Espanha: Autoria de atentados de 11 de Março ainda a causar polémica política
Madrid, 21 Set (Lusa) - A autoria dos atentados de 11 de Março voltou hoje a marcar a agenda política em Espanha com o PP a exigir a presença no parlamento do ministro do Interior, para clarificar acusações publicadas na imprensa.
O PSOE (no poder) respondeu de imediato, através do porta-voz Diego López Garrido, afirmando que Alfredo Pérez Rubalcaba não irá ao plenário, acusando o Partido Popular (PP, na oposição) de pretender "trazer novamente para o parlamento a confusão, o enredo e as dúvidas sobre o Estado de Direito".
Já na quarta-feira, também no parlamento, todos os grupos políticos se uniram contra o PP, anunciando que irão bloquear qualquer tentativa do PP de "contaminar" o plenário através da introdução no debate das suas "suspeitas" relativas à investigação do 11 de Março.
Representantes dos sete partidos afirmaram, em conferência de imprensa conjunta, que o PP deve levar à justiça qualquer prova das suas suspeitas, recusando-se a que o parlamento "seja manipulado".
Eduardo Zaplana, porta-voz do PP no parlamento, criticou a decisão dos sete grupos parlamentares, que considerou de "histeria" e representativa de "comportamentos e agressões impróprias em democracia".
Também Mariano Rajoy, presidente do PP, condenou a acção das restantes forças políticas, afirmando que o seu partido vai continuar a pedir ao governo "para que nunca abandone as investigações" sobre os atentados, até "que se saiba a verdade".
Líderes do PP têm vindo, repetidamente, a questionar a acção das forças judiciais, do executivo e do aparelho da justiça em torno da investigação do caso, fazendo muitas vezes eco de notícias publicadas na imprensa mais conservadora.
A questão da autoria dos atentados e, nomeadamente o alegado envolvimento da ETA, tem assumido particular relevo desde os atentados em Março, com o governo do então Partido Popular a responsabilizar, apesar das provas em contrário, a organização basca.
Isso levou a manifestações maciças em Madrid que se traduziram dois dias depois na derrota inesperada dos Populares nas eleições nacionais, vencidas pelo governo liderado por José Luis Rodríguez Zapatero.
Na sua edição de hoje, o jornal El Mundo - acusado pelo PSOE e na quarta-feira pelo Colégio de Jornalistas da Catalunha de fazer "campanha" pelo PP - acusa na manchete o Ministério do Interior espanhol de ter manipulado um documento remetido ao juiz de instrução do processo dos atentados.
O jornal refere que essa falsificação pretendia "ocultar os laços entre o 11 de Março e a ETA", explicando que deliberou entregar os dois documentos ao juiz de instrução do processo, Juan del Olmo.
O Comissariado Geral da Polícia Científica espanhola já negou, em comunicado, ter remetido a Del Olmo qualquer documento falso, afirmando que a versão inicial continha "análises e considerações subjectivas sem fundamento científico", que tiveram que ser excluídas do relatório final enviado ao juiz.
"O outro documento (que o El Mundo considera ter sido alterado) era apenas um esboço que seguiu o procedimento administrativo habitual. Nesse processo confirmou-se que as observações dos peritos não tinham fundamento científico e, como tal, não podiam constar de um relatório científico", sublinha o mesmo comunicado.
O El Mundo, a par da Cope, a rádio da conferência episcopal espanhola, têm dado um amplo espaço às suspeitas sobre o alegado envolvimento da ETA, questionando regularmente a investigação judicial e das forças de segurança do Estado.
Esta posição levou o Colégio de Jornalistas da Catalunha (CJC) a afirmar, em comunicado, que os dois órgãos de imprensa têm em curso "campanhas" sobre os atentados "que pretendem conseguir fins políticos e económicos e nada têm que ver com o jornalismo".
"Os responsáveis destes meios de comunicação ignoram de forma repetida os princípios éticos da profissão", refere a organização.
"O incumprimento destas normas básicas do jornalismo representa uma distorção no funcionamento do sistema democrático, agravado pela virulência das campanhas, a duração e a coincidência com a estratégia de um sector do principal partido da oposição", sublinha.
Esperanza Aguirre, presidente da comunidade autónoma de Madrid, afirmou não entender "que não se queira investigar" publicamente "a falsificação de um documento".
"Não sei porque devemos recusar as investigações da imprensa. Como vamos a renunciar a saber toda a verdade sobre o atentado mais importantes da história de Espanha", questionou.