Nos alvores do voo a propulsão

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Carlos Rendel

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Nos alvores do voo a propulsão
« em: Outubro 24, 2010, 11:20:09 am »
Ás 8 horas da manhã de 18 de Julho de 1942,na pista de Leipheim,perto de Gunzburg,tem lugar a primeira tentativa de
descolagem de um avião a reacção.O piloto é Fritz Wendel,piloto comercial e chefe dos pilotos da Messerschmitt.Fecha a
ignição e os motores começam a zunir,com um som cada vez mais agudo,chegando a fazer doer os ouvidos.Mas a este
aparelho falta-lhe algo que têm  todos os aviões da época: não tem hélice,nem é dotado de motor a êmbolo,tem sim debaixo das asas duas grossas turbinas revestidas.Da parte de trás dos reactores sai um estrondoso jorro de fogo que ao atingir o solo faz levantar pedras que atingem a cauda.Wendel empurra devagar o manípulo da injecção e as rotações aumentam.Pisa os travões com os dois pés,passam trinta a quarenta segundos até às 750 r.p.m. e ao atingir as 850 r.p.m. levanta os pés e o ME-262 arranca.Com o nariz a apontar para cima mais parece um projéctil que um avião,limitando fortemente a visão do piloto,obrigando-o a referenciar-se lateralmente se quiser mantêr-se dentro da pista.Para Wendel deveria montar--se uma roda dianteira para baixar o ângulo de visão.Teóricamente a 180 Km. hora,as 5 toneladas do ME-262 deveriam levantar o aparelho,mas Wendel continuava sem qualquer resistência nos comandos,e a roda da cauda sem levantar do chão.O piloto joga então tudo numa cartada,e,a pleno gás,pisa os travões de forma seca e breve fazendo baixar " o focinho"e elevando a cauda.Wendel puxa o manípulo e o ME-262 descola dócilmente.E voava mesmo... e de que maneira! Wendel picou levemente para aumentar a velocidade e sentiu a aceleração colar-lhe as costas,subiu como uma flecha,obedecia a todos os comandos,e, sobretudo,voava cada vez mais rápido.O piloto olhou incrédulo o contarotações.Ele próprio tinha batido o record mundial de velocidade absoluta num ME-209 a hélice,a 26 de Abril de 1939.Desde então só Dittmar tinhasuperado aquela marca num ME-163,propulsão foguete------mas este assunto era tão secreto que não se pediu a homologação do recorde.Agora voava num ME-262,o protótipo nº3 de propulsão a turbina Jumo 004 e logo no primeiro voo superava o recorde de velocidade ao alcançar os 800 Km. à hora,sem dificuldade.Descreveu uma curva e aterrou ao cabode doze minutos de ter iniciado o voo do que seria o primeiro caça a reacção produzido em série.Ao Prof. Messerschmitt disse: Fantástico!!! Nunca na minha vida fiquei tão satisfeito com qualquer outro modelo de aviâo!!! Seis meses depois chegaram os primeiros motores de turbina TL,construídos na fábrica de Berlim da BMW ---eram os primeiros BMW-003,e,por fim os propulsores Jumo-004. Recomeçaram os testes e a 22 de Maio de 1943,o general da Luftwaffe Adolf Galland (com 31 anos na altura) voou em Lechweld um ME-262,passado um ano do histórico voo de Wendel.Uma vez no ar,tal como os pilotos que o precederam experimentou uma satisfação e uma sensação de potência,que nunca sentira: aquele voo sem vibrações nem terpidações de qualquer espécie,a velocidade notável e o poder ascensional jamais sonhado era tudo o que um piloto poderia desejar.Ainda efectuou um ataque simulado e aterrou. Acossado de perguntas de todos os lados e emocionado pelo voo,limitou-se a dizer:  "É  como ...se tivesse passado um anjo"                                               C.R.

Bibliografia consultada:"Ascensão e Queda da Arma Aérea Alemã na II Grande Guerra  -Cajus Bekker"
                                 " Famous Fighters of  the Second World War-Macdonald-London"
CR
 

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João Vaz

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Re: Nos alvores do voo a propulsão
« Responder #1 em: Outubro 26, 2010, 04:24:09 pm »
O Me-262 Schwalbe (versão caça-interceptor de bombardeiros) / Sturmvogel (caça-bombardeiro) em imagens:













...e em movimento (baptismo de fogo a 25 de Julho de 1944), até aos 870 km/h.





Mais fotos de qualidade noutro site e ainda noutro
"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
Pero de Magalhães de Gândavo, História da Província Santa Cruz, 1576
 

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Carlos Rendel

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Re: Nos alvores do voo a propulsão
« Responder #2 em: Outubro 27, 2010, 05:53:07 pm »
Tiro o chapéu a João Vaz pela contribuição documental ilustrada que deu ao texto supra,tornando a sua leitura mais clara e aprazível.Acrescento,para os interessados,que os ME-262 perdidos na guerra foram em grande maioria,acidentados,devido à falta de treino dos pilotos que,nestes últimos dias de guerra,iam pouco mais que directamente ao assalto dos bombardeiros pesados anglo-americanos.Por outro lado há que lembrar o que se encontra subjacente à experimentação exaustiva,em novas formas de conceber o voo tripulado:no início da década de trinta o despique saudável para bater recordes de velocidade pura no ar e em terra,com predomínio de ingleses e alemães era um desígnio nacional,largamente publicitado.  
Cumprimentos,          C.R.
CR
 

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Lusitano89

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Re: Nos alvores do voo a propulsão
« Responder #3 em: Setembro 29, 2022, 04:33:06 pm »
 

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Lusitano89

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Re: Nos alvores do voo a propulsão
« Responder #4 em: Setembro 29, 2022, 04:35:02 pm »
 

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Re: Nos alvores do voo a propulsão
« Responder #5 em: Dezembro 23, 2022, 04:30:11 pm »
 

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Re: Nos alvores do voo a propulsão
« Responder #6 em: Março 12, 2023, 04:00:03 pm »