Biossensores made in Portugal ganham prémio de inovação em Barcelona
Os biossensores colam-se às mãos para captar o sinal de sudação. A partir desse momento, estamos à mercê da máquina que consegue captar em tempo real os impulsos emotivos. É uma espécie de polígrafo, mas não é a mesma coisa.
Da fase de serenidade, passamos ao entusiasmo assim que sai uma gargalhada ou para agitação quando o assunto da conversa resvala para a declaração de IRS. Um gesto do interlocutor, como um toque nas costas ou um espirro, provoca reacções emocionais imediatas que são expostas no ecrã de um pequeno computador.
Hugo Gamboa, de 34 anos, doutorado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, vai explicando as aplicações dos sensores de medição e a linha de produtos que a sua empresa, a Plux, desenvolve para o mercado. Esta tecnologia sem fios, única a ser fabricada em Portugal, já é usada por universidades europeias e empresas em estudos e medições de biossinais de pacientes.
Da saúde ao desporto, passando pela investigação, o potencial dos biossensores é imenso e a empresa portuguesa, fundada em 2007, quer levá-lo ao mercado. Acabou de receber o primeiro prémio na categoria de Biggest Innovation na área da Saúde no HiT Barcelona World Innovation Summit, depois de um processo de selecção feito pelo Audax/ISCTE. Na plateia, estavam investidores de capitais de risco europeias e americanas, público que Hugo Gamboa quer captar.
Vontade de crescer
"Estamos à procura de parceiros externos. A equipa que temos está bem para a actividade actual mas para ter mais acesso ao mercado é preciso crescer", diz, no pequeno escritório da Plux, no centro de Lisboa.
A empresa de engenharia de biossensores vende em média cerca de 50 aparelhos por ano e as receitas servem para cobrir as despesas. Ter um gestor de marketing em Barcelona foi o passo mais recente para dar impulso à comercialização do produto - um kit composto de mala, computador com um software de biofeedback (técnica usada para a reabilitação muscular), sensores de medição, entre outros equipamentos.
Para já, Espanha, Inglaterra, Irlanda, Suécia, Holanda e Noruega são alguns dos países com quem já fazem negócio. "Este ano, queremos ter uma estrutura de marketing madura, depois de uma fase em que investimos muito no desenvolvimento do produto. A investigação é, para nós, a parte mais fácil. Agora precisamos de ganhar mercado", continua.
Para dedicar tempo à Investigação e Desenvolvimento, a pequena empresa recebeu os primeiros fundos do QREN em 2008 e já este ano conseguiu captar cerca de um milhão de euros para os seus projectos.
A produção é toda feita internamente pela equipa de 14 trabalhadores, mas o previsível crescimento vai implicar uma parceria com uma empresa nacional.
Hugo Gamboa mostra duas malas brancas onde estão guardados os biossensores e restantes equipamentos. São os dois produtos (Bioplux Clinical e Bioplux Research) que saíram de anos dedicados à pesquisa, incluindo nos tempos livres e antes mesmo de a empresa se formalizar.
"Somos quatro sócios: eu, um colega de curso do Instituto Superior Técnico (Filipe Silva), um aluno muito bom que tive na Escola Superior de Tecnologia de Setúbal (Hugo Silva) e um amigo de longa data com experiência em gestão (Rui Falcão)", conta.
No trabalho de doutoramento que estava a fazer na área da Biometria Comportamental, Hugo precisou de comprar biossensores. "Eram caros e de má qualidade. Têm mercado na investigação, mas o custo é perto de dez mil euros", diz. Foi da necessidade e das conversas com Filipe Silva que nasceu o espírito empreendedor. Para conseguir montar o produto, Hugo deixou de dar aulas, continuou o seu doutoramento e dedicou-se aos biossensores made in Portugal sem salário certo.
Para arrancar com a Plux, os sócios investiram capital próprio e têm conseguido não se financiar na banca, também graças aos fundos comunitários. "Ter a marca CE no produto é um processo muito burocrático, mas pelo qual tivemos de passar para conseguir resultados. Estamos a apostar no Brasil, onde teremos de produzir o equipamento de acordo com outras regras, que não comunitárias".
Este ano, querem chegar a Dezembro com mais dinheiro do que o suficiente para pagar as contas.
É nas universidades que validam o produto (a nível médico ou nas aplicações desportivas, por exemplo) e outras empresas de maior dimensão, como a ISA e a Critical Software, ajudam a impulsionar o negócio. Actualmente, os kits da Plux estão em 14 clínicas que usam diariamente o serviço nas suas unidades de Fisioterapia.
A parceria estabelecida no ano passado com a Atral Cipan para a distribuição foi fundamental para dar os primeiros passos no mercado. Outros utilizadores são as universidades, em trabalhos de investigação que ajudam a perceber melhor o funcionamento do corpo humano (ver caixa).
A Plux está integrada numa holding (a iZone) detida por Rui Falcão e que reúne várias empresas tecnológicas.
Público