupação de infraestruturas;

· Com a capacidade de mergulhar até aos 90 metros alarga-se a possibilidade de realização de missões de busca e salvamento e salvação marítima, nomeadamente mergulho de intervenção no âmbito do salvamento de submarinos.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #2 em: Agosto 18, 2007, 05:36:37 pm »
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Certificação de Mergulho Profundo

Os Mergulhadores da Armada Atingem os 81 Metros

Um longo e cuidadoso processo foi iniciado com a recepção de uma câmara hiperbárica contentorizada, que permite não só efectuar pressurizações até 50 metros como também tratamento hipérbárico com oxigénio e de cinco equipamentos de mergulho profundo autónomo, que funcionam em circuito semi – fechado utilizando duas misturas gasosas (hélio e oxigénio) e (azoto e oxigénio), produzindo ele próprio a mistura respirável.
 

Depois da fase de aquisição de material seguiu-se a de formação especifica com a frequência do “Clearence Diving Officers Course”, no Canadá, por dois oficiais mergulhadores, possibilitando avançar com o Plano de  Certificação de Mergulho Profundo (PCMP) e assim dotar a Marinha de mergulhadores com a capacidade de alcançar os 81 metros.

O PCMP prevê, numa primeira fase, o treino de procedimentos de emergência, descompressão, manuseamento e operação de equipamento que não excendam os 40 metros e, numa segunda fase, alcançar três patamares em profundidade: 45, 60 e 69 metros, após o que a equipa fica apta a operar á profundidade maxima de 81 metros.

Assim, no período de 4 a 11 de Dezembro de 2003, um oficial, dois sargentos e oito praças pertencentes aos Destacamentos de Mergulhadores Sapadores deram inicio ao primeiro PCMP realizado em Portugal, o qual decorreu ao largo de Sesimbra com o apoio do N.R.P. “Baptista de Andrade”, onde estava embarcada uma equipa médica constituída por um oficial médico e um sargento enfermeiro, além da câmara hiperbárica atrás citada.
 

Nos dias 4 e 5 realizaram-se os três primeiros mergulhos á profundidade de 45 metros. Nestes dois dias também se treinou e testou a interacção entre mergulhadores e os meios envolvidos na operação de mergulho, nomeadamente navio e câmara hiperbárica.

Nestes termos foi possivel certificar a equipa de mergulho da operacionalidade e rapidez de execução dos procedimentos em caso de acidente e durante a realização dos dois tipos de descompressão quando da vinda á superficie:
 

Preparando o equipamento.
 

na água e na câmara hiperbárica, tendo este tipo sido essencial, mais tarde, na realização dos mergulhos a 81 metros, pois reduziu o tempo de permanencia na água dos mergulhadores.

Posteriormente, nos dias 8 e 10, foram efectuados dois mergulhos a 60 metros e um mergulho a 75 metros e finalmente no dia 11 de Dezembro de 2003, cerca das 1042 horas, uma equipa de mergulhadores da Armada alcançou, pela primeira vez, de uma forma perfeita a profundidade dos 81 metros. Este mergulho teve a duração total de 1 hora e 17 minutos, com 10 minutos de tempo de fundo e o restante gasto na descompressão. Nesse dia foi ainda realizado mais um mergulho á mesma profundidade.
 

Em mergulho profundo.
 Cumprindo  o PCMP, uma equipa de sete mergulhadores dos Destacamentos dos Mergulhadores Sapadores ficou apta e adestrada a operar á profundidade de 81 metros, a máxima estabelecida pela doutrina interna dos países NATO utilizadores da mesma tecnologia.
 

Sendo os mergulhadores da Armada, a única capacidade Contra Medida de Minas (MCM) da Marinha em Very Shallow Waters e Shallow Waters e agora também em Deep Waters, poderão, num futuro próximo, embarcar uma equipa na força NATO MCM.

As capacidades técnicas e operacionais do equipamento agora adquirido permitirão desenvolver tarefas, não só no ambito da Guerra de Minas, como também em missões de Salvação Maritíma. Neste cenário incluem-se as operações de mergulho quando conjuntas com Forças Policiais, particularmente na busca e recolha de narcóticos ou em outro tipo de operações de resgate.
 

(Colaboração dos Mergulhadores da Armada)


http://www.marinha.pt/extra/revista/ra_ ... ag_11.html
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #3 em: Agosto 18, 2007, 08:44:27 pm »
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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zocuni

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Bom
« Responder #4 em: Agosto 18, 2007, 10:01:34 pm »
Tudo bem,

Sem dúvida um tópico muito pertinente.Esses homens muitas vezes esquecidos na nossa Armada.Parabens pela lembrança.

Abraços,
zocuni
 

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Lightning

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« Responder #5 em: Agosto 18, 2007, 11:14:45 pm »
Citação de: "Cabeça de Martelo"
Em Tempo de Crise ou Conflito:

· Reconhecimento e limpeza dos locais de desembarque de forças anfíbias;


A duvida que pus no topico dos fuzileiros sobre quem faz o reconhecimento às praias antes de um assalto anfíbio está aqui respondida :wink:
 

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zocuni

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Video
« Responder #6 em: Agosto 18, 2007, 11:47:18 pm »
Tudo bem,

Desculpem colocar aqui dois videos um pouco fora do contexto,pois não são dos mergulhadores da Armada,mas penso ser interessante por estimular nosso imaginário,sobre submarinos afundados.Trata-se de um submarino alemão(u-35),que afundou na costa algarvia.Tem imagens espetaculares.

Parte 1
http://br.youtube.com/watch?v=0au-GEjeXJU


Parte 2
http://br.youtube.com/watch?v=cvyHHvyLJ4U&mode=related&search=


Abraços,
zocuni
 

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Ricardo

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« Responder #7 em: Maio 05, 2008, 07:56:02 pm »
 

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fuzo 90

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« Responder #8 em: Maio 05, 2008, 10:42:41 pm »
Citação de: "Lightning"
Citação de: "Cabeça de Martelo"
Em Tempo de Crise ou Conflito:

· Reconhecimento e limpeza dos locais de desembarque de forças anfíbias;

A duvida que pus no topico dos fuzileiros sobre quem faz o reconhecimento às praias antes de um assalto anfíbio está aqui respondida :wink:

sem desprimor algum para com os mergulhadores da Armada, em cenário de guerra o reconhecimento dos locais de desembarque será uma missão mais indicada para os DAE, que tambem fazem mergulho, e treinam essas missões
fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre!!!
 

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PereiraMarques

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« Responder #9 em: Maio 20, 2008, 04:40:47 pm »
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Um dia com…os Mergulhadores

 
Vindos da Base Naval de Lisboa em dois botes, já com os seus fatos de mergulho envergados, e numa viatura têm o seu ponto de encontro no cais avançado de Alcântara. Amanhã, sabemos pelo número de cabeços abrangidos, que aí atracará uma unidade naval de significativas dimensões, duma Marinha de Guerra estrangeira o que pode aconselhar, além de outras acções, uma inspecção ao cais.
 

Quando a viatura chega, já os equipamentos estão verificados e de imediato começa o Briefing às três equipas, sempre constituídas, por razões de segurança mútua, em acção real ou de formação, por dois mergulhadores. Na presença do oficial e do enfermeiro, o supervisor indica então as secções onde, em 50 minutos e aproveitando o estofo da maré, verificarão, por apalpação, livres de minas ou engenhos explosivos, os pilares do cais (duas filas), até à profundidade de 16 m.

Perguntados se “Estão todos a sentir-se bem?” cada equipa enverga no local de mergulho os seus equipamentos, apertam os cintos de pesos, cumprem os últimos procedimentos e já de barbatanas calçadas, um munido de uma lanterna e outro de um profundímetro, aguardam que os dois botes de apoio, ostentando já a bandeira “Alfa” (mergulhadores na água) se aproximem e à voz de saltar, um de cada vez e de frente para o cais, serão lançados os cronómetros.
 

Ao sinal da mão confirmando tudo em condições, as toucas desaparecem no fundo perdendo-se de vista a luz da lanterna que servirá de referência ao mergulhador do profundímetro até que, com vindas de controlo à superfície, é concluída a inspecção sendo então içados os equipamentos e depois ajudados a subir.

Antes mesmo de começar esta faina já se havia entrado em contacto com a Polícia Marítima (PM) que vigiará no mar (uma lancha) e em terra (pessoal) o perímetro de segurança. No dia seguinte, o navio de guerra estrangeiro poderá atracar em segurança!
 

O Briefing.
 
Semelhantes missões podem ocorrer em terra, como foi o caso duma vistoria IEE (Inactivação de Engenhos Explosivos) ao Museu de Marinha que, por ocasião de um jantar oficial, congregou, pelas 0700 da manhã, equipas do Destacamento de Mergulhadores Sapadores n.º 1 (DMS1) e dos Fuzileiros que, no Pavilhão das Galeotas, inspeccionaram os mais recônditos lugares a par da busca de explosivos feita pelos cães da Equipa cinotécnica. À Polícia Naval, coube depois o controlo do espaço e à PSP a interdição de estacionamento.
 

Segurança do lado do mar.
 

A panóplia de missões do DMS1, consignado às estritamente militares, é no entanto muito mais vasta e implica um continuado treino.

É o caso do Mergulho de Combate com garrafas de oxigénio puro para, em circuito fechado, se assegurar a total discrição da operação e em que o par (um segurança do outro) é constituído por um navegador dotado de uma agulha magnética (ou de um GPS estanque) e de um profundímetro e pelo portador do equipamento adequado à missão.

Estas podem ser de antecipação de desembarque de forças anfíbias para estudar o corredor marítimo - fundos, correntes, ondulação, rebentação - e/ou terrestre – obstáculos naturais e artificiais.

Feitos os testes, assegurada agora a total substituição, nos pulmões, do ar pelo oxigénio puro fazem um sinal (indicador colado ao polegar) e mergulham de costas, um após o outro se, claro estiverem a ser projectados de um bote pois poderão sê-lo de um helicóptero ou, mais secretamente, de um submarino.

Na água apenas o navegador pode vir à superfície para, emerso apenas até aos olhos, determinar, com toda a discrição, o rumo da progressão, imagine-se as enormes barbatanas a badanar à superfície!

Periódicas correcções ao rumo originarão o mesmo cauteloso procedimento.

Outra missão típica, de que os “Homens de Ferro em Navios de Madeira” dos nunca esquecidos Draga-Minas tanto e tão justificadamente se orgulhavam é a de detecção e inactivação de minas. Voltou-se à era dos Caça-Minas que em águas controladas marcam as minas mas que noutras cedem o passo a equipas de mergulhadores.

Agora o mergulhador portador opera um pequeno sonar estanque cujo feixe, num sector de 60º, lhe permitirá detectar todo o tipo de minas que o navegador irá, sozinho, identificar e eventualmente inactivar ou destruir deixando-lhe uma carga que em segurança farão detonar.

Nas instalações em terra, depois de recordarmos o fato com que há 107 anos arrancaram os nossos mergulhadores, cujo capacete (o “cabeçudo”) é ainda o emblema da sua especialidade (letra “U”), visitamos a oficina onde os diversos tipos de equipamentos são devidamente acompanhados.
 


Acabados de mergulhar.

 No mais sofisticado, oxigénio e hélio, em depósitos esféricos e iguais, são misturados e a mistura, monitorizada automaticamente numa célula electrónica estanque, enviada para um saco “pulmão” e respirado através de uma máscara facial. Como se pretende que sejam integralmente furtivos a expiração segue para um outro “pulmão” e depois de filtrada do vapor de água e do CO2, é o sobrante oxigénio reconduzido ao primeiro “pulmão”, aumentando assim a autonomia do mergulhador.
 

Se se exceder a capacidade do “pulmão” de expiração, uma válvula poderá aliviá-lo, daí o designar-se este equipamento de circuito semi-fechado.

Caso a mistura não proporcione as desejáveis condições, uma luz verde, no interior dos óculos, passará a vermelho e se em 15 segundos não normalizar deverá vir à superfície.

O equipamento está calibrado para os 81 m uma vez que não tem efeito útil no casco dos navios o rebentamento de minas fundeadas a mais de 80 m. Equipamentos para 300 m normalmente não interessam aos objectivos militares-navais.
 

Instruções em torno de uma mina de contacto.
 

Rebentamento de uma mina.
 

 Outro equipamento semelhante usa uma mistura de oxigénio e azoto a débito constante de fluxo regulável, crescente com a profundidade, sendo as garrafas esféricas previamente carregadas para uma dada cota negativa devidamente assinalada (vermelho para a faixa dos 42m). O bocal, neste tipo, é independente da máscara.

O primeiro tipo exige um certo número de testes utilizando um painel portátil relativamente complexo enquanto o segundo apenas impõe a verificação do fluxo e das pressões de cada uma das garrafas através de simples manómetros.

Nesta oficina, onde nenhuma ferramenta pode estar contaminada de óleo, dá-se ainda assistência aos sistemas hiperbáricos de ar comprimido.

Aqui está, ainda operacional e privativa da esquadrilha, a primeira câmara hiperbárica que houve no país (a segunda, no Hospital de Marinha) e ao lado, numa torre especial, o, já há muito desactivado, tanque «Davis» para o treino de evacuação de submarinos, mais uma peça museológica a… preservar.

Ao DMS2 cabem missões de dupla aplicação que tem sido sempre apanágio da nossa Armada. De facto é a face visível da actividade dos Mergulhadores que por regra cultiva a discrição. São convocados para vistorias, para identificação de causas de anomalias e eventualmente da sua reparação, ou em situações tão trágicas como a da ponte de Entre-os-Rios que, pela TV, pudemos, em 2001, acompanhar.

O número de solicitações do exterior, sem descurar o serviço naval, é de tal modo elevado que o pessoal deste Destacamento é substancialmente mais numeroso que o do DMS1.

Economias significativas podem resultar, em termos financeiros directos e, indirectamente, operacionais. Notada uma anomalia numa fragata foi pedida uma inspecção e usando-se uma câmara vídeo dotada de um foco luminoso, detectou-se uma racha no robalete dum dos bordos que, retorcido, já originara a ruptura da soldadura ao longo de cerca de cinco metros da aresta das suas duas faces, com a perda do óleo anticorrosivo que o preenche.

 Para se ter uma ideia, estes robaletes, ou quilhas estáticas de balanço, a 2 m de profundidade, por ante a vante dos lemes de balanço (os primeiros navios da Marinha de Guerra a possuírem-nos porquanto na nossa Marinha já alguns paquetes, hoje desaparecidos deles dispuseram), têm cerca de 8 metros de largura e 2 de comprimento e uma secção isósceles com a sua base no costado.

Ora, tal exigiria uma entrada em doca seca que teria de estar disponível, implicando o seu custo e o daquela específica reparação, e a imobilização de um navio operacional o que poderia, eventualmente, implicar a convocação doutra unidade naval ou, pior, impedir-nos de honrar compromissos assumidos internacionalmente. É aí que as capacidades do DMS 2 dão resposta cabal.

Mergulhada, à amurada, uma plataforma em grade de ferro e, com ela os necessários mergulhadores, envergando os seus fatos, os equipamentos adequados (circuito aberto com ar comprimido) e fortemente lastrados (três cintos de pesos e botas com solas de chumbo) irão, vídeo monitorizados (visibilidade inferior a 50 cm!!!), munidos de grampos e de “alicates” de soldadura, repará-lo em 22 horas, incluindo fim de semana, com a incontabilizável disponibilidade de quem tem por divisa “In Aqua Optimi”. Claro que em fabricos gerais do navio esta reparação será então reformulada…

Nada disto se alcança sem uma formação demorada e exigente a partir de concursos para voluntários lançados entre praças, sargentos e oficiais da Armada (classe de Marinha) e que para estes constitui uma especialização.

Ultrapassados exames médicos especiais seguem uma formação, que no caso das praças é de 10 meses, por etapas, sendo uma parte teórica (inglês, informática…) ministrada na Escola de Tecnologias Navais (ETNA), outra, teórica e prática, na Escola de Mergulhadores (EMERG), onde se poderão familiarizar com procedimentos no âmbito da inactivação de engenhos explosivos, a par de uma sólida preparação física desenvolvida durante a fase de aprendizagem de utilização dos vários equipamentos e técnicas de mergulho adoptados na Armada.

Um dos Cursos a decorrer irá fazer, a nascente do pontão do Arsenal, a sua primeira prova de mar após terem já feito a adaptação ao equipamento em piscina.

Seguem em três botes e depois de ensaiados os seus equipamentos de circuito fechado (oxigénio puro) e feito o briefing do exercício espera-os um percurso de seis bóias (900 m) a ser feito a uma profundidade não superior a 7 metros e a intervalos de tempo previamente calculados em função de n factores.
 

No local do mergulho, envergados os equipamentos com todo o profissionalismo, cumpridos os últimos procedimentos (transição do ar para o oxigénio) os pares, como já vimos mas agora ligados entre si, pelos antebraços, por um cabo de três metros e, tratando-se de um exercício, assinalados por um arinque laranja (7 m, cota limite), quando prontos... Bom, tudo exactamente como já vimos incluindo o lançamento do cronómetro para medir os intervalos e o tempo máximo de 50’.
 

Inspecionando um veio e respectivo hélice.
 

Cortando um cabo de massa armadilhado num veio.

Poderá, o navegador, fazer as discretas correcções de rumo que entender até 10 m de cada bóia pois dentro desse raio serão já sujeitos a um critério de validação (tempo e distância ao alvo) adequado à visão no local e à fase do curso.

O surgimento intempestivo dum aluno acometido duma violenta dor num dente aparentemente são, originou, do Serviço de Saúde da Esquadrilha de Submarinos, a pronta intervenção de um estomatologista naval.
 

Em fim de curso, quatro mergulhadores e de dois fuzileiros (engenhos explosivos convencionais terrestres) vão, na Ponta dos Corvos, proceder a um exercício preparatório do que realizarão no Campo de Tiro (real) de Alcochete, de inactivação de engenhos explosivos.

Aí se concentram, além dos respectivos instrutores e um enfermeiro, duas viaturas da Escola e uma dos Bombeiros da Base Naval prontos a intervir em caso de incêndio.
 



Neste caso e à semelhança do que já vimos, um fica em observação e o outro é quem avança, identifica o engenho a inactivar para na retaguarda estudar, com a equipa, todas as circunstâncias (incluindo os efeitos colaterais) consultando, sempre, numa publicação NATO a informação recolhida e a orientação recomendada.

Cada equipa ocupar-se-á de um dos três meios de inactivação adequados ao tipo de engenhos que lhe calhou; uma bomba de avião de 50 kg e granadas reais, de morteiro, uma de 120 mm (“esquecida” com os cartuxos de propulsão) e outra de 60 mm.

A “chave” não é mais que um adaptador que, montado  na espoleta da bomba, a desenroscará de forma violenta e instantânea através de um torniquete movido por dois cartuchos propulsores rigorosamente iguais e que um elástico puxará para fora do corpo da bomba.

Um tripé elementar suportando um cone invertido cheio de explosivo plástico e um banal detonador, concentrará o efeito explosivo num ponto que deverá ser dos mais frágeis da granada de 120 mm, provocando a detonação parcial da sua própria carga.

A “cunha” poderá não ser mais que um mero cilindro de um aço muito especial que será disparado de uma pequena “peça”, o “Dearmer”, com cerca de um palmo e numa direcção tal que, decepando a espoleta, interrompe o alinhamento e a respectiva sequência da cadeia de fogo da granada de 60 mm.

Se cada meio exige, em treino, cuidados especiais ponha-se no caso de se estar numa situação real menos… conhecida.

Aspectos comuns são a preparação, a distância, dos circuitos eléctricos (instalação, eliminação da electricidade estática, verificação da continuidade eléctrica…) estendidos os cabos, sem cocas, entre o respectivo detonador e o abrigo donde estes serão iniciados.

Verificado o acerto das intervenções é o momento de se recolher ao abrigo, sem primeiro se ter colocado duas bandeiras vermelhas e ainda mais longe duas sentinelas e de no local, um aluno em formação apitar três vezes e gritar «Fogo!» em  três direcções ortogonais, antes de se abrigar.

Através de três minúsculos janelos observamos sequencialmente, após a respectiva autorização, as três “detonações” que os veteranos reconhecem logo terem sido parciais ou totais.

Avançam então os instrutores e considerada a segurança são então convocados os alunos e observam-se os resultados. Depois de um brevíssimo defriefing escolhe-se a cratera, “Pit”, onde se procederá a partir do abrigo, por simpatia, á aparatosa destruição dos despojos activos.

Há, então, que recolher estilhaços em torno do local da detonação e ainda, com todo o grupo em linha, “varrer” o terreno a fim de recolher pedaços de ferro altamente cortantes que serão depositados em local próprio.
 

Pronto a descer ao tanque.
 

Soldando mergulhado no tanque.
 

No entanto uma das actividades mais importantes da Escola tem a ver com o serviço público que a Armada presta e que se trata da formação de Mergulhadores Profissionais. A frequentar o Curso de 3ª classe que, além da teoria, consta da prática de mergulho com ar comprimido e outras misturas gasosas, de corte e soldadura (depois de aprendidos em seco) em infraestruturas subaquáticas e plataformas flutuantes, devidamente aprendidas em tanque próprio, estavam dois elementos da Polícia Marítima e seis civis do Continente e Regiões Autónomas.

Estes cursos, abertos a indivíduos dos 18 aos 40 anos, permitem, vencidos os exames médicos anuais e os cursos de 3ª, 2ª, e 1ª classes e de Mergulhador-chefe, a progressão na carreira de Mergulhador Profissional nas empresas e entidades públicas que os contratam.

A Escola de Mergulhadores da Armada, nas águas cada vez mais turvas dos rios que desaguam no nosso mar, o do presente e, mais distante e mais fundo, o do futuro, é, para à luz da competência, mergulharmos com a segurança de quem sabe o que anda a fazer, a única habilitada a ministrá-los.

Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves

1TEN

 

 :arrow: http://www.marinha.pt/revista/index.asp ... fault.html
 

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nonameboy

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« Responder #10 em: Maio 21, 2008, 07:52:03 pm »
E o treino deste destacamento em acçoes especiais?  :?

Parecem-me muito capazes de realizar um assalto anfibio, embora nunca os tenha visto de arma empunhada...

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zocuni

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(sem assunto)
« Responder #11 em: Maio 22, 2008, 03:19:04 am »
Excelente esse texto.Quantos mergulhadores a Armada Portuguesa possui?

Abraços,
zocuni
 

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Ricardo

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(sem assunto)
« Responder #12 em: Junho 17, 2008, 11:19:36 am »
Artigos do site da Reserva Naval sobre as minas aquáticas na Guiné-Bissau:

http://www.mlemasantos.pt/editorial/editorial.html

clicar em GUINÉ
 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #13 em: Junho 17, 2008, 11:57:03 am »
Citação de: "zocuni"
Excelente esse texto.Quantos mergulhadores a Armada Portuguesa possui?

Abraços,


Dois Destacamentos...mais a escola, lembro-me de ter uma revista espanhola em casa em que diziam que tinhamos uns 100 MS, mas já não me lembro com detalhes.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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SICKs

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Boas Camaradas
« Responder #14 em: Janeiro 12, 2009, 10:57:31 pm »
E com muito orgulho que deixo o meu apreço a quem fez isto...

Tava a ver que ninguem falava de nós

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