Correndo o risco de repetir outra vez o que já escrevi anteriormente, o carro de combate Osorio foi muito sobrevalorizado nos anos 80 e o seu desenvolvimento foi demasiado rápido, o que resultou em inumeros problemas sem solução.
Basicamente a principal razão para o rápido desenvolvimento do Osorio foi a necessidade que a Arábia Saudita tinha de um carro de combate moderno. Afinal, o Iraque e o Irão estavam em guerra a poucas centenas de quilómetros do território saudita.
O Brasil tinha no médio oriente um mercado preferencial para viaturas blindadas, como era o caso do URUTU e do CASCAVEL, e considerou-se que os potenciais clientes justificavam o desenvolvimento apressado.
Mas o Osorio nunca passou de uma espécie de Frankenstein, com sistemas de diversas origens montados num chassis desenvolvido por uma empresa que não tinha experiência no fabrico de carros de combate pesados.
Além disso, criou-se no Brasil à volta do Osorio um mito sobre a sua grande qualidade, que é resultado por um lado do interessa dos administradores da ENGESA e por outro lado da falta de conhecimento da população em geral e dos jornalistas em particular.
O mito de que o Osorio tinha derrotado o Abrams num concurso na Arábia Saudita.
Na realidade, isso de facto aconteceu. Ou seja:
As autoridades militares sauditas consideraram que o Osorio, equipado com um canhão de 120mm francês era superior ao Abrams M1, equipado com o canhão M68 de 105mm (uma cópia do L7 britânico) e que era standard na maioria dos exércitos na NATO.
A pressão de Israel sobre o chamado complexo militar industrial norte-americano levou a que os Estados Unidos não apresentassem à Arábia Saudita o modelo mais moderno do Abrams, armado com um canhão de 120mm derivado do L44 (que equipa o Leopard-II até à versão A5).
É evidente que o Osorio com o canhão de 120mm era superior ao Abrams com o canhão de 105mm, especialmente nos testes de tiro.
Em muitos sites brasileiros vemos acusações de que os Estados Unidos conseguiram vender o Abrams e «boicotaram» a venda dos brasileiros, mas o que normalmente se esquece, é que os sauditas afastaram o tanque americano, porque não queriam o canhão de 105mm, e voltaram a aceita-lo mais tarde, quando finalmente os americanos aceitaram fornecer o Abrams com canhão de 120mm, passando por cima das reticências de Israel.
Outra coisa que normalmente se esquece, é que quem realmente boicotou a Engesa não foram os americanos mas sim os alemães. A Arábia Saudita queria o canhão L44/120mm da Rheinmetal e não queria o canhão francês. Os brasileiros pediram aos alemães para instalar o L44/120mm no Osorio mas os alemães, que estavam mais interessados em vender os seus tanques, recusaram.
Ao recusar o pedido do Brasil, foi a Alemanha que acabou por reduzir a opção de armamento ao canhão francês, no qual os sauditas não estavam realmente interessados.
Para lá de tudo isso o Osorio esteve condicionado pela eventual exigência do exército brasileiro para um carro de combate, que passava por um veículo relativamente leve que pudesse ser utilizado na maioria das pontes brasileiras.
Por isso, o Osorio nunca foi um carro de combate pesado, sendo sempre considerado um carro de combate médio ao nível dos T-72 russos.
Com o fim da URSS, a facilidade com que se podiam comprar tanques T-72/125mm russos relativamente novos a ao preço da chuva, comeu os últimos mercados que poderia haver para o Osorio.