Risco de rotura da barragem de Santa Luzia tem plano de emergência em consulta públicaA barragem de Santa Luzia, localizada no rio Unhais, no concelho da Pampilhosa da Serra, interior do distrito de Coimbra, tem em consulta pública até quinta-feira um plano especial de emergência para o eventual risco de rotura.
O plano de emergência externo da infraestrutura constituiu, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), “um conjunto de orientações detalhadas e específicas que se aplicam à análise das consequências, aos sistemas de alerta e aviso, e à organização das operações de emergência a efetuar” na eventualidade da rotura da barragem.
Com mais de 80 anos de existência – foi inaugurada em 1942 – a barragem de Santa Luzia tem 76 metros de altura e uma albufeira que se estende por cerca de 50 quilómetros (km) quadrados, localizada nas freguesias de Fajão-Vidual, Cabril e Janeiro de Baixo e Unhais-o-Velho, no município da Pampilhosa da Serra.
Para além do rio Unhais, recebe também água da barragem do Alto Ceira, através de um túnel de derivação com cerca de sete quilómetros. A albufeira tem uma capacidade de cerca de 50 hectómetros cúbicos (H3) – 50 milhões de metros cúbicos (m3) de água – e destina-se à produção de energia hidroelétrica, controle de cheias e abastecimento de água, permitindo ainda atividades de lazer.
Segundo a documentação consultada pela agência Lusa, o cenário de rotura total da barragem de Santa Luzia no qual assenta o plano de emergência externo (que complementa o plano interno da barragem gerida pela EDP, datado de 2011), consistiu numa brecha com 20 metros de largura (sensivelmente a largura do rio naquele local) formada durante três minutos.
O rio Unhais corre paralelo ao rio Zêzere, na margem direita deste, ao longo de 48 km, até nele desaguar, cerca de dois quilómetros a montante da barragem do Cabril.
Perante o cenário mais gravoso de rotura total da barragem, o esvaziamento da albufeira de Santa Luzia demorará “pouco menos de duas horas”.
Da barragem até à sede do concelho da Pampilhosa da Serra, a onda de inundação demoraria cerca de 34 minutos a percorrer pouco mais de 15 km, estimando-se uma altura máxima de água a rondar os 28,5 metros.
“Em face da importante subida do nível na zona de Pampilhosa da Serra e do tempo disponível para aviso relativamente curto (pouco superior a meia hora) é de prever que esta sede de concelho seja muito afetada e que a sua evacuação atempada seja problemática”, avisa o documento de 170 páginas.
O plano de emergência estipula quatro zonas no salvamento e socorro, sendo a primeira daquelas, a 17,75 km da origem do acidente, uma zona de auto-salvamento (ZAS) e as restantes – até à barragem do Cabril, a 50,68 km da origem, onde a onda de inundação chegará volvidos 78 minutos – zonas de intervenção de diversas entidades.
Na ZAS, os avisos de evacuação, por meio de sinais sonoros a instalar em sete pontos do percurso a jusante da barragem, acionados remotamente a partir Ponto de Observação e Controlo daquela infraestrutura, são da responsabilidade do dono da obra (a EDP Produção) por se assumir “não haver tempo para os Serviços de Proteção Civil avisarem essa população”.
O estudo indica ainda que na primeira parte do percurso, a onda atingirá valores de altura até 30 metros e um caudal de água com um volume superior a 25.000 metros cúbicos por segundo (m3/s).
Este valor é mais de dez vezes superior ao caudal máximo de cheia da barragem do Cabril (2.200 m3/s), onde a onda, no entanto, chegaria com um volume de 4.400 m3, ainda assim o dobro daquele máximo.
A destruição de Santa Luzia poderá levar a que a do Cabril seja galgada pela água, “sem que ocorra, em qualquer circunstância, a sua rotura”.
O plano de emergência abrange um território constituído pelos municípios da Pampilhosa da Serra (Coimbra), Pedrógão Grande (Leiria) e Sertã e Oleiros (Castelo Branco), possui componentes reservadas, desde logo o inventário de meios e recursos disponíveis e estipula as responsabilidades de cada agente de proteção civil, antecipando medidas a tomar, como a definição de pontos de encontro para as populações afetadas ou itinerários de evacuação, entre outras.
Segundo o documento, uma eventual rotura da barragem de Santa Luzia afetará diretamente cerca de 2.600 residentes e uma população temporária (esta só na Pampilhosa da Serra) a rondar as 800 pessoas.
https://executivedigest.sapo.pt/noticias/risco-de-rotura-da-barragem-de-santa-luzia-tem-plano-de-emergencia-em-consulta-publica/?utm_source=SAPO_HP&utm_medium=web&utm_campaign=destaquesUm estudo muito interessante que se dedica a desenvolver um Plano de Emergência e mitigar os riscos de uma potencial ruptura de uma barragem criada à mais de 70 anos (normalmente as Barragens têem uma vida útil de 100 anos).