PARTE II A vida é injusta, já dizia o CalimeroO povo brasileiro tem sabido superar dificuldades e os últimos governos têm acertado mais do que falhado. A palavra crescer faz sentido naquela terra e também lá o português ganha nova expressão, incomparavelmente maior.
A verdade é que o Brasil alcançou uma conquista importantíssima ao apostar em si mesmo, nas suas imensas potencialidades, e é hoje não apenas culturalmente, mas financeiramente independente da influência dos EUA. Ficou por isso imune ao desastre económico recessivo das ondas de choque norte-americanas que atingiram toda a América Central, totalmente dependentes e influenciadas directamente por Washington. Pelo contrário, quase todos os vizinhos do gigante brasileiro têm melhorado substancialmente o seu crescimento económico.
Quanto à questão das condições medievais no interior produtivo brasileiro, cabe na categoria de hipocrisia básica.
Trabalho infantil e exploração abusiva da força de trabalho são itens bem conhecidos por aqui no Velho Mundo e nos EUA (já para não falar nos países de Leste, integrantes da UE, que julgo ainda serem “ocidentais”). Mostrem-me um Estado democrático integralmente “praticante” dos Direitos universais e recomendá-lo-ei para o Nobel...
Comparado com os restantes membros ilustres dos BRIC, esse é o menor dos problemas. Poder-se-á até colocar a questão: o que é pior? Pagar muito pouco ou fazer pagar muito mais (mais conhecido como roubo tributário nos nossos célebres recibos verdes e grandioso IVA) a quem trabalha?
Aliás, se a resolução de tal problema fosse fácil, já o Fernando Henrique Cardoso (FHC) teria dado conta. Num país/continente com quase 200 milhões de almas, ainda para mais uma república federativa, nada é especialmente fácil. Daí o verdadeiro alcance do milagre brasileiro.
Vamos lá repetir-nos então: não há regimes ideais, nem modelos económicos perfeitos. Não existe neste pequeno planeta um único país imaculado. Para aqueles cuja memória selectiva os faz tropeçar em erros de interpretação básicos e facilitismos grosseiros, recordamos que os fazendeiros e coroneis do
interiô já lá estavam há 10 e há 20 anos e foram bem apoiados pelos regimes anteriores, como toda a gente informada sabe. Mas não só. As empresas internacionais e estados democráticos "ocidentais" que importam do Brasil sabem e fecham os olhos aos salários praticados nessas regiões remotas onde algumas das melhores carnes do mundo são produzidas, além dos cereais e frutas. Curiosamente, nenhum governo estrangeiro parece muito incomodado com isso, sendo que é melhor haver trabalho do que o contrário, como os próprios trabalhadores que sempre durante outros regimes foram relegados o confirmam pessoalmente.
Para bom entendedor...
O Mundo mudou desde Fernando Henrique Cardoso (FHC), e o Brasil tem sabido inegavelmente tirar partido das suas potencialidades. A inteligência do Lula soube aproveitar a herança da governação antecessora. Coisa que por cá nunca se viu.
Se a situação positiva do Brasil se resumisse ao período de FHC, e houvesse hoje um Presidente/governo inábeis em Brasília, penso que não haveria resultados positivos como, por ex., uma sondagem global recente da insuspeita
BBC World Service indicando a influência do Brasil no mundo mais positiva do que a dos Estados Unidos, China, Rússia e Índia, seus competidores directos.

Outra influência directa:
Em resultado da importância económica crescente do Brasil, a língua portuguesa também é mais procurada para aprendizagem. Graças sobretudo ao gigante brasileiro e aos restantes PALOP, somos a 5.ª língua nativa do Mundo, com 240 milhões de falantes. Já é a língua mais falada no Hemisfério Sul e será uma das línguas oficiais na ONU.
O potencial de influência do Brasil cresce proporcionalmente ao ritmo do seu crescimento económico, que é imenso.
Um dos principais problemas deste planeta, a "segurança alimentar", agravado pelo inexorável aumento populacional, tem no Brasil uma solução à altura. Por isso, a liderança agrícola deve aumentar a influência internacional do Brasil. O país já se encontra entre os líderes das principais culturas. É o principal produtor de soja e o terceiro de milho (depois dos EUA e da China). É também um dos maiores produtores de café, carnes, frutas e etanol.
Com disponibilidade de terras agricultáveis, água em abundância, condições climatéricas favoráveis, domínio da tecnologia de agricultura tropical e uma agroindústria desenvolvida, o Brasil poderá chegar a 2020 como a principal potência agrícola mundial.
Mais info:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090331_brasil_agricultura_ac.shtmlAí está mais “alguma” influência global com sotaque português.
Adiante.
Quem é Bacana?Marx no Brasil, só se for o Groucho, o comediante. É anedota, portanto.
É sim uma das maiores democracias actuais e um dos principais casos de sucesso. Sucesso esse que se sabia iria acontecer, só não se sabia quando. O momento já chegou e está a ser muito bem aproveitado pelo gigante que fala português. As antigas ideias feitas não vingam face à realidade contemporânea. Os factos são inegáveis e os números gordos e sustentados. Entre as numerosas consequências deste sucesso estão algumas que nos deveriam fazer penar muito a nós, e especialmente aos marretas que nos desgovernam.
Uma das principais iniciativas está em curso: a recente política de modernização da indústria naval brasileira, a relação entre os sectores público e privado e o papel desta indústria no desenvolvimento económico e social do país que é a principal potência militar e económica da América Latina.
E agora, a influência pragmática: mar, músculo e metal 
Crescimento e desenvolvimento andam a par no Brasil, apesar dos pesares.
Face à forte concorrência internacional, o Lula fez mais uma excelente aposta desenvolvendo o que havia de bom nas políticas anteriores e corrigindo os erros praticados durante a ditadura dos velhotes de pacotilha nos anos 70, quando o Brasil chegou a ser o segundo maior fabricante de navios.
Há aqui um detalhe importante, e revelador da comprovada fragilidade dos críticos de Lula. Um fato importante no governo anterior de Fernando Henrique Cardoso foi a tentativa de venda da PETROBRAS e a quebra na indústria como se vê nos indicadores económicos. Ora vejamos:

A falta de investimento do BNDES (Banco Nacional para o Desenvolvimento), através do Fundo de Marinha Mercante, no governo FHC até 2002 foi invertida em 2003, já no governo Lula, em que um considerável investimento motivou o relançamento da indústria naval.
Fontes: Sinaval e BNDESTornar a indústria naval brasileira sustentável a longo prazo é o próximo desafio. Pois o poderoso
BNDES está na linha da frente da revitalização da indústria naval, que emprega hoje cerca de 50 mil pessoas directamente. A previsão é de que o número de empregos directos no setor chegue a 70 mil nos próximos 3 anos. O estímulo da indústria naval passou por linhas de crédito consideráveis para fomento da marinha mercante e da indústria de construção naval, financiando parcialmente a construção, aquisição ou conversão de navios de pesca, de apoio à indústria petrolífera, oceanográfica e de transporte de passageiros. Através do Ministério da Pesca, foi possível um financiamento para a frota de pequenos barcos.
O mesmo sucede no sector portuário, cujo plano de modernização e ampliação conheceu importantes apoios financeiros. Aquele tipo de apoio que Portugal tem sido totalmente incapaz de providenciar para si mesmo.
A indústria brasileira de petróleo terá também efeitos sobre a construção naval. As projecções indicam que a produção, estimada actualmente em cerca de 2 milhões de barris/dia, chegará aos 4 milhões de barris em 2020. Parte dos lucros respectivos serão investidos na tecnologia de processos, engenharia de projectos e modernização da produção dos estaleiros.
Deste modo, graças a uma política integral para a indústria naval brasileira, estas medidas de fomento do sector naval já estão a dar resultados (que importam e reforçam a "influência" da potência):
Este Verão foi lançado o
primeiro navio construído no Estado do Rio de Janeiro para a PETROBRAS em 13 anos.
Na verdade, é o segundo navio lançado ao mar neste ano - o primeiro foi ao mar num estaleiro de Pernambuco. O Estado do Rio de Janeiro já conta com 16 navios encomendados pelo PROMEF (Programa de Modernização e Expansão da Frota), com 2,2 bilhões de Reais em investimentos. O programa vai criar pelo menos 50 mil empregos no Estado, sendo 10 mil directos e 40 mil indirectos. No total, foram encomendados 49 navios.
A PETROBRAS contratou 42 navios, investimento necessário pois gastou por ano 1,2 bilhão de dólares em fretes. Vão agora inverter a situação e aplicar dinheiro na construção própria de navios nos estaleiros locais.
Não apenas navios, mas também as próprias plataformas de extracção petróleo e gás estão a ser concebidas e construídas nos estaleiros brasileiros desde 2008.
P-51, a primeira plataforma semi-submersível construída integralmente no Brasil no estaleiro BrasFels, em Angra dos Reis (RJ), em 2008Uma das diferenças reveladoras entre dois países com vastas ZEEs e indústrias navais que já conheceram melhores dias (Brasil e Portugal) é que a grande potência do Atlântico Sul tem um
PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e nós temos... vários
PECs que são aquelas nódoas que conhecemos.
Já havia velhos do Restelo há 500 anos, mas meter água é mesmo connosco. Não há vassoura que varra isto.
Enfim...
No plano militar, a
Estratégia Nacional de Defesa prevê a reorganização e modernização integral das Forças Armadas, apoiadas na reestruturação da indústria de defesa nos próximos 20 anos, incluindo a renovação da
Marinha de Guerra verde-amarela em virtude do extenso
“Plano de Articulação e de Equipamento da Marinha do Brasil” (PEAMB) formulado em 2008.
Aqui reside então a influência derradeira do Brasil.
Os objectivos são ambiciosos, mas...
guess what? há dinheiro e há determinação:
Marinha, Exército e Aeronáutica vão receber investimentos na ordem de 27 bilhões de dólares ao longo dos próximos 10 anos e promete abrir um novo mercado para as indústrias nacionais, permitindo o fomento de pesquisa de materiais e equipamentos com a utilização de tecnologia nacional. O Brasil já constrói submarinos e aviões, como é sabido.
A actividade da indústria brasileira irá alargar-se em breve ao âmbito da construção naval de navios de guerra, fruto de parcerias com grandes empresas especializadas, como a britânica BAE Systems, líder global no sector da indústria da defesa, segurança e aerospacial.
Mais info:
http://www.asdnews.com/news/30452/Joint_UK_Government_And_BAE_Offer_Set_To_Boost_Trade_With_Brazil.htmSendo que todos os novos navios serão construídos nos estaleiros brasileiros, assegurando a transferência de alta tecnologia entre a Inglaterra e o Brasil, ampliando o tipo de iniciativas ocorridas na década de 1970 com as fragatas brasileiras da classe Niteroi, construídas também em parceria com a BAE. Racionalização de custos, transferência de tecnologia e desenvolvimento da indústria naval, 3 em 1.
A nova geração de navios de superfície ao abrigo deste programa
Global Combat Ship, encontra-se agora na mesa de estudo conjunta: uma variante da fragata multi-tarefas Tipo 26 da
Royal Navy. Também se prevê utilização pela Marinha do Brasil do
Ocean Patrol Vessel (OPV), para serviço de guarda-costeira, segurança das instalações de petróleo e gás, além de busca e salvamento. O modelo de base para desenvolvimento deste projecto é a classe
River também ao serviço da
Royal Navy e da Guarda-Costeira tailandesa.
Protótipo da Fragata Tipo 26A parceria envolve igualmente a produção de navios de suporte logístico e muito provavelmente planeamentos para porta-aviões.
O velhinho São Paulo (A-12), já perto da reforma com quase 50 anos de marPois é...
Deveríamos ter começado a fazer algo semelhante há uns tempos atrás, com a nossa grandiosamente pobre Estratégia dos Oceanos...
Alguém compreende, por exemplo, porque é que Sines não se tornou ainda comparável ao porto de Santos, no litoral paulista, o maior porto da América Latina?
É que justa e sensatamente, o Brasil canaliza parte do seu crescimento financeiro no desenvolvimento das indústrias do Mar para protecção dos seus recursos. O conceito é simples e o programa ambicioso, e é natural que assim seja, dada a escala da respectiva zona marítima.
Para tal, a Marinha brasileira prevê a necessidade de um
conjunto sem precedentes de navios de superfície, submersíveis e meios aeronavais, abrangendo desde navios de patrulha até submarinos nucleares. Todos construídos localmente. Já foi escolhido o local do novo
estaleiro/base naval, em Itaguaí no Estado do Rio de Janeiro. Já estão contratados os novos submarinos de ataque convencionais - baseados no modelo francês DCNS-Navantia Scorpène - e um submarino nuclear e a nova base de submarinos adjacente será concluída em 2013.
Nova Base/Estaleiro Naval da Marinha em Itaguaí, RJ (já em construção)Os objectivos colocados à Marinha brasileira no futuro próximo incluem, por ordem de prioridades:
- 4 submarinos convencionais e um nuclear
- 3 classes de navios patrulha oceânicos (200, 500 e 1.800 toneladas), também conhecidos por Ocean Patrol Vessel (OPV); 2 destas unidades de 500 toneladas ("NAPA 500") estão em construção nos estaleiros de Fortaleza, num total de 12 OPVs planeados e outros 5 de 1.800 toneladas.
- Um navio de de abastecimento/hospital (AOR)
- 3 Fragatas de escolta (6.000 toneladas cada)
- Um navio multi-tarefas, ou Multi-Purpose Ship (LPH) de cerca de 20.000 toneladas
A longo prazo prevê-se a substituição do porta-aviões
São Paulo, bem como dos seus meios aeronavais (A4-
Skyhawk e de alerta AEW), assim como helicópteros para as fragatas (em lugar dos
Super-Lynx).
A Marinha solicitará ainda ao Congresso o aumento dos efectivos de marinheiros e fuzileiros ampliando os actuais 55.000 homens.
Protótipo dos futuros Navios de Patrulha Oceânicos (OPV) de 1.800 toneladas
A influência do BrasilFinalmente, está planeada a implantação do
sistema de defesa da Amazônia Azul, o qual utilizará um sistema integrado de satélites, aeronaves, sensores acústicos distribuídos pelo litoral, plataformas de superfície e submarinas.
http://www.mar.mil.br/menu_v/amazonia_azul/amazonia_azul.htmE sim, Vicente de Lisboa, até há um
link relativo ao Direito Marítimo e tudo. Até porque, sabiamente, o Brasil também pretende alargar a extensão dos limites da sua Plataforma Continental.
Enfim, vale a pena reflectir. Reflectir e apostar naquela terra que enriquece a um ritmo muito mais rápido do que aquele a que nós próprios (cá na terrinha) conseguimos empobrecer.
Qual era o título do tópico, mesmo?
