Entrentanto, e após a missão na RCA:
6. Se tivesse helicópteros à sua disposição como os empregaria? Primeiro tinha mais capacidade de resposta, em vez de ser uma FRR que no terreno é mais uma força de reação lenta se tiver longe porque levas tempo a lá chegar, realmente tinhas capacidade de intervenção rápido que é isso que interessa, obviamente que nestes deslocamentos focávamos nos mais na missão que era mesmo da força, só haver empenhamento se fosse exatamente necessário e numa situação rápida, de forma preventiva eventualmente, ou numa reação. Mas utilizando sempre helicópteros não só de transporte mas também de ataque porque mais do que os helicópteros de transporte, os de ataque tem de estar inteiramente associados as missões, para teres uma força bem desenhada com capacidade de intervenção por meios aéreos nomeadamente aeromóvel, tens de ter helicópteros de transporte e helicópteros de ataque com proteção balística etc, se não ficas um alvo fácil, ficas exposto. Portanto utilizava os nesse enquadramento, mas com as duas tipologias, helicópteros de ataque e de transporte e mudava completamente, na minha perceção, mudava completamente o figurino na RCA. Porque nos temos história e temos aprendizagem e conhecimento do que fizemos em áfrica. Estamos a falar no passado, nas nossas ex colónias, uma força tinha uma operação numa determinada zona, mas era uma operação de risco, onde pudesse ser necessário reforçar ou intervir rapidamente, posso dizer que perto, enquanto a força ia por terra para efeito surpresa, perto tinhas uma companhia pronta, dentro dos helicópteros, os Allouette, com os helicópteros a trabalhar, não é como fazemos nos treinos que às vezes é para o inglês ver, nada disso, a operação vai decorrer a tantas horas e tu tens aqui o pessoal já dentro dos helicópteros e os helicópteros a trabalhar, tens as zonas e os sítios todos referenciados, há XXXIII um incidente qualquer, uma emboscada em determinado sitio ou uma movimentação de forças que não estava previsto, os helicópteros rapidamente, em minutos, e isto é o testemunho de muitos africanos, eu estive também em angola em 2004/2005 como capitão, e muitos que tiveram do outro lado, que na altura pertenciam às chamadas guerrilhas, diziam o que me impressionava no caso dos comandos era que a gente fazia uma emboscada e passado 3 ou 4 minutos como é que era possível os helicópteros caiam em cima da gente. isso criava instabilidade e insegurança aos grupos armados eles já não atuavam, criava lhes uma insegurança e uma dinâmica completamente diferente. Estamos a falar de um nível de reação muito à frente. A curtas distâncias aquilo é rapidíssimo, mudava completamente o figurino porque nos, as forças comando treinam muito as operações aeromóveis, o heliassalto, e enquadrava se exatamente na nossa missão que é força de reação rápida, uma reação rápida, eficaz, utilizando a surpresa, o poder de fogo através das armas que os helicópteros pudessem levar, e isso fazia toda a diferença, desorganizas o In, crias instabilidade, crias dúvidas e desorganizas, não estão à espera, já sabem que a gente vem sempre pela mesma estrada, não há outra, portanto é complicado
7. Que diferenças positivas/negativas teria a atuação portuguesa se tivesse helicópteros? Para já tinhas mais número de missões num curto espaço de tempo, e para aquilo que o pessoal é treinado, fazer missões rápidas, eficazes e decisivas. Não é o caso em que tu realmente reages, mas que reages mais lentamente, levas tempo e tens um desgaste maior, tu chegas ao fim de 3 ou 4 dias numa situação de instabilidade os teus militares já têm um grau de fadiga já estão cansados. É completamente diferente estares nos píncaros e em minutos, meia hora estares a operar e depois de resolveres a situação, outras forças assumem, outras forças de quadricula e tu regressas e recompões-te, ou seja, missões de reação rápida, num curto espaço de tempo e decisivas e voltas. Sem os helicópteros o que acontece é que és uma força de reação lenta que se não for na proximidade levas muito tempo no terreno, por isso e que todas as missões o pessoal acaba por la ficar 30 dias ou mais, completamente desgastado, desgastando em termos fisicamente, materialmente, é um desgaste, que depois quando voltas para quarteis, para a MOB, necessitas também de tempo de regeneração, ou seja, acabas por estar empenhado mais tempo e depois há momentos em que não estás tão pronto para, se houver uma instabilidade qualquer.
Obviamente que mudava completamente a velocidade das operações e a velocidade dos empenhamentos. E aquilo que eu te disse na pergunta anterior, criavas instabilidade nos grupos armados, na ameaça porque eles sabiam que se pisassem uma linha vermelha rapidamente estavam a ser sancionados, aqui sabem que vai haver tempo e não sabem que tipo de reação vai haver. Os aspetos negativos são aspetos inerentes ao recurso que é, o helicóptero, os helicópteros necessitam de maior manutenção, são alvos muito remunerados, provavelmente obrigava aos grupos armados a fazer um update nos procedimentos que eles têm porque se mandassem um helicóptero a baixo com pessoal lá dentro, o efeito é bastante grande nas nossas forças, por um lado tínhamos também maior exposição. O risco é inerente à condição militar, pode ser um risco aceitável ou não. Para já não há grandes indicações que tenham armas antiaéreas, utilizam RPGs e outras armas, bitubos etc., mas em termos de misseis terra ar, não há para já assim em referenciação, tinhas alguma liberdade no espaço aéreo, as nações unidas têm a supremacia aérea, podia era acontecer do solo haver alguma coisa. O que eu vejo dos aspetos negativos é que necessitavas de maior capacidade de manutenção, mais uma atenção tecnológica, os helicópteros, e algum cuidado com a proteção aérea, sabendo que é um alvo mais remunerador do que se fosse por terra. São os aspetos que eu vejo negativos, mas pesando um e outro acho que tínhamos mais a ganhar. Hoje em dia há helicópteros com essas capacidades todas, temos helicópteros blindados, os Apache, o Supercobra, tens helicópteros preparados para guarnecer, para fazer ataque ao solo, tem proteção eles próprios e é isso que temos de ver. Acho que os helicópteros, para o tipo de teatro que é, para o tipo de terreno que é e para o tipo de ameaça que é, e para o tipo de missão que é, e para o tipo de forças que estão empenhadas, comandos e paraquedistas, os helicópteros enquadram-se que nem uma luva, é essa a minha perspetiva.